EXPRESSO: País

27-05-2001
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Hipótese de eleições em 2002 ganha peso

INTERPELADO por Basílio Horta no debate mensal no Parlamento, ontem de manhã, sobre o facto de ser o Governo a colocar a questão das eleições antecipadas na agenda política, António Guterres foi peremptório: «O nosso objectivo é o que foi sempre: chegar ao fim da legislatura».

Mas ainda na véspera, em entrevista à «Visão», o ministro do Equipamento, Ferro Rodrigues, assumia que a possibilidade de antecipar as legislativas de 2003 «pode ser mau mas ser inevitável e ser o menor dos males». Para Ferro, o «PS deve sair do Congresso com a iniciativa de ir junto dos partidos que estão teoricamente à esquerda - o PCP e o Bloco de Esquerda -, apresentar-lhes as bases fundamentais do próximo OE».

Também ontem, no Parlamento, o primeiro-ministro chamou à colação os partidos à esquerda do PS. «Em relação ao comportamento dos partidos de esquerda é perfeitamente razoável perguntar com que lógica é que forças políticas que aprovam connosco determinadas leis se recusam sistematicamente a votar Orçamentos. Tem todo o sentido na lógica de um debate político com essas forças», considerou Guterres, sem, porém, fechar portas aos restantes interlocutores: «O que não quer dizer que o debate do Orçamento não seja um debate em aberto. Não está em causa escolher quem vota no Orçamento, está em causa ter a consciência de que é bom para o país que o OE seja aprovado». Acima de tudo, o primeiro-ministro revela-se preocupado em retirar ao PS qualquer responsabilidade por uma crise que leve à antecipação das eleições.

A esquerda não se compromete

A esquerda, por seu lado, escolhe uma posição de distanciamento e de óbvia recusa de compromisso face à eventual «parceria» com o Governo. Vítor Dias, da Comissão Política do PCP, dá uma resposta genérica quando questionado sobre a possibilidade de eleições antecipadas, considerando que a «dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições antecipadas não são apenas um recurso constitucional inteiramente legítimo mas também, como é sabido, uma das hipóteses que se poderão colocar como desfecho ou saída para uma eventual crise política que decorresse de um pedido de demissão do Governo, a pretexto ou não da hipotética não aprovação do próximo Orçamento».

Uma frase que admite todas as possibilidades e permite manter o descomprometimento dos comunistas, que têm vindo a rejeitar os Orçamentos do PS. Isso mesmo concede Vítor Dias - «é certo que esta afirmação é um óbvio 'nariz de cera'» -, para concluir: «Mas, pela nossa parte, não tememos assumir que não temos nenhuma obrigação de, a grande distância, adiantar opiniões ou orientações acabadas sobre 'cenários' que, de momento, não estão na ordem do dia».

O Bloco de Esquerda não se afasta tanto do jogo do Orçamento como os comunistas. Mas não esconde o grande cepticismo face a uma possibilidade de entendimento. «Vai depender muito do Congresso do PS», explica Francisco Louçã, admitindo que a negociação do Orçamento será «mais complicada que no ano passado» - em que o BE chegou a admitir a possibilidade de um entendimento com o PS.

As «expectativas são muito reduzidas», frisa Louçã, «o mais provável é que o Governo continue este 'fox-trot' político, umas vezes aliando-se à esquerda, outras à direita». E se tudo ficar na mesma «é melhor eleições». «Perante a inacção completa, o próprio facto de ter de prestar contas é dinamizador», termina.

PSD também quer afastar ónus de crise

É nesse sentido que é entendida a presente situação do PS em que António Guterres e os seus ministros, por um lado, e Jorge Coelho, por outro, têm surgido quase diariamente a apontar falhas na governação e no funcionamento do partido. «Até aqui, o grande argumento para justificar a necessidade de estabilidade era o de que 'está tudo a correr bem'. Só que esse argumento desapareceu. Ao fabricar uma oposição ao Governo e ao próprio partido, está-se a fazer crer que estão criadas condições para a crise», afirma Carlos Encarnação, vice-presidente do grupo parlamentar do PSD. O Orçamento seria o pretexto para a forçar. «É o que Jorge Coelho anda a dizer: desta vez 'não haverá queijo'. Significa que quer sangue», comenta Encarnação.

Quando chegar o momento decisivo da votação do OE, considera-se que o PSD nunca poderá viabilizar o documento - a não ser que o PS ceda de tal forma que os sociais-democratas possam vir cantar vitória, um cenário considerado quase impossível. Por outro lado, os sociais-democratas também não estão convictos de que o partido esteja em condições de se abalançar já a legislativas.

O PSD pretende, também, escapar à responsabilidade de criar uma crise política. A frase de Mota Amaral nas comemorações do 27º aniversário do 25 de Abril - em que referiu o «precedente duradouro, de integral cumprimento do período das legislaturas, que vale a pena manter respeitado» - foi encarada como sinal de que os sociais-democratas se preparam para apontar culpas aos socialistas em caso de crise.

Também no PP a ideia de eleições antecipadas como cenário possível é consensual. No entanto, enquanto o líder do partido o considera «produto de desorientação», o líder da bancada, Basílio Horta, acha que é parte de uma «estratégia». E vai mais longe, prevendo que as eleições possam decorrer entre «Fevereiro e Abril de 2002». O líder parlamentar conclui que este cenário é «incerto, mas o PP tem de o ter em conta».

Paulo Portas afirma que «o Governo escolheu uma só auto-estrada, a da esquerda». E se escolher viabilizar o Orçamento com aqueles partidos? Conclui Basílio: «Politicamente, causaria um prejuízo enorme a Guterres», pelos riscos que correria o seu eleitorado do centro.

Hipótese de eleições em 2002 ganha peso

INTERPELADO por Basílio Horta no debate mensal no Parlamento, ontem de manhã, sobre o facto de ser o Governo a colocar a questão das eleições antecipadas na agenda política, António Guterres foi peremptório: «O nosso objectivo é o que foi sempre: chegar ao fim da legislatura».

Mas ainda na véspera, em entrevista à «Visão», o ministro do Equipamento, Ferro Rodrigues, assumia que a possibilidade de antecipar as legislativas de 2003 «pode ser mau mas ser inevitável e ser o menor dos males». Para Ferro, o «PS deve sair do Congresso com a iniciativa de ir junto dos partidos que estão teoricamente à esquerda - o PCP e o Bloco de Esquerda -, apresentar-lhes as bases fundamentais do próximo OE».

Também ontem, no Parlamento, o primeiro-ministro chamou à colação os partidos à esquerda do PS. «Em relação ao comportamento dos partidos de esquerda é perfeitamente razoável perguntar com que lógica é que forças políticas que aprovam connosco determinadas leis se recusam sistematicamente a votar Orçamentos. Tem todo o sentido na lógica de um debate político com essas forças», considerou Guterres, sem, porém, fechar portas aos restantes interlocutores: «O que não quer dizer que o debate do Orçamento não seja um debate em aberto. Não está em causa escolher quem vota no Orçamento, está em causa ter a consciência de que é bom para o país que o OE seja aprovado». Acima de tudo, o primeiro-ministro revela-se preocupado em retirar ao PS qualquer responsabilidade por uma crise que leve à antecipação das eleições.

A esquerda não se compromete

A esquerda, por seu lado, escolhe uma posição de distanciamento e de óbvia recusa de compromisso face à eventual «parceria» com o Governo. Vítor Dias, da Comissão Política do PCP, dá uma resposta genérica quando questionado sobre a possibilidade de eleições antecipadas, considerando que a «dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições antecipadas não são apenas um recurso constitucional inteiramente legítimo mas também, como é sabido, uma das hipóteses que se poderão colocar como desfecho ou saída para uma eventual crise política que decorresse de um pedido de demissão do Governo, a pretexto ou não da hipotética não aprovação do próximo Orçamento».

Uma frase que admite todas as possibilidades e permite manter o descomprometimento dos comunistas, que têm vindo a rejeitar os Orçamentos do PS. Isso mesmo concede Vítor Dias - «é certo que esta afirmação é um óbvio 'nariz de cera'» -, para concluir: «Mas, pela nossa parte, não tememos assumir que não temos nenhuma obrigação de, a grande distância, adiantar opiniões ou orientações acabadas sobre 'cenários' que, de momento, não estão na ordem do dia».

O Bloco de Esquerda não se afasta tanto do jogo do Orçamento como os comunistas. Mas não esconde o grande cepticismo face a uma possibilidade de entendimento. «Vai depender muito do Congresso do PS», explica Francisco Louçã, admitindo que a negociação do Orçamento será «mais complicada que no ano passado» - em que o BE chegou a admitir a possibilidade de um entendimento com o PS.

As «expectativas são muito reduzidas», frisa Louçã, «o mais provável é que o Governo continue este 'fox-trot' político, umas vezes aliando-se à esquerda, outras à direita». E se tudo ficar na mesma «é melhor eleições». «Perante a inacção completa, o próprio facto de ter de prestar contas é dinamizador», termina.

PSD também quer afastar ónus de crise

É nesse sentido que é entendida a presente situação do PS em que António Guterres e os seus ministros, por um lado, e Jorge Coelho, por outro, têm surgido quase diariamente a apontar falhas na governação e no funcionamento do partido. «Até aqui, o grande argumento para justificar a necessidade de estabilidade era o de que 'está tudo a correr bem'. Só que esse argumento desapareceu. Ao fabricar uma oposição ao Governo e ao próprio partido, está-se a fazer crer que estão criadas condições para a crise», afirma Carlos Encarnação, vice-presidente do grupo parlamentar do PSD. O Orçamento seria o pretexto para a forçar. «É o que Jorge Coelho anda a dizer: desta vez 'não haverá queijo'. Significa que quer sangue», comenta Encarnação.

Quando chegar o momento decisivo da votação do OE, considera-se que o PSD nunca poderá viabilizar o documento - a não ser que o PS ceda de tal forma que os sociais-democratas possam vir cantar vitória, um cenário considerado quase impossível. Por outro lado, os sociais-democratas também não estão convictos de que o partido esteja em condições de se abalançar já a legislativas.

O PSD pretende, também, escapar à responsabilidade de criar uma crise política. A frase de Mota Amaral nas comemorações do 27º aniversário do 25 de Abril - em que referiu o «precedente duradouro, de integral cumprimento do período das legislaturas, que vale a pena manter respeitado» - foi encarada como sinal de que os sociais-democratas se preparam para apontar culpas aos socialistas em caso de crise.

Também no PP a ideia de eleições antecipadas como cenário possível é consensual. No entanto, enquanto o líder do partido o considera «produto de desorientação», o líder da bancada, Basílio Horta, acha que é parte de uma «estratégia». E vai mais longe, prevendo que as eleições possam decorrer entre «Fevereiro e Abril de 2002». O líder parlamentar conclui que este cenário é «incerto, mas o PP tem de o ter em conta».

Paulo Portas afirma que «o Governo escolheu uma só auto-estrada, a da esquerda». E se escolher viabilizar o Orçamento com aqueles partidos? Conclui Basílio: «Politicamente, causaria um prejuízo enorme a Guterres», pelos riscos que correria o seu eleitorado do centro.

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