JSD ignora Durão Barroso

21-05-2000
marcar artigo

Pedro Duarte e Marcelo: o novo líder da JSD não esconde a simpatia por Santana, mas afirma apoiar o presidente do partido

Isto num congresso que não teve história e serviu apenas para Marcelo Rebelo de Sousa e Pedro Santana Lopes trocarem recados. Em diferido, porque tiveram o cuidado de fazer tudo para não se cruzarem na entrada para as salas de jogo do casino.

O silêncio sobre a mensagem de Durão Barroso não caiu bem junto de alguns dos recém-eleitos membros do Conselho Nacional, muitos deles simpatizantes do deputado. «Se calhar era a única 'gaffe' que não deveria ter acontecido neste congresso», comentou ao EXPRESSO Pedro Duarte, para quem o acontecimento não passou mesmo de um deslize do presidente da Mesa, Nuno Freitas, que é agora o seu primeiro vice-presidente.

Nuno Freitas assume o lapso, mas recusa que ele tenha tido «qualquer intenção política». Em declarações ao EXPRESSO, garante que foi «inadvertido»: simplesmente não tinha o texto de Barroso à sua frente, nem sequer sabia da sua existência quando chegou a hora de dar conta aos congressistas das personalidades que, tendo sido convidadas e não podendo estar presentes, haviam enviado mensagens. «Tínhamos dezenas de mensagens», justifica o agora vice-presidente da «Jota», surpreendido com o melindre - a seu ver, «excessivo» e sem sentido - que a sua falha gerou.

O novo líder da JSD garante que não houve qualquer interferência de Marcelo neste episódio, como alguns delegados, que tiveram conhecimento da mensagem, chegaram a admitir.

Aliás, o tema da autonomia da JSD face ao partido foi um dos pontos fortes deste congresso. O espírito de independência que Pedro Duarte quer incutir na organização tinha sido elogiado por Santana Lopes, que discursou na abertura do congresso. «Vocês tiveram uma coragem do caraças», foi a expressão empregue pelo presidente da Câmara da Figueira da Foz, a propósito do braço-de-ferro entre os dirigentes da Jota e Marcelo sobre a localização do congresso.

Só que Santana Lopes fez questão de realçar que não estava ali apenas como autarca anfitrião. E falou como militante do PPD/PSD, para dizer que no partido faltam mais actos de coragem. Santana repetiu várias vezes o nome e o exemplo de coragem de Cavaco Silva, que tinha sido eleito pela primeira vez presidente do PSD naquele mesmo Casino da Figueira, e não se coibiu de mandar vários recados a Marcelo, perante uma audiência de jovens social-democratas que ficou rapidamente rendida aos seus dotes oratórios.

O presidente do PSD teve que esperar 24 horas para responder a Santana.

Os recados do líder

No discurso de encerramento do congresso, Marcelo insistiu em centrar a sua intervenção no tema da regionalização. O autarca regionalista da Figueira estava ausente da sala, mas muitas das observações do líder do PSD dirigiram-se a ele. E até na questão da independência da JSD, tão elogiada por Santana, Marcelo acusou o toque: «Acho muito bem que a JSD se mantenha independente nas ideias. Mas que o seja também economicamente.»

O recado era para Pedro Duarte, mas também para Jorge Moreira da Silva, que manteve um ar ausente durante todo o evento. Num dos intervalos, Moreira da Silva passeava o seu filho recém-nascido em frente ao casino, quando se começou a ouvir os gritos do bebé. Moreira da Silva parou e explicou aos jornalistas: «Ele está assim porque não percebe nada do que se está a passar. Em Janeiro estavam todos contra o pai. Agora estão todos a aplaudi-lo.»

Com Jorge Moreira da Silva a apoiar o adversário que tinha derrotado no Congresso de Viseu, o primeiro dia do congresso da JSD foi passado a explicar aos participantes a razão da sua presença. O último encontro tinha acontecido há apenas nove meses, a questão da presidência estava resolvida e ninguém trazia projectos para qualquer reforma profunda daquela organização de juventude. «Podem então dizer-me o que é que estamos aqui a fazer?», perguntava um delegado de Leiria, perante uma Mesa do Congresso com poucas respostas para dar.

Os participantes estavam ainda mais indignados com esta falta de propósitos por causa dos custos financeiros pessoais da sua participação. Marcelo Rebelo de Sousa decidiu fechar os cordões à bolsa das ajudas à JSD e, por isso, cada delegado teve de pagar dez contos e cada observador pagou 15 contos. E alguns já ameaçavam pedir o dinheiro de volta perante a ausência de objectivos. Houve até uma sessão de trabalhos, no sábado de manhã, que foi anulada por falta de participantes.

Ricardo Jorge Pinto com Cristina Figueiredo

Pedro Duarte e Marcelo: o novo líder da JSD não esconde a simpatia por Santana, mas afirma apoiar o presidente do partido

Isto num congresso que não teve história e serviu apenas para Marcelo Rebelo de Sousa e Pedro Santana Lopes trocarem recados. Em diferido, porque tiveram o cuidado de fazer tudo para não se cruzarem na entrada para as salas de jogo do casino.

O silêncio sobre a mensagem de Durão Barroso não caiu bem junto de alguns dos recém-eleitos membros do Conselho Nacional, muitos deles simpatizantes do deputado. «Se calhar era a única 'gaffe' que não deveria ter acontecido neste congresso», comentou ao EXPRESSO Pedro Duarte, para quem o acontecimento não passou mesmo de um deslize do presidente da Mesa, Nuno Freitas, que é agora o seu primeiro vice-presidente.

Nuno Freitas assume o lapso, mas recusa que ele tenha tido «qualquer intenção política». Em declarações ao EXPRESSO, garante que foi «inadvertido»: simplesmente não tinha o texto de Barroso à sua frente, nem sequer sabia da sua existência quando chegou a hora de dar conta aos congressistas das personalidades que, tendo sido convidadas e não podendo estar presentes, haviam enviado mensagens. «Tínhamos dezenas de mensagens», justifica o agora vice-presidente da «Jota», surpreendido com o melindre - a seu ver, «excessivo» e sem sentido - que a sua falha gerou.

O novo líder da JSD garante que não houve qualquer interferência de Marcelo neste episódio, como alguns delegados, que tiveram conhecimento da mensagem, chegaram a admitir.

Aliás, o tema da autonomia da JSD face ao partido foi um dos pontos fortes deste congresso. O espírito de independência que Pedro Duarte quer incutir na organização tinha sido elogiado por Santana Lopes, que discursou na abertura do congresso. «Vocês tiveram uma coragem do caraças», foi a expressão empregue pelo presidente da Câmara da Figueira da Foz, a propósito do braço-de-ferro entre os dirigentes da Jota e Marcelo sobre a localização do congresso.

Só que Santana Lopes fez questão de realçar que não estava ali apenas como autarca anfitrião. E falou como militante do PPD/PSD, para dizer que no partido faltam mais actos de coragem. Santana repetiu várias vezes o nome e o exemplo de coragem de Cavaco Silva, que tinha sido eleito pela primeira vez presidente do PSD naquele mesmo Casino da Figueira, e não se coibiu de mandar vários recados a Marcelo, perante uma audiência de jovens social-democratas que ficou rapidamente rendida aos seus dotes oratórios.

O presidente do PSD teve que esperar 24 horas para responder a Santana.

Os recados do líder

No discurso de encerramento do congresso, Marcelo insistiu em centrar a sua intervenção no tema da regionalização. O autarca regionalista da Figueira estava ausente da sala, mas muitas das observações do líder do PSD dirigiram-se a ele. E até na questão da independência da JSD, tão elogiada por Santana, Marcelo acusou o toque: «Acho muito bem que a JSD se mantenha independente nas ideias. Mas que o seja também economicamente.»

O recado era para Pedro Duarte, mas também para Jorge Moreira da Silva, que manteve um ar ausente durante todo o evento. Num dos intervalos, Moreira da Silva passeava o seu filho recém-nascido em frente ao casino, quando se começou a ouvir os gritos do bebé. Moreira da Silva parou e explicou aos jornalistas: «Ele está assim porque não percebe nada do que se está a passar. Em Janeiro estavam todos contra o pai. Agora estão todos a aplaudi-lo.»

Com Jorge Moreira da Silva a apoiar o adversário que tinha derrotado no Congresso de Viseu, o primeiro dia do congresso da JSD foi passado a explicar aos participantes a razão da sua presença. O último encontro tinha acontecido há apenas nove meses, a questão da presidência estava resolvida e ninguém trazia projectos para qualquer reforma profunda daquela organização de juventude. «Podem então dizer-me o que é que estamos aqui a fazer?», perguntava um delegado de Leiria, perante uma Mesa do Congresso com poucas respostas para dar.

Os participantes estavam ainda mais indignados com esta falta de propósitos por causa dos custos financeiros pessoais da sua participação. Marcelo Rebelo de Sousa decidiu fechar os cordões à bolsa das ajudas à JSD e, por isso, cada delegado teve de pagar dez contos e cada observador pagou 15 contos. E alguns já ameaçavam pedir o dinheiro de volta perante a ausência de objectivos. Houve até uma sessão de trabalhos, no sábado de manhã, que foi anulada por falta de participantes.

Ricardo Jorge Pinto com Cristina Figueiredo

marcar artigo