EXPRESSO -

01-06-2000
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«O 25 de Abril é o aniversário do Almirante Reis, que se chamava Cândido e deve ter morrido a 5 de Outubro, a avaliar pelas constantes referências toponímicaS ao homem e a estas datas»

O feriado roubado

SERVE esta crónica para falar do 25 de Abril. O de 1974, quero dizer, que este de hoje não tem história, pelo menos para já, e até há quem diga que não passa de um feriado roubado pelo calendário, o mais reaccionário dos últimos anos, como diria o prof. Marcelo. No ano passado é que foi bom, uma sexta-feira santa nas imediações da outra da Páscoa, e a malta toda a comemorar com visitas ao país real, à terra, para trazer enchidos e batatas. Não há nada como celebrar a liberdade, poupando uns tostões. É que, mesmo se tivermos em conta a gasolina perdida nos engarrafamentos do regresso, o preço compensa e vê-se a família. Serve esta crónica para falar do 25 de Abril e do 5 de Outubro, já agora, que também deve ser entendido como o de 1910, uma vez que o deste ano, para muitos igualmente, não passa de um belo dia de folga extra, que calha à segunda-feira, prolongando, assim, o fim-de-semanazito respectivo. Lá vamos nós às batatas, que deverão render até ao Natal, quadra que este ano dará nova ponte de três ou quatro dias, como só o 10 de Junho se mostra capaz. É a vingança sobre 97, quando o Dia da Implantação da República em Portugal coincidiu com um domingo, castigo simbólico para os cidadãos que, nesse ano mais do que nunca, manifestaram a vontade muito folclórica de voltarem a ser súbditos de um rei. Bem feita, disseram os republicanos de mais mau feitio. Então andam aos vivas em Vila Viçosa e depois queriam ponte? Diz a História recente de Portugal que 25 de Abril e 5 de Outubro têm mais em comum do que serem nomes de ruas e praças, um pouco por todo o país, sendo nisso e para muitos, os mais jovens principalmente, uma espécie de Cândido dos Reis, o almirante que tem direito a todas as ruas direitas das terras e ninguém sabe quem foi. Foram revoluções, acabaram com regimes caducos, forneceram oxigénio à cidadania, trouxeram liberdade, direitos cívicos, dos grandes e básicos aos mais pequenos e triviais, do direito de reunião ao direito de usar cabelo comprido. Há dias, Baptista Bastos, falando com uns jovens, a propósito da sua célebre caricatura hermaniana «onde é que tu estavas no 25 de Abril», explicava-lhes que, antes disso, eles poderiam ser presos se se beijassem no meio da rua. E que qualquer rapaz «guedelhudo» ia logo à máquina zero se passasse por uma esquadra, acrescente-se. E que todos os jardineiros eram agentes da autoridade e ai de quem pisasse a relva. E que os convívios no liceu eram estritamente vigiados. A gente custa a acreditar, mas era mesmo assim, há menos de 25 anos. Há 24 e um dia.

«O 25 de Abril é o aniversário do Almirante Reis, que se chamava Cândido e deve ter morrido a 5 de Outubro, a avaliar pelas constantes referências toponímicaS ao homem e a estas datas»

O feriado roubado

SERVE esta crónica para falar do 25 de Abril. O de 1974, quero dizer, que este de hoje não tem história, pelo menos para já, e até há quem diga que não passa de um feriado roubado pelo calendário, o mais reaccionário dos últimos anos, como diria o prof. Marcelo. No ano passado é que foi bom, uma sexta-feira santa nas imediações da outra da Páscoa, e a malta toda a comemorar com visitas ao país real, à terra, para trazer enchidos e batatas. Não há nada como celebrar a liberdade, poupando uns tostões. É que, mesmo se tivermos em conta a gasolina perdida nos engarrafamentos do regresso, o preço compensa e vê-se a família. Serve esta crónica para falar do 25 de Abril e do 5 de Outubro, já agora, que também deve ser entendido como o de 1910, uma vez que o deste ano, para muitos igualmente, não passa de um belo dia de folga extra, que calha à segunda-feira, prolongando, assim, o fim-de-semanazito respectivo. Lá vamos nós às batatas, que deverão render até ao Natal, quadra que este ano dará nova ponte de três ou quatro dias, como só o 10 de Junho se mostra capaz. É a vingança sobre 97, quando o Dia da Implantação da República em Portugal coincidiu com um domingo, castigo simbólico para os cidadãos que, nesse ano mais do que nunca, manifestaram a vontade muito folclórica de voltarem a ser súbditos de um rei. Bem feita, disseram os republicanos de mais mau feitio. Então andam aos vivas em Vila Viçosa e depois queriam ponte? Diz a História recente de Portugal que 25 de Abril e 5 de Outubro têm mais em comum do que serem nomes de ruas e praças, um pouco por todo o país, sendo nisso e para muitos, os mais jovens principalmente, uma espécie de Cândido dos Reis, o almirante que tem direito a todas as ruas direitas das terras e ninguém sabe quem foi. Foram revoluções, acabaram com regimes caducos, forneceram oxigénio à cidadania, trouxeram liberdade, direitos cívicos, dos grandes e básicos aos mais pequenos e triviais, do direito de reunião ao direito de usar cabelo comprido. Há dias, Baptista Bastos, falando com uns jovens, a propósito da sua célebre caricatura hermaniana «onde é que tu estavas no 25 de Abril», explicava-lhes que, antes disso, eles poderiam ser presos se se beijassem no meio da rua. E que qualquer rapaz «guedelhudo» ia logo à máquina zero se passasse por uma esquadra, acrescente-se. E que todos os jardineiros eram agentes da autoridade e ai de quem pisasse a relva. E que os convívios no liceu eram estritamente vigiados. A gente custa a acreditar, mas era mesmo assim, há menos de 25 anos. Há 24 e um dia.

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