EXPRESSO: País

10-02-2001
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ARTUR SEMEDO (1925-2001)

Inventor de enredos

O ACTOR e realizador Artur Semedo faleceu na madrugada de quinta-feira, em Lisboa, no Hospital Curry Cabral, vítima de doença prolongada. Tinha 75 anos. Nascido em Arronches, a 2 de Novembro de 1925, Artur Francisco da Cunha Semedo tinha um convicto lema de vida:. O primeiro indício de uma carreira artística ocorre em Portalegre, quando aluno de liceu. José Régio reconhece-lhe o jeito e escreve para o «miúdo» a peça em três actos

Ingressa no Colégio Militar em 1936, onde quase completa o curso liceal. Em vez disso, é expulso, ruma a Coimbra para se perder entre farras e cultura e daí a Lisboa, onde em 1949 completa o curso do Conservatório e obtém o prémio Eduardo Brazão no exame final. Estreiam nesse ano Sol e Toiros e Vendaval Maravilhoso, onde Semedo se revela como actor de cinema.

Nos idos de 50 tem papel fulcral na frágil tentativa neo-realista de Manuel Guimarães em fitas como Saltimbancos, Nazaré e Vidas Sem Rumo e na única superprodução nacionalista bem sucedida, Chaimite, pela mão de Jorge Brum do Canto. O rótulo de galã começa no brilhante O Cerro dos Enforcados, de Fernando Garcia, em 1954. De 1955 a 1962, Artur está no auge da sua carreira nos palcos. Fica para a história a trindade de peças no defunto Monumental ao lado de Laura Alves, A Rainha do Ferro-Velho, Criada para Todo o Serviço e Meu Amor é Traiçoeiro. Ainda abraça a revista à portuguesa no Teatro ABC (Mini-Saias e Mulheres à Vela) e despede-se dos palcos ao lado de Raul Solnado, no Villaret, com o êxito clamoroso de O Vison Voador, para se dedicar por inteiro ao cinema: «Foi a minha paixão de sempre; abandonei o teatro pelos filmes».

Nos primórdios da televisão, faz sucesso em «O Carlinhos e a Lena» (com Maria Dulce) e «Dr. Borelli» (com Eva Tudor), séries semanais de «sketches» cómicos, mas é como realizador que a partir de então Semedo se afama e afirma. O Dinheiro dos Pobres, de 1955, é a sua ficção de estreia. Para televisão dirigiu A Casa de Orates, Alves & Cª, Sua Excelência o Ministro e a série Ninguém, entre 1972 e 1976. São dessa época os filmes Malteses, Burgueses e às Vezes e O Rei das Berlengas, com Mário Viegas. Dez anos depois rodará O Barão de Altamira, que protagoniza, e O Querido Lilás, com Herman José. Em 1990 surge Um Crime de Luxo, com Marina Mota e Carlos Cunha, o seu último filme.

Diz-se do seu labor de realizador que era um inventor de enredos com uma mão mais pesada que as ideias e cujas últimas fitas intentaram a reinvenção do riso enquanto força motora e algo nostálgica do cinema português: «Ser actor é ser tudo e não ser nada», costumava dizer. Nunca disse o mesmo do seu Benfica, de que foi, até ao fim, o mais fervoroso dos adeptos.

ARTUR SEMEDO (1925-2001)

Inventor de enredos

O ACTOR e realizador Artur Semedo faleceu na madrugada de quinta-feira, em Lisboa, no Hospital Curry Cabral, vítima de doença prolongada. Tinha 75 anos. Nascido em Arronches, a 2 de Novembro de 1925, Artur Francisco da Cunha Semedo tinha um convicto lema de vida:. O primeiro indício de uma carreira artística ocorre em Portalegre, quando aluno de liceu. José Régio reconhece-lhe o jeito e escreve para o «miúdo» a peça em três actos

Ingressa no Colégio Militar em 1936, onde quase completa o curso liceal. Em vez disso, é expulso, ruma a Coimbra para se perder entre farras e cultura e daí a Lisboa, onde em 1949 completa o curso do Conservatório e obtém o prémio Eduardo Brazão no exame final. Estreiam nesse ano Sol e Toiros e Vendaval Maravilhoso, onde Semedo se revela como actor de cinema.

Nos idos de 50 tem papel fulcral na frágil tentativa neo-realista de Manuel Guimarães em fitas como Saltimbancos, Nazaré e Vidas Sem Rumo e na única superprodução nacionalista bem sucedida, Chaimite, pela mão de Jorge Brum do Canto. O rótulo de galã começa no brilhante O Cerro dos Enforcados, de Fernando Garcia, em 1954. De 1955 a 1962, Artur está no auge da sua carreira nos palcos. Fica para a história a trindade de peças no defunto Monumental ao lado de Laura Alves, A Rainha do Ferro-Velho, Criada para Todo o Serviço e Meu Amor é Traiçoeiro. Ainda abraça a revista à portuguesa no Teatro ABC (Mini-Saias e Mulheres à Vela) e despede-se dos palcos ao lado de Raul Solnado, no Villaret, com o êxito clamoroso de O Vison Voador, para se dedicar por inteiro ao cinema: «Foi a minha paixão de sempre; abandonei o teatro pelos filmes».

Nos primórdios da televisão, faz sucesso em «O Carlinhos e a Lena» (com Maria Dulce) e «Dr. Borelli» (com Eva Tudor), séries semanais de «sketches» cómicos, mas é como realizador que a partir de então Semedo se afama e afirma. O Dinheiro dos Pobres, de 1955, é a sua ficção de estreia. Para televisão dirigiu A Casa de Orates, Alves & Cª, Sua Excelência o Ministro e a série Ninguém, entre 1972 e 1976. São dessa época os filmes Malteses, Burgueses e às Vezes e O Rei das Berlengas, com Mário Viegas. Dez anos depois rodará O Barão de Altamira, que protagoniza, e O Querido Lilás, com Herman José. Em 1990 surge Um Crime de Luxo, com Marina Mota e Carlos Cunha, o seu último filme.

Diz-se do seu labor de realizador que era um inventor de enredos com uma mão mais pesada que as ideias e cujas últimas fitas intentaram a reinvenção do riso enquanto força motora e algo nostálgica do cinema português: «Ser actor é ser tudo e não ser nada», costumava dizer. Nunca disse o mesmo do seu Benfica, de que foi, até ao fim, o mais fervoroso dos adeptos.

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