EXPRESSO: Cartaz

26-11-2001
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21/4/2001

LIVROS O cinema delas Útil reunião de auto-retratos de realizadoras CINEASTAS PORTUGUESAS 1874-1956 de Ilda Castro (CML, 2000, 312 págs., 3000$00, 14,87 euros) Jorge Leitão Ramos

Bárbara Virgínia e Margarida Martins Cordeiro Este livro é o catálogo do ciclo «Cineastas Portuguesas 1946-2000», há meses apresentado no antigo Cinema Roma (actual Fórum Lisboa) por iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa Nesse ciclo se exibiram obras desde os fragmentos sobreviventes do pioneiro Três Dias sem Deus, de Bárbara Virgínia, até ao recentíssimo O Passeio de Cristina Hauser, cobrindo cronologicamente o período indicado. Mas já na própria selecção de obras exibidas se indiciavam alguns problemas, mormente pela ausência de filmes de algumas das mais importantes realizadoras, sendo Teresa Villaverde a mais gritante das omissões. O projecto nasceu coxo, porventura por ser dificilmente sustentável que, no interior do cinema português, o sexo dos autores tenha alguma especificidade, o que dificulta certas arregimentações. Este livro é o catálogo do ciclo «Cineastas Portuguesas 1946-2000», há meses apresentado no antigo Cinema Roma (actual Fórum Lisboa) por iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa Nesse ciclo se exibiram obras desde os fragmentos sobreviventes do pioneiro, de Bárbara Virgínia, até ao recentíssimo, cobrindo cronologicamente o período indicado. Mas já na própria selecção de obras exibidas se indiciavam alguns problemas, mormente pela ausência de filmes de algumas das mais importantes realizadoras, sendo Teresa Villaverde a mais gritante das omissões. O projecto nasceu coxo, porventura por ser dificilmente sustentável que, no interior do cinema português, o sexo dos autores tenha alguma especificidade, o que dificulta certas arregimentações. As coisas agravam-se um pouco na concepção do catálogo, organizado como uma série de entrevistas, conduzidas por Ilda Castro, em que várias mulheres com intervenção no campo cinematográfico tomam a palavra. E agravam-se porque o livro tem um «parti pris» confesso pela autora («ah, se elas pudessem contar tudo!»), admitindo um princípio de discriminação sexista, preconceito tão marcado que a obra acaba por reduzir o seu âmbito a mulheres activas antes dos anos 90, tomando até o muito enigmático (e, em rigor, ridículo) título Cineastas Portuguesas 1874-1956, intervalo temporal que (suponho) começa no nascimento de Virgínia de Castro e Almeida (escritora e episódica produtora nos anos 20) e termina no de Ana Luísa Guimarães, porventura considerada a primeira mulher cineasta em papel paritário com os homens. Ou seja, o volume nem sequer ouviu todas as realizadoras com obras presentes no ciclo, havendo depoimentos de gente que nada tem a ver com os filmes mostrados. O que não faz muito sentido. Todavia, se tomarmos as entrevistas individualmente (e descontando a imperiosidade de os textos deverem ter passado por um «copydesk», à míngua de rigor por parte de Ilda Castro na montagem e edição), dispomos de um suculento material, praticamente auto-retratos de mulheres ligadas ao audiovisual por diversas razões (Noémia Delgado, Teresa Olga, Margarida Cordeiro, Monique Rutler, Paola Porru, Solveig Nordlund, Renée Gagnon, Manuela Serra, Margarida Gil, Rosa Coutinho Cabral, Cristina Hauser e Rita Azevedo Gomes). Auto-retratos, porque a entrevistadora nunca contrapõe razões ou factos ao que as entrevistadas afirmam. Úteis depoimentos de história oral para uma história do cinema português - e só isso. Já não é pouco. Agudo, como análise global, é o texto de Filomena Silvano que abre o volume. 3 Todavia, se tomarmos as entrevistas individualmente (e descontando a imperiosidade de os textos deverem ter passado por um «copydesk», à míngua de rigor por parte de Ilda Castro na montagem e edição), dispomos de um suculento material, praticamente auto-retratos de mulheres ligadas ao audiovisual por diversas razões (Noémia Delgado, Teresa Olga, Margarida Cordeiro, Monique Rutler, Paola Porru, Solveig Nordlund, Renée Gagnon, Manuela Serra, Margarida Gil, Rosa Coutinho Cabral, Cristina Hauser e Rita Azevedo Gomes). Auto-retratos, porque a entrevistadora nunca contrapõe razões ou factos ao que as entrevistadas afirmam. Úteis depoimentos de história oral para uma história do cinema português - e só isso. Já não é pouco. Agudo, como análise global, é o texto de Filomena Silvano que abre o volume.

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LIVROS O cinema delas Útil reunião de auto-retratos de realizadoras CINEASTAS PORTUGUESAS 1874-1956 de Ilda Castro (CML, 2000, 312 págs., 3000$00, 14,87 euros) Jorge Leitão Ramos

Bárbara Virgínia e Margarida Martins Cordeiro Este livro é o catálogo do ciclo «Cineastas Portuguesas 1946-2000», há meses apresentado no antigo Cinema Roma (actual Fórum Lisboa) por iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa Nesse ciclo se exibiram obras desde os fragmentos sobreviventes do pioneiro Três Dias sem Deus, de Bárbara Virgínia, até ao recentíssimo O Passeio de Cristina Hauser, cobrindo cronologicamente o período indicado. Mas já na própria selecção de obras exibidas se indiciavam alguns problemas, mormente pela ausência de filmes de algumas das mais importantes realizadoras, sendo Teresa Villaverde a mais gritante das omissões. O projecto nasceu coxo, porventura por ser dificilmente sustentável que, no interior do cinema português, o sexo dos autores tenha alguma especificidade, o que dificulta certas arregimentações. Este livro é o catálogo do ciclo «Cineastas Portuguesas 1946-2000», há meses apresentado no antigo Cinema Roma (actual Fórum Lisboa) por iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa Nesse ciclo se exibiram obras desde os fragmentos sobreviventes do pioneiro, de Bárbara Virgínia, até ao recentíssimo, cobrindo cronologicamente o período indicado. Mas já na própria selecção de obras exibidas se indiciavam alguns problemas, mormente pela ausência de filmes de algumas das mais importantes realizadoras, sendo Teresa Villaverde a mais gritante das omissões. O projecto nasceu coxo, porventura por ser dificilmente sustentável que, no interior do cinema português, o sexo dos autores tenha alguma especificidade, o que dificulta certas arregimentações. As coisas agravam-se um pouco na concepção do catálogo, organizado como uma série de entrevistas, conduzidas por Ilda Castro, em que várias mulheres com intervenção no campo cinematográfico tomam a palavra. E agravam-se porque o livro tem um «parti pris» confesso pela autora («ah, se elas pudessem contar tudo!»), admitindo um princípio de discriminação sexista, preconceito tão marcado que a obra acaba por reduzir o seu âmbito a mulheres activas antes dos anos 90, tomando até o muito enigmático (e, em rigor, ridículo) título Cineastas Portuguesas 1874-1956, intervalo temporal que (suponho) começa no nascimento de Virgínia de Castro e Almeida (escritora e episódica produtora nos anos 20) e termina no de Ana Luísa Guimarães, porventura considerada a primeira mulher cineasta em papel paritário com os homens. Ou seja, o volume nem sequer ouviu todas as realizadoras com obras presentes no ciclo, havendo depoimentos de gente que nada tem a ver com os filmes mostrados. O que não faz muito sentido. Todavia, se tomarmos as entrevistas individualmente (e descontando a imperiosidade de os textos deverem ter passado por um «copydesk», à míngua de rigor por parte de Ilda Castro na montagem e edição), dispomos de um suculento material, praticamente auto-retratos de mulheres ligadas ao audiovisual por diversas razões (Noémia Delgado, Teresa Olga, Margarida Cordeiro, Monique Rutler, Paola Porru, Solveig Nordlund, Renée Gagnon, Manuela Serra, Margarida Gil, Rosa Coutinho Cabral, Cristina Hauser e Rita Azevedo Gomes). Auto-retratos, porque a entrevistadora nunca contrapõe razões ou factos ao que as entrevistadas afirmam. Úteis depoimentos de história oral para uma história do cinema português - e só isso. Já não é pouco. Agudo, como análise global, é o texto de Filomena Silvano que abre o volume. 3 Todavia, se tomarmos as entrevistas individualmente (e descontando a imperiosidade de os textos deverem ter passado por um «copydesk», à míngua de rigor por parte de Ilda Castro na montagem e edição), dispomos de um suculento material, praticamente auto-retratos de mulheres ligadas ao audiovisual por diversas razões (Noémia Delgado, Teresa Olga, Margarida Cordeiro, Monique Rutler, Paola Porru, Solveig Nordlund, Renée Gagnon, Manuela Serra, Margarida Gil, Rosa Coutinho Cabral, Cristina Hauser e Rita Azevedo Gomes). Auto-retratos, porque a entrevistadora nunca contrapõe razões ou factos ao que as entrevistadas afirmam. Úteis depoimentos de história oral para uma história do cinema português - e só isso. Já não é pouco. Agudo, como análise global, é o texto de Filomena Silvano que abre o volume.

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