O Lima e o Vez voltam a saltar das margens

06-01-2001
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Inundações graves em Ponte da Barca e Arcos de Valdevez

O Lima e o Vez Voltam a Saltar das Margens

Por FRANCISCO FONSECA

Sábado, 6 de Janeiro de 2001 As águas do rio Lima invadiram ontem as vilas de Ponte da Barca e Ponte de Lima, inundado as zonas ribeirinhas e mais baixas dos dois aglomerados urbanos. O Vez, um afluente do Lima, transbordou também do leito e invadiu o centro histórico dos Arcos de Valdevez, deixando na rua mais de 30 moradores e comerciantes, naquela que é a décima segunda inundação do local este inverno. As inundações nestas localidades não são nenhuma novidade. Mas desta vez, a invasão das águas chegou acima do primeiro andar de cerca de 40 casas na Ponte da Barca. Em face da força da torrente, uma família (um homem com pouco mais de 40 anos, uma senhora de idade e uma criança) viu-se repentinamente isolada e teve de fugir de barco. "Eram quase sete horas da manhã e em pouco mais de meia hora o rio começou a subir tão violentamente que só tive tempo de pegar no meu filho e na minha mãe e sair pela janela, aproveitando um barco do vizinho que se desprendeu e encostou à nossa porta. Foi a nossa salvação, senão tínhamos ficado lá todos cobertos pela água", contou ao PÚBLICO José Barreto. Revoltados estavam moradores da marginal da vila que acusam a EDP e a câmara de não terem avisado no dia anterior para uma saída prévia que permitisse colocar a salvo pessoas e bens. "Isso não aconteceu e foi lamentável, porque está aqui muito da nossa vida e dinheiro. E agora não sei quem vai pagar estes prejuízos", acusava, lamentando-se, Adelino Barros, o dono do Restaurante Varanda do Lima que viu a água subir perto do tecto. Carlos Baptista, delegado dos Serviços de Protecção Civil de Viana da Castelo, recusa a acusação. "Demos todas as instruções às câmaras e comissões de protecção civil, assim como aos bombeiros", diz. Américo Duro, vereador da câmara e responsável pela protecção civil municipal, está ao lado dos moradores. Culpa a EDP e do seu comportamento na gestão de "stocks" de água: "Os responsáveis pelas barragens de Touvedo e Lindoso (no rio Lima, a montante de Ponte da Barca e Arcos de Valdevez) conheciam as condições climatéricas e a capacidade de reserva de água de cada uma. Tiveram dois dias para proceder às descargas de forma a garantir a segurança dos caudais. Não o fizeram e agora as pessoas é que são vítimas. Alguém que pagar os prejuízos", disse. Em Arcos, o rio voltou a inundar mais de 20 residências e estabelecimentos comerciais da zona histórica. A meio da tarde, as águas desceram e os moradores iniciaram a limpeza, mas ao fim do dia, o Vez continuou a subir e voltou a inundar os edifícios e segundo Rui Aguam, presidente da junta de freguesia local, "tudo leva a crer que a cheia está para durar". Recorde-se que os moradores do bairro da Valeta, nome pelo que é conhecido o local decidiram boicotar as próximas eleições presidenciais como forma de protesto contra a falta de uma solução para as inundações. Em Ponte de Lima, a situação foi menos complexa e ao fim da tarde as águas do rio estavam a descer. Ninguém teve de ser evacuado - as águas invadiram 20 edifícios, uma igreja, a biblioteca e um complexo desportivo - e os prejuízos são menores. A marginal da vila é também uma zona comercial, mas a câmara e a protecção civil avisaram a tempo os moradores que "retiraram tudo durante a noite", garantiu ao PÚBLICO Daniel Campelo, presidente da câmara. Ainda assim, moradores e bombeiros debateram-se com um grave problema durante toda a noite: a falta de luz. Campelo criticou a EDP, nomeadamente o seu sistema de aviso de avarias, lembrando que "o aviso de reparação tem que ser dado a partir de Lisboa e demora horas. Em situações de gravidade como esta, os efeitos são desastrosos". Campelo quer ajuda do governo, em especial para uma intervenção que terá que realizar na recuperação das vias. O elevado nível de pluviosidade que se tem registado nos último tempos destruiu por completo as vias do concelho: "Antes das chuvas mais recentes, já tínhamos um prejuízo calculado em mais de 600 mil contos, agora, não sei que contas teremos mais que fazer", conclui. A Protecção Civil do Distrito de Viana do Castelo interpreta as inundações como "um facto inevitável". Carlos Batista disse que as barragens "não tinham outra solução". "Esgotaram, por completo, a sua capacidade de retenção e tiveram que fazer descargas", disse. O técnico justifica a atitude com a existência, a montante do Lindoso, de caudais excessivos dos afluentes que debitaram na albufeira 1600 metros cúbicos por segundo. Francisco Fonseca OUTROS TÍTULOS EM SOCIEDADE A água voltou a subir

A bonança vem já aí

O Lima e o Vez voltam a saltar das margens

"Contra o rio não se pode fazer nada"

Panorâmica nacional

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Os "serial killers" mais conhecidos

Sobreviver com 50 graus negativos

O melhor é prevenir

Mau tempo afecta trasfega

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