EXPRESSO: Opinião

06-05-2001
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28/4/2001

OPINIÃO

Portugal corrompido Fernando Ulrich

«Que melhor incentivo para que os polvos vão alastrando do que a inacção de Sampaio e Guterres? Eles têm a formação e os ideais que têm, sabem o que se passa e não fazem nada, o cidadão não é burro e tira a pragmática conclusão de que o melhor é não fazer ondas e safar-se. Tenho esperança de que um dia o dr. Pedro Guterres e os da sua geração entendam a gravidade que teve para o país o ter-se deixado ficar a sensação de que quem manda nos negócios com intervenção do Estado em Portugal é o tio Moura Santos.» PERCEBE-SE sem dificuldade que um jovem bem intencionado, após três anos nos EUA, fique deslumbrado com o «profissionalismo» dos norte-americanos. Lamento que o pai do jovem - o nosso primeiro-ministro - tenha concordado com o diagnóstico de que «o problema em Portugal é as pessoas serem pouco profissionais». Poderá ser verdade em alguns sectores, designadamente no actual Governo, mas não é o principal problema da sociedade portuguesa. O grande problema nacional é a corrupção, ou ainda pior, o facto de termos desistido de lutar contra esse flagelo. Esta desistência das elites portuguesas e, em particular, dos líderes políticos, de combaterem a corrupção submeterá o país ao predomínio de comportamentos mafiosos, como muito bem alertou há alguns meses o dr. João Salgueiro. A corrupção distorce tudo. As decisões são tomadas para beneficiar os corruptos e não para que se atinjam os objectivos anunciados. Gasta-se mais dinheiro do que o necessário e não se atingem os resultados pretendidos. Para além duma questão moral e de justiça a corrupção gera sérios problemas económicos porque perturba drasticamente o processo de alocação de recursos. Para atacar a sério a corrupção temos de começar pelo princípio e por cima. Ninguém acredita que a corrupção seja um problema para levar a sério enquanto subsistirem dúvidas, e grandes, quanto à transparência das contas e do financiamento do poder político. Não é aceitável que a actividade política, desde as campanhas presidenciais, ao financiamento dos partidos, juventudes, distritais, secções locais e por aí fora, não seja um exemplo de rigor, transparência, ética, e, já agora, de… profissionalismo. Não se compreende que a actividade política não seja submetida a regras de divulgação de informação, rigor contabilístico, sujeição a auditorias externas, e supervisão por organismos independentes, pelo menos igual às que são aplicáveis aos bancos e às empresas cotadas na bolsa. Os partidos políticos com assento parlamentar recebem subsídios do Estado e muito bem, já que esta deveria ser provavelmente a única forma de financiamento da respectiva actividade a par das quotas dos militantes. Se recebem dinheiro do Estado e são eles que mandam no Estado, têm de ser um exemplo de transparência e sujeitar-se a regras apertadíssimas de vigilância. O Governo começou recentemente a desmantelar o sigilo bancário. Mas está a ser tímido e não começou pelo princípio. Devia ter começado por abolir o sigilo bancário para as organizações políticas e seus responsáveis. Paralelamente, devia ter proibido as organizações políticas de receber qualquer contribuição em dinheiro e em espécie, só por cheque ou transferência bancária. Infelizmente, a oposição também não dá mostras de se preocupar com o tema. Fica-se sem perceber se o dr. Durão Barroso não entende o que se passa ou se lhe falta independência para encarar o assunto de frente, preferindo não agarrar esta excelente oportunidade para combater o Partido Socialista. Mas este é um caso em que nem deveria ser preciso apelar para a oposição, já que os dois homens que conduzem o país têm obrigação de liderar este combate. Pela educação que receberam, pelos ideais por que têm combatido, e pela experiência que foram acumulando. O Presidente Jorge Sampaio é reconhecido como um homem íntegro, socialista convicto, advogado competente com experiência da vida prática. O primeiro-ministro António Guterres para além de ser muito inteligente, e falar bem línguas, é católico. O país sabe que o eng. António Guterres já por mais de uma vez teve a coragem de obedecer à sua fé e não à vontade da maioria do seu partido. Duas personalidades como Sampaio e Guterres reúnem todas as condições para comandarem o combate em favor da transparência da actividade política, pressuposto essencial duma luta minimamente credível contra a corrupção. Estranhamente não fazem nada de sério e eficaz nestes domínios. Porquê esta desistência? Sentem-se reféns dos apoios que receberam e os ajudaram a chegar aos lugares que ocupam? Não podemos pensar assim. É fundamental estabelecer um corte com o passado e começar vida nova. Se não fizerem nada terão prestado ao país um serviço trágico: o de terem sido coniventes com a falta de transparência da vida política portuguesa e desta forma impedido um combate eficaz à corrupção. Que melhor incentivo para que os polvos vão alastrando do que a inacção de Sampaio e Guterres? Eles têm a formação e os ideais que têm, sabem o que se passa e não fazem nada, o cidadão não é burro e tira a pragmática conclusão de que o melhor é não fazer ondas e safar-se. Tenho esperança de que um dia o dr. Pedro Guterres e os da sua geração entendam a gravidade que teve para o país o ter-se deixado ficar a sensação de que quem manda nos negócios com intervenção do Estado em Portugal é o tio Moura Santos. Se calhar muito do que se diz não será verdade, mas fica a percepção, e isso é que conta. É trágico.

COMENTÁRIOS AO ARTIGO

13 comentários 1 a 10

3 Maio 2001 às 20:04

Não há corrupção nenhuma em Portugal. Há é futebol. ( joao.tilly@netvisao.pt )

A prova é que o Garcia dos Santos, ex-JAE disse que havia,e na ordem dos milhões por ano, e depois esqueceu-se dos nomes de quem é que rouba os milhões por ano e pagou por isso uma multa de 130 contos.

.

Tony apanhou uma de 500 por ter falado á SIC, depois de um jogo de futebol.

3 Maio 2001 às 19:34

carlos vilela ( carlos.vilela@oninet.pt )

Parabéns pela coragem de falar alto o que muitos calam por debaixo da mesa.A prova de que o Sr. tem razão é que ficou tudo na mesma depois deste artigo.Para quando um artigo revisto sobre Sampaaio e Guterres?

3 Maio 2001 às 0:11

José Costa ( josecosta@iol.pt )

Ó Fernandinho, o querido existe????

Porque não se dedica à agricultura???

Cresça menino, cresça!!!

Um xi-coração.

2 Maio 2001 às 15:29

daisy Ulrich ( dmcu@hotmail.com )

Gostei muito deste artigo . tá muito bem escrito ! Concordo plenamente com o Dr. Fernando Ulrich. Tem toda a razão.

Ainda por cima eu , que faço parto da futura geração do país, tal como Pedro Guterres. Assusta-me cada vez mais uns maus exemplos deste governo. Como Diz o Fernando Ulrich. É trágico!

30 Abril 2001 às 16:52

Martim Caldeira ( MartimCaldeira@hotmail.com )

Simples, conciso, directo ao assunto e eficiente.

Parabéns pelo artigo!

O autor é um profissional respeitado, sem esqueletos no armário e a quem pouco ou nada falta fazer no mundo empresarial

Dúvida: Será que Fernando Ulrich tem ambições políticas?

30 Abril 2001 às 16:07

Rodas Nepervil ( rodas.nep@moura.com )

Penso que o Dr. Fernando Ulrich, como gestor de um importante banco da nossa praça, deve estar seguro de quanto diz no seu artigo de opinião. De facto, no que respeita ao conhecimento privilegiado de golpes baixos, o gabinete de um banqueiro não deve diferir muito de um vulgar confessionário.

A avaliar por este desabafo, já são tantas as escorregadelas na calçada (imagem compreensível por quem conhece a anedota) que o Dr. Fernando Ulrich se vê na piedosa obrigação de chamar a atenção do presidente da Câmara, neste caso, o próprio presidente da República. Fez ele muito bem.

29 Abril 2001 às 13:13

José Ferreira ( zeluiz@pop.agri.ch )

Do que Portugal precisa não é tanto "profissionalismo" à americana, por muito que este faça brilhar os olhos a um jovem impressionável, mas de civismo à europeia, que traz na mesma uma apreciável mais-valia em termos de eficácia e não condena ninguém à escravatura.

Se conseguíssemos acabar com a corrupção, ou pelo menos reduzi-la a níveis aceitáveis, não precisaríamos de trabalhar quinze horas por dia para fazer de Portugal um país onde valesse a pena viver.

28 Abril 2001 às 23:19

O Trombone ( (Liga anti corrupção. Venha trabalhar connosco) )

www.geocities.com/sssantiagooo

28 Abril 2001 às 21:40

Leonor Galhos ( Tambem gostei do artigo mas e' demasiado vago. Seria mais util fazer uma analise critica detalhada do que o ministro da Justica, Antonio Costa, tem feito e pretende agora fazer. )

Este tipo de jornalismo facil (que nao involve investigacao por parte do autor) enche os jornais e e' inutil.

28 Abril 2001 às 18:05

Jaquim esperto

Também gostei.

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Portugal corrompido Fernando Ulrich

«Que melhor incentivo para que os polvos vão alastrando do que a inacção de Sampaio e Guterres? Eles têm a formação e os ideais que têm, sabem o que se passa e não fazem nada, o cidadão não é burro e tira a pragmática conclusão de que o melhor é não fazer ondas e safar-se. Tenho esperança de que um dia o dr. Pedro Guterres e os da sua geração entendam a gravidade que teve para o país o ter-se deixado ficar a sensação de que quem manda nos negócios com intervenção do Estado em Portugal é o tio Moura Santos.» PERCEBE-SE sem dificuldade que um jovem bem intencionado, após três anos nos EUA, fique deslumbrado com o «profissionalismo» dos norte-americanos. Lamento que o pai do jovem - o nosso primeiro-ministro - tenha concordado com o diagnóstico de que «o problema em Portugal é as pessoas serem pouco profissionais». Poderá ser verdade em alguns sectores, designadamente no actual Governo, mas não é o principal problema da sociedade portuguesa. O grande problema nacional é a corrupção, ou ainda pior, o facto de termos desistido de lutar contra esse flagelo. Esta desistência das elites portuguesas e, em particular, dos líderes políticos, de combaterem a corrupção submeterá o país ao predomínio de comportamentos mafiosos, como muito bem alertou há alguns meses o dr. João Salgueiro. A corrupção distorce tudo. As decisões são tomadas para beneficiar os corruptos e não para que se atinjam os objectivos anunciados. Gasta-se mais dinheiro do que o necessário e não se atingem os resultados pretendidos. Para além duma questão moral e de justiça a corrupção gera sérios problemas económicos porque perturba drasticamente o processo de alocação de recursos. Para atacar a sério a corrupção temos de começar pelo princípio e por cima. Ninguém acredita que a corrupção seja um problema para levar a sério enquanto subsistirem dúvidas, e grandes, quanto à transparência das contas e do financiamento do poder político. Não é aceitável que a actividade política, desde as campanhas presidenciais, ao financiamento dos partidos, juventudes, distritais, secções locais e por aí fora, não seja um exemplo de rigor, transparência, ética, e, já agora, de… profissionalismo. Não se compreende que a actividade política não seja submetida a regras de divulgação de informação, rigor contabilístico, sujeição a auditorias externas, e supervisão por organismos independentes, pelo menos igual às que são aplicáveis aos bancos e às empresas cotadas na bolsa. Os partidos políticos com assento parlamentar recebem subsídios do Estado e muito bem, já que esta deveria ser provavelmente a única forma de financiamento da respectiva actividade a par das quotas dos militantes. Se recebem dinheiro do Estado e são eles que mandam no Estado, têm de ser um exemplo de transparência e sujeitar-se a regras apertadíssimas de vigilância. O Governo começou recentemente a desmantelar o sigilo bancário. Mas está a ser tímido e não começou pelo princípio. Devia ter começado por abolir o sigilo bancário para as organizações políticas e seus responsáveis. Paralelamente, devia ter proibido as organizações políticas de receber qualquer contribuição em dinheiro e em espécie, só por cheque ou transferência bancária. Infelizmente, a oposição também não dá mostras de se preocupar com o tema. Fica-se sem perceber se o dr. Durão Barroso não entende o que se passa ou se lhe falta independência para encarar o assunto de frente, preferindo não agarrar esta excelente oportunidade para combater o Partido Socialista. Mas este é um caso em que nem deveria ser preciso apelar para a oposição, já que os dois homens que conduzem o país têm obrigação de liderar este combate. Pela educação que receberam, pelos ideais por que têm combatido, e pela experiência que foram acumulando. O Presidente Jorge Sampaio é reconhecido como um homem íntegro, socialista convicto, advogado competente com experiência da vida prática. O primeiro-ministro António Guterres para além de ser muito inteligente, e falar bem línguas, é católico. O país sabe que o eng. António Guterres já por mais de uma vez teve a coragem de obedecer à sua fé e não à vontade da maioria do seu partido. Duas personalidades como Sampaio e Guterres reúnem todas as condições para comandarem o combate em favor da transparência da actividade política, pressuposto essencial duma luta minimamente credível contra a corrupção. Estranhamente não fazem nada de sério e eficaz nestes domínios. Porquê esta desistência? Sentem-se reféns dos apoios que receberam e os ajudaram a chegar aos lugares que ocupam? Não podemos pensar assim. É fundamental estabelecer um corte com o passado e começar vida nova. Se não fizerem nada terão prestado ao país um serviço trágico: o de terem sido coniventes com a falta de transparência da vida política portuguesa e desta forma impedido um combate eficaz à corrupção. Que melhor incentivo para que os polvos vão alastrando do que a inacção de Sampaio e Guterres? Eles têm a formação e os ideais que têm, sabem o que se passa e não fazem nada, o cidadão não é burro e tira a pragmática conclusão de que o melhor é não fazer ondas e safar-se. Tenho esperança de que um dia o dr. Pedro Guterres e os da sua geração entendam a gravidade que teve para o país o ter-se deixado ficar a sensação de que quem manda nos negócios com intervenção do Estado em Portugal é o tio Moura Santos. Se calhar muito do que se diz não será verdade, mas fica a percepção, e isso é que conta. É trágico.

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3 Maio 2001 às 20:04

Não há corrupção nenhuma em Portugal. Há é futebol. ( joao.tilly@netvisao.pt )

A prova é que o Garcia dos Santos, ex-JAE disse que havia,e na ordem dos milhões por ano, e depois esqueceu-se dos nomes de quem é que rouba os milhões por ano e pagou por isso uma multa de 130 contos.

.

Tony apanhou uma de 500 por ter falado á SIC, depois de um jogo de futebol.

3 Maio 2001 às 19:34

carlos vilela ( carlos.vilela@oninet.pt )

Parabéns pela coragem de falar alto o que muitos calam por debaixo da mesa.A prova de que o Sr. tem razão é que ficou tudo na mesma depois deste artigo.Para quando um artigo revisto sobre Sampaaio e Guterres?

3 Maio 2001 às 0:11

José Costa ( josecosta@iol.pt )

Ó Fernandinho, o querido existe????

Porque não se dedica à agricultura???

Cresça menino, cresça!!!

Um xi-coração.

2 Maio 2001 às 15:29

daisy Ulrich ( dmcu@hotmail.com )

Gostei muito deste artigo . tá muito bem escrito ! Concordo plenamente com o Dr. Fernando Ulrich. Tem toda a razão.

Ainda por cima eu , que faço parto da futura geração do país, tal como Pedro Guterres. Assusta-me cada vez mais uns maus exemplos deste governo. Como Diz o Fernando Ulrich. É trágico!

30 Abril 2001 às 16:52

Martim Caldeira ( MartimCaldeira@hotmail.com )

Simples, conciso, directo ao assunto e eficiente.

Parabéns pelo artigo!

O autor é um profissional respeitado, sem esqueletos no armário e a quem pouco ou nada falta fazer no mundo empresarial

Dúvida: Será que Fernando Ulrich tem ambições políticas?

30 Abril 2001 às 16:07

Rodas Nepervil ( rodas.nep@moura.com )

Penso que o Dr. Fernando Ulrich, como gestor de um importante banco da nossa praça, deve estar seguro de quanto diz no seu artigo de opinião. De facto, no que respeita ao conhecimento privilegiado de golpes baixos, o gabinete de um banqueiro não deve diferir muito de um vulgar confessionário.

A avaliar por este desabafo, já são tantas as escorregadelas na calçada (imagem compreensível por quem conhece a anedota) que o Dr. Fernando Ulrich se vê na piedosa obrigação de chamar a atenção do presidente da Câmara, neste caso, o próprio presidente da República. Fez ele muito bem.

29 Abril 2001 às 13:13

José Ferreira ( zeluiz@pop.agri.ch )

Do que Portugal precisa não é tanto "profissionalismo" à americana, por muito que este faça brilhar os olhos a um jovem impressionável, mas de civismo à europeia, que traz na mesma uma apreciável mais-valia em termos de eficácia e não condena ninguém à escravatura.

Se conseguíssemos acabar com a corrupção, ou pelo menos reduzi-la a níveis aceitáveis, não precisaríamos de trabalhar quinze horas por dia para fazer de Portugal um país onde valesse a pena viver.

28 Abril 2001 às 23:19

O Trombone ( (Liga anti corrupção. Venha trabalhar connosco) )

www.geocities.com/sssantiagooo

28 Abril 2001 às 21:40

Leonor Galhos ( Tambem gostei do artigo mas e' demasiado vago. Seria mais util fazer uma analise critica detalhada do que o ministro da Justica, Antonio Costa, tem feito e pretende agora fazer. )

Este tipo de jornalismo facil (que nao involve investigacao por parte do autor) enche os jornais e e' inutil.

28 Abril 2001 às 18:05

Jaquim esperto

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