Barra de Meios lusomundo

25-04-2001
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Por entre manifestações de intenso júblio, foi a pensar nisto que me achei suportando, no acolhedor auditório de Serralves (programação Porto 2001) a sofrível música do septeto do teclista belga Ivan Paduart. E, no entanto, sem dúvida que a jovem Nathalie Loriers (piano) impressionou positivamente na introdução de La Saison des Pleurs ou no belíssimo solo de No Answer, que certos cruzamentos de linhas instrumentais nos arranjos (por exemplo, Don''t Explain) demonstraram algum engenho e bom gosto, que Ben Slujis (sax-alto) se revelou, a espaços, inventivo e prometedor, da mesma maneira que passou a ser necessário estar atento ao violino de Christophe Cravero. Mas a sensação mais desconfortável terá sido a de que a parte mais sã dos vários talentos em presença foi por completo desperdiçada neste smooth jazz mais próprio de uma banda sonora de série de TV (à maneira de O Barco do Amor), daqui resultando o pior equívoco de todos: aquele que se gera no palco, entre os próprios músicos, como que esforçando-se por acreditar na música errada!

Embora alguns furos abaixo do que já lhe ouvi em termos de empatia musical, mas bem mais positiva do que a participação belga, tinha sido a representação nacional na primeira parte do concerto, com o quarteto de Carlos Martins a fazer inteiro jus (é preciso sublinhá-lo) ao lema deste ciclo de concertos: "Novas Tendências do Jazz Europeu". Na realidade, a opção do saxofonista português pela apresentação de uma medley e de uma segunda peça do seu último álbum Sempre - inserível na corrente europeia de aglutinação de várias expressões musicais nacionais na sempre presente matriz jazzística original - revelou-se mais do que adequada.

Assim, para além de temas claramente enraizados no jazz dos quais é justo destacar a poderosa e magnífica traça de Espiral, pudemos experimentar a feliz associação das evocações do "cante" alentejano às referências conceptuais de um Coltrane ou um Ayler (Revolução Romântica/ Grândola, Vila Morena) e o belo tratamento dado a um clássico de José Afonso como Maio, Maduro Maio. Mas também avaliámos, com curiosidade, a cada vez maior intromissão de uma peculiar ideia do "fado" nas actuais tendências de composição de Carlos Martins.

Do ponto de vista instrumental, para além de um substancial entendimento colectivo e da grande segurança e musicalidade sempre presente na firme base que é Carlos Barretto (contrabaixo), julgo que se teria ganho algo mais com um maior aproveitamento das evidentes qualidades de Mário Delgado (guitarra), tanto mais que as potencialidades harmónicas e "orquestrais" do piano estiveram ausentes - circunstância que poderia porventura ter justificado a opção por um menor volume nas intervenções percussivas de Alexandre Frazão.

Por entre manifestações de intenso júblio, foi a pensar nisto que me achei suportando, no acolhedor auditório de Serralves (programação Porto 2001) a sofrível música do septeto do teclista belga Ivan Paduart. E, no entanto, sem dúvida que a jovem Nathalie Loriers (piano) impressionou positivamente na introdução de La Saison des Pleurs ou no belíssimo solo de No Answer, que certos cruzamentos de linhas instrumentais nos arranjos (por exemplo, Don''t Explain) demonstraram algum engenho e bom gosto, que Ben Slujis (sax-alto) se revelou, a espaços, inventivo e prometedor, da mesma maneira que passou a ser necessário estar atento ao violino de Christophe Cravero. Mas a sensação mais desconfortável terá sido a de que a parte mais sã dos vários talentos em presença foi por completo desperdiçada neste smooth jazz mais próprio de uma banda sonora de série de TV (à maneira de O Barco do Amor), daqui resultando o pior equívoco de todos: aquele que se gera no palco, entre os próprios músicos, como que esforçando-se por acreditar na música errada!

Embora alguns furos abaixo do que já lhe ouvi em termos de empatia musical, mas bem mais positiva do que a participação belga, tinha sido a representação nacional na primeira parte do concerto, com o quarteto de Carlos Martins a fazer inteiro jus (é preciso sublinhá-lo) ao lema deste ciclo de concertos: "Novas Tendências do Jazz Europeu". Na realidade, a opção do saxofonista português pela apresentação de uma medley e de uma segunda peça do seu último álbum Sempre - inserível na corrente europeia de aglutinação de várias expressões musicais nacionais na sempre presente matriz jazzística original - revelou-se mais do que adequada.

Assim, para além de temas claramente enraizados no jazz dos quais é justo destacar a poderosa e magnífica traça de Espiral, pudemos experimentar a feliz associação das evocações do "cante" alentejano às referências conceptuais de um Coltrane ou um Ayler (Revolução Romântica/ Grândola, Vila Morena) e o belo tratamento dado a um clássico de José Afonso como Maio, Maduro Maio. Mas também avaliámos, com curiosidade, a cada vez maior intromissão de uma peculiar ideia do "fado" nas actuais tendências de composição de Carlos Martins.

Do ponto de vista instrumental, para além de um substancial entendimento colectivo e da grande segurança e musicalidade sempre presente na firme base que é Carlos Barretto (contrabaixo), julgo que se teria ganho algo mais com um maior aproveitamento das evidentes qualidades de Mário Delgado (guitarra), tanto mais que as potencialidades harmónicas e "orquestrais" do piano estiveram ausentes - circunstância que poderia porventura ter justificado a opção por um menor volume nas intervenções percussivas de Alexandre Frazão.

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