Ruptura na direcção do PCP

27-11-2000
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Ruptura na Direcção do PCP

Por SÃO JOSÉ ALMEIDA E HELENA PEREIRA

Segunda-feira, 27 de Novembro de 2000 Edgar Correia demitiu-se do Comité Central e, logo, da Comissão Política do PCP. O histórico dirigente e parlamentar comunista, Carlos Brito deixa também a direcção do partido. Duas decisões que antecipam a ruptura ao mais alto nível no PCP, sobretudo quando Edgar Correia era o homem responsável pelo acompanhamento da Segurança Social, da Saúde, da Educação e da Ciência e Tecnologia, além de ser o coordenador dos últimos programas eleitorais da CDU. Na carta de demissão Edgar Correia pede mesmo que se proceda no PCP a uma "operação-verdade". A ruptura consumou-se antes do CC que aprovou ontem as Teses ao Congresso e significa que estes dirigentes não estão dispostos a legitimar o conclave do Parque das Nações. Não legitimar, por qualquer meio, as decisões e as conclusões do XVI Congresso do PCP, que decorre entre 8 e 10 de Dezembro, no Pavilhão Atlântico, no Parque das Nações, em Lisboa, é a razão última da demissão de Edgar Correia e Carlos Brito do Comité Central (CC) do PCP. Edgar Correia deixa também de ser funcionário do partido e abandona a Comissão Política, organismo executivo de direcção política do CC. Apesar de serem conhecidas no mesmo dia, as demissões não foram concretizadas em conjunto. Brito entregou a sua carta à direcção na quinta-feira e regressou ao Algarve, não tendo ontem ido à sede do PCP. Já Edgar Correia só entregou a sua longa e violentíssima carta de demissão, ontem de manhã. Mas apesar de ir à Soeiro Pereira Gomes entregar a sua carta, não participou na reunião máxima de direcção entre congressos que ontem aprovou, com um voto contra e duas abstenções, a proposta de Resolução Política que será discutida e votada pelo Congresso. Foi, aliás, o facto de o CC de ontem se destinar à aprovação das Teses - na próxima sexta-feira, dia 1 de Dezembro, será fechada a proposta de nomes que deverão ser aprovados em lista única e fechada pelo Congresso para integrarem o próximo Comité Central - que precipitou a ruptura. Isto porque, ambos os dirigentes são peremptórios a afirmá-lo, Edgar Correia e Carlos Brito não estão dispostos a dar mais o aval ao actual estado de coisas do PCP. Em total discordância com a forma como o Congresso está a ser preparado - as acusações de debate viciado à partida e de imposição de decisões sem debate por parte do sector cunhalista são notórias na carta de Edgar Correia - e sem quererem que o seu nome possa vir a ser usado como tendo concordado ou sequer participado nas decisões, Edgar Correia e Carlos Brito deixam assim a direcção e nem sequer vão ao XVI Congresso. Com esta atitude, estes dois agora ex-dirigentes defensores da modernização do PCP, não só clarificam a sua posição em definitivo - pretendem permanecer no PCP como militantes de base, mas sem ligação a uma direcção em que não se revêem minimamente -, como contrariam também as pretensões do secretário-geral, Carlos Carvalhas. O líder do PCP tem-se empenhado em tentar que os dirigentes críticos à linha política adoptada na preparação do Congresso, bem como aos métodos que foram utilizados, permaneçam nos seus cargos, pelo menos formalmente, até depois do conclave do Parque das Nações. A ideia é esvaziar o carácter político da cisão que existe na direcção do PCP e transformar as saídas e abandonos em substituições. Ou seja, tentar disfarçar a ruptura política, procurando que ela passe para o exterior como a imagem de uma "renovação de caras". A acontecer de preferência a partir de Janeiro, depois de os holofotes da comunicação social se terem desviado do Congresso. Uma solução que legitimará os trabalhos do Pavilhão Atlântico, pois se os críticos aí estiverem e apresentarem as suas ideias, eles surgirão sempre como "derrotados pela maioria dos delegados". Ora, Edgar Correia e Carlos Brito, ao sair agora, recusam-se a oferecer este "presente" a Carvalhas e aos cunhalistas. Estes dois dirigentes optaram por bater com a porta antes e fazer passar para o exterior e para as bases do PCP a imagem de que o XVI Congresso será apenas o "Congresso dos cunhalistas". OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Ruptura na direcção do PCP

"Uma decisão dolorosa"

Por uma "operação-verdade"

"Problemas e preocupações..."

Carlos Brito: Um moderado levado à ruptura

Edgar Correia: Um "estadista" nos bastidores

Ruptura na Direcção do PCP

Por SÃO JOSÉ ALMEIDA E HELENA PEREIRA

Segunda-feira, 27 de Novembro de 2000 Edgar Correia demitiu-se do Comité Central e, logo, da Comissão Política do PCP. O histórico dirigente e parlamentar comunista, Carlos Brito deixa também a direcção do partido. Duas decisões que antecipam a ruptura ao mais alto nível no PCP, sobretudo quando Edgar Correia era o homem responsável pelo acompanhamento da Segurança Social, da Saúde, da Educação e da Ciência e Tecnologia, além de ser o coordenador dos últimos programas eleitorais da CDU. Na carta de demissão Edgar Correia pede mesmo que se proceda no PCP a uma "operação-verdade". A ruptura consumou-se antes do CC que aprovou ontem as Teses ao Congresso e significa que estes dirigentes não estão dispostos a legitimar o conclave do Parque das Nações. Não legitimar, por qualquer meio, as decisões e as conclusões do XVI Congresso do PCP, que decorre entre 8 e 10 de Dezembro, no Pavilhão Atlântico, no Parque das Nações, em Lisboa, é a razão última da demissão de Edgar Correia e Carlos Brito do Comité Central (CC) do PCP. Edgar Correia deixa também de ser funcionário do partido e abandona a Comissão Política, organismo executivo de direcção política do CC. Apesar de serem conhecidas no mesmo dia, as demissões não foram concretizadas em conjunto. Brito entregou a sua carta à direcção na quinta-feira e regressou ao Algarve, não tendo ontem ido à sede do PCP. Já Edgar Correia só entregou a sua longa e violentíssima carta de demissão, ontem de manhã. Mas apesar de ir à Soeiro Pereira Gomes entregar a sua carta, não participou na reunião máxima de direcção entre congressos que ontem aprovou, com um voto contra e duas abstenções, a proposta de Resolução Política que será discutida e votada pelo Congresso. Foi, aliás, o facto de o CC de ontem se destinar à aprovação das Teses - na próxima sexta-feira, dia 1 de Dezembro, será fechada a proposta de nomes que deverão ser aprovados em lista única e fechada pelo Congresso para integrarem o próximo Comité Central - que precipitou a ruptura. Isto porque, ambos os dirigentes são peremptórios a afirmá-lo, Edgar Correia e Carlos Brito não estão dispostos a dar mais o aval ao actual estado de coisas do PCP. Em total discordância com a forma como o Congresso está a ser preparado - as acusações de debate viciado à partida e de imposição de decisões sem debate por parte do sector cunhalista são notórias na carta de Edgar Correia - e sem quererem que o seu nome possa vir a ser usado como tendo concordado ou sequer participado nas decisões, Edgar Correia e Carlos Brito deixam assim a direcção e nem sequer vão ao XVI Congresso. Com esta atitude, estes dois agora ex-dirigentes defensores da modernização do PCP, não só clarificam a sua posição em definitivo - pretendem permanecer no PCP como militantes de base, mas sem ligação a uma direcção em que não se revêem minimamente -, como contrariam também as pretensões do secretário-geral, Carlos Carvalhas. O líder do PCP tem-se empenhado em tentar que os dirigentes críticos à linha política adoptada na preparação do Congresso, bem como aos métodos que foram utilizados, permaneçam nos seus cargos, pelo menos formalmente, até depois do conclave do Parque das Nações. A ideia é esvaziar o carácter político da cisão que existe na direcção do PCP e transformar as saídas e abandonos em substituições. Ou seja, tentar disfarçar a ruptura política, procurando que ela passe para o exterior como a imagem de uma "renovação de caras". A acontecer de preferência a partir de Janeiro, depois de os holofotes da comunicação social se terem desviado do Congresso. Uma solução que legitimará os trabalhos do Pavilhão Atlântico, pois se os críticos aí estiverem e apresentarem as suas ideias, eles surgirão sempre como "derrotados pela maioria dos delegados". Ora, Edgar Correia e Carlos Brito, ao sair agora, recusam-se a oferecer este "presente" a Carvalhas e aos cunhalistas. Estes dois dirigentes optaram por bater com a porta antes e fazer passar para o exterior e para as bases do PCP a imagem de que o XVI Congresso será apenas o "Congresso dos cunhalistas". OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Ruptura na direcção do PCP

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