Vestidos para matar

20-11-2000
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Paulo Portas...

O PRIMEIRO dia da «saison» parlamentar é sempre um acontecimento: a comunicação social acorre em peso à abertura dos trabalhos da nova sessão legislativa. Este ano, com a presença dos membros do Governo - imposta pela moção de censura - o evento tornou-se ainda mais mediático, o que converteu o Parlamento numa autêntica feira de vaidades. Poucos, muito poucos mesmo, estavam ali para assistir ao esgrimir de argumentos entre o Governo e a oposição. A grande maioria dos deputados (e dos membros do Executivo) vinha vestida para matar, que é como quem diz, para ser objecto de atenção dos operadores de câmara e dos fotógrafos. Não se pretende insinuar que o Parlamento seja desprovido de políticos empenhados e excelentes tribunos, que os há, mas o ambiente «bigbrotheriano» do hemiciclo e dos corredores do Palácio de São Bento ditava as regras do jogo. Quem o ignorasse, arriscava-se a ser «eliminado».

... Manuel Alegre

Durão Barroso, um dos protagonistas do dia, não foi excepção à regra. Alguns jornalistas comentavam que mudara de conselheiro de imagem, emagrecera cinco quilos e adoptara um novo corte de cabelo, mas o resultado não era ainda animador. Estava luzidio, mas não propriamente resplandecente. Para mais, António Guterres, o seu mais directo adversário, apresentava-se em boa forma, visivelmente mais magro e com um fato azul-escuro que lhe assentava na perfeição. Helena Roseta surgiu muito elegante, em tons de azul forte a condizer com a gargantilha, e com um novo penteado tipo Meg Ryan. A deputada socialista integra, aliás, o núcleo restrito de mulheres bem vestidas da Assembleia da República. Teresa Gouveia, antiga secretária de Estado de Cavaco Silva, é outra que tal.

... e Helena Roseta estão no «ranking» dos mais elegantes do Parlamento

Discreta, prefere as cores neutras e a maquilhagem natural, mas nunca passa despercebida. Manuela Ferreira Leite também não, até porque se senta na primeira fila da bancada laranja. A ex-ministra da Educação refugia-se nos clássicos - saia e casaco e colar de pérolas - dando a impressão que gosta de frisar o seu carácter conservador. Isabel de Castro, de Os Verdes, é capaz do melhor e do pior. No primeiro dia da sessão parlamentar, apareceu irrepreensível: bem penteada, maquilhada só o indispensável, vestida em tons outonais. Já em outras ocasiões prefere um estilo «negligé» que nem sempre a favorece. Umas vezes Gata Borralheira, outras Cinderela, Isabel de Castro tem vindo a conquistar as atenções da ala masculina do hemiciclo. O adeus ao «flower power»

Maria Santos está muito melhor

Maria Santos está indiscutivelmente com melhor aspecto. De volta ao Parlamento nacional após uma longa estada em Bruxelas, a deputada socialista trocou o género «flower power» pelo executivo e está a marcar pontos. É preciso vê-la de saia e casaco pérola, salto alto e «nuances» no cabelo apanhado - uma das suas imagens de marca, que, de resto, se recusa a abandonar - para acreditar. Nota positiva também para Elisa Ferreira, que bateu aos pontos a sua colega de Governo com a pasta da Saúde. A ministra do Planeamento mantém o estilo sóbrio e fica melhor com o cabelo mais curto. Mas furor, furor, provocou Jamila Madeira com um decote pronunciadíssimo que não deixou ninguém indiferente. José Barros Moura, sentado ao seu lado, nem conseguia concentrar-se no discurso do primeiro-ministro. Jamila pode não ser muito popular na JS, mas deve ser das mulheres mais apreciadas no Palácio de São Bento.

Francisco Louçã prefere o estilo «negligé» que não lhe assenta mal

Rosa Albernaz, do PS, não é das mais bem vestidas mas esforça-se. À amiga dos animais, como é conhecida entre os socialistas, falta arrojo para encontrar um estilo próprio. Por seu turno, Celeste Cardona, do PP, teima em usar brincos grandes que lhe dão ar de serigaita. A bancada socialista conta ainda com três mulheres vistosas: Paula Cristina Duarte, Fernanda Costa e Zelinda Marouço Semedo não gostam de ser ignoradas. Infelizmente para elas, no que respeita à indumentária são notadas sempre pelas piores razões. Odete Santos, é sabido, também não prima pelo bom gosto. Com a vantagem de se estar nas tintas para as críticas de bastidores. Não sabemos se Custódia Fernandes, do PS, é sensível aos reparos, mas mesmo assim arriscamos: experimente as cores mais escuras, por favor. Sendo a ala masculina muito mais numerosa, é no mínimo decepcionante constatar que são poucos os deputados com um visual atractivo.

Luís Fazenda...

A grande maioria até se preocupa com a aparência, mas tem um longo caminho a percorrer para poder ingressar no grupo dos bem vestidos. José Luís Arnaut é dos que melhor se apresentam. O secretário-geral do PSD estava impecável num fato azul-escuro de bom corte. Paulo Portas não lhe fica atrás. O líder do PP escolheu um fato cinzento topo-de-gama que o colocou na «pole position» dos mais elegantes da «rentrée». Manuel Maria Carrilho apareceu formal, calça cinzenta, casaco preto e gravata dourada e negra a condizer. Estava de arrasar. Terá sido por isso que a cadeira a seu lado mudou várias vezes de ocupante? Será que os socialistas não queriam sentir-se em desvantagem? É possível. Sabe-se também que o ex-ministro da Cultura não é muito dado à confraternização na bancada, o que pode explicar o pouco à-vontade dos seus camaradas. José Saraiva, um nortenho sem complexos, depressa pôs cobro àquela embaraçosa situação. Entre os socialistas, José Barros Moura, Manuel Alegre e Jorge Strecht fazem questão de se apresentar sempre à altura dos acontecimentos.

... Custódia Fernandes

João Amaral, do PCP, também. Na ocasião, trazia gel no cabelo e fato de marca. Dá um pouco a impressão que se acha irresistível. O mesmo se poderia dizer de Luís Marques Guedes, do PSD. Veste bem, mas peca por excesso de confiança. António Capucho é uma espécie de Teresa Gouveia no masculino: discreto, mas charmoso, o líder da bancada social-democrata prefere os tons pastéis, de terra, e o amarelo torrado para fugir ao azul-cinzentismo que reina no hemiciclo. Curiosamente, para a «rentrée» arriscou os azuis e nem assim passou despercebido. Francisco Louçã, do Bloco de Esquerda, não pertencendo por opção ao clube dos mais catitas, gosta de se apresentar bem num estilo «negligé»: sempre sem gravata, prefere os fatos desportivos mas de bom corte. Luís Fazenda não lhe chega aos calcanhares. António Saleiro, do PS, é o tipo de homem a quem os trapinhos não trazem grande mais-valia. Tem boa figura, veste boas marcas, mas não convence. Miguel Coelho, também socialista, está entre os que ainda não se preocupam muito com o visual. O resultado salta à vista. Lino de Carvalho, do PCP, é outro deputado que precisa urgentemente de remodelar o seu guarda-fatos.

e Miguel Coelho precisam de um conselheiro de imagem

No Governo, José Sasportes optou por um fato claro que vincava o seu porte aristocrático. Todos os demais membros do Executivo oscilavam entre o azul carregado e o cinzento. Aqui era a expressão facial que marcava a diferença. Guilherme d'Oliveira Martins ouvia as críticas de Durão Barroso com ar complacente, tipo «Perdoai-lhes, Senhor, que eles não sabem o que fazem». Pina Moura mostrava-se ameaçador, de sobrolho carregado. António Costa assistia divertido ao desenrolar da discussão. Jorge Coelho gozava o prato. Jaime Gama, alheado do debate, punha a leitura em dia. Afinal, tudo não passava de uma moção de censura derrotada à partida. Ciente de que as escaramuças entre Durão e Guterres dificilmente atingiriam a envergadura de um duelo de gigantes, Odete Santos trouxera o computador portátil para tratar da sua vida. Os outros 229 deputados mantinham a compostura, para impressionar os «media». Aquele era definitivamente o dia D da imagem. Submetidos a uma observação contínua e impiedosa, os políticos entraram no jogo. Capricharam no vestuário e estudaram as poses. Alguns brilharam. Outros não. ISABEL OLIVEIRA

Vestidos para matar

Os locais do poder

Paulo Portas...

O PRIMEIRO dia da «saison» parlamentar é sempre um acontecimento: a comunicação social acorre em peso à abertura dos trabalhos da nova sessão legislativa. Este ano, com a presença dos membros do Governo - imposta pela moção de censura - o evento tornou-se ainda mais mediático, o que converteu o Parlamento numa autêntica feira de vaidades. Poucos, muito poucos mesmo, estavam ali para assistir ao esgrimir de argumentos entre o Governo e a oposição. A grande maioria dos deputados (e dos membros do Executivo) vinha vestida para matar, que é como quem diz, para ser objecto de atenção dos operadores de câmara e dos fotógrafos. Não se pretende insinuar que o Parlamento seja desprovido de políticos empenhados e excelentes tribunos, que os há, mas o ambiente «bigbrotheriano» do hemiciclo e dos corredores do Palácio de São Bento ditava as regras do jogo. Quem o ignorasse, arriscava-se a ser «eliminado».

... Manuel Alegre

Durão Barroso, um dos protagonistas do dia, não foi excepção à regra. Alguns jornalistas comentavam que mudara de conselheiro de imagem, emagrecera cinco quilos e adoptara um novo corte de cabelo, mas o resultado não era ainda animador. Estava luzidio, mas não propriamente resplandecente. Para mais, António Guterres, o seu mais directo adversário, apresentava-se em boa forma, visivelmente mais magro e com um fato azul-escuro que lhe assentava na perfeição. Helena Roseta surgiu muito elegante, em tons de azul forte a condizer com a gargantilha, e com um novo penteado tipo Meg Ryan. A deputada socialista integra, aliás, o núcleo restrito de mulheres bem vestidas da Assembleia da República. Teresa Gouveia, antiga secretária de Estado de Cavaco Silva, é outra que tal.

... e Helena Roseta estão no «ranking» dos mais elegantes do Parlamento

Discreta, prefere as cores neutras e a maquilhagem natural, mas nunca passa despercebida. Manuela Ferreira Leite também não, até porque se senta na primeira fila da bancada laranja. A ex-ministra da Educação refugia-se nos clássicos - saia e casaco e colar de pérolas - dando a impressão que gosta de frisar o seu carácter conservador. Isabel de Castro, de Os Verdes, é capaz do melhor e do pior. No primeiro dia da sessão parlamentar, apareceu irrepreensível: bem penteada, maquilhada só o indispensável, vestida em tons outonais. Já em outras ocasiões prefere um estilo «negligé» que nem sempre a favorece. Umas vezes Gata Borralheira, outras Cinderela, Isabel de Castro tem vindo a conquistar as atenções da ala masculina do hemiciclo. O adeus ao «flower power»

Maria Santos está muito melhor

Maria Santos está indiscutivelmente com melhor aspecto. De volta ao Parlamento nacional após uma longa estada em Bruxelas, a deputada socialista trocou o género «flower power» pelo executivo e está a marcar pontos. É preciso vê-la de saia e casaco pérola, salto alto e «nuances» no cabelo apanhado - uma das suas imagens de marca, que, de resto, se recusa a abandonar - para acreditar. Nota positiva também para Elisa Ferreira, que bateu aos pontos a sua colega de Governo com a pasta da Saúde. A ministra do Planeamento mantém o estilo sóbrio e fica melhor com o cabelo mais curto. Mas furor, furor, provocou Jamila Madeira com um decote pronunciadíssimo que não deixou ninguém indiferente. José Barros Moura, sentado ao seu lado, nem conseguia concentrar-se no discurso do primeiro-ministro. Jamila pode não ser muito popular na JS, mas deve ser das mulheres mais apreciadas no Palácio de São Bento.

Francisco Louçã prefere o estilo «negligé» que não lhe assenta mal

Rosa Albernaz, do PS, não é das mais bem vestidas mas esforça-se. À amiga dos animais, como é conhecida entre os socialistas, falta arrojo para encontrar um estilo próprio. Por seu turno, Celeste Cardona, do PP, teima em usar brincos grandes que lhe dão ar de serigaita. A bancada socialista conta ainda com três mulheres vistosas: Paula Cristina Duarte, Fernanda Costa e Zelinda Marouço Semedo não gostam de ser ignoradas. Infelizmente para elas, no que respeita à indumentária são notadas sempre pelas piores razões. Odete Santos, é sabido, também não prima pelo bom gosto. Com a vantagem de se estar nas tintas para as críticas de bastidores. Não sabemos se Custódia Fernandes, do PS, é sensível aos reparos, mas mesmo assim arriscamos: experimente as cores mais escuras, por favor. Sendo a ala masculina muito mais numerosa, é no mínimo decepcionante constatar que são poucos os deputados com um visual atractivo.

Luís Fazenda...

A grande maioria até se preocupa com a aparência, mas tem um longo caminho a percorrer para poder ingressar no grupo dos bem vestidos. José Luís Arnaut é dos que melhor se apresentam. O secretário-geral do PSD estava impecável num fato azul-escuro de bom corte. Paulo Portas não lhe fica atrás. O líder do PP escolheu um fato cinzento topo-de-gama que o colocou na «pole position» dos mais elegantes da «rentrée». Manuel Maria Carrilho apareceu formal, calça cinzenta, casaco preto e gravata dourada e negra a condizer. Estava de arrasar. Terá sido por isso que a cadeira a seu lado mudou várias vezes de ocupante? Será que os socialistas não queriam sentir-se em desvantagem? É possível. Sabe-se também que o ex-ministro da Cultura não é muito dado à confraternização na bancada, o que pode explicar o pouco à-vontade dos seus camaradas. José Saraiva, um nortenho sem complexos, depressa pôs cobro àquela embaraçosa situação. Entre os socialistas, José Barros Moura, Manuel Alegre e Jorge Strecht fazem questão de se apresentar sempre à altura dos acontecimentos.

... Custódia Fernandes

João Amaral, do PCP, também. Na ocasião, trazia gel no cabelo e fato de marca. Dá um pouco a impressão que se acha irresistível. O mesmo se poderia dizer de Luís Marques Guedes, do PSD. Veste bem, mas peca por excesso de confiança. António Capucho é uma espécie de Teresa Gouveia no masculino: discreto, mas charmoso, o líder da bancada social-democrata prefere os tons pastéis, de terra, e o amarelo torrado para fugir ao azul-cinzentismo que reina no hemiciclo. Curiosamente, para a «rentrée» arriscou os azuis e nem assim passou despercebido. Francisco Louçã, do Bloco de Esquerda, não pertencendo por opção ao clube dos mais catitas, gosta de se apresentar bem num estilo «negligé»: sempre sem gravata, prefere os fatos desportivos mas de bom corte. Luís Fazenda não lhe chega aos calcanhares. António Saleiro, do PS, é o tipo de homem a quem os trapinhos não trazem grande mais-valia. Tem boa figura, veste boas marcas, mas não convence. Miguel Coelho, também socialista, está entre os que ainda não se preocupam muito com o visual. O resultado salta à vista. Lino de Carvalho, do PCP, é outro deputado que precisa urgentemente de remodelar o seu guarda-fatos.

e Miguel Coelho precisam de um conselheiro de imagem

No Governo, José Sasportes optou por um fato claro que vincava o seu porte aristocrático. Todos os demais membros do Executivo oscilavam entre o azul carregado e o cinzento. Aqui era a expressão facial que marcava a diferença. Guilherme d'Oliveira Martins ouvia as críticas de Durão Barroso com ar complacente, tipo «Perdoai-lhes, Senhor, que eles não sabem o que fazem». Pina Moura mostrava-se ameaçador, de sobrolho carregado. António Costa assistia divertido ao desenrolar da discussão. Jorge Coelho gozava o prato. Jaime Gama, alheado do debate, punha a leitura em dia. Afinal, tudo não passava de uma moção de censura derrotada à partida. Ciente de que as escaramuças entre Durão e Guterres dificilmente atingiriam a envergadura de um duelo de gigantes, Odete Santos trouxera o computador portátil para tratar da sua vida. Os outros 229 deputados mantinham a compostura, para impressionar os «media». Aquele era definitivamente o dia D da imagem. Submetidos a uma observação contínua e impiedosa, os políticos entraram no jogo. Capricharam no vestuário e estudaram as poses. Alguns brilharam. Outros não. ISABEL OLIVEIRA

Vestidos para matar

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