EXPRESSO -

04-11-1999
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«O menos que se desejaria era um primeiro-ministro refém do partido e resignado a escolher para trabalharem consigo não os que considere mais capazes, mas os que lhe são mais convenientes. Uma tendência de que também já houve sinal, infelizmente, na remodelação de há um ano, com a ascensão, talvez demasiado fulgurante, de algumas velhas glórias da Juventude Socialista.»

GOVERNO Circuito fechado

CUSTA ouvir Eduardo Azevedo Soares, ex-ministro de Cavaco Silva e ex-secretário geral do PSD, entre os cargos de grande responsabilidade que fazem o seu currículo político, criticar a remodelação no Ministério da Agricultura com o argumento de que o guterrismo está esgotado e cada vez mais dependente do aparelho do PS. Não porque lhe falte a razão. Pode até acontecer que o guterrismo esteja de facto esgotado, coisa que só viremos a saber de ciência certa quando houver novas eleições. E quanto à segunda parte do argumento, não há dúvida nenhuma de que as mudanças desta semana são mais um sinal da morte dos velhos Estados Gerais, correspondendo em absoluto a mais uma cedência ao aparelho socialista. Mas o que também se prova com os comentários à substituição do ministro e de um dos secretários de Estado da Agricultura é que o maior partido da oposição não está menos esgotado do que o PS. Pelo menos em matéria de teses e de linguagem sobre remodelações, visto que se limita a reproduzir exactamente as mesmas que ocorriam aos socialistas no passado cavaquista. Ora, as pessoas menos indicadas para o fazerem são aquelas que antes participavam e/ou aplaudiam as escolhas e procedimentos de Cavaco, os quais foram, neste domínio, inteiramente copiadas por Guterres. O actual chefe do Governo sempre adoptou, em relação à equipa de ministros e «ajudantes», as mesmas técnicas e opções do seu antecessor. Apoia-os publicamente nas situações difíceis, faz orelhas moucas ou desvaloriza as pressões externas para substituir este ou aquele, resiste às mudanças e, quando forçado a elas por alguma circunstância, aproveita o mais possível a experiência acumulada pelos que já estão no Governo. Fez isso no Ministério do Equipamento, após a morte do seu primeiro titular e depois da demissão do segundo, por fuga à sisa; fez o mesmo na remodelação determinada pela saída de António Vitorino, há um ano, e voltou a fazê-lo agora com a inopinada demissão de Gomes da Silva, que alegou questões de saúde. A bondade deste método de remodelação em circuito fechado, promovendo secretários de Estado a ministros ou fazendo-os circular de Ministério para Ministério, tem vantagens e inconvenientes. A principal vantagem é precisamente a de não desperdiçar a experiência adquirida na relação com os poderes e serviços da Administração Pública. O maior inconveniente é o indicado por Azevedo Soares, mesmo não sendo ele o porta-voz mais indicado para o apontar: dar a ideia de que Guterres já não consegue cativar para a sua equipa ninguém fora do próprio Governo e do partido que o sustenta; ou de que está condicionado nas suas escolhas pela necessidade de manter equilíbrios no interior da maioria. O menos que se desejaria era um primeiro-ministro refém do partido e resignado a escolher para trabalharem consigo não os que considere mais capazes, mas os que lhe são mais convenientes. Uma tendência de que também já houve sinal, infelizmente, na remodelação de há um ano, com a ascensão, talvez demasiado fulgurante, de algumas velhas glórias da Juventude Socialista.

«O menos que se desejaria era um primeiro-ministro refém do partido e resignado a escolher para trabalharem consigo não os que considere mais capazes, mas os que lhe são mais convenientes. Uma tendência de que também já houve sinal, infelizmente, na remodelação de há um ano, com a ascensão, talvez demasiado fulgurante, de algumas velhas glórias da Juventude Socialista.»

GOVERNO Circuito fechado

CUSTA ouvir Eduardo Azevedo Soares, ex-ministro de Cavaco Silva e ex-secretário geral do PSD, entre os cargos de grande responsabilidade que fazem o seu currículo político, criticar a remodelação no Ministério da Agricultura com o argumento de que o guterrismo está esgotado e cada vez mais dependente do aparelho do PS. Não porque lhe falte a razão. Pode até acontecer que o guterrismo esteja de facto esgotado, coisa que só viremos a saber de ciência certa quando houver novas eleições. E quanto à segunda parte do argumento, não há dúvida nenhuma de que as mudanças desta semana são mais um sinal da morte dos velhos Estados Gerais, correspondendo em absoluto a mais uma cedência ao aparelho socialista. Mas o que também se prova com os comentários à substituição do ministro e de um dos secretários de Estado da Agricultura é que o maior partido da oposição não está menos esgotado do que o PS. Pelo menos em matéria de teses e de linguagem sobre remodelações, visto que se limita a reproduzir exactamente as mesmas que ocorriam aos socialistas no passado cavaquista. Ora, as pessoas menos indicadas para o fazerem são aquelas que antes participavam e/ou aplaudiam as escolhas e procedimentos de Cavaco, os quais foram, neste domínio, inteiramente copiadas por Guterres. O actual chefe do Governo sempre adoptou, em relação à equipa de ministros e «ajudantes», as mesmas técnicas e opções do seu antecessor. Apoia-os publicamente nas situações difíceis, faz orelhas moucas ou desvaloriza as pressões externas para substituir este ou aquele, resiste às mudanças e, quando forçado a elas por alguma circunstância, aproveita o mais possível a experiência acumulada pelos que já estão no Governo. Fez isso no Ministério do Equipamento, após a morte do seu primeiro titular e depois da demissão do segundo, por fuga à sisa; fez o mesmo na remodelação determinada pela saída de António Vitorino, há um ano, e voltou a fazê-lo agora com a inopinada demissão de Gomes da Silva, que alegou questões de saúde. A bondade deste método de remodelação em circuito fechado, promovendo secretários de Estado a ministros ou fazendo-os circular de Ministério para Ministério, tem vantagens e inconvenientes. A principal vantagem é precisamente a de não desperdiçar a experiência adquirida na relação com os poderes e serviços da Administração Pública. O maior inconveniente é o indicado por Azevedo Soares, mesmo não sendo ele o porta-voz mais indicado para o apontar: dar a ideia de que Guterres já não consegue cativar para a sua equipa ninguém fora do próprio Governo e do partido que o sustenta; ou de que está condicionado nas suas escolhas pela necessidade de manter equilíbrios no interior da maioria. O menos que se desejaria era um primeiro-ministro refém do partido e resignado a escolher para trabalharem consigo não os que considere mais capazes, mas os que lhe são mais convenientes. Uma tendência de que também já houve sinal, infelizmente, na remodelação de há um ano, com a ascensão, talvez demasiado fulgurante, de algumas velhas glórias da Juventude Socialista.

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