Dito... & Feito

06-10-2000
marcar artigo

Teoria às avessas

Carlos Encarnação dissera estar aí uma crise de «gravidade nunca vista, nas magistraturas». E Manuel Alegre interpelou-o: «O Governo do seu partido inventou a teoria das forças de bloqueio. Agora, o PSD vira a teoria às avessas: quer que o primeiro-ministro controle tudo e todos».

Figura caricata

José Magalhães, do PS, também se ergueu para perguntar, mas afirmando: «O senhor não consegue escolher entre dois papéis: o de bombeiro e o de pirómano. E é a figura caricata do bombeiro-pirómano, que num sítio apaga e no outro incendeia, julgando que nos engana».

Não fui eu!

Resposta imediata de Encarnação: «O deputado José Magalhães escolheu particularmente mal a imagem do bombeiro: é que foi hoje publicado um excelente artigo do professor Vital Moreira, onde se chama bombeiro a outrem (o Presidente da República), que não a mim».

Na mesma...

João Amaral, do Partido Comunista, pediu igualmente para interpelar o deputado social-democrata. E disse: «Agradeço ao deputado Carlos Encarnação pela sua intervenção: é que ela teve o mérito de demonstrar que o PSD, apesar da crise, está absolutamente na mesma».

... cada vez mais

Réplica do visado: «Senhor deputado! V. Exa. não resiste, de vez em quando, a fazer-me elogios, que eu agradeço. E sei que a amizade que tem por mim é igual à que tenho por si. Mas quero dizer-lhe, igualmente, que V. Exa. também está cada vez mais na mesma».

E eu, só no fim?

Ainda Carlos Encarnação: «Quanto a si, deputado Manuel Alegre, queria dizer-lhe...». Manuel Alegre, interrompendo: «Que fiquei para o fim?» Carlos Encarnação atento: «Ficam para o fim as pessoas por quem tenho uma especial consideração!». Reacção pronta de João Amaral: «Quer dizer que a não tem por mim?» Aparte de José Magalhães: «Acabou de o insultar!».

É poeta, não leu

Resolvido este qui pro quo, feito de apartes e comentários directos, Carlos Encarnação retomou o fio à meada, atendendo Alegre: «V. Exa. é, porventura, um dos portugueses mais distraídos: admito que esteja mais voltado para a construção de uma poesia do que para encarar a dura realidade. E talvez não tenha lido a resolução do Conselho Superior da Magistratura e tudo o mais que se escreveu sobre a crise na Justiça».

Desprimoroso

Manuel Alegre pediu a palavra, em defesa da sua honra pessoal: «Senhor presidente: eu não esperava do deputado Carlos Encarnação uma referência tão desprimorosa em relação à poesia, da qual Portugal deve orgulhar-se!».

Li tudo

Depois, visou Encarnação: «Eu li tudo aquilo a que o senhor deputado se referiu. E até li o pedido de renúncia do presidente do seu partido».

Estes poetas...

E o deputado do PSD explicou-se: «Senhor presidente: eu só queria dizer que, às vezes, até um poeta sente uma falta de tema extraordinária!».

Comissão clandestina

A Comissão de Inquérito a Camarate vai-se eternizando, pelas legislaturas fora. Parece, no entanto, que os seus actuais membros começam a dar sinais de cansaço. Em reuniões anteriores, de assinalável já só havia a contagem dos ausentes; e, na quarta-feira passada, apenas compareceram António Braga, do PS, Corregedor da Fonseca, do PCP, e três familiares das vítimas do desastre. Sendo assim, nem adianta falar em falta de quórum de reunião e decoro; talvez só valha perguntar para que serve uma comissão parlamentar como esta, remetida como está, na prática, à clandestinidade.

Carrilho chumbado

A Lei que Manuel Maria Carrilho defendeu com brio, na quarta-feira passada, está irremediavelmente chumbada: a maioria PSD-PP-PCP votou contra a política proposta para o património cultural. O ministro dispõe, no entanto, de mais uma semana de alívio: como o PS pediu a contagem de votos e não havia quórum, a votação foi anulada. Repetir-se-á na quinta-feira, mas tem o chumbo garantido, então já com todo o formalismo regimental.

Teoria às avessas

Carlos Encarnação dissera estar aí uma crise de «gravidade nunca vista, nas magistraturas». E Manuel Alegre interpelou-o: «O Governo do seu partido inventou a teoria das forças de bloqueio. Agora, o PSD vira a teoria às avessas: quer que o primeiro-ministro controle tudo e todos».

Figura caricata

José Magalhães, do PS, também se ergueu para perguntar, mas afirmando: «O senhor não consegue escolher entre dois papéis: o de bombeiro e o de pirómano. E é a figura caricata do bombeiro-pirómano, que num sítio apaga e no outro incendeia, julgando que nos engana».

Não fui eu!

Resposta imediata de Encarnação: «O deputado José Magalhães escolheu particularmente mal a imagem do bombeiro: é que foi hoje publicado um excelente artigo do professor Vital Moreira, onde se chama bombeiro a outrem (o Presidente da República), que não a mim».

Na mesma...

João Amaral, do Partido Comunista, pediu igualmente para interpelar o deputado social-democrata. E disse: «Agradeço ao deputado Carlos Encarnação pela sua intervenção: é que ela teve o mérito de demonstrar que o PSD, apesar da crise, está absolutamente na mesma».

... cada vez mais

Réplica do visado: «Senhor deputado! V. Exa. não resiste, de vez em quando, a fazer-me elogios, que eu agradeço. E sei que a amizade que tem por mim é igual à que tenho por si. Mas quero dizer-lhe, igualmente, que V. Exa. também está cada vez mais na mesma».

E eu, só no fim?

Ainda Carlos Encarnação: «Quanto a si, deputado Manuel Alegre, queria dizer-lhe...». Manuel Alegre, interrompendo: «Que fiquei para o fim?» Carlos Encarnação atento: «Ficam para o fim as pessoas por quem tenho uma especial consideração!». Reacção pronta de João Amaral: «Quer dizer que a não tem por mim?» Aparte de José Magalhães: «Acabou de o insultar!».

É poeta, não leu

Resolvido este qui pro quo, feito de apartes e comentários directos, Carlos Encarnação retomou o fio à meada, atendendo Alegre: «V. Exa. é, porventura, um dos portugueses mais distraídos: admito que esteja mais voltado para a construção de uma poesia do que para encarar a dura realidade. E talvez não tenha lido a resolução do Conselho Superior da Magistratura e tudo o mais que se escreveu sobre a crise na Justiça».

Desprimoroso

Manuel Alegre pediu a palavra, em defesa da sua honra pessoal: «Senhor presidente: eu não esperava do deputado Carlos Encarnação uma referência tão desprimorosa em relação à poesia, da qual Portugal deve orgulhar-se!».

Li tudo

Depois, visou Encarnação: «Eu li tudo aquilo a que o senhor deputado se referiu. E até li o pedido de renúncia do presidente do seu partido».

Estes poetas...

E o deputado do PSD explicou-se: «Senhor presidente: eu só queria dizer que, às vezes, até um poeta sente uma falta de tema extraordinária!».

Comissão clandestina

A Comissão de Inquérito a Camarate vai-se eternizando, pelas legislaturas fora. Parece, no entanto, que os seus actuais membros começam a dar sinais de cansaço. Em reuniões anteriores, de assinalável já só havia a contagem dos ausentes; e, na quarta-feira passada, apenas compareceram António Braga, do PS, Corregedor da Fonseca, do PCP, e três familiares das vítimas do desastre. Sendo assim, nem adianta falar em falta de quórum de reunião e decoro; talvez só valha perguntar para que serve uma comissão parlamentar como esta, remetida como está, na prática, à clandestinidade.

Carrilho chumbado

A Lei que Manuel Maria Carrilho defendeu com brio, na quarta-feira passada, está irremediavelmente chumbada: a maioria PSD-PP-PCP votou contra a política proposta para o património cultural. O ministro dispõe, no entanto, de mais uma semana de alívio: como o PS pediu a contagem de votos e não havia quórum, a votação foi anulada. Repetir-se-á na quinta-feira, mas tem o chumbo garantido, então já com todo o formalismo regimental.

marcar artigo