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27-06-2001
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Sabe ou não sabe ensinar? 13-JUN-2001

Luísa Melo

Nunca se falou tanto de avaliação dos professores e do sistema escolar. Há provas aferidas, divulgação dos resultados dos exames nacionais e das provas globais por escolas (a que já se chamou ranking de escolas), avaliação do desempenho dos professores. O caminho certo ou errado?

Ao considerar que os professores (referindo-se especificamente aos professores da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto) têm de estar preparados para a «crítica dura e mesmo rude» por parte dos estudantes, o Tribunal da Relação do Porto pode não ter feito história, mas pelo menos levantou a questão da avaliação dos docentes e, muito concretamente, se os alunos devem avaliar pedagogicamente os professores.

O problema foi colocado em relação aos docentes do ensino superior e o facto é que sindicatos e Ministério da Educação estão empenhados em introduzir a avaliação do desempenho da componente pedagógica, agora que o Estatuto da Carreira Docente Universitária está a ser revisto.

A Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (FNE) considera que o acordão do Tribunal da Relação do Porto devia conduzir a uma grande reflexão dentro das universidades e, em conjunto com os docentes, avaliarem algumas questões.

A secretária geral da FNE, Manuela Teixeira, considera que os professores universitários não podem ser avaliados unicamente pelo desempenho científico e a «quantidade de papéis que produzem», pois, cada vez mais, a dimensão pedagógica assume um papel fundamental. Por isso, explicou ao PortugalDiário, «propusemos, no âmbito na revisão do estatuto, que os professores tivessem, antes da nomeação definitiva, um acompanhamento pedagógico».

A ideia de os alunos avaliarem pedagogicamente os docentes não choca Manuela Teixeira, que considera que, «segundo as idades dos estudantes, é possível encontrar formas diversas de o fazer».

O presidente do Sindicato de Professores do Norte (SPN), Abel Macedo, é menos receptivo a esta fórmula, mas defende a auto-avaliação dos professores (a chamada avaliação de desempenho) como forma de «melhorar o trabalho e não de punir». Tudo porque é preciso ter em conta factores diversos como: as relações com os alunos e com os outros professores, as condições de trabalho e o tipo de alunos.

Daí este sindicato, afecto à Fedração Nacional de Professores (Fenprof) considerar que as provas aferidas e os «rankings de escolas» «traduzem olhares sobre desempenhos que são completamente descontextualizados». Abel Macedo admite a avaliação institucional, mas que tenha em conta todos os factores que rodeiam o trabalho do professor.

Aferir a qualidade pedagógica no superior e no secundário

Em Portugal «não se conhecem os números nem as causas do insucesso escolar», por isso, explica o presidente da Federação Académica do Porto (FAP), Hugo Neto, as taxas de reprovação podem funcionar como um indicador para se partir para uma investigação. E, nesse sentido, acrescenta, a aferição da qualidade pedagógica dos professores, principalmente no ensino superior, por parte dos alunos «devia também ser um contributo».

Hugo Neto preconiza, inclusivamente, uma avaliação pedagógica deste género no ensino secundário. Uma ideia corroborada pelo ministro da Educação do governo sombra social-democrata, David Justino.

Em declarações ao PortugalDiário, aquele professor universitário defendeu que a avaliação estudantil (chamemos-lhe assim) «devia ser uma prática comum no ensino superior», o mesmo acontecendo no ensino secundário, embora neste nível fosse necessário «organizar uma grelha diferente, porque a maturidade dos alunos também é diferente».

Para David Justino este procedimento «até seria útil para o professor porque assim saberia o que está a correr mal e o que é que pode corrigir».

Quanto aos rankings de escolas e às provas aferidas, David Justino considera que «só avaliam ambientes de escola, mas depois, internamente, os órgãos de gestão podem chamar a atenção dos professores». Medidas positivas, portanto.

Aliás, para o ministro sombra os rankings são tão importantes que deveriam existir também no ensino superior, «para os alunos saberem com o que contam e porque isso também funciona como factor de competitividade».

Se isso acontecesse, acrescenta, as elevadíssimas taxas de reprovação que se verificam em algumas disciplinas conheceriam outra evolução. Mas isso, diz David Justno, «introduz uma cultura de prestação de contas e de se ser chamado à responsabilidade, que é coisa que não existe no nosso país».

Sabe ou não sabe ensinar? 13-JUN-2001

Luísa Melo

Nunca se falou tanto de avaliação dos professores e do sistema escolar. Há provas aferidas, divulgação dos resultados dos exames nacionais e das provas globais por escolas (a que já se chamou ranking de escolas), avaliação do desempenho dos professores. O caminho certo ou errado?

Ao considerar que os professores (referindo-se especificamente aos professores da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto) têm de estar preparados para a «crítica dura e mesmo rude» por parte dos estudantes, o Tribunal da Relação do Porto pode não ter feito história, mas pelo menos levantou a questão da avaliação dos docentes e, muito concretamente, se os alunos devem avaliar pedagogicamente os professores.

O problema foi colocado em relação aos docentes do ensino superior e o facto é que sindicatos e Ministério da Educação estão empenhados em introduzir a avaliação do desempenho da componente pedagógica, agora que o Estatuto da Carreira Docente Universitária está a ser revisto.

A Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (FNE) considera que o acordão do Tribunal da Relação do Porto devia conduzir a uma grande reflexão dentro das universidades e, em conjunto com os docentes, avaliarem algumas questões.

A secretária geral da FNE, Manuela Teixeira, considera que os professores universitários não podem ser avaliados unicamente pelo desempenho científico e a «quantidade de papéis que produzem», pois, cada vez mais, a dimensão pedagógica assume um papel fundamental. Por isso, explicou ao PortugalDiário, «propusemos, no âmbito na revisão do estatuto, que os professores tivessem, antes da nomeação definitiva, um acompanhamento pedagógico».

A ideia de os alunos avaliarem pedagogicamente os docentes não choca Manuela Teixeira, que considera que, «segundo as idades dos estudantes, é possível encontrar formas diversas de o fazer».

O presidente do Sindicato de Professores do Norte (SPN), Abel Macedo, é menos receptivo a esta fórmula, mas defende a auto-avaliação dos professores (a chamada avaliação de desempenho) como forma de «melhorar o trabalho e não de punir». Tudo porque é preciso ter em conta factores diversos como: as relações com os alunos e com os outros professores, as condições de trabalho e o tipo de alunos.

Daí este sindicato, afecto à Fedração Nacional de Professores (Fenprof) considerar que as provas aferidas e os «rankings de escolas» «traduzem olhares sobre desempenhos que são completamente descontextualizados». Abel Macedo admite a avaliação institucional, mas que tenha em conta todos os factores que rodeiam o trabalho do professor.

Aferir a qualidade pedagógica no superior e no secundário

Em Portugal «não se conhecem os números nem as causas do insucesso escolar», por isso, explica o presidente da Federação Académica do Porto (FAP), Hugo Neto, as taxas de reprovação podem funcionar como um indicador para se partir para uma investigação. E, nesse sentido, acrescenta, a aferição da qualidade pedagógica dos professores, principalmente no ensino superior, por parte dos alunos «devia também ser um contributo».

Hugo Neto preconiza, inclusivamente, uma avaliação pedagógica deste género no ensino secundário. Uma ideia corroborada pelo ministro da Educação do governo sombra social-democrata, David Justino.

Em declarações ao PortugalDiário, aquele professor universitário defendeu que a avaliação estudantil (chamemos-lhe assim) «devia ser uma prática comum no ensino superior», o mesmo acontecendo no ensino secundário, embora neste nível fosse necessário «organizar uma grelha diferente, porque a maturidade dos alunos também é diferente».

Para David Justino este procedimento «até seria útil para o professor porque assim saberia o que está a correr mal e o que é que pode corrigir».

Quanto aos rankings de escolas e às provas aferidas, David Justino considera que «só avaliam ambientes de escola, mas depois, internamente, os órgãos de gestão podem chamar a atenção dos professores». Medidas positivas, portanto.

Aliás, para o ministro sombra os rankings são tão importantes que deveriam existir também no ensino superior, «para os alunos saberem com o que contam e porque isso também funciona como factor de competitividade».

Se isso acontecesse, acrescenta, as elevadíssimas taxas de reprovação que se verificam em algumas disciplinas conheceriam outra evolução. Mas isso, diz David Justno, «introduz uma cultura de prestação de contas e de se ser chamado à responsabilidade, que é coisa que não existe no nosso país».

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