JORNAL PUBLICO: Da Grândola de Zeca Afonso à moda do "bicho"

22-01-2001
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12/09/95

Candidatos da CDU andaram pelo Alentejo litoral

Da Grândola de Zeca Afonso à moda do "bicho"

César Camacho

O domingo de preparação de campanha da CDU foi apontado para o litoral alentejano. Carlos Carvalhas e Octávio Teixeira fizeram comícios em Sines e em Grândola. Nogueira, Guterres e Monteiro, cada um de seu modo, foram os alvos. Mas os poetas populares alentejanos e a memória presente de Zeca Afonso, em Grândola, é que deram o mote. Ontem, Carvalhas voltou à cidade e fechou a noite com um convívio com intelectuais, na Esplanada do Século, em Lisboa.

"Se vir o dr. Nogueira na televisão e me perguntarem quem ele é, eu digo "é o bicho, é o bicho". Se for o eng. Guterres, eu digo "é o crocodilo". O Manuel Monteiro é novo de mais, não tem direito a moda." Com o gesto a ilustrar, este era o culminar da intervenção do médico Fernando Vasco, delegado de Saúde de Alcácer do Sal, autarca em Grândola e 14º candidato da CDU por Setúbal.

O palco estava instalado no largo onde, confundido com uma das fachadas da igreja, funciona o Centro de Trabalho do PCP, em Grândola, a vila morena cantada por Zeca Afonso. Cantor de outras modas, que nada têm a ver com a moda do "bicho", como se afirmava no palco. Foi lá o último contra-relógio da etapa de fim-de-semana de campanha da CDU pelo Alentejo litoral, que tinha começado em Sines. E tinha que ser lá que Carvalhas ia ter a oportunidade de evocar Zeca Afonso, retomando as modas cantadas pelo Grupo Coral da Cooperativa Agrícola, que tinha acabado de fechar a sua actuação com a "Grândola Vila Morena".

Lembrando Zeca Afonso, o secretário-geral do PCP disse que "Grândola continua a ser sempre a vila morena". Mas, lembrou, hoje não acontece a outra ideia expressa nos versos do poeta, quando pretendeu que é "o povo é quem mais ordena". E, para Carvalhas, o "povo pode ordenar". Só é preciso "que Grândola e o distrito de Setúbal votem CDU".

E, como exortação mais sedutora do discurso, voltou a usar o carisma do grande cantor de intervenção. O grupo local Terra Nostra tinha interpretado "Traz um amigo também..." Serviu para Carvalhas pedir aos presentes que, no dia 1 de Outubro, na hora de ir às urnas, cada votante "que já é CDU leve consigo um amigo."

Ou o PCP ainda não lançou mão de todas as suas capacidades mobilizadoras ou o Alentejo já não é o que era para as expectativas comunistas. Em Sines, o lanche estava preparado, em recinto coberto, dado que as previsões meteorológicas anunciavam chuva para o fim da tarde. E choveu mesmo. Talvez por isso, já em Grândola, nenhum dos oradores se tivesse entusiasmado com a deixa do grupo coral que tinha cantado com alma o drama da seca. "Não chove no Alentejo, que vida tão tirana, Ó Ai!" Octávio Teixeira ainda faria ao PÚBLICO uma breve alusão ao projecto Alqueva, só tido em conta em tempo eleitoral. Um projecto que, há muitos anos, era complementar ao empreendimento de Sines e nem um nem outro foram alguma vez objecto do que chamou "quadro de desenvolvimento integrado e equilibrado".

Não fosse o pequeno grupo de animação da Juventude Comunista, que esteve em todas as sessões, desde Sines a Grândola, e tanto Carvalhas como Octávio Teixeira ficariam sem o animado separador que agitava as bandeiras e gritava "A, é, i, o, u, a juventude é CDU", proporcionando aos oradores as necessárias pausas do discurso. E tanto Carvalhas como Octávio Teixeira precisaram dessas pausas. Até para interpretarem a mensagem dos cantores alentejanos.

"Muitos querem e não podem fazer bem por caridade. Outros podem e não fazem, por não terem vontade." Pouco depois, ouviu-se Octávio Teixeira dizer que "PSD, PS e CDS só falam nos que precisam de trabalho, de emprego, quando há campanha". Segue-se a listagem. Só agora se ouve Manuel Monteiro (PP) mostrar-se apaixonado pelos problemas dos pescadores. Carvalhas, logo a seguir, lembra os presentes da visita de campanha de Cavaco Silva ao mesmo Alentejo, em 1991.

"Andava ele a distribuir, por mão própria, o manifesto eleitoral em que prometia o horário de trabalho de 40 horas." E Carvalhas explica que, em cada ano da legislatura, apresentou no Parlamento essa proposta, sempre adiada pelo PSD, "com ajuda do PS".

Guterres também é evocado. Apareceu "como apaixonado das questões da Educação e não se ouve dele qualquer compromisso com o problema das propinas". Depois é Octávio Teixeira na abordagem às questões da Educação. Faz uma pausa e diz: "Tinha um nome para dizer mas se o disser vocês assobiam." E os assobios corresponderam quando Octávio Teixeira pronunciou o nome de Manuela Ferreira Leite. A ministra diz que "o problema da quantidade na Educação está ultrapassado e que falta resolver o problema da qualidade! Ela que venha ao distrito de Setúbal".

Tanto Carvalhas como Octávio Teixeira queriam deixar uma garantia aos militantes presentes. "A força da CDU no distrito de Setúbal está crescer. O povo pode ordenar." Depois fizeram-se avisos para que o povo "não se deixe enganar". A candidata em nome do partido "Os Verdes", Carmen Amador, insistiu na tecla do que qualificou de tentativa de engano mediático. Era a alusão aos debates televisivos, em regime de exclusividade entre Guterres e Nogueira. Insistia a candidata em esclarecer que "as eleições do dia 1 de Outubro não são para escolher um primeiro-ministro. Não é votar em Guterres ou em Nogueira. Vamos eleger deputados à Assembleia da República". Este aviso, do não se deixem ir no engano, foi repetido por Carvalhas, já no final da noite.

12/09/95

Candidatos da CDU andaram pelo Alentejo litoral

Da Grândola de Zeca Afonso à moda do "bicho"

César Camacho

O domingo de preparação de campanha da CDU foi apontado para o litoral alentejano. Carlos Carvalhas e Octávio Teixeira fizeram comícios em Sines e em Grândola. Nogueira, Guterres e Monteiro, cada um de seu modo, foram os alvos. Mas os poetas populares alentejanos e a memória presente de Zeca Afonso, em Grândola, é que deram o mote. Ontem, Carvalhas voltou à cidade e fechou a noite com um convívio com intelectuais, na Esplanada do Século, em Lisboa.

"Se vir o dr. Nogueira na televisão e me perguntarem quem ele é, eu digo "é o bicho, é o bicho". Se for o eng. Guterres, eu digo "é o crocodilo". O Manuel Monteiro é novo de mais, não tem direito a moda." Com o gesto a ilustrar, este era o culminar da intervenção do médico Fernando Vasco, delegado de Saúde de Alcácer do Sal, autarca em Grândola e 14º candidato da CDU por Setúbal.

O palco estava instalado no largo onde, confundido com uma das fachadas da igreja, funciona o Centro de Trabalho do PCP, em Grândola, a vila morena cantada por Zeca Afonso. Cantor de outras modas, que nada têm a ver com a moda do "bicho", como se afirmava no palco. Foi lá o último contra-relógio da etapa de fim-de-semana de campanha da CDU pelo Alentejo litoral, que tinha começado em Sines. E tinha que ser lá que Carvalhas ia ter a oportunidade de evocar Zeca Afonso, retomando as modas cantadas pelo Grupo Coral da Cooperativa Agrícola, que tinha acabado de fechar a sua actuação com a "Grândola Vila Morena".

Lembrando Zeca Afonso, o secretário-geral do PCP disse que "Grândola continua a ser sempre a vila morena". Mas, lembrou, hoje não acontece a outra ideia expressa nos versos do poeta, quando pretendeu que é "o povo é quem mais ordena". E, para Carvalhas, o "povo pode ordenar". Só é preciso "que Grândola e o distrito de Setúbal votem CDU".

E, como exortação mais sedutora do discurso, voltou a usar o carisma do grande cantor de intervenção. O grupo local Terra Nostra tinha interpretado "Traz um amigo também..." Serviu para Carvalhas pedir aos presentes que, no dia 1 de Outubro, na hora de ir às urnas, cada votante "que já é CDU leve consigo um amigo."

Ou o PCP ainda não lançou mão de todas as suas capacidades mobilizadoras ou o Alentejo já não é o que era para as expectativas comunistas. Em Sines, o lanche estava preparado, em recinto coberto, dado que as previsões meteorológicas anunciavam chuva para o fim da tarde. E choveu mesmo. Talvez por isso, já em Grândola, nenhum dos oradores se tivesse entusiasmado com a deixa do grupo coral que tinha cantado com alma o drama da seca. "Não chove no Alentejo, que vida tão tirana, Ó Ai!" Octávio Teixeira ainda faria ao PÚBLICO uma breve alusão ao projecto Alqueva, só tido em conta em tempo eleitoral. Um projecto que, há muitos anos, era complementar ao empreendimento de Sines e nem um nem outro foram alguma vez objecto do que chamou "quadro de desenvolvimento integrado e equilibrado".

Não fosse o pequeno grupo de animação da Juventude Comunista, que esteve em todas as sessões, desde Sines a Grândola, e tanto Carvalhas como Octávio Teixeira ficariam sem o animado separador que agitava as bandeiras e gritava "A, é, i, o, u, a juventude é CDU", proporcionando aos oradores as necessárias pausas do discurso. E tanto Carvalhas como Octávio Teixeira precisaram dessas pausas. Até para interpretarem a mensagem dos cantores alentejanos.

"Muitos querem e não podem fazer bem por caridade. Outros podem e não fazem, por não terem vontade." Pouco depois, ouviu-se Octávio Teixeira dizer que "PSD, PS e CDS só falam nos que precisam de trabalho, de emprego, quando há campanha". Segue-se a listagem. Só agora se ouve Manuel Monteiro (PP) mostrar-se apaixonado pelos problemas dos pescadores. Carvalhas, logo a seguir, lembra os presentes da visita de campanha de Cavaco Silva ao mesmo Alentejo, em 1991.

"Andava ele a distribuir, por mão própria, o manifesto eleitoral em que prometia o horário de trabalho de 40 horas." E Carvalhas explica que, em cada ano da legislatura, apresentou no Parlamento essa proposta, sempre adiada pelo PSD, "com ajuda do PS".

Guterres também é evocado. Apareceu "como apaixonado das questões da Educação e não se ouve dele qualquer compromisso com o problema das propinas". Depois é Octávio Teixeira na abordagem às questões da Educação. Faz uma pausa e diz: "Tinha um nome para dizer mas se o disser vocês assobiam." E os assobios corresponderam quando Octávio Teixeira pronunciou o nome de Manuela Ferreira Leite. A ministra diz que "o problema da quantidade na Educação está ultrapassado e que falta resolver o problema da qualidade! Ela que venha ao distrito de Setúbal".

Tanto Carvalhas como Octávio Teixeira queriam deixar uma garantia aos militantes presentes. "A força da CDU no distrito de Setúbal está crescer. O povo pode ordenar." Depois fizeram-se avisos para que o povo "não se deixe enganar". A candidata em nome do partido "Os Verdes", Carmen Amador, insistiu na tecla do que qualificou de tentativa de engano mediático. Era a alusão aos debates televisivos, em regime de exclusividade entre Guterres e Nogueira. Insistia a candidata em esclarecer que "as eleições do dia 1 de Outubro não são para escolher um primeiro-ministro. Não é votar em Guterres ou em Nogueira. Vamos eleger deputados à Assembleia da República". Este aviso, do não se deixem ir no engano, foi repetido por Carvalhas, já no final da noite.

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