Até que enfim um bom programa na televisão!

04-01-2002
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A COBERTURA MEDIÁTICA

Até Que Enfim Um Bom Programa na Televisão!

Por EDUARDO CINTRA TORRES

Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2001

Caramba! Até que enfim que a televisão portuguesa passa um bom programa!

Tivemos de tudo: suspense até ao último voto contado, personagens fortes, combates ferozes, vencedores claros, perdedores claros, momentos de comic relief, como a arca perdida de Marvila e até um personagem cómico, José Sócrates, que passou de ministro da co-incineração na RTP a ministro queimado dum governo demitido.

Ninguém esperava este resultado? Parece que "ninguém" esperava, nem nos partidos, nem nas televisões nem nas empresas das sondagens conhecidas.

Esperava-se uma noite morna, com algumas mudanças - nada de cuidados. A soberba dos comentadores do PS e do governo nas primeiras horas da jornada eleitoral não permitia prever que as TVs, mais uma vez, falhariam os horários anunciados na imprensa:

- a RTP prometia passar um filme chamado "O Último Tango em Nova Orleães" às 00h25, mas a essa hora ainda mostrava o último tango do governo;

- a SIC tinha previsto mostrar às 23h00 um combate de boxe entre Ruiz e Hollyfield, mas a essa hora acabou por mostrar a vitória de Rui Rio no combate com Fernando Gomes;

- a TVI prometeu para as 23h00 um filme - "Homem Demolidor" - e só às 01h35 mostrava o demolidor Santana Lopes a comemorar vitória.

Os três canais com noite eleitoral não cumpriram - felizmente! - a morna noite eleitoral anunciada e continuaram até às tantas da manhã o trabalho muito aceitável que levaram a cabo durante a campanha.

Os espaços de campanha da RTP, da SIC e da TVI podiam ter sido melhores. Se não o foram tal deve-se em primeiro lugar ao facto de muitos candidatos não terem nível, mas, se a campanha foi animada, foi porque, pela primeira vez, as eleições autárquicas tiveram, também, candidatos interessantes e bem preparados.

Quem sabe?, talvez a TV tenha ajudado à diminuição da abstenção, ao fazer uma boa cobertura da campanha eleitoral e apresentando animados debates (só a TVI se demitiu desta função informativa e social tão importante).

Ao chegar-se a domingo, apresentaram previsões cautelosas, mais certas uma (a da SIC) que outras, mas fazendo prever que a noite seria longa. Alguns políticos e comentadores foram cautelosos. Outros mantiveram a habitual jactância, como o ministro José Sócrates, que na RTP1 foi mudando a análise ao longo da noite: primeiro o governo estava OK, o que contava era Lisboa e Porto; após a queda de Fernando Gomes, o que contava já era só Lisboa; depois, já não se podia fazer leitura nacional das eleições; depois Sócrates desapareceu do estúdio para o vermos ao lado do primeiro-ministro demissionário.

É uma lição para o governante e para o canal de TV: os ministros não devem ser comentadores políticos, ponto final. Os governantes podem passar vergonhas - foi o caso - e os espectadores não ganham comentários credíveis.

Do ponto de vista técnico, as três emissões estivera bem, com ligeira desvantagem da SIC em relação à RTP1 e à TVI no ritmo e no acompanhamento das últimas novidades. No campo dos comentadores, todos fizeram bom uso dos seus painéis: Miguel Sousa Tavares (que se antecipou na "vitória" de João Soares) e Constança Cunha e Sá, na TVI, António Barreto e Pacheco Pereira na SIC e Proença de Carvalho na RTP canal que tinha ainda um painel partidário, onde a habitual verve verrinosa de José Magalhães foi sendo substituída por um tom grave que lhe ficaria bem mais miúde.

Enquanto o país em mudança percorria os canais generalistas, havia outro canal a pretender dar notícias: O NTV. A emissão foi uma anedota e provocou-me revolta ver como os actuais responsáveis do canal, na senda do nefasto Carlos Magno, entregaram os jovens e inexperientes colaboradores a uma emissão vergonhosa, que ficou simbolizada no canal pela imagem baça e azulada do derrotado Fernando Gomes, o padrinho deste projecto falhado de TV, onde também deveria ter havido demissões este domingo.

Quase à uma da manhã, a hecatombe eleitoral do partido do governo ficava expressa, momentos antes de falar Guterres, quando uma jornalista da RTP colocou ao responsável eleitoral do PS, Jorge Coelho, a pergunta que os maus jornalistas costumam fazer a familiares das vítimas de grandes tragédias: "O que é que sente?" Desta vez, a pergunta soou bem.

A COBERTURA MEDIÁTICA

Até Que Enfim Um Bom Programa na Televisão!

Por EDUARDO CINTRA TORRES

Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2001

Caramba! Até que enfim que a televisão portuguesa passa um bom programa!

Tivemos de tudo: suspense até ao último voto contado, personagens fortes, combates ferozes, vencedores claros, perdedores claros, momentos de comic relief, como a arca perdida de Marvila e até um personagem cómico, José Sócrates, que passou de ministro da co-incineração na RTP a ministro queimado dum governo demitido.

Ninguém esperava este resultado? Parece que "ninguém" esperava, nem nos partidos, nem nas televisões nem nas empresas das sondagens conhecidas.

Esperava-se uma noite morna, com algumas mudanças - nada de cuidados. A soberba dos comentadores do PS e do governo nas primeiras horas da jornada eleitoral não permitia prever que as TVs, mais uma vez, falhariam os horários anunciados na imprensa:

- a RTP prometia passar um filme chamado "O Último Tango em Nova Orleães" às 00h25, mas a essa hora ainda mostrava o último tango do governo;

- a SIC tinha previsto mostrar às 23h00 um combate de boxe entre Ruiz e Hollyfield, mas a essa hora acabou por mostrar a vitória de Rui Rio no combate com Fernando Gomes;

- a TVI prometeu para as 23h00 um filme - "Homem Demolidor" - e só às 01h35 mostrava o demolidor Santana Lopes a comemorar vitória.

Os três canais com noite eleitoral não cumpriram - felizmente! - a morna noite eleitoral anunciada e continuaram até às tantas da manhã o trabalho muito aceitável que levaram a cabo durante a campanha.

Os espaços de campanha da RTP, da SIC e da TVI podiam ter sido melhores. Se não o foram tal deve-se em primeiro lugar ao facto de muitos candidatos não terem nível, mas, se a campanha foi animada, foi porque, pela primeira vez, as eleições autárquicas tiveram, também, candidatos interessantes e bem preparados.

Quem sabe?, talvez a TV tenha ajudado à diminuição da abstenção, ao fazer uma boa cobertura da campanha eleitoral e apresentando animados debates (só a TVI se demitiu desta função informativa e social tão importante).

Ao chegar-se a domingo, apresentaram previsões cautelosas, mais certas uma (a da SIC) que outras, mas fazendo prever que a noite seria longa. Alguns políticos e comentadores foram cautelosos. Outros mantiveram a habitual jactância, como o ministro José Sócrates, que na RTP1 foi mudando a análise ao longo da noite: primeiro o governo estava OK, o que contava era Lisboa e Porto; após a queda de Fernando Gomes, o que contava já era só Lisboa; depois, já não se podia fazer leitura nacional das eleições; depois Sócrates desapareceu do estúdio para o vermos ao lado do primeiro-ministro demissionário.

É uma lição para o governante e para o canal de TV: os ministros não devem ser comentadores políticos, ponto final. Os governantes podem passar vergonhas - foi o caso - e os espectadores não ganham comentários credíveis.

Do ponto de vista técnico, as três emissões estivera bem, com ligeira desvantagem da SIC em relação à RTP1 e à TVI no ritmo e no acompanhamento das últimas novidades. No campo dos comentadores, todos fizeram bom uso dos seus painéis: Miguel Sousa Tavares (que se antecipou na "vitória" de João Soares) e Constança Cunha e Sá, na TVI, António Barreto e Pacheco Pereira na SIC e Proença de Carvalho na RTP canal que tinha ainda um painel partidário, onde a habitual verve verrinosa de José Magalhães foi sendo substituída por um tom grave que lhe ficaria bem mais miúde.

Enquanto o país em mudança percorria os canais generalistas, havia outro canal a pretender dar notícias: O NTV. A emissão foi uma anedota e provocou-me revolta ver como os actuais responsáveis do canal, na senda do nefasto Carlos Magno, entregaram os jovens e inexperientes colaboradores a uma emissão vergonhosa, que ficou simbolizada no canal pela imagem baça e azulada do derrotado Fernando Gomes, o padrinho deste projecto falhado de TV, onde também deveria ter havido demissões este domingo.

Quase à uma da manhã, a hecatombe eleitoral do partido do governo ficava expressa, momentos antes de falar Guterres, quando uma jornalista da RTP colocou ao responsável eleitoral do PS, Jorge Coelho, a pergunta que os maus jornalistas costumam fazer a familiares das vítimas de grandes tragédias: "O que é que sente?" Desta vez, a pergunta soou bem.

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