Comissão Científica Independente acusada de ter atitudes políticas

30-07-2001
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Manifestação em Souselas

Comissão Científica Independente Acusada de Ter Atitudes Políticas

Por NELSON MORAIS

Sábado, 28 de Julho de 2001

O sociólogo Boaventura Sousa Santos denuncia "atitudes arrogantes" dos cientistas

Boaventura Sousa Santos, o presidente da associação Pró-Urbe não poupou críticas aos membros da Comissão Científica Independente (CCI) encarregada de acompanhar a co-incineração de resíduos industriais em cimenteiras, durante um protesto realizado ontem à tarde em Souselas: "Fixem os nomes Formosinho Simões, Henrique Barros, José Cavalheiro e Casimiro Pio. Estes homens estão a escrever uma página negra na relação da ciência com a sociedade", afirmou o sociólogo, numa manifestação que mobilizou centena e meia de pessoas.

Mas a CCI não foi o único alvo de críticas dos opositores à co-incineração. A postura assumida neste processo pelo presidente da Câmara de Coimbra, o socialista Manuel Machado, acabou por transformá-lo no segundo "inimigo" dos manifestantes. O que, aliás, não surpreendeu, dada a presença de representantes de todas as forças políticas que se apresentam como alternativa nas próximas eleições autárquicas.

A CCI foi, ainda assim, a principal visada, com os oradores convidados, instalados num pequeno palco em frente da Cimpor de Souselas, a acusarem os seus quatro membros de estarem a servir os interesses do ministro do Ambiente, José Sócrates, e os das cimenteiras. Designadamente, como referiu o presidente da assembleia geral da associação ambientalista Quercus, João Gabriel, por agora dizerem que não há qualquer problema no facto de os testes de co-incineração estarem a ser feitos antes do rastreio epidemiológico à população de Souselas.

De acordo com a própria CCI, este estudo médico deveria preceder os testes, de forma a poder-se comparar o actual estado de saúde dos souselenses com aquele que se vier a verificar quando a co-incineração estiver em curso. Mas, esta semana, a CCI tem desvalorizado o impacto dos testes que decorreram nos últimos dias (ontem, por exemplo, estava prevista a queima de 84 toneladas de resíduos). Foi por causa desta atitude que João Gabriel questionou a atitude dos membros da CCI: "Como é que eles sabem se vai fazer mal ou não? Se já sabem os resultados dos testes, escrevam já as conclusões e poupam trabalho".

"Que ciência é esta?", perguntou, por seu lado, Boaventura Sousa Santos. O sociólogo acusou os membros da CCI de serem não só "truculentos e arrogantes", como "políticos", ao marcarem, ontem à tarde, uma conferência de imprensa que se realizaria após a manifestação de protesto.

Outra das suspeições que foi lançada sobre a CCI diz respeito ao facto de esta não ter ainda integrado o epidemiologista Salvador Massano Cardoso, que foi nomeado pela Câmara de Coimbra para esse fim. Massano Cardoso disse ao PÚBLICO desconhecer as razões pelas quais ainda não foi chamado para colaborar com os quatro elementos da CCI. Mas, na referida conferência de imprensa, os membros da CCI garantiram que esta ainda não integra Massano Cardoso porque só esta semana receberam uma carta da Câmara de Coimbra a dar-lhes conta da nomeação do epidemiologista da Universidade de Coimbra.

É, aliás, à autarquia coimbrã que a CCI atribui toda a responsabilidade pelos protestos levados a cabo pelos populares esta semana. Os manifestantes tem contestado o facto de não terem sequer sido informados sobre o início dos testes, mas a CCI, pela voz de José Cavalheiro, insistiu na ideia de que "não houve secretismo nenhum". O investigador garantiu que, se não houve mais informação relativamente ao que se estava a passar, foi porque a câmara local ainda não tomou a inciativa de criar, como está legalmente estabelecido, a Comissão de Acompanhamento Local do processo.

Do lado de fora da fábrica, os representantes do BE, da CDU e do PSD, mostraram-se convictos de que o processo de co-incineração ainda pode ser travado. Em jeito de comício, Carlos Encarnação, candidato social-democrata à presidência da Câmara de Coimbra, garantiu: Esta solução [a co-incineração] nunca passará com o PSD no Governo, nem com o PSD na Câmara de Coimbra. Mário Nogueira, o candidato comunista à Assembleia Municipal, condenou a ausência de Manuel Machado na manifestação, criticando o facto de este só falar sobre o assunto à comunicação social. Já josé Manuel Pureza, candidato do BE à mesma assembleia municipal, apelou a um compromisso de todas as forças políticas no combate à co-incineração.

Manifestação em Souselas

Comissão Científica Independente Acusada de Ter Atitudes Políticas

Por NELSON MORAIS

Sábado, 28 de Julho de 2001

O sociólogo Boaventura Sousa Santos denuncia "atitudes arrogantes" dos cientistas

Boaventura Sousa Santos, o presidente da associação Pró-Urbe não poupou críticas aos membros da Comissão Científica Independente (CCI) encarregada de acompanhar a co-incineração de resíduos industriais em cimenteiras, durante um protesto realizado ontem à tarde em Souselas: "Fixem os nomes Formosinho Simões, Henrique Barros, José Cavalheiro e Casimiro Pio. Estes homens estão a escrever uma página negra na relação da ciência com a sociedade", afirmou o sociólogo, numa manifestação que mobilizou centena e meia de pessoas.

Mas a CCI não foi o único alvo de críticas dos opositores à co-incineração. A postura assumida neste processo pelo presidente da Câmara de Coimbra, o socialista Manuel Machado, acabou por transformá-lo no segundo "inimigo" dos manifestantes. O que, aliás, não surpreendeu, dada a presença de representantes de todas as forças políticas que se apresentam como alternativa nas próximas eleições autárquicas.

A CCI foi, ainda assim, a principal visada, com os oradores convidados, instalados num pequeno palco em frente da Cimpor de Souselas, a acusarem os seus quatro membros de estarem a servir os interesses do ministro do Ambiente, José Sócrates, e os das cimenteiras. Designadamente, como referiu o presidente da assembleia geral da associação ambientalista Quercus, João Gabriel, por agora dizerem que não há qualquer problema no facto de os testes de co-incineração estarem a ser feitos antes do rastreio epidemiológico à população de Souselas.

De acordo com a própria CCI, este estudo médico deveria preceder os testes, de forma a poder-se comparar o actual estado de saúde dos souselenses com aquele que se vier a verificar quando a co-incineração estiver em curso. Mas, esta semana, a CCI tem desvalorizado o impacto dos testes que decorreram nos últimos dias (ontem, por exemplo, estava prevista a queima de 84 toneladas de resíduos). Foi por causa desta atitude que João Gabriel questionou a atitude dos membros da CCI: "Como é que eles sabem se vai fazer mal ou não? Se já sabem os resultados dos testes, escrevam já as conclusões e poupam trabalho".

"Que ciência é esta?", perguntou, por seu lado, Boaventura Sousa Santos. O sociólogo acusou os membros da CCI de serem não só "truculentos e arrogantes", como "políticos", ao marcarem, ontem à tarde, uma conferência de imprensa que se realizaria após a manifestação de protesto.

Outra das suspeições que foi lançada sobre a CCI diz respeito ao facto de esta não ter ainda integrado o epidemiologista Salvador Massano Cardoso, que foi nomeado pela Câmara de Coimbra para esse fim. Massano Cardoso disse ao PÚBLICO desconhecer as razões pelas quais ainda não foi chamado para colaborar com os quatro elementos da CCI. Mas, na referida conferência de imprensa, os membros da CCI garantiram que esta ainda não integra Massano Cardoso porque só esta semana receberam uma carta da Câmara de Coimbra a dar-lhes conta da nomeação do epidemiologista da Universidade de Coimbra.

É, aliás, à autarquia coimbrã que a CCI atribui toda a responsabilidade pelos protestos levados a cabo pelos populares esta semana. Os manifestantes tem contestado o facto de não terem sequer sido informados sobre o início dos testes, mas a CCI, pela voz de José Cavalheiro, insistiu na ideia de que "não houve secretismo nenhum". O investigador garantiu que, se não houve mais informação relativamente ao que se estava a passar, foi porque a câmara local ainda não tomou a inciativa de criar, como está legalmente estabelecido, a Comissão de Acompanhamento Local do processo.

Do lado de fora da fábrica, os representantes do BE, da CDU e do PSD, mostraram-se convictos de que o processo de co-incineração ainda pode ser travado. Em jeito de comício, Carlos Encarnação, candidato social-democrata à presidência da Câmara de Coimbra, garantiu: Esta solução [a co-incineração] nunca passará com o PSD no Governo, nem com o PSD na Câmara de Coimbra. Mário Nogueira, o candidato comunista à Assembleia Municipal, condenou a ausência de Manuel Machado na manifestação, criticando o facto de este só falar sobre o assunto à comunicação social. Já josé Manuel Pureza, candidato do BE à mesma assembleia municipal, apelou a um compromisso de todas as forças políticas no combate à co-incineração.

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