DN

19-05-2001
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Emídio Rangel

Grande novidade!!!

Imaginem lá que Durão Barroso, presidente do PSD, apressou-se a concordar, sem hesitações, com a longa e polémica entrevista de Cavaco Silva à Visão. Estava eu convencido que assim não era e eis senão quando sou atropelado pelas palavras do líder do PSD: "Revejo-me inteiramente nas críticas feitas à política económica do Governo. Chamo a atenção para o facto de o PSD, através dos seus órgãos, vir a fazê-lo há muito tempo e no mesmo sentido." Barroso está sempre a surpreender-me. O que Durão Barroso não percebeu, mais uma vez, é que ninguém deu pela posição dos órgãos do PSD sobre a situação económica actual. E, a haver, não lhe atribuiu importância nenhuma, em contraste flagrante com uma simples entrevista de Cavaco Silva na Visão, que pôs o Parlamento, o Governo, os empresários, os economistas, em verdadeira polvorosa. É sintomático que o Governo tenha sentido necessidade de responder a Cavaco Silva, enquanto, é sabido, não passou cartão aos hipotéticos porta-vozes do PSD. É neste intervalo de consideração, respeito e credibilidade que afinal se joga a liderança de Durão Barroso. Se Durão Barroso, ou alguém por ele, viesse a terreiro dizer que o nosso desiquilíbrio externo está ao nível de 1983, quando o FMI "reinava" em Portugal, ninguém atribuiria nenhuma importância a essa afirmação. E que ninguém se engane. Isso não aconteceria apenas pela circunstância de Cavaco Silva ser economista e Durão Barroso não. O problema situa-se mais a nível político. Cavaco Silva, para além de economista, foi um líder forte, carismático, amado pelo PSD e aceite, durante bastantes anos, pelos portugueses em geral. Durão Barroso, a contrario, não consegue ganhar a confirança do eleitorado e evidencia uma falta preocupante de carisma. É por isso que o País estremece quando Cavaco Silva fala e adormece quando Durão Barroso disserta. Curiosamente, o peso das palavras de Cavaco Silva aumenta na justa medida em que mais se distancia do poder (encenado ou não, pouco importa) e oferece a sensação de estar a criticar pelo único interesse de defesa dos reais interesses dos portugueses. Cada líder tem um protagonismo próprio, mas o conceito de aprendizagem não fica posto em crise se "a alma não é pequena"! Como é possível que, depois de vários anos à frente do PSD, Durão Barroso não tenha aprendido nada com o seu mestre? Hoje, é mais fácil encontrar ritos, poses e gestos de Cavaco Silva no seio do PS do que no PSD. A herança cavaquista continua a valer por si própria e, em boa verdade, aproveita pouco a este PSD fechado na sua "torre de marfim". É penoso, verdadeiramente penoso, o calvário de Durão Barroso. Atrás de si está sempre eminente a imagem gigantesca de Cavaco Silva que ora aparece ora desaparece mas que, quando se perfila no horizonte, o transforma num pigmeu. Nos intervalos, Durão Barroso esbraceja, grita, mas não se consegue fazer ouvir. É uma sina terrível. Até que ponto vai durar a atitude obstinada de se manter à frente de um partido que o tolera e de um país que não lhe dá a devida importância?

Emídio Rangel

Grande novidade!!!

Imaginem lá que Durão Barroso, presidente do PSD, apressou-se a concordar, sem hesitações, com a longa e polémica entrevista de Cavaco Silva à Visão. Estava eu convencido que assim não era e eis senão quando sou atropelado pelas palavras do líder do PSD: "Revejo-me inteiramente nas críticas feitas à política económica do Governo. Chamo a atenção para o facto de o PSD, através dos seus órgãos, vir a fazê-lo há muito tempo e no mesmo sentido." Barroso está sempre a surpreender-me. O que Durão Barroso não percebeu, mais uma vez, é que ninguém deu pela posição dos órgãos do PSD sobre a situação económica actual. E, a haver, não lhe atribuiu importância nenhuma, em contraste flagrante com uma simples entrevista de Cavaco Silva na Visão, que pôs o Parlamento, o Governo, os empresários, os economistas, em verdadeira polvorosa. É sintomático que o Governo tenha sentido necessidade de responder a Cavaco Silva, enquanto, é sabido, não passou cartão aos hipotéticos porta-vozes do PSD. É neste intervalo de consideração, respeito e credibilidade que afinal se joga a liderança de Durão Barroso. Se Durão Barroso, ou alguém por ele, viesse a terreiro dizer que o nosso desiquilíbrio externo está ao nível de 1983, quando o FMI "reinava" em Portugal, ninguém atribuiria nenhuma importância a essa afirmação. E que ninguém se engane. Isso não aconteceria apenas pela circunstância de Cavaco Silva ser economista e Durão Barroso não. O problema situa-se mais a nível político. Cavaco Silva, para além de economista, foi um líder forte, carismático, amado pelo PSD e aceite, durante bastantes anos, pelos portugueses em geral. Durão Barroso, a contrario, não consegue ganhar a confirança do eleitorado e evidencia uma falta preocupante de carisma. É por isso que o País estremece quando Cavaco Silva fala e adormece quando Durão Barroso disserta. Curiosamente, o peso das palavras de Cavaco Silva aumenta na justa medida em que mais se distancia do poder (encenado ou não, pouco importa) e oferece a sensação de estar a criticar pelo único interesse de defesa dos reais interesses dos portugueses. Cada líder tem um protagonismo próprio, mas o conceito de aprendizagem não fica posto em crise se "a alma não é pequena"! Como é possível que, depois de vários anos à frente do PSD, Durão Barroso não tenha aprendido nada com o seu mestre? Hoje, é mais fácil encontrar ritos, poses e gestos de Cavaco Silva no seio do PS do que no PSD. A herança cavaquista continua a valer por si própria e, em boa verdade, aproveita pouco a este PSD fechado na sua "torre de marfim". É penoso, verdadeiramente penoso, o calvário de Durão Barroso. Atrás de si está sempre eminente a imagem gigantesca de Cavaco Silva que ora aparece ora desaparece mas que, quando se perfila no horizonte, o transforma num pigmeu. Nos intervalos, Durão Barroso esbraceja, grita, mas não se consegue fazer ouvir. É uma sina terrível. Até que ponto vai durar a atitude obstinada de se manter à frente de um partido que o tolera e de um país que não lhe dá a devida importância?

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