No Silêncio Todos Somos Iguais
Por DAVID JUSTINO*
Quinta-feira, 26 de Abril de 2001 Os responsáveis do Ministério da Educação (ME) não gostam de "rankings". Mas eles existem. Foram elaborados pelos seus próprios serviços e circulam como "informação classificada" nos corredores da 5 de Outubro. Por mais que o Sr. Ministro negue a sua política de secretismo, não pode negar a existência dessa informação. Mas o ME não gosta de "rankings". Por isso não os divulga, mesmo que violando um direito elementar dos cidadãos: o direito à informação, na sua plenitude. O Sr. Ministro invoca três razões para não o fazer: recusa reduzir a avaliação do desempenho das escolas "a uma escala unidimensional", recusa um "ranking" oficial e não subscreve o princípio de que a competição é o "único caminho para estimular a qualificação". Estaria tentado a concordar, quase na totalidade, com as razões do Sr. Ministro, não fora considerá-las pouco relevantes para justificar a sua posição. Um "ranking" das escolas não se reduz a uma escala unidimensional. Tudo depende da forma como ele é construído. Poderá sempre agregar diferentes variáveis de aproximação, a partir de um algoritmo adequado. Poderá mesmo integrar, para além dos resultados obtidos pelos alunos em provas de aferição ou exames nacionais, outros indicadores sobre a qualidade do ensino ministrado, o nível de abandono escolar ou as taxas de retenção. Poderá mesmo ser ponderado em função das características socio-económicas dos alunos de cada escola. Conheço de há mais de vinte anos a competência técnica e científica do Sr. Ministro e não acredito que ele desconheça que tal é possível. Compreendo - mas não concordo! - a recusa de um "ranking" oficial. Problema fácil de resolver, Sr. Ministro: publique toda a informação necessária para que, de forma séria, uma entidade independente o possa fazer. Não faltam centros de investigação científica dispostos a trabalhar os dados e a elaborar listas ordenadas das escolas de acordo com os mais variados critérios. Ao recusar a divulgação dessas variáveis, está a incentivar o aparecimento de múltiplos "rankings" sem o mínimo de credibilidade e sem qualquer sustentação científica. O terceiro argumento é o mais ideológico de todos. A competição não será o único caminho para estimular a qualificação, mas é um caminho incontornável. Porque é que se pretende desvalorizar o efeito competitivo que a publicação dos resultados poderá ter? Competimos na economia, competimos nas nossas carreiras profissionais, competimos na política, no dia a dia da nossa vida social. Porque não podemos competir no ensino, na busca de melhores práticas, na promoção de melhores desempenhos, no atingir de melhores resultados? Com a sua recusa o Sr. Ministro está a ser cúmplice das escolas que inflacionam as notas para favorecer os seus alunos e prejudica aquelas que se regem por critérios de rigor e exigência. A ocultação dos resultados lança sobre todo o sistema o anátema do insucesso. Mas será que não existem escolas e professores que conseguem bons resultados? Será que essas escolas e esses professores não merecem o reconhecimento público do seu trabalho, do seu esforço e da sua competência? Não merecerão as boas práticas a divulgação séria e rigorosa para que outros as possam adoptar? A ocultação dos resultados nivela pelo silêncio, favorecendo os que pouco trabalham e os incompetentes, desvalorizando e desmotivando os que se empenham, os que fazem do seu profissionalismo um motivo de orgulho e de sentido de responsabilidade e serviço público. Por último, uma questão de base: o que são boas e más escolas? Aquelas cujos alunos obtêm bons resultados nos exames? Não necessariamente. Poderão ser aquelas que, decorrente do seu esforço e organização, registaram melhorias face aos resultados obtidos em anos anteriores. Essas merecem ser distinguidas, merecem o reconhecimento do mérito do seu esforço e competência. Merecem ser noticiadas pela comunicação social e desejadas pelos alunos e encarregados de educação. Merecem do ME o prémio de um maior investimento na melhoria das suas condições de trabalho e na divulgação do "segredo" do seu sucesso. Mesmo que situadas na cauda do "ranking". Só que o ME não gosta de "rankings". Prefere o silêncio cúmplice que protege a mediocridade e a incompetência. Prefere não correr o risco de desagradar aos interesses corporativos, mesmo sabendo que prejudica os alunos, as famílias, o próprio interesse nacional. *Professor Universitário, vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PSD na Assembleia da República OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Divulgação de um "ranking" das escolas divide opiniões
O que dizem os diplomas
Inquérito: Concorda com divulgação de um "ranking" das escolas? Porquê?
Os exemplos da Europa
OPINIÃO
No silêncio todos somos iguais
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Entidades
No Silêncio Todos Somos Iguais
Por DAVID JUSTINO*
Quinta-feira, 26 de Abril de 2001 Os responsáveis do Ministério da Educação (ME) não gostam de "rankings". Mas eles existem. Foram elaborados pelos seus próprios serviços e circulam como "informação classificada" nos corredores da 5 de Outubro. Por mais que o Sr. Ministro negue a sua política de secretismo, não pode negar a existência dessa informação. Mas o ME não gosta de "rankings". Por isso não os divulga, mesmo que violando um direito elementar dos cidadãos: o direito à informação, na sua plenitude. O Sr. Ministro invoca três razões para não o fazer: recusa reduzir a avaliação do desempenho das escolas "a uma escala unidimensional", recusa um "ranking" oficial e não subscreve o princípio de que a competição é o "único caminho para estimular a qualificação". Estaria tentado a concordar, quase na totalidade, com as razões do Sr. Ministro, não fora considerá-las pouco relevantes para justificar a sua posição. Um "ranking" das escolas não se reduz a uma escala unidimensional. Tudo depende da forma como ele é construído. Poderá sempre agregar diferentes variáveis de aproximação, a partir de um algoritmo adequado. Poderá mesmo integrar, para além dos resultados obtidos pelos alunos em provas de aferição ou exames nacionais, outros indicadores sobre a qualidade do ensino ministrado, o nível de abandono escolar ou as taxas de retenção. Poderá mesmo ser ponderado em função das características socio-económicas dos alunos de cada escola. Conheço de há mais de vinte anos a competência técnica e científica do Sr. Ministro e não acredito que ele desconheça que tal é possível. Compreendo - mas não concordo! - a recusa de um "ranking" oficial. Problema fácil de resolver, Sr. Ministro: publique toda a informação necessária para que, de forma séria, uma entidade independente o possa fazer. Não faltam centros de investigação científica dispostos a trabalhar os dados e a elaborar listas ordenadas das escolas de acordo com os mais variados critérios. Ao recusar a divulgação dessas variáveis, está a incentivar o aparecimento de múltiplos "rankings" sem o mínimo de credibilidade e sem qualquer sustentação científica. O terceiro argumento é o mais ideológico de todos. A competição não será o único caminho para estimular a qualificação, mas é um caminho incontornável. Porque é que se pretende desvalorizar o efeito competitivo que a publicação dos resultados poderá ter? Competimos na economia, competimos nas nossas carreiras profissionais, competimos na política, no dia a dia da nossa vida social. Porque não podemos competir no ensino, na busca de melhores práticas, na promoção de melhores desempenhos, no atingir de melhores resultados? Com a sua recusa o Sr. Ministro está a ser cúmplice das escolas que inflacionam as notas para favorecer os seus alunos e prejudica aquelas que se regem por critérios de rigor e exigência. A ocultação dos resultados lança sobre todo o sistema o anátema do insucesso. Mas será que não existem escolas e professores que conseguem bons resultados? Será que essas escolas e esses professores não merecem o reconhecimento público do seu trabalho, do seu esforço e da sua competência? Não merecerão as boas práticas a divulgação séria e rigorosa para que outros as possam adoptar? A ocultação dos resultados nivela pelo silêncio, favorecendo os que pouco trabalham e os incompetentes, desvalorizando e desmotivando os que se empenham, os que fazem do seu profissionalismo um motivo de orgulho e de sentido de responsabilidade e serviço público. Por último, uma questão de base: o que são boas e más escolas? Aquelas cujos alunos obtêm bons resultados nos exames? Não necessariamente. Poderão ser aquelas que, decorrente do seu esforço e organização, registaram melhorias face aos resultados obtidos em anos anteriores. Essas merecem ser distinguidas, merecem o reconhecimento do mérito do seu esforço e competência. Merecem ser noticiadas pela comunicação social e desejadas pelos alunos e encarregados de educação. Merecem do ME o prémio de um maior investimento na melhoria das suas condições de trabalho e na divulgação do "segredo" do seu sucesso. Mesmo que situadas na cauda do "ranking". Só que o ME não gosta de "rankings". Prefere o silêncio cúmplice que protege a mediocridade e a incompetência. Prefere não correr o risco de desagradar aos interesses corporativos, mesmo sabendo que prejudica os alunos, as famílias, o próprio interesse nacional. *Professor Universitário, vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PSD na Assembleia da República OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Divulgação de um "ranking" das escolas divide opiniões
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Inquérito: Concorda com divulgação de um "ranking" das escolas? Porquê?
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No silêncio todos somos iguais