O que espera Carlos Encarnação

03-02-2002
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Coimbra

O Que Espera Carlos Encarnação

Domingo, 30 de Dezembro de 2001

Durante a campanha, os carros de som falavam de "mudança tranquila". A coligação de direita que elegeu Carlos Encarnação como próximo presidente da Câmara de Coimbra com maioria absoluta teve o cuidado de não radicalizar o discurso, para não perder votos ao centro. Mas não deixou de bater na tecla da mudança, em relação aos doze anos de executivos liderados pelo socialista Manuel Machado. "Mudança" é um termo omnipresente no programa eleitoral de Encarnação, de quem se aproxima a hora de passar das palavras aos actos, abundantes e ambiciosos, que prometeu realizar. Comprou guerras complicadas, que o PÚBLICO elenca aqui.

CO-INCINERAÇÃO

Inviabilização prometida

É certo que os eleitores costumam ter a memória curta, mas parece legítimo afirmar que, se a co-incineração na cimenteira de Souselas avançar, Carlos Encarnação ficará numa situação politicamente complicada perante os cidadãos que lhe deram a vitória a 16 de Dezembro. Durante a campanha, não falou muito sobre o tema, mas, quando o fez, foi categórico. Prometeu inviabilizar a co-incineração e promover um referendo local sobre o assunto - apesar de, nos termos da Constituição, a decisão de consultar os eleitores a nível local pertencer ao Parlamento, como o jurista Carlos Encarnação saberá. Neste sentido, o futuro presidente da Câmara de Coimbra estará sempre muito dependente do resultado das próximas legislativas.

Na hora da derrota, Manuel Machado disse sentir-se "um pouco co-incinerado", sugerindo que tinha sido vítima da política governamental para os resíduos industriais perigosos. A verdade é que Machado também foi quase sempre titubeante na contestação à co-incineração - a explicação de que aguardava pelo momento mais apropriado para atacar não convenceu os eleitores. Encarnação sentiu necessidade de falar claro. Mas também se pode vir a queimar na co-incineração. AV

ECONOMIA

"Acima da média nacional"

Na campanha eleitoral, Carlos Encarnação responsabilizou Manuel Machado pelo desmantelamento do tecido industrial de Coimbra e prometeu ao concelho "um crescimento económico acima da média nacional". Perante tamanha ambição, a receita de Encarnação tem que viabilizar o futuro das empresas já instaladas no concelho e contribuir para a fixação de outras, nascidas em Coimbra ou não.

Assim, e tendo em conta o que se tem visto nos últimos anos, qualquer estratégia de sucesso passa por criar zonas industriais, tecnológicas ou tradicionais, e acabar com o fantasma dos interesses imobiliários que tem provocado as maiores suspeições sobre os verdadeiros motivos de muitas falências verificadas em Coimbra. Por tudo isto, espera-se uma cuidadosa revisão do Plano Director Muncipal.

Paralelamente, anseia-se que a autarquia afine o seu relacionamento com a Universidade de Coimbra, onde se têm incubado importantes projectos empresariais que, nalguns casos, acabam por morrer ou transferir-se para outros concelhos. Contrariar esta tendência exige também apressar os processos burocráticos que dão entrada na câmara. N.M.

TRÂNSITO

Descongestionar a cidade

Coimbra é uma cidade média com problemas de trânsito dignos das grandes cidades. E fazê-los baixar para um nível aceitável face à sua dimensão é um sério desafio.

As filas de quilómetros que há muito existiam, em hora de ponta, nas entradas da cidade, já se instalaram também nas vias urbanas de acesso ao centro, para onde os automobilistas são atraídos por múltiplos parques de estacionamento que a autarquia foi licenciando, em contradição com o projecto de libertar a zona de automóveis; o sistema articulado de parques periféricos com transporte em mini-autocarros falhou, provavelmente porque de "periféricos" os parques só têm o nome; e os autocarros tradicionais deixam muito a dever, em termos e fiabilidade e eficácia.

Neste contexto, prometer uma "Coimbra descongestionada" é obra, se Encarnação tiver nos seus planos submeter-se de novo a votos, daqui a quatro anos.

Mistério é ainda o que o novo presidente tenciona fazer quanto ao quase mítico projecto do metro de superfície, que, apesar de não ter ainda financiamento garantido, condiciona desde há anos todo o desenvolvimento de transportes urbanos de Coimbra. G.B.R.

HABITAÇÃO

Proposta criação de bolsa de terrenos

Os dados que, de tempos a tempos, são divulgados variam um pouco, mas nunca o suficiente para afastar Coimbra dos cinco primeiros lugares nas listas dos concelhos com habitação mais cara do país. Há muito que as forças políticas locais, à excepção do PS, defendiam a criação de uma bolsa de terrenos camarária, como forma de intervir no preço da habitação. Carlos Encarnação inscreveu esta medida, de concretização complexa e dispendiosa, no programa eleitoral.

Também assumiu o clássico compromisso de "promover o ordenamento e a requalificação urbana". Para tanto, propôs: a elaboração de um Plano Estratégico do Município; a revisão do Plano Director Municipal; e a definição do Plano de Urbanização de Coimbra. Muitos estudos, cujos resultados os conimbricences não deixarão de examinar. A ideia geral é de que Coimbra, como muitas outras cidades, tem crescido mal, mostrando novas áreas densamente povoadas, com mais zonas de estacionamento - que nunca chega - do que espaços verdes, de lazer e desporto. Encarnação prometeu instituir um prémio anual para as melhores intervenções urbanísticas. A.V.

CAPITAL NACIONAL DA CULTURA

Fazer da cidade um "modelo"

Carlos Encarnação quer fazer de Coimbra um "modelo cultural" de referência, mas a equipa que formou não tem ninguém com currículo, na área da Cultura, proporcional à ambição da promessa. Mário Nunes, decano animador do Grupo de Arte e Arqueologia do Centro, está ligado à História e à cultura popular e foi indicado como futuro vereador com responsalidades nesta última área. Mas poucos o imaginarão como interlocutor da Capital Nacional da Cultura Coimbra 2003, com vocação para dialogar com os agentes promotores das novas linguagens artísticas.

Encarnação prometeu converter a Penitenciária de Coimbra - cuja desactivação nem tem data prevista - em Fórum Cívico e Cultural, para aí instalar a Casa da Música, a Escola de Guitarra, galerias, "ateliers" e, sobretudo, o reivindicado Teatro Municipal - que o presidente cessante queria construir na Estação Ferroviária. O Convento de S. Francisco, para onde Machado propunha um centro de congressos, é o local onde Encarnação se propõe criar um "museu vivo da História de Coimbra".

O presidente eleito ainda não disse o que pretende da Oficina Municipal de Teatro (em construção), dos festivais José Afonso e de música clássica, também lançados pelo executivo cessante, nem se prosseguirá o apoio aos Encontros de Fotografia. Deverá normalizar as relações, crispadas, entre a autarquia e algumas companhias de teatro.

A.V.

Coimbra

O Que Espera Carlos Encarnação

Domingo, 30 de Dezembro de 2001

Durante a campanha, os carros de som falavam de "mudança tranquila". A coligação de direita que elegeu Carlos Encarnação como próximo presidente da Câmara de Coimbra com maioria absoluta teve o cuidado de não radicalizar o discurso, para não perder votos ao centro. Mas não deixou de bater na tecla da mudança, em relação aos doze anos de executivos liderados pelo socialista Manuel Machado. "Mudança" é um termo omnipresente no programa eleitoral de Encarnação, de quem se aproxima a hora de passar das palavras aos actos, abundantes e ambiciosos, que prometeu realizar. Comprou guerras complicadas, que o PÚBLICO elenca aqui.

CO-INCINERAÇÃO

Inviabilização prometida

É certo que os eleitores costumam ter a memória curta, mas parece legítimo afirmar que, se a co-incineração na cimenteira de Souselas avançar, Carlos Encarnação ficará numa situação politicamente complicada perante os cidadãos que lhe deram a vitória a 16 de Dezembro. Durante a campanha, não falou muito sobre o tema, mas, quando o fez, foi categórico. Prometeu inviabilizar a co-incineração e promover um referendo local sobre o assunto - apesar de, nos termos da Constituição, a decisão de consultar os eleitores a nível local pertencer ao Parlamento, como o jurista Carlos Encarnação saberá. Neste sentido, o futuro presidente da Câmara de Coimbra estará sempre muito dependente do resultado das próximas legislativas.

Na hora da derrota, Manuel Machado disse sentir-se "um pouco co-incinerado", sugerindo que tinha sido vítima da política governamental para os resíduos industriais perigosos. A verdade é que Machado também foi quase sempre titubeante na contestação à co-incineração - a explicação de que aguardava pelo momento mais apropriado para atacar não convenceu os eleitores. Encarnação sentiu necessidade de falar claro. Mas também se pode vir a queimar na co-incineração. AV

ECONOMIA

"Acima da média nacional"

Na campanha eleitoral, Carlos Encarnação responsabilizou Manuel Machado pelo desmantelamento do tecido industrial de Coimbra e prometeu ao concelho "um crescimento económico acima da média nacional". Perante tamanha ambição, a receita de Encarnação tem que viabilizar o futuro das empresas já instaladas no concelho e contribuir para a fixação de outras, nascidas em Coimbra ou não.

Assim, e tendo em conta o que se tem visto nos últimos anos, qualquer estratégia de sucesso passa por criar zonas industriais, tecnológicas ou tradicionais, e acabar com o fantasma dos interesses imobiliários que tem provocado as maiores suspeições sobre os verdadeiros motivos de muitas falências verificadas em Coimbra. Por tudo isto, espera-se uma cuidadosa revisão do Plano Director Muncipal.

Paralelamente, anseia-se que a autarquia afine o seu relacionamento com a Universidade de Coimbra, onde se têm incubado importantes projectos empresariais que, nalguns casos, acabam por morrer ou transferir-se para outros concelhos. Contrariar esta tendência exige também apressar os processos burocráticos que dão entrada na câmara. N.M.

TRÂNSITO

Descongestionar a cidade

Coimbra é uma cidade média com problemas de trânsito dignos das grandes cidades. E fazê-los baixar para um nível aceitável face à sua dimensão é um sério desafio.

As filas de quilómetros que há muito existiam, em hora de ponta, nas entradas da cidade, já se instalaram também nas vias urbanas de acesso ao centro, para onde os automobilistas são atraídos por múltiplos parques de estacionamento que a autarquia foi licenciando, em contradição com o projecto de libertar a zona de automóveis; o sistema articulado de parques periféricos com transporte em mini-autocarros falhou, provavelmente porque de "periféricos" os parques só têm o nome; e os autocarros tradicionais deixam muito a dever, em termos e fiabilidade e eficácia.

Neste contexto, prometer uma "Coimbra descongestionada" é obra, se Encarnação tiver nos seus planos submeter-se de novo a votos, daqui a quatro anos.

Mistério é ainda o que o novo presidente tenciona fazer quanto ao quase mítico projecto do metro de superfície, que, apesar de não ter ainda financiamento garantido, condiciona desde há anos todo o desenvolvimento de transportes urbanos de Coimbra. G.B.R.

HABITAÇÃO

Proposta criação de bolsa de terrenos

Os dados que, de tempos a tempos, são divulgados variam um pouco, mas nunca o suficiente para afastar Coimbra dos cinco primeiros lugares nas listas dos concelhos com habitação mais cara do país. Há muito que as forças políticas locais, à excepção do PS, defendiam a criação de uma bolsa de terrenos camarária, como forma de intervir no preço da habitação. Carlos Encarnação inscreveu esta medida, de concretização complexa e dispendiosa, no programa eleitoral.

Também assumiu o clássico compromisso de "promover o ordenamento e a requalificação urbana". Para tanto, propôs: a elaboração de um Plano Estratégico do Município; a revisão do Plano Director Municipal; e a definição do Plano de Urbanização de Coimbra. Muitos estudos, cujos resultados os conimbricences não deixarão de examinar. A ideia geral é de que Coimbra, como muitas outras cidades, tem crescido mal, mostrando novas áreas densamente povoadas, com mais zonas de estacionamento - que nunca chega - do que espaços verdes, de lazer e desporto. Encarnação prometeu instituir um prémio anual para as melhores intervenções urbanísticas. A.V.

CAPITAL NACIONAL DA CULTURA

Fazer da cidade um "modelo"

Carlos Encarnação quer fazer de Coimbra um "modelo cultural" de referência, mas a equipa que formou não tem ninguém com currículo, na área da Cultura, proporcional à ambição da promessa. Mário Nunes, decano animador do Grupo de Arte e Arqueologia do Centro, está ligado à História e à cultura popular e foi indicado como futuro vereador com responsalidades nesta última área. Mas poucos o imaginarão como interlocutor da Capital Nacional da Cultura Coimbra 2003, com vocação para dialogar com os agentes promotores das novas linguagens artísticas.

Encarnação prometeu converter a Penitenciária de Coimbra - cuja desactivação nem tem data prevista - em Fórum Cívico e Cultural, para aí instalar a Casa da Música, a Escola de Guitarra, galerias, "ateliers" e, sobretudo, o reivindicado Teatro Municipal - que o presidente cessante queria construir na Estação Ferroviária. O Convento de S. Francisco, para onde Machado propunha um centro de congressos, é o local onde Encarnação se propõe criar um "museu vivo da História de Coimbra".

O presidente eleito ainda não disse o que pretende da Oficina Municipal de Teatro (em construção), dos festivais José Afonso e de música clássica, também lançados pelo executivo cessante, nem se prosseguirá o apoio aos Encontros de Fotografia. Deverá normalizar as relações, crispadas, entre a autarquia e algumas companhias de teatro.

A.V.

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