Fantas e fitas no Porto

23-02-2001
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Fantas e Fitas no Porto

Por KATHLEEN GOMES

Sexta-feira, 23 de Fevereiro de 2001 21.º Festival Internacional de Cinema Fantástico do Porto As secções competitivas arrancam hoje, com 21 filmes a concorrerem ao Grande Prémio do festival. Até 3 de Março. Praticamente confinadas ao Teatro Rivoli, que nos últimos anos se converteu no novo espaço nobre do festival, e com o mítico Auditório Nacional Carlos Alberto reduzido a uma fachada erguida no meio de escombros, as secções competitivas do Fantasporto começam hoje e prolongam-se até 3 de Março, dia de entrega de prémios, que nesta 21.ª edição tem a responsabilidade acrescida de atribuir o Méliès d''Or ao melhor filme fantástico europeu de 2000. Já se sabe que o festival do Porto não se esgota na apresentação de filmes do género fantástico (designação que, por si só, atravessa outros territórios, do cinema de terror à ficção científica), e a substituição de "O Exorcista" na versão "director''s cut" pela antestreia de "Almost Famous", de Cameron Crowe, parece confirmá-lo - "foi uma questão de opção", defende o director Mário Dorminsky, "liga com a programação da meia-noite". Por outro lado, a gala de abertura oficial do Fantas 2001, marcada para as 19h15, no grande auditório do Rivoli, está reservada às curtas-metragens da série "Estórias de Duas Cidades" do Porto 2001 (ver texto ao lado), e ao último filme de Philip Kaufman, "Quills - As Penas do Desejo" (21h30, extracompetição), uma reinvenção biográfica do Marquês de Sade (ver caixa). No que toca à principal secção competitiva do festival, justamente dedicada ao cinema fantástico, a selecção de 21 filmes é dominada por produções americanas (cinco) e coreanas (quatro) - a que se junta uma retrospectiva sobre a cinematografia contemporânea da Coreia -, destacando-se uma única presença portuguesa, com "Akasha", primeira longa-metragem de João Menezes (pequeno auditório do Rivoli, amanhã, às 21h). "Whispering Corridors", do coreano Park Ki-Hyung, abre esta tarde a competição oficial, às 15h, no grande auditório. É a típica história sobre o desasossego das almas penadas, mas a que o realizador resolveu acrescentar uma reflexão impiedosa sobre o sistema educativo coreano. Ki-Hyung adopta as convenções do cinema de terror, mas, aparentemente, esse nem foi o elemento mais perturbador do filme: alguns sectores conservadores tentaram impedir a sua exibição no país de origem sob o pretexto de "ser uma vergonha para os professores e distorcer a realidade do sistema educativo". O que não impediu que fosse um êxito de público: atingiu o topo do "box-office" coreano em 1998 e foi o segundo filme nacional mais rentável do ano. Presume-se, no entanto, que as atenções sejam dominadas por "Shadow of the Vampire", de Elias Merhige (a exibir no dia 2). O filme - com estreia nacional apontada para 20 de Abril - revisita "Nosferatu, o Vampiro" (1922), de Murnau, espécie de arquétipo do cinema de horror (para não falar do seu papel pioneiro no cinema "tout court"), partindo da premissa de que o actor principal, o obscuro Max Schreck, era, na verdade, um vampiro. É Willem Dafoe quem interpreta Schreck, papel que lhe valeu uma nomeação para o Óscar de melhor actor secundário - e a incredulidade de um projeccionista que perguntou ao actor por que é que o seu nome constava da ficha técnica do filme (já agora, acrescente-se que o filme também está nomeado na categoria de caracterização). Além de produtor, John Malkovich incarna o realizador alemão. Outro candidato ao Grande Prémio do festival com a marca da Academia de Hollywood é "Amores Perros" (em português "Amor Cão", com estreia prevista para 9 de Março). O filme do mexicano Alejandro González Iñarritu - um mosaico sobre a cidade mais populosa do mundo, onde se cruzam três histórias - está na corrida ao Óscar de melhor filme estrangeiro, além de ter vencido a secção competitiva Semana da Crítica no último Festival de Cannes (é exibido na terça-feira, às 23h15). "Faust", uma revisitação do mito de Fausto a partir dos "comics" de David Quinn (argumentista) e Tim Vigil, por Brian Yuzna, é outra das apostas da organização. Mas os "acontecimentos" do festival estendem-se também à Semana dos Realizadores, mostra competitiva de onde se espera a revelação de novos valores. O controverso "Scarlet Diva", estreia na realização da filha do realizador italiano Dario Argento, integra a competição, onde figuram títulos como "Shiri", de Kang Je-Gyu, sobre a ameaça à unificação das duas Coreias (e que ultrapassou as receitas de "Titanic" na Coreia), "Happy End", de Ji-Woo Chung, exibido na Semana da Crítica de Cannes 2000, ou "Good Housekeeping", do americano Frank Novack. Fora de competição, "American Psycho", a adaptação cinematográfica do romance de Bret Easton Ellis por Mary Harron, surge como a proposta mais forte da secção Panorama & Première (a fechar o festival no dia 3), mas "The Filth and the Fury", reabilitação dos Sex Pistols por Julien Temple, perfila-se como outro dos títulos obrigatórios (na noite de domingo, à 1h15). OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Fantas e fitas no Porto

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Já se sabe que o festival do Porto não se esgota na apresentação de filmes do género fantástico (designação que, por si só, atravessa outros territórios, do cinema de terror à ficção científica), e a substituição de "O Exorcista" na versão "director''s cut" pela antestreia de "Almost Famous", de Cameron Crowe, parece confirmá-lo - "foi uma questão de opção", defende o director Mário Dorminsky, "liga com a programação da meia-noite". Por outro lado, a gala de abertura oficial do Fantas 2001, marcada para as 19h15, no grande auditório do Rivoli, está reservada às curtas-metragens da série "Estórias de Duas Cidades" do Porto 2001 (ver texto ao lado), e ao último filme de Philip Kaufman, "Quills - As Penas do Desejo" (21h30, extracompetição), uma reinvenção biográfica do Marquês de Sade (ver caixa). No que toca à principal secção competitiva do festival, justamente dedicada ao cinema fantástico, a selecção de 21 filmes é dominada por produções americanas (cinco) e coreanas (quatro) - a que se junta uma retrospectiva sobre a cinematografia contemporânea da Coreia -, destacando-se uma única presença portuguesa, com "Akasha", primeira longa-metragem de João Menezes (pequeno auditório do Rivoli, amanhã, às 21h). "Whispering Corridors", do coreano Park Ki-Hyung, abre esta tarde a competição oficial, às 15h, no grande auditório. É a típica história sobre o desasossego das almas penadas, mas a que o realizador resolveu acrescentar uma reflexão impiedosa sobre o sistema educativo coreano. Ki-Hyung adopta as convenções do cinema de terror, mas, aparentemente, esse nem foi o elemento mais perturbador do filme: alguns sectores conservadores tentaram impedir a sua exibição no país de origem sob o pretexto de "ser uma vergonha para os professores e distorcer a realidade do sistema educativo". O que não impediu que fosse um êxito de público: atingiu o topo do "box-office" coreano em 1998 e foi o segundo filme nacional mais rentável do ano. Presume-se, no entanto, que as atenções sejam dominadas por "Shadow of the Vampire", de Elias Merhige (a exibir no dia 2). O filme - com estreia nacional apontada para 20 de Abril - revisita "Nosferatu, o Vampiro" (1922), de Murnau, espécie de arquétipo do cinema de horror (para não falar do seu papel pioneiro no cinema "tout court"), partindo da premissa de que o actor principal, o obscuro Max Schreck, era, na verdade, um vampiro. É Willem Dafoe quem interpreta Schreck, papel que lhe valeu uma nomeação para o Óscar de melhor actor secundário - e a incredulidade de um projeccionista que perguntou ao actor por que é que o seu nome constava da ficha técnica do filme (já agora, acrescente-se que o filme também está nomeado na categoria de caracterização). Além de produtor, John Malkovich incarna o realizador alemão. Outro candidato ao Grande Prémio do festival com a marca da Academia de Hollywood é "Amores Perros" (em português "Amor Cão", com estreia prevista para 9 de Março). O filme do mexicano Alejandro González Iñarritu - um mosaico sobre a cidade mais populosa do mundo, onde se cruzam três histórias - está na corrida ao Óscar de melhor filme estrangeiro, além de ter vencido a secção competitiva Semana da Crítica no último Festival de Cannes (é exibido na terça-feira, às 23h15). "Faust", uma revisitação do mito de Fausto a partir dos "comics" de David Quinn (argumentista) e Tim Vigil, por Brian Yuzna, é outra das apostas da organização. Mas os "acontecimentos" do festival estendem-se também à Semana dos Realizadores, mostra competitiva de onde se espera a revelação de novos valores. O controverso "Scarlet Diva", estreia na realização da filha do realizador italiano Dario Argento, integra a competição, onde figuram títulos como "Shiri", de Kang Je-Gyu, sobre a ameaça à unificação das duas Coreias (e que ultrapassou as receitas de "Titanic" na Coreia), "Happy End", de Ji-Woo Chung, exibido na Semana da Crítica de Cannes 2000, ou "Good Housekeeping", do americano Frank Novack. Fora de competição, "American Psycho", a adaptação cinematográfica do romance de Bret Easton Ellis por Mary Harron, surge como a proposta mais forte da secção Panorama & Première (a fechar o festival no dia 3), mas "The Filth and the Fury", reabilitação dos Sex Pistols por Julien Temple, perfila-se como outro dos títulos obrigatórios (na noite de domingo, à 1h15). OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Fantas e fitas no Porto

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