Como se ensina a Europa?

15-12-2000
marcar artigo

Questões europeias devem ser mais valorizadas na escola

Como Se Ensina a Europa?

Por ISABEL LEIRIA E SANDRA SILVA COSTA

Quarta-feira, 9 de Agosto de 2000 A Comissão Europeia quer que as escolas ensinem mais sobre a Europa. Desde o ensino primário. Em Portugal, país onde muitos alunos ainda falam de CEE e onde a União Europeia costuma vir nas últimas páginas dos manuais, a ideia é vista com bons olhos. O PÚBLICO consultou alguns livros escolares e pediu reacções sobre as intenções de Bruxelas. É no 6º ano, na disciplina de História, que os jovens portugueses aprendem pela primeira vez, na escola, o que é a União Europeia (UE). O currículo assim o prevê, mas na prática nem sempre se passa desta forma. Relegado para o último ponto do último capítulo do programa, o tema comunitário é frequentemente sacrificado aos ditames do calendário escolar. "Ouço muitas vezes que a matéria fica por dar", admite o presidente da Associação de Professores de História (APH), Luís Filipe Santos. Uma consulta a vários manuais escolares de 6º ano adoptados para o próximo ano lectivo constata a referência à matéria. Mas sempre nas últimas páginas e muito sinteticamente. A data de adesão de Portugal à CEE, os organismos que compõem a Comunidade Europeia e seus objectivos são alguns dos conhecimentos que se espera que os alunos adquiram. A Comissão Europeia (CE) elaborou recentemente uma proposta no sentido da valorização da "dimensão europeia" nas escolas dos Quinze. As reacções não se fizeram esperar e, esta semana, a imprensa britânica condenou o que considera ser uma ingerência nos currículos nacionais - chegou a falar-se de uma eventual disciplina obrigatória, uma ideia prontamente desmentida pela CE. Em Portugal, depois de no 6º ano os alunos terem um primeiro contacto com a Europa dos Quinze, é preciso esperar até ao último ano da escolaridade obrigatória para que o tema volte a ser ensinado, com "alguma profundidade". Dedicado à História Contemporânea, o programa do 9º prevê o ensino das questões europeias em dois capítulos e os manuais trazem mais páginas dedicadas à matéria. No 12º ano, a Europa volta a integrar o currículo de História e os conhecimentos dos alunos nesta área são normalmente testados nalguma questão do exame nacional no final do secundário. Nem que seja por isso, Luís Filipe Santos garante que toda a matéria é dada nas aulas. Abordam-se as instituições que estiveram na origem da CEE, enumeram-se programas comunitários e os principais passos da integração. Pela primeira vez recorda-se o que foi o ECU e fala-se do euro. Na prática, os jovens continuam a revelar pouca informação, quando chegam ao final da escolaridade, diz o presidente da APH: "Sabem que Portugal pertence à UE, mas não conhecem as etapas, os mecanismos de decisão, os problemas que a construção europeia levanta. Muitos até continuam a referir-se à União Europeia como sendo a CEE." Luís Filipe Santos acredita que o problema não está nos professores - bastante sensibilizados para as questões europeias -, mas vê com bons olhos um reforço do tempo que dedicam a estas matérias. Mais grave é não saber português A ignorância sobre a Europa é grande, mesmo entre a população dos países fundadores da UE, reconhece Sarsfield Cabral, antigo director da Comissão Europeia em Portugal. A escola deve ser o meio privilegiado para abordar as questões europeias - incluindo a História e a cultura dos diferentes países, defende. Mais grave, porém, é que haja haver alunos que não sabem falar português ou contar, acrescenta. Para Sarsfield Cabral, autor do programa televisivo Aqui Europa, as propostas da CE são bem-vindas. Acredita, aliás, que existe uma "alta receptividade" por parte dos jovens, "que têm a noção de que as questões que os afectam têm também a ver com a UE". Já a preparação dos professores para ensinarem estas "matérias" preocupa-o. "A primeira coisa que devemos fazer, sem entrar em reacções nacionalistas, é receber bem esta iniciativa da Comissão", defende também o deputado social-democrata David Justino. De olhos postos nas mudanças que o ME vai introduzir no ensino básico e secundário, este defensor acérrimo da "construção da identidade europeia" alerta: "Uma coisa são as orientações de Bruxelas, outra aquelas que o ME põe em prática." Por isso espera que os novos espaços curriculares previstos abordem estas questões. Mais céptico, Hélder Pacheco, professor universitário e historiador, não morre de amores "pelo conceito de Europa que tem sido difundido: a Europa dos tecnocratas de Bruxelas que privilegiam os critérios económico-financeiros". Apesar de tudo, "e já que a Europa dos Quinze se fez", parece-lhe bem "que a CE estimule a abordagem dos temas europeus nas escolas, desde que isso não signifique que Portugal tenha que esquecer as suas raízes, a sua cultura, a sua língua". Isto, quando "ninguém tem conhecimentos profundos sobre a História da Europa e das suas instituições", principalmente porque esta "tem sido muito mal ensinada e muito mal promovida". OUTROS TÍTULOS EM EDUCAÇÃO Como se ensina a Europa?

Formação Cívica no básico

Pais dos alunos de Guimarães estão "a preparar a vingança"

Questões europeias devem ser mais valorizadas na escola

Como Se Ensina a Europa?

Por ISABEL LEIRIA E SANDRA SILVA COSTA

Quarta-feira, 9 de Agosto de 2000 A Comissão Europeia quer que as escolas ensinem mais sobre a Europa. Desde o ensino primário. Em Portugal, país onde muitos alunos ainda falam de CEE e onde a União Europeia costuma vir nas últimas páginas dos manuais, a ideia é vista com bons olhos. O PÚBLICO consultou alguns livros escolares e pediu reacções sobre as intenções de Bruxelas. É no 6º ano, na disciplina de História, que os jovens portugueses aprendem pela primeira vez, na escola, o que é a União Europeia (UE). O currículo assim o prevê, mas na prática nem sempre se passa desta forma. Relegado para o último ponto do último capítulo do programa, o tema comunitário é frequentemente sacrificado aos ditames do calendário escolar. "Ouço muitas vezes que a matéria fica por dar", admite o presidente da Associação de Professores de História (APH), Luís Filipe Santos. Uma consulta a vários manuais escolares de 6º ano adoptados para o próximo ano lectivo constata a referência à matéria. Mas sempre nas últimas páginas e muito sinteticamente. A data de adesão de Portugal à CEE, os organismos que compõem a Comunidade Europeia e seus objectivos são alguns dos conhecimentos que se espera que os alunos adquiram. A Comissão Europeia (CE) elaborou recentemente uma proposta no sentido da valorização da "dimensão europeia" nas escolas dos Quinze. As reacções não se fizeram esperar e, esta semana, a imprensa britânica condenou o que considera ser uma ingerência nos currículos nacionais - chegou a falar-se de uma eventual disciplina obrigatória, uma ideia prontamente desmentida pela CE. Em Portugal, depois de no 6º ano os alunos terem um primeiro contacto com a Europa dos Quinze, é preciso esperar até ao último ano da escolaridade obrigatória para que o tema volte a ser ensinado, com "alguma profundidade". Dedicado à História Contemporânea, o programa do 9º prevê o ensino das questões europeias em dois capítulos e os manuais trazem mais páginas dedicadas à matéria. No 12º ano, a Europa volta a integrar o currículo de História e os conhecimentos dos alunos nesta área são normalmente testados nalguma questão do exame nacional no final do secundário. Nem que seja por isso, Luís Filipe Santos garante que toda a matéria é dada nas aulas. Abordam-se as instituições que estiveram na origem da CEE, enumeram-se programas comunitários e os principais passos da integração. Pela primeira vez recorda-se o que foi o ECU e fala-se do euro. Na prática, os jovens continuam a revelar pouca informação, quando chegam ao final da escolaridade, diz o presidente da APH: "Sabem que Portugal pertence à UE, mas não conhecem as etapas, os mecanismos de decisão, os problemas que a construção europeia levanta. Muitos até continuam a referir-se à União Europeia como sendo a CEE." Luís Filipe Santos acredita que o problema não está nos professores - bastante sensibilizados para as questões europeias -, mas vê com bons olhos um reforço do tempo que dedicam a estas matérias. Mais grave é não saber português A ignorância sobre a Europa é grande, mesmo entre a população dos países fundadores da UE, reconhece Sarsfield Cabral, antigo director da Comissão Europeia em Portugal. A escola deve ser o meio privilegiado para abordar as questões europeias - incluindo a História e a cultura dos diferentes países, defende. Mais grave, porém, é que haja haver alunos que não sabem falar português ou contar, acrescenta. Para Sarsfield Cabral, autor do programa televisivo Aqui Europa, as propostas da CE são bem-vindas. Acredita, aliás, que existe uma "alta receptividade" por parte dos jovens, "que têm a noção de que as questões que os afectam têm também a ver com a UE". Já a preparação dos professores para ensinarem estas "matérias" preocupa-o. "A primeira coisa que devemos fazer, sem entrar em reacções nacionalistas, é receber bem esta iniciativa da Comissão", defende também o deputado social-democrata David Justino. De olhos postos nas mudanças que o ME vai introduzir no ensino básico e secundário, este defensor acérrimo da "construção da identidade europeia" alerta: "Uma coisa são as orientações de Bruxelas, outra aquelas que o ME põe em prática." Por isso espera que os novos espaços curriculares previstos abordem estas questões. Mais céptico, Hélder Pacheco, professor universitário e historiador, não morre de amores "pelo conceito de Europa que tem sido difundido: a Europa dos tecnocratas de Bruxelas que privilegiam os critérios económico-financeiros". Apesar de tudo, "e já que a Europa dos Quinze se fez", parece-lhe bem "que a CE estimule a abordagem dos temas europeus nas escolas, desde que isso não signifique que Portugal tenha que esquecer as suas raízes, a sua cultura, a sua língua". Isto, quando "ninguém tem conhecimentos profundos sobre a História da Europa e das suas instituições", principalmente porque esta "tem sido muito mal ensinada e muito mal promovida". OUTROS TÍTULOS EM EDUCAÇÃO Como se ensina a Europa?

Formação Cívica no básico

Pais dos alunos de Guimarães estão "a preparar a vingança"

marcar artigo