Rui Rio: "É com os desinteressados que eu gosto de ganhar"

04-01-2002
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Rui Rio: "É com Os Desinteressados Que Eu Gosto de Ganhar"

Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2001

Rui Rio salienta a "difícil herança" na Câmara do Porto e Rui Sá fala de "pontos de conjugação" com o vencedor do PSD. Uma reportagem de Luísa Pinto, Cesaltina Pinto e Luís Octávio Costa

O Porto foi a surpresa da jornada. A prevista festa dos socialistas acabou por transferir-se para os sociais-democratas. Contra as sondagens, contra as "certezas" dos analistas e contra o próprio aparelho distrital do PSD, Rui Rio emergiu como o grande herói da noite.

E foi isso que Rio frisou. "Todos os que andaram comigo fizeram-no por desinteresse e convicção. Porque eu não tinha nada para dar a ninguém. Todos nos davam como derrotados. Fiquei só, com os desinteressados, mas é com esses que eu gosto de ganhar."

As primeiras palavras de Rio foram para as pessoas que o ajudaram a fazer o programa, a montar a máquina e a andar nas ruas. Depois, dirigiu-se ao presidente do PSD, Durão Barroso, porque também ele "teve de ter a coragem para se empenhar nesta candidatura". Rio lembrou que, ao seu lado, só teve "a convicção dos portuenses que quiseram a mudança", mas recusou-se a comentar o facto de não ter tido apoio da Distrital. "Esta não foi uma bofetada para ninguém", disse, numa referência a Luís Filipe Menezes. "Isso fica para as reuniões internas do partido. Não são coisas para se dizer publicamente. Nunca o fiz, não o vou fazer agora."

Mal refeito da vitória, respondeu que não tinha em mente nenhuma "primeira medida". "Eu acreditei que era possível, mas sabia que era muito, muito, muito difícil." Disse que começou a acreditar na sua eleição como presidente "quando andava nas ruas, em plena campanha". "Mas nunca tive a certeza se isso, depois, se iria traduzir em votos."

Confessou que não seria fácil gerir a "difícil herança" que lhe caía nas mãos. "É uma grande responsabilidade. Há muita coisa para fazer. Mas eu sei como está a cidade, como está o trânsito, como estão os bairros sociais..." E, referindo-se à composição do executivo camarário, adiantou: "Rui Sá vai ser um excelente vereador. É alguém que está muito preocupado com o Porto".

Socialistas desolados e revoltados

"É, acima de tudo, uma derrota pessoal", assumiu, ontem, Fernando Gomes, a quem de nada valeram as velinhas que distribuiu na campanha, a pedir a Nossa Senhora para que a vida lhe corresse bem. O ambiente na sede de candidatura dos socialistas era de grande nervosismo e consternação, um vazio desolador.

"Não quiseram os portuenses que ganhássemos as eleições", disse Gomes, pesaroso, para assumir que não ficaria como vereador. "Retiro-me", disse, para lembrar que era deputado, não estando, por isso, preocupado com o seu futuro político. O que correu mal? "Não faço a mínima ideia. Terão de perguntar aos portuenses. Não sei quais são as razões por que fui derrotado."

Orlando Gaspar, "número dois" da lista PS e presidente da concelhia, não escondeu a irritação. Passavam dez minutos das 19h00 quando comentou as sondagens. "O que interessa é ganhar. Temos de contar até ao último voto."

Mas desde então foram vários os lamentos. "O mal foi o Gomes ter ido para Lisboa. Depois veio outra vez... Isto foi por aqui uma reviravolta!", comentava-se. Um vendedor ambulante dizia: "Se fosse o Cardoso, o PS tinha ganho. Foi aí que o PS meteu o pé na argola".

Gomes e Gaspar abandonaram a sede pouco depois das 10h30, ao som das buzinadelas de vitória do PSD, cuja sede era ao lado. Foram embora separados e sem comentários. Mas, no exterior, Orlando Gaspar, principal opositor da candidatura de Nuno Cardoso, ainda apanhou a fúria do militante socialista António Tavares: "Você é que é o responsável desta derrota. Você não tem categoria nenhuma". Gaspar apressou-se a entrar no carro. "Se não tivessem feito a cama ao Nuno Cardoso, isto não tinha acontecido", explicava, com olhos lacrimejantes.

O "árbitro" Rui Sá

Na sede de campanha da CDU, Rui Sá aguardou pacientemente o momento em que Gomes admitiu a derrota para fazer uma apreciação aos resultados. Mostrou-se triste "por não ter reforçado o número de vereadores", mas isso passou a ser um "facto menor" face à distribuição entre PS e PSD - um empate com seis vereadores cada. "A actual conjuntura aumenta a nossa capacidade de iniciativa", sublinhou, admitindo assumir responsabilidades na câmara. Sá classificou como interessante vir a ter o pelouro da Habitação e "ofensiva" a hipótese da pasta da Saúde e Salubridade. O candidato, que, a partir de agora, terá nas mãos um voto decisivo no executivo, sublinhou que o "projecto de Fernando Gomes estava esgotado" e deixou clara a "existência de alguns pontos de conjugação" entre as propostas de Rui Rio e as ideias da CDU.

Rui Rio: "É com Os Desinteressados Que Eu Gosto de Ganhar"

Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2001

Rui Rio salienta a "difícil herança" na Câmara do Porto e Rui Sá fala de "pontos de conjugação" com o vencedor do PSD. Uma reportagem de Luísa Pinto, Cesaltina Pinto e Luís Octávio Costa

O Porto foi a surpresa da jornada. A prevista festa dos socialistas acabou por transferir-se para os sociais-democratas. Contra as sondagens, contra as "certezas" dos analistas e contra o próprio aparelho distrital do PSD, Rui Rio emergiu como o grande herói da noite.

E foi isso que Rio frisou. "Todos os que andaram comigo fizeram-no por desinteresse e convicção. Porque eu não tinha nada para dar a ninguém. Todos nos davam como derrotados. Fiquei só, com os desinteressados, mas é com esses que eu gosto de ganhar."

As primeiras palavras de Rio foram para as pessoas que o ajudaram a fazer o programa, a montar a máquina e a andar nas ruas. Depois, dirigiu-se ao presidente do PSD, Durão Barroso, porque também ele "teve de ter a coragem para se empenhar nesta candidatura". Rio lembrou que, ao seu lado, só teve "a convicção dos portuenses que quiseram a mudança", mas recusou-se a comentar o facto de não ter tido apoio da Distrital. "Esta não foi uma bofetada para ninguém", disse, numa referência a Luís Filipe Menezes. "Isso fica para as reuniões internas do partido. Não são coisas para se dizer publicamente. Nunca o fiz, não o vou fazer agora."

Mal refeito da vitória, respondeu que não tinha em mente nenhuma "primeira medida". "Eu acreditei que era possível, mas sabia que era muito, muito, muito difícil." Disse que começou a acreditar na sua eleição como presidente "quando andava nas ruas, em plena campanha". "Mas nunca tive a certeza se isso, depois, se iria traduzir em votos."

Confessou que não seria fácil gerir a "difícil herança" que lhe caía nas mãos. "É uma grande responsabilidade. Há muita coisa para fazer. Mas eu sei como está a cidade, como está o trânsito, como estão os bairros sociais..." E, referindo-se à composição do executivo camarário, adiantou: "Rui Sá vai ser um excelente vereador. É alguém que está muito preocupado com o Porto".

Socialistas desolados e revoltados

"É, acima de tudo, uma derrota pessoal", assumiu, ontem, Fernando Gomes, a quem de nada valeram as velinhas que distribuiu na campanha, a pedir a Nossa Senhora para que a vida lhe corresse bem. O ambiente na sede de candidatura dos socialistas era de grande nervosismo e consternação, um vazio desolador.

"Não quiseram os portuenses que ganhássemos as eleições", disse Gomes, pesaroso, para assumir que não ficaria como vereador. "Retiro-me", disse, para lembrar que era deputado, não estando, por isso, preocupado com o seu futuro político. O que correu mal? "Não faço a mínima ideia. Terão de perguntar aos portuenses. Não sei quais são as razões por que fui derrotado."

Orlando Gaspar, "número dois" da lista PS e presidente da concelhia, não escondeu a irritação. Passavam dez minutos das 19h00 quando comentou as sondagens. "O que interessa é ganhar. Temos de contar até ao último voto."

Mas desde então foram vários os lamentos. "O mal foi o Gomes ter ido para Lisboa. Depois veio outra vez... Isto foi por aqui uma reviravolta!", comentava-se. Um vendedor ambulante dizia: "Se fosse o Cardoso, o PS tinha ganho. Foi aí que o PS meteu o pé na argola".

Gomes e Gaspar abandonaram a sede pouco depois das 10h30, ao som das buzinadelas de vitória do PSD, cuja sede era ao lado. Foram embora separados e sem comentários. Mas, no exterior, Orlando Gaspar, principal opositor da candidatura de Nuno Cardoso, ainda apanhou a fúria do militante socialista António Tavares: "Você é que é o responsável desta derrota. Você não tem categoria nenhuma". Gaspar apressou-se a entrar no carro. "Se não tivessem feito a cama ao Nuno Cardoso, isto não tinha acontecido", explicava, com olhos lacrimejantes.

O "árbitro" Rui Sá

Na sede de campanha da CDU, Rui Sá aguardou pacientemente o momento em que Gomes admitiu a derrota para fazer uma apreciação aos resultados. Mostrou-se triste "por não ter reforçado o número de vereadores", mas isso passou a ser um "facto menor" face à distribuição entre PS e PSD - um empate com seis vereadores cada. "A actual conjuntura aumenta a nossa capacidade de iniciativa", sublinhou, admitindo assumir responsabilidades na câmara. Sá classificou como interessante vir a ter o pelouro da Habitação e "ofensiva" a hipótese da pasta da Saúde e Salubridade. O candidato, que, a partir de agora, terá nas mãos um voto decisivo no executivo, sublinhou que o "projecto de Fernando Gomes estava esgotado" e deixou clara a "existência de alguns pontos de conjugação" entre as propostas de Rui Rio e as ideias da CDU.

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