João Soares diz que a culpa foi da imagem

05-01-2002
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João Soares Diz Que a Culpa Foi da Imagem

Por LUCIANO ALVAREZ

Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2001

Noite de ansiedade na Amar Lisboa

Os membros da coligação Amar Lisboa acreditaram até à última numa vitória que não apareceu. João Soares disse que a culpa era só sua e da imagem, de que admite agora não ter cuidado o suficiente

A imagem. "A culpa pela derrota" da coligação PS-PCP em Lisboa "foi da imagem". João Soares já tinha lamentado durante a campanha eleitoral ter cuidado pouco da imagem e ontem repetiu-o. Foi um homem de voz ligeiramente embargada e abatido o que se apresentou à uma hora da madrugada numa sala do lisboeta hotel Altis. Um "palco" fetiche para o PS e onde nos últimos tempos só tinha festejado vitórias e que agora era o "plateau" final de uma noite negra para os socialistas. João Soares era a imagem dessa derrota e chamava-a toda para si.

O líder e o núcleo duro da coligação Amar Lisboa estiveram das 17h45 até à uma da madrugada sem aparecer, fechados numa sala, contando freguesia por freguesia. "Acreditamos até à última", disseram ao PÚBLICO vários membros da aliança PS-PCP quando o desaire já era conhecido e já depois de Guterres ter anunciado a sua demissão.

"Reconheço que fui derrotado", começou por dizer João Soares, para logo a seguir felicitar Pedro Santana Lopes pela vitória. O líder da coligação disse que todos trabalharam até "ao limite das forças pela cidade e pelo seu povo" e, depois, repetiu por quatro vezes que a derrota era sua, só sua, que não queria atribuir culpas "ao PS e ao PCP", que havia "uma imensa componente pessoal do cidadão João Soares na derrota". Um cidadão que não conseguia disfarçar o incómodo da derrota e que tinha dificuldades em encontrar palavras para a justificar. "A culpa é só minha", repetia, vezes sem conta.

Logo a seguir, os jornalistas perguntaram como João Soares via o seu futuro político. Primeiro fugiu à resposta, mas, perante a insistência, Soares só encontrou uma frase: "O futuro o dirá."

Já o líder da coligação Amar Lisboa deixava a sala, quando uma pergunta gritada se sobrepôs às demais: "Qual o principal factor para a derrota?" João Soares nem pensou na resposta: "A culpa foi da imagem. Falhou sobretudo a imagem."

João Soares deixava então a sala de olhos no chão, perante algumas palmas dos seus apoiantes. João Amaral, o número dois da lista, ficava ligeiramente para trás, para dizer que a batalha tinha sido "de uma equipa" e que, por isso, a derrota era "de toda a equipa".

A noite de ansiedade socialista e comunista acabava ali. Pouco depois, os principais dirigentes abandonavam o hotel Altis, sem a festa que acreditaram até à última poderiam fazer. Nas ruas passavam já os ruidosos carros de Santana Lopes. Algumas jovens choravam abraçadas.

Durante as horas de espera, apenas duas pessoas com algum destaque deram a cara e nenhuma delas integrava as listas da coligação. Primeiro, foi o comunista Rui Godinho, ex-vereador da Câmara Municipal de Lisboa, que deixou a autarquia a meio do mandato em ruptura com a coligação. Pelas 22 horas, Rui Godinho ainda acreditava na vitória, mas fazia já alguns reparos. "Ganhe quem ganhar tem de encontrar novas respostas para novos problemas. Quem ganhar vai ter de reflectir muito sobre a forma de gerir a cidade. Têm de se antecipar novos problemas", afirmava, recusando que as suas palavras fossem vistas como uma crítica à actual gestão. Mas eram.

Mais tarde, pelas 22h30, Helena Roseta, que integrava a comissão política da coligação, também falou aos jornalistas. Também ela ainda acreditava na vitória, embora já fosse notória a derrota do PS a nível nacional. Instada a comentar os resultados nacionais enquanto destacada militante socialista e deputada do partido, Helena Roseta teve uma resposta no mínimo curiosa: "Eu não sou uma militante destacada, sou uma militante de base que foi corrida de todos os órgãos do partido."

João Soares iria depois à sede do PS no Largo do Rato juntar-se ao "velório" socialista.

João Soares Diz Que a Culpa Foi da Imagem

Por LUCIANO ALVAREZ

Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2001

Noite de ansiedade na Amar Lisboa

Os membros da coligação Amar Lisboa acreditaram até à última numa vitória que não apareceu. João Soares disse que a culpa era só sua e da imagem, de que admite agora não ter cuidado o suficiente

A imagem. "A culpa pela derrota" da coligação PS-PCP em Lisboa "foi da imagem". João Soares já tinha lamentado durante a campanha eleitoral ter cuidado pouco da imagem e ontem repetiu-o. Foi um homem de voz ligeiramente embargada e abatido o que se apresentou à uma hora da madrugada numa sala do lisboeta hotel Altis. Um "palco" fetiche para o PS e onde nos últimos tempos só tinha festejado vitórias e que agora era o "plateau" final de uma noite negra para os socialistas. João Soares era a imagem dessa derrota e chamava-a toda para si.

O líder e o núcleo duro da coligação Amar Lisboa estiveram das 17h45 até à uma da madrugada sem aparecer, fechados numa sala, contando freguesia por freguesia. "Acreditamos até à última", disseram ao PÚBLICO vários membros da aliança PS-PCP quando o desaire já era conhecido e já depois de Guterres ter anunciado a sua demissão.

"Reconheço que fui derrotado", começou por dizer João Soares, para logo a seguir felicitar Pedro Santana Lopes pela vitória. O líder da coligação disse que todos trabalharam até "ao limite das forças pela cidade e pelo seu povo" e, depois, repetiu por quatro vezes que a derrota era sua, só sua, que não queria atribuir culpas "ao PS e ao PCP", que havia "uma imensa componente pessoal do cidadão João Soares na derrota". Um cidadão que não conseguia disfarçar o incómodo da derrota e que tinha dificuldades em encontrar palavras para a justificar. "A culpa é só minha", repetia, vezes sem conta.

Logo a seguir, os jornalistas perguntaram como João Soares via o seu futuro político. Primeiro fugiu à resposta, mas, perante a insistência, Soares só encontrou uma frase: "O futuro o dirá."

Já o líder da coligação Amar Lisboa deixava a sala, quando uma pergunta gritada se sobrepôs às demais: "Qual o principal factor para a derrota?" João Soares nem pensou na resposta: "A culpa foi da imagem. Falhou sobretudo a imagem."

João Soares deixava então a sala de olhos no chão, perante algumas palmas dos seus apoiantes. João Amaral, o número dois da lista, ficava ligeiramente para trás, para dizer que a batalha tinha sido "de uma equipa" e que, por isso, a derrota era "de toda a equipa".

A noite de ansiedade socialista e comunista acabava ali. Pouco depois, os principais dirigentes abandonavam o hotel Altis, sem a festa que acreditaram até à última poderiam fazer. Nas ruas passavam já os ruidosos carros de Santana Lopes. Algumas jovens choravam abraçadas.

Durante as horas de espera, apenas duas pessoas com algum destaque deram a cara e nenhuma delas integrava as listas da coligação. Primeiro, foi o comunista Rui Godinho, ex-vereador da Câmara Municipal de Lisboa, que deixou a autarquia a meio do mandato em ruptura com a coligação. Pelas 22 horas, Rui Godinho ainda acreditava na vitória, mas fazia já alguns reparos. "Ganhe quem ganhar tem de encontrar novas respostas para novos problemas. Quem ganhar vai ter de reflectir muito sobre a forma de gerir a cidade. Têm de se antecipar novos problemas", afirmava, recusando que as suas palavras fossem vistas como uma crítica à actual gestão. Mas eram.

Mais tarde, pelas 22h30, Helena Roseta, que integrava a comissão política da coligação, também falou aos jornalistas. Também ela ainda acreditava na vitória, embora já fosse notória a derrota do PS a nível nacional. Instada a comentar os resultados nacionais enquanto destacada militante socialista e deputada do partido, Helena Roseta teve uma resposta no mínimo curiosa: "Eu não sou uma militante destacada, sou uma militante de base que foi corrida de todos os órgãos do partido."

João Soares iria depois à sede do PS no Largo do Rato juntar-se ao "velório" socialista.

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