EXPRESSO: País

18-09-2001
marcar artigo

Ponte de desafio a Portas

O CDS vai perder uma Câmara para um militante suspenso que critica os caminhos mediáticos que o partido trilha

Rui Duarte Silva Daniel Campelo: autarca limiano defende que os centristas devem ter rostos nas aldeias e não apenas o do líder nos vários telejornais das estações televisivas

COMO se de um estranho jogo de xadrez se tratasse, o CDS vai perder a Câmara Municipal de Ponte de Lima mantendo-a indirectamente através de um militante suspenso e os órgãos locais do partido (concelhia e distrital) decidiram não apresentar candidato próprio à autarquia, apoiando directa e explicitamente um homem que Paulo Portas e a direcção nacional não querem ver concorrer debaixo da sua sigla.

«A minha lista já está pronta e das 14 pessoas que a integram algumas são militantes do CDS, como Gaspar Martins, e outras não se encontram na área deste partido», confirma Daniel Campelo, militante centrista suspenso à espera do recurso que apresentou - contestando a decisão do seu partido - ao plenário do Tribunal Constitucional.

Ninguém com Portas

Ponte de Lima é um quebra-cabeças político e um espinho cravado na estratégia autárquica do CDS-PP. «As juntas de freguesia deram sinal de que estavam solidárias com Daniel Campelo», salienta José Pires da Silva, presidente da concelhia popular daquela vila do Alto Minho. E o resultado dessa solidariedade é que o CDS-PP também não apresenta candidaturas a nenhuma das freguesias do concelho.

«É uma situação muito difícil», confirma Abel Baptista, líder da distrital de Viana do Castelo - a que Ponte de Lima está agregada - e número dois de Daniel Campelo na actual vereação. É o único candidato que o CDS vai apresentar em Dezembro e para a Assembleia Municipal.

«Mesmo durante o processo disciplinar movido ao engenheiro Campelo era claro que uma questão era a sua posição como deputado e outra como autarca. Perante o veto de Paulo Portas a Campelo eu não permitirei que o partido seja humilhado eleitoralmente e não apresentamos candidato próprio à câmara», explica Abel Baptista. E enumera as qualidades do actual e provavelmente futuro presidente para que se perceba que Paulo Portas não tem ninguém do seu lado em Ponte de Lima nesta questão.

«Défice de liderança»

Dois dias antes de anunciar a sua candidatura como independente, Daniel Campelo telefonou a Paulo Portas perguntando-lhe se mantinha o veto ao seu nome como representante do CDS. Perante a resposta afirmativa, resolveu avançar.

Percebe-se que as divergências políticas entre um e outro são mais profundas que as resultantes de Campelo ter viabilizado a aprovação do Orçamento do Estado para 2001. O presidente da Câmara limiana não poupa críticas ao caminho que o partido em que milita tem seguido: «Não sei para onde caminha o CDS, mas tem de caminhar para o seu próprio lugar no espectro político português que é o de aproximar-se das pessoas e apoiar os mais desfavorecidos. Não basta fazê-lo nos discursos, é necessária uma participação cívica mais abrangente».

Por razões controversas, Daniel Campelo pôs Ponte de Lima no mapa político, deixando de ser apenas a terra dos solares do turismo de habitação. A distância física em relação ao poder central e o facto de se tratar de um concelho de forte predominância rural conferem ao autarca uma visão da realidade diferente da do responsável máximo dos populares. «O partido está numa posição muito débil. Aposta tudo na Comunicação Social em favor da imagem do líder e não tem rosto nas aldeias. Há um défice de liderança na atenção dada aos problemas locais e se o partido falha neste caminho o líder tem de ser responsabilizado. Se for para mudar a abertura em relação ao país é natural que o CDS/PP tenha a ganhar se mudar de líder».

Abel Baptista explica que tem feito tudo para que se mantenha a amizade entre Portas e Campelo. Este, assumindo que seria um disparate o corte de relações por causa da política, não esquece que o processo disciplinar de que foi alvo interferiu nesse relacionamento. «Neste momento, não há boas relações nem sequer relações com a direcção nacional», confessa.

A recusa de Baptista

Paulo Portas manteve o veto a Campelo alegando coerência dos princípios. Mas vai perder a que será a sua mais emblemática Câmara e os discursos vão-se radicalizando. «Não acredito na pureza dos que dizem defender a regionalização e que com a sua pratica política só aumentam o centralismo. Mas sou um regionalista convicto apesar dos riscos. O balanço final será fortemente positivo para as regiões», esclarece Campelo. Também nesta matéria discorda de Paulo Portas.

Sabe que dificilmente deixará de vencer as eleições. E acredita que Ponte de Lima ganha com isso por ter à frente do concelho uma pessoa que já conhece e que pode concluir dossiês tidos por importantes para a terra.

Antes de decidir candidatar-se como independente ainda tentou que Abel Baptista fosse o rosto do CDS. O seu actual número dois recusou, alegando razões de ordem pessoal. Assim se confirmou a estranha situação de uma autarquia centrista que não é do CDS presidida por um democrata-cristão que os democratas-cristãos não querem.

Ponte de desafio a Portas

O CDS vai perder uma Câmara para um militante suspenso que critica os caminhos mediáticos que o partido trilha

Rui Duarte Silva Daniel Campelo: autarca limiano defende que os centristas devem ter rostos nas aldeias e não apenas o do líder nos vários telejornais das estações televisivas

COMO se de um estranho jogo de xadrez se tratasse, o CDS vai perder a Câmara Municipal de Ponte de Lima mantendo-a indirectamente através de um militante suspenso e os órgãos locais do partido (concelhia e distrital) decidiram não apresentar candidato próprio à autarquia, apoiando directa e explicitamente um homem que Paulo Portas e a direcção nacional não querem ver concorrer debaixo da sua sigla.

«A minha lista já está pronta e das 14 pessoas que a integram algumas são militantes do CDS, como Gaspar Martins, e outras não se encontram na área deste partido», confirma Daniel Campelo, militante centrista suspenso à espera do recurso que apresentou - contestando a decisão do seu partido - ao plenário do Tribunal Constitucional.

Ninguém com Portas

Ponte de Lima é um quebra-cabeças político e um espinho cravado na estratégia autárquica do CDS-PP. «As juntas de freguesia deram sinal de que estavam solidárias com Daniel Campelo», salienta José Pires da Silva, presidente da concelhia popular daquela vila do Alto Minho. E o resultado dessa solidariedade é que o CDS-PP também não apresenta candidaturas a nenhuma das freguesias do concelho.

«É uma situação muito difícil», confirma Abel Baptista, líder da distrital de Viana do Castelo - a que Ponte de Lima está agregada - e número dois de Daniel Campelo na actual vereação. É o único candidato que o CDS vai apresentar em Dezembro e para a Assembleia Municipal.

«Mesmo durante o processo disciplinar movido ao engenheiro Campelo era claro que uma questão era a sua posição como deputado e outra como autarca. Perante o veto de Paulo Portas a Campelo eu não permitirei que o partido seja humilhado eleitoralmente e não apresentamos candidato próprio à câmara», explica Abel Baptista. E enumera as qualidades do actual e provavelmente futuro presidente para que se perceba que Paulo Portas não tem ninguém do seu lado em Ponte de Lima nesta questão.

«Défice de liderança»

Dois dias antes de anunciar a sua candidatura como independente, Daniel Campelo telefonou a Paulo Portas perguntando-lhe se mantinha o veto ao seu nome como representante do CDS. Perante a resposta afirmativa, resolveu avançar.

Percebe-se que as divergências políticas entre um e outro são mais profundas que as resultantes de Campelo ter viabilizado a aprovação do Orçamento do Estado para 2001. O presidente da Câmara limiana não poupa críticas ao caminho que o partido em que milita tem seguido: «Não sei para onde caminha o CDS, mas tem de caminhar para o seu próprio lugar no espectro político português que é o de aproximar-se das pessoas e apoiar os mais desfavorecidos. Não basta fazê-lo nos discursos, é necessária uma participação cívica mais abrangente».

Por razões controversas, Daniel Campelo pôs Ponte de Lima no mapa político, deixando de ser apenas a terra dos solares do turismo de habitação. A distância física em relação ao poder central e o facto de se tratar de um concelho de forte predominância rural conferem ao autarca uma visão da realidade diferente da do responsável máximo dos populares. «O partido está numa posição muito débil. Aposta tudo na Comunicação Social em favor da imagem do líder e não tem rosto nas aldeias. Há um défice de liderança na atenção dada aos problemas locais e se o partido falha neste caminho o líder tem de ser responsabilizado. Se for para mudar a abertura em relação ao país é natural que o CDS/PP tenha a ganhar se mudar de líder».

Abel Baptista explica que tem feito tudo para que se mantenha a amizade entre Portas e Campelo. Este, assumindo que seria um disparate o corte de relações por causa da política, não esquece que o processo disciplinar de que foi alvo interferiu nesse relacionamento. «Neste momento, não há boas relações nem sequer relações com a direcção nacional», confessa.

A recusa de Baptista

Paulo Portas manteve o veto a Campelo alegando coerência dos princípios. Mas vai perder a que será a sua mais emblemática Câmara e os discursos vão-se radicalizando. «Não acredito na pureza dos que dizem defender a regionalização e que com a sua pratica política só aumentam o centralismo. Mas sou um regionalista convicto apesar dos riscos. O balanço final será fortemente positivo para as regiões», esclarece Campelo. Também nesta matéria discorda de Paulo Portas.

Sabe que dificilmente deixará de vencer as eleições. E acredita que Ponte de Lima ganha com isso por ter à frente do concelho uma pessoa que já conhece e que pode concluir dossiês tidos por importantes para a terra.

Antes de decidir candidatar-se como independente ainda tentou que Abel Baptista fosse o rosto do CDS. O seu actual número dois recusou, alegando razões de ordem pessoal. Assim se confirmou a estranha situação de uma autarquia centrista que não é do CDS presidida por um democrata-cristão que os democratas-cristãos não querem.

marcar artigo