EXPRESSO: Opinião

14-01-2002
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8/9/2001

OPINIÃO

ALGARVE Uma imensa Armação de Pêra

«Num ano de eleições autárquicas em que decerto assistiremos mais uma vez a inúmeras campanhas milionárias (...) era bom que os poderes públicos ficassem especialmente atentos e seguissem o rasto do dinheiro que alimenta essas campanhas.» NO VERÃO de 1998, o Presidente da República andou por Armação de Pêra com a máquina a tiracolo e fotografou, revoltado, alguns dos crimes arquitectónicos e ambientais cometidos nas últimas três décadas pela ganância que domina o turismo algarvio. No ano seguinte, as fotografias de Jorge Sampaio foram expostas e a iniciativa recebeu o aplauso geral: ao mais alto nível do Estado alguém dava o seu testemunho e exercia o direito à indignação que devia mobilizar os residentes no Algarve, em primeiro lugar, assim como a generalidade dos cidadãos que escolhem a região para viver ou fazer férias. Lamentavelmente, o protesto do Presidente da República, assim como todos os que o antecederam e os que haveriam de se lhe seguir, caíram em saco roto. Há poderes muito mais fortes do que o do Presidente e interesses muito mais determinantes a actuar no terreno. Só isso pode explicar que certas zonas poupadas, até há poucos anos, ao desvario geral que tem comandado o crescimento sem freio da oferta turística estejam agora a ser devastadas pela mesma avidez do lucro fácil e muito rápido que, ao longo dos últimos 30 anos, cometeu os tais crimes de Armação. É o caso da linha costeira entre a ribeira de Alvor e o promontório de Sagres. Os sinais de uma construção desregrada são hoje muito mais abundantes. E basta entrar na Meia Praia, junto a Lagos, para ficar a perceber que está condenada a última das grandes praias do Barlavento ainda relativamente preservada da sobrecarga de betão que os «empresários» turísticos - ou apenas os todos-poderosos construtores civis, forçosamente mancomunados com autarcas seus cúmplices ou mandaretes - impuseram à costa algarvia. Pequenas «reboleiras» multiplicam-se a seguir à marina de Lagos, estendem-se encosta acima e já invadem, mais adiante, a frente de mar. Projectos tão delirantes como o de uma churrasqueira de dois andares praticamente dentro da praia tentam vencer nos tribunais uma primeira resistência da Câmara, que não se sabe até onde chegará. Com o à-vontade de sempre e um despudor sem medida, o poder do dinheiro faz sentir a sua presença e, mais ano menos ano, há-de levar tudo à frente, como sucedeu um pouco por todo o Algarve, de Monte Gordo a Portimão. Ora, a verdade é que, se em relação aos crimes de há 30 anos ainda se pode alegar, com inocência e boa vontade, a impreparação, o desconhecimento ou a falta de sensibilidade dos agentes do Estado (Governo e autarquias), assim como da opinião pública, para as questões do Ambiente e do ordenamento do território, a situação é hoje muito diferente. Não é por falta de protestos da chamada sociedade civil que os mesmos erros voltam a ser cometidos. Nem é por falta de alertas de alguns responsáveis políticos, como se viu com o Presidente e as suas fotos de Armação de Pêra. A explicação tem de ser outra. E a palavra corrupção - seja corrupção por dinheiro ou bens de outro tipo, seja apenas por razões políticas ou por simples amiguismo - surge inevitavelmente à cabeça de todas as suspeitas. Num ano de eleições autárquicas em que decerto assistiremos mais uma vez a inúmeras campanhas milionárias - algumas começaram em força logo no princípio do Verão - era bom que os poderes públicos ficassem especialmente atentos e seguissem o rasto do dinheiro que alimenta essas campanhas. Para que, daqui a 30 anos, outro Presidente da República não tenha de fazer uma exposição fotográfica a lamentar que, afinal, todo o Algarve - para já não dizer todo o país - esteja transformado numa imensa Armação de Pêra.

COMENTÁRIOS AO ARTIGO

7 comentários 1 a 7

10 de Setembro de 2001 às 00:14

Rambo do Iglo

CONSTRUIR É POLUIR

CIMENTO É EXCREMENTO

EMPREITER É MALFEITOR.

9 de Setembro de 2001 às 12:17

Antonio Melo

Passo a minha vida no interior entre Castelo Branco, Covilhâ e Guarda. A situação que descreve, desgraçadamente já se faz sentir por aqui. Cada vez que ouço um dos nossos inefaveis autarcas falar em desenvolvimento do Interior, até tremo. Se vissem o que é que eles e os «amigalhaços do beton» entendem por desnvolvimento! Vivo aqui por opção, porque gosto e porque me cansei de tanta construção no litoral. Por favor, não nos desenvolvam. Deixem-nos continuar assim e vão com as vossas ideias para «os algarves». A porcaria que lá fizeram já não tem solução e como pelos vistos querem continuar, façam-na lá que já nem se nota.

9 de Setembro de 2001 às 09:39

bem-informado

Rasto do dinheiro ? Suspeitas ?

E que tal olhar para as contas do prof. de filosofia, o Dr. Rabaça, director do Urbanismo da CM Sintra e afilhado de Edite Estrela ?

Talvez assim se pudesse explicar os insistentes rumores e queixas de algumas pessoas !

9 de Setembro de 2001 às 09:34

Silva

Não só no Algarve existem estranhas ligações, basta ver o que se passa por exemplo em Ponta Delgada em que na lista do PS pra a as leições autárquicas o número 2 da lista é o maior construtor e para tudo fique claro diz Betencourt, o candidato do PS será este senhor o responsável pelo planeamento urbano. Palavras para quê.

8 de Setembro de 2001 às 23:32

Anonymous

ABAIXO- ABAIXO, VIVA A ERA DA PEDRA

IDEIAS PARA MUDAR, ZERO; DEPOIS NAO SE ADMIREM QUE TUDO CONTINUE NA MESMA

CULPADA E A PROCURA QUE E MAIOR QUE A OFERTA; E TODO O LIXO SE VENDE DESDE QUE SEJA NO ALGARVE DAS VAIDADES; DEPOIS DIZEREM TAMBEM EU LA TENHO UM CAXOTE, MAS CLARO CHAMAM-LHE UMA CASA:

8 de Setembro de 2001 às 12:53

Zé Pobinho

Enquanto não forem conjhecidas as "doações" aos partidos isto será sempre assim...funcionam como autênticas associações criminosas...Bibilândia é o país que criaram...não pagam impostos, corrompem...estragam e quem vier a seguir que feche a porta, porque a torneira continuará sempre a pingar para os partidos e seus associados no assalto ao que deviam ser de todos. Viva a democracia atrasada mental terceiromundista!

8 de Setembro de 2001 às 12:40

Joaquim Rofrigues

Em Faro onde vivo a situação descrita no artigo é muito semelhante. Os construtores civis, alguns magnatas do poder que nós conhecemos e as autarquias são uma das trilogias mais criminosas no que à especulação imobiliária diz respeito. É necessária que as populações se mobilizaem para obstar à continuação de todos estes crimes urbanísticos. O caso de Lagos, que bem conheço, é exemplar. Do governo pouco se pode esperar, visto que o mesmo está mancomunado com as máfias da construção civil. É urgente acabar com esta vergonha nacional.

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ALGARVE Uma imensa Armação de Pêra

«Num ano de eleições autárquicas em que decerto assistiremos mais uma vez a inúmeras campanhas milionárias (...) era bom que os poderes públicos ficassem especialmente atentos e seguissem o rasto do dinheiro que alimenta essas campanhas.» NO VERÃO de 1998, o Presidente da República andou por Armação de Pêra com a máquina a tiracolo e fotografou, revoltado, alguns dos crimes arquitectónicos e ambientais cometidos nas últimas três décadas pela ganância que domina o turismo algarvio. No ano seguinte, as fotografias de Jorge Sampaio foram expostas e a iniciativa recebeu o aplauso geral: ao mais alto nível do Estado alguém dava o seu testemunho e exercia o direito à indignação que devia mobilizar os residentes no Algarve, em primeiro lugar, assim como a generalidade dos cidadãos que escolhem a região para viver ou fazer férias. Lamentavelmente, o protesto do Presidente da República, assim como todos os que o antecederam e os que haveriam de se lhe seguir, caíram em saco roto. Há poderes muito mais fortes do que o do Presidente e interesses muito mais determinantes a actuar no terreno. Só isso pode explicar que certas zonas poupadas, até há poucos anos, ao desvario geral que tem comandado o crescimento sem freio da oferta turística estejam agora a ser devastadas pela mesma avidez do lucro fácil e muito rápido que, ao longo dos últimos 30 anos, cometeu os tais crimes de Armação. É o caso da linha costeira entre a ribeira de Alvor e o promontório de Sagres. Os sinais de uma construção desregrada são hoje muito mais abundantes. E basta entrar na Meia Praia, junto a Lagos, para ficar a perceber que está condenada a última das grandes praias do Barlavento ainda relativamente preservada da sobrecarga de betão que os «empresários» turísticos - ou apenas os todos-poderosos construtores civis, forçosamente mancomunados com autarcas seus cúmplices ou mandaretes - impuseram à costa algarvia. Pequenas «reboleiras» multiplicam-se a seguir à marina de Lagos, estendem-se encosta acima e já invadem, mais adiante, a frente de mar. Projectos tão delirantes como o de uma churrasqueira de dois andares praticamente dentro da praia tentam vencer nos tribunais uma primeira resistência da Câmara, que não se sabe até onde chegará. Com o à-vontade de sempre e um despudor sem medida, o poder do dinheiro faz sentir a sua presença e, mais ano menos ano, há-de levar tudo à frente, como sucedeu um pouco por todo o Algarve, de Monte Gordo a Portimão. Ora, a verdade é que, se em relação aos crimes de há 30 anos ainda se pode alegar, com inocência e boa vontade, a impreparação, o desconhecimento ou a falta de sensibilidade dos agentes do Estado (Governo e autarquias), assim como da opinião pública, para as questões do Ambiente e do ordenamento do território, a situação é hoje muito diferente. Não é por falta de protestos da chamada sociedade civil que os mesmos erros voltam a ser cometidos. Nem é por falta de alertas de alguns responsáveis políticos, como se viu com o Presidente e as suas fotos de Armação de Pêra. A explicação tem de ser outra. E a palavra corrupção - seja corrupção por dinheiro ou bens de outro tipo, seja apenas por razões políticas ou por simples amiguismo - surge inevitavelmente à cabeça de todas as suspeitas. Num ano de eleições autárquicas em que decerto assistiremos mais uma vez a inúmeras campanhas milionárias - algumas começaram em força logo no princípio do Verão - era bom que os poderes públicos ficassem especialmente atentos e seguissem o rasto do dinheiro que alimenta essas campanhas. Para que, daqui a 30 anos, outro Presidente da República não tenha de fazer uma exposição fotográfica a lamentar que, afinal, todo o Algarve - para já não dizer todo o país - esteja transformado numa imensa Armação de Pêra.

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10 de Setembro de 2001 às 00:14

Rambo do Iglo

CONSTRUIR É POLUIR

CIMENTO É EXCREMENTO

EMPREITER É MALFEITOR.

9 de Setembro de 2001 às 12:17

Antonio Melo

Passo a minha vida no interior entre Castelo Branco, Covilhâ e Guarda. A situação que descreve, desgraçadamente já se faz sentir por aqui. Cada vez que ouço um dos nossos inefaveis autarcas falar em desenvolvimento do Interior, até tremo. Se vissem o que é que eles e os «amigalhaços do beton» entendem por desnvolvimento! Vivo aqui por opção, porque gosto e porque me cansei de tanta construção no litoral. Por favor, não nos desenvolvam. Deixem-nos continuar assim e vão com as vossas ideias para «os algarves». A porcaria que lá fizeram já não tem solução e como pelos vistos querem continuar, façam-na lá que já nem se nota.

9 de Setembro de 2001 às 09:39

bem-informado

Rasto do dinheiro ? Suspeitas ?

E que tal olhar para as contas do prof. de filosofia, o Dr. Rabaça, director do Urbanismo da CM Sintra e afilhado de Edite Estrela ?

Talvez assim se pudesse explicar os insistentes rumores e queixas de algumas pessoas !

9 de Setembro de 2001 às 09:34

Silva

Não só no Algarve existem estranhas ligações, basta ver o que se passa por exemplo em Ponta Delgada em que na lista do PS pra a as leições autárquicas o número 2 da lista é o maior construtor e para tudo fique claro diz Betencourt, o candidato do PS será este senhor o responsável pelo planeamento urbano. Palavras para quê.

8 de Setembro de 2001 às 23:32

Anonymous

ABAIXO- ABAIXO, VIVA A ERA DA PEDRA

IDEIAS PARA MUDAR, ZERO; DEPOIS NAO SE ADMIREM QUE TUDO CONTINUE NA MESMA

CULPADA E A PROCURA QUE E MAIOR QUE A OFERTA; E TODO O LIXO SE VENDE DESDE QUE SEJA NO ALGARVE DAS VAIDADES; DEPOIS DIZEREM TAMBEM EU LA TENHO UM CAXOTE, MAS CLARO CHAMAM-LHE UMA CASA:

8 de Setembro de 2001 às 12:53

Zé Pobinho

Enquanto não forem conjhecidas as "doações" aos partidos isto será sempre assim...funcionam como autênticas associações criminosas...Bibilândia é o país que criaram...não pagam impostos, corrompem...estragam e quem vier a seguir que feche a porta, porque a torneira continuará sempre a pingar para os partidos e seus associados no assalto ao que deviam ser de todos. Viva a democracia atrasada mental terceiromundista!

8 de Setembro de 2001 às 12:40

Joaquim Rofrigues

Em Faro onde vivo a situação descrita no artigo é muito semelhante. Os construtores civis, alguns magnatas do poder que nós conhecemos e as autarquias são uma das trilogias mais criminosas no que à especulação imobiliária diz respeito. É necessária que as populações se mobilizaem para obstar à continuação de todos estes crimes urbanísticos. O caso de Lagos, que bem conheço, é exemplar. Do governo pouco se pode esperar, visto que o mesmo está mancomunado com as máfias da construção civil. É urgente acabar com esta vergonha nacional.

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