Candidato por três dias

12-01-2001
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Abreu ganhou voto a Ferreira do Amaral na Malveira

Candidato por Três Dias

Por EUNICE LOURENÇO

Sexta-feira, 12 de Janeiro de 2001

"Juro que vou votar em si", prometia o homem com dois autocolantes de Ferreira do Amaral ao peito. António Abreu, candidato do PCP às eleições presidenciais, tinha acabado de ganhar um voto ao candidato do PSD, na feira da Malveira, onde esteve durante a manhã, naquele que foi o seu segundo dia de apelo ao voto.

"O senhor é que defende os trabalhadores. Temos tanta gente pobre e quando votam não votam no partido que os defende", continuava o feirante, a quem Abreu, reassumindo por momentos o seu cargo de vereador da Câmara Municipal de Lisboa, prometia tentar resolver o problema de um outro feirante relacionado com o mercado dos Olivais.

No entanto, se aquele feirante sabia quem Abreu era, também havia quem na Malveira ainda não soubesse quem era aquele senhor alto e de bigode. "A cara não me é estranha, mas não estou a ver quem é", dizia uma senhora numa banca. Mais à frente, um outro feirante a quem Rosa Rabiais, da Comissão Política do PCP, apelava a que fosse votar no dia 14, perguntava se era o Rosas.

O que Abreu, certamente, não esperava mesmo encontrar era um comunista monárquico. "Não acha preferível pôr lá o rei?", perguntava o feirante, depois de ter dito que era do partido do candidato, que respondia que "os reis estão fora de prazo". Não estão, não, ripostava o homem, lembrando que os países mais desenvolvidos da Europa são monarquias.

Não era só sobre a monarquia que o feirante tinha opinião. Também tinha algo a dizer sobre o próprio PCP. Começou por elogiar Álvaro Cunhal, esse "grande homem", mas passou logo ao aviso: "Quando ele morrer é tal e qual como quando morrer o Mandela na África do Sul. Entra tudo em convulsão."

"Não, o povo é sereno", Abreu punha fim à conversa e andava rua abaixo. Mas o homem ainda deixou mais um aviso: "Ponham lá o rei D. Duarte II, senão ainda gramam com o Filipe IV."

Carvalhas no Barreiro

Ao penúltimo dia de campanha, Abreu mais parecia que estava a começar, como de facto estava, uma vez que só depois de, na passada terça-feira, o comité central (CC) ter decidido que a candidatura era para ir às urnas, é que o candidato começou a apelar ao voto. Assim, só no fim a máquina do PCP se pôs em campo e, com ela, os seus dirigentes, até aqui afastados desta campanha.

Rosa Rabiais, Paulo Miranda, Francisco Lopes, Jorge Cordeiro e Jorge Pires - todos membros da comissão política - andaram a distribuir panfletos com o candidato no Barreiro, onde até o secretário-geral do partido, Carlos Carvalhas, andou nas ruas ao lado de Abreu. Carvalhas tentava, assim, colmatar a falta de empenho demonstrada quarta-feira à noite, no comício do Fórum Lisboa. Naquele que foi o primeiro comício da campanha e com uma sala cheia, com cerca de 700 pessoas, o secretário-geral comunista limitou-se a fazer o mesmo discurso que tinha feito há uma semana, no Porto, e cujos pontos centrais eram a importância da reforma fiscal e a exigência de esclarecimento sobre o que se passa no Kosovo.

Foi também no Fórum Roma que se ouviu os primeiros "slogans" desta candidatura - "No Abreu, votas tu e voto eu" e "Com Abreu, a esquerda já venceu" -, assim como a palavra "vota" antes do nome do candidato, no palanque onde ele discursa. A inesperada decisão do CC acabou por obrigar o PCP a pôr de facto uma campanha na rua.

Até então, o candidato tinha andado praticamente sozinho na estrada, entre almoços e jantares, encontros com organizações de trabalhadores e alguns contactos de rua. A todos ia preparando para a sua desistência, dizendo que o objectivo desta candidatura não era a votação, era definir as áreas em que o Presidente da República deve ter uma intervenção e o sentido que deve dar a essa intervenção.

Depois da decisão do CC foi preciso mudar o discurso e a estratégia. O discurso passou a ser de apelo ao voto e Sampaio o Presidente que "frustrou as expectativas" do PCP, que o ajudou a eleger há cinco anos. A estratégia passou a existir, indo ao encontro das pessoas. E aí nada melhor do que ir até ao Barreiro, onde o partido funciona bem e a mobilização é fácil, para proporcionar ao candidato um razoável moldura humana. Nessa caça ao voto à última hora, Abreu até no MacMonald''s entrou, apesar das apoiantes que na rua criticavam "estes americanos, estes fascistas".

Eunice Lourenço

Abreu ganhou voto a Ferreira do Amaral na Malveira

Candidato por Três Dias

Por EUNICE LOURENÇO

Sexta-feira, 12 de Janeiro de 2001

"Juro que vou votar em si", prometia o homem com dois autocolantes de Ferreira do Amaral ao peito. António Abreu, candidato do PCP às eleições presidenciais, tinha acabado de ganhar um voto ao candidato do PSD, na feira da Malveira, onde esteve durante a manhã, naquele que foi o seu segundo dia de apelo ao voto.

"O senhor é que defende os trabalhadores. Temos tanta gente pobre e quando votam não votam no partido que os defende", continuava o feirante, a quem Abreu, reassumindo por momentos o seu cargo de vereador da Câmara Municipal de Lisboa, prometia tentar resolver o problema de um outro feirante relacionado com o mercado dos Olivais.

No entanto, se aquele feirante sabia quem Abreu era, também havia quem na Malveira ainda não soubesse quem era aquele senhor alto e de bigode. "A cara não me é estranha, mas não estou a ver quem é", dizia uma senhora numa banca. Mais à frente, um outro feirante a quem Rosa Rabiais, da Comissão Política do PCP, apelava a que fosse votar no dia 14, perguntava se era o Rosas.

O que Abreu, certamente, não esperava mesmo encontrar era um comunista monárquico. "Não acha preferível pôr lá o rei?", perguntava o feirante, depois de ter dito que era do partido do candidato, que respondia que "os reis estão fora de prazo". Não estão, não, ripostava o homem, lembrando que os países mais desenvolvidos da Europa são monarquias.

Não era só sobre a monarquia que o feirante tinha opinião. Também tinha algo a dizer sobre o próprio PCP. Começou por elogiar Álvaro Cunhal, esse "grande homem", mas passou logo ao aviso: "Quando ele morrer é tal e qual como quando morrer o Mandela na África do Sul. Entra tudo em convulsão."

"Não, o povo é sereno", Abreu punha fim à conversa e andava rua abaixo. Mas o homem ainda deixou mais um aviso: "Ponham lá o rei D. Duarte II, senão ainda gramam com o Filipe IV."

Carvalhas no Barreiro

Ao penúltimo dia de campanha, Abreu mais parecia que estava a começar, como de facto estava, uma vez que só depois de, na passada terça-feira, o comité central (CC) ter decidido que a candidatura era para ir às urnas, é que o candidato começou a apelar ao voto. Assim, só no fim a máquina do PCP se pôs em campo e, com ela, os seus dirigentes, até aqui afastados desta campanha.

Rosa Rabiais, Paulo Miranda, Francisco Lopes, Jorge Cordeiro e Jorge Pires - todos membros da comissão política - andaram a distribuir panfletos com o candidato no Barreiro, onde até o secretário-geral do partido, Carlos Carvalhas, andou nas ruas ao lado de Abreu. Carvalhas tentava, assim, colmatar a falta de empenho demonstrada quarta-feira à noite, no comício do Fórum Lisboa. Naquele que foi o primeiro comício da campanha e com uma sala cheia, com cerca de 700 pessoas, o secretário-geral comunista limitou-se a fazer o mesmo discurso que tinha feito há uma semana, no Porto, e cujos pontos centrais eram a importância da reforma fiscal e a exigência de esclarecimento sobre o que se passa no Kosovo.

Foi também no Fórum Roma que se ouviu os primeiros "slogans" desta candidatura - "No Abreu, votas tu e voto eu" e "Com Abreu, a esquerda já venceu" -, assim como a palavra "vota" antes do nome do candidato, no palanque onde ele discursa. A inesperada decisão do CC acabou por obrigar o PCP a pôr de facto uma campanha na rua.

Até então, o candidato tinha andado praticamente sozinho na estrada, entre almoços e jantares, encontros com organizações de trabalhadores e alguns contactos de rua. A todos ia preparando para a sua desistência, dizendo que o objectivo desta candidatura não era a votação, era definir as áreas em que o Presidente da República deve ter uma intervenção e o sentido que deve dar a essa intervenção.

Depois da decisão do CC foi preciso mudar o discurso e a estratégia. O discurso passou a ser de apelo ao voto e Sampaio o Presidente que "frustrou as expectativas" do PCP, que o ajudou a eleger há cinco anos. A estratégia passou a existir, indo ao encontro das pessoas. E aí nada melhor do que ir até ao Barreiro, onde o partido funciona bem e a mobilização é fácil, para proporcionar ao candidato um razoável moldura humana. Nessa caça ao voto à última hora, Abreu até no MacMonald''s entrou, apesar das apoiantes que na rua criticavam "estes americanos, estes fascistas".

Eunice Lourenço

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