Destaque

02-07-2001
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O Pior

Segunda, 2 de Julho de 2001 Marketing e comunicação Um balanço simplista, mas no essencial verdadeiro, desta Capital da Cultura podia resumir-se numa frase: a Porto 2001 pôs de pé um programa excelente, mas não soube promovê-lo adequadamente. Antes assim, claro, do que o contrário. Mas não teria sido impossível conciliar os dois objectivos. Faltam, pela cidade, sinais exteriores de que esta está a ser palco de uma festa da cultura. É verdade que as obras não ajudam, mas até elas poderiam ter sido rentabilizadas com alguma imaginação e humor. A promoção no estrangeiro, e designadamente na Galiza, foi incipiente, e muitos espectáculos de grande qualidade não foram atempadamente promovidos com a intensidade que seria desejável, talvez por se ter acreditado que as lotações esgotadas tornavam dispensável o esforço. O orçamento da Porto 2001 reservou uma verba manifestamente diminuta para a promoção e marketing. E se esta fraqueza poderia ter sido compensada com uma estratégia eficaz na relação com os meios de comunicação, a verdade é que também neste sector as coisas, desde o início, não correram muito bem. L.M.Q. Guerrilhas institucionais Desde que arrancou o projecto da Capital da Cultura, nunca cessaram os conflitos entre os responsáveis das instituições envolvidas. À guerra entre Artur Santos Silva e Manuel Carrilho sucederam as periódicas trocas de acusações com que Nuno Cardoso e Teresa Lago vêm entretendo os jornais. É possível que Santos Silva tivesse alguma razão em acusar Carrilho de o estar a sabotar, e que este, por sua vez, tivesse razão em achar que o banqueiro não estava a dar convenientemente conta do recado. Como é razoável que Teresa Lago não goste de ver Cardoso a suspender o arranque de obras que estão a cargo da Porto 2001, ou que o presidente da Câmara entenda que não tem de lhe dar explicações em matérias que julga serem da sua competência. Mas o modo como geriram publicamente os seus diferendos torna inevitável que todos estes pretextos se esbatam para deixar ver, apenas, comezinhas disputas de protagonismo, que seguramente não beneficiam o evento. L.M.Q. Obras , obras, obras... As obras!... É o lamento mais vezes ouvido e repetido, tendo-se transformado mesmo no "facto social" do Porto 2001. Mas o pior efeito das obras, para além dos evidentes transtornos que causam ao quotidiano dos portuenses e aos negócios dos comerciantes - e nunca ninguém explicou cabalmente se os seus "timings" tinham mesmo de ser colados ao ano da Capital da Cultura -, foi também o de em muitas circunstâncias estarem a sobrepor-se mediaticamente à própria programação. No que diz respeito aos equipamentos culturais, os atrasos na recuperação do Museu Soares dos reis, na adaptação da Cadeia da Relação para Centro Português da Fotografia, no arranjo da Casa das Artes, e o folhetim sobre o que vai ser feito no Auditório Nacional Carlos Alberto também não ajudaram. S.C.A. A "bilhética" Mais, talvez, do que os inconvenientes das obras ou as querelas entre Lago e Cardoso, o que realmente está a minar a imagem pública da Capital da Cultura é um arrevesado neologismo: a "bilhética". Enquanto doutrina, a bilhética, tal como a entende a Porto 2001, defende que o mais importante é assegurar que uma legião de gente com dinheiro para pagar bilhete receba entradas à borla, tenha ou não interesse em ver os espectáculos. A maioria, ao que que parece, não tem. Enquanto prática de venda de bilhetes, a bilhética da Porto 2001, com um sofisticado sistema em rede que deixa de fora as salas onde decorrem os espectáculos, tem promovido algumas confusões. Veja-se o exemplo da ópera "Inês de Castro", que muitos julgavam esgotada, quando, afinal, havia centenas de bilhetes no Coliseu. L.M.Q. Pop-rock ausente Se há um parente pobre na programação da Porto 2001, ele é, sem dúvida, o sector da música pop-rock. Com excepção da vinda de Brian Eno e dos vários festivais sazonais da cidade, pouco resta na Capital da Cultura capaz de mobilizar uma multidão de jovens sedentos por esses géneros musicais. Se uma Capital Europeia não consegue trazer estrelas internacionais, quem conseguirá? Manuela Melo, responsável pela equipa da programação, argumentou que "não havia dinheiro para isso" e que "trazer um grupo significativo envolve verbas que praticamente absorveriam metade do orçamento para a música". Pode ser legítimo. Mas parece também que os responsáveis do Porto 2001 não exploraram convenientemente todas as possibilidades de negociação com as empresas portuguesas que normalmente se ocupam dos grandes concertos pop-rock. Não foi assim que se fez, por exemplo, no Super Bock-Super Rock? A.A.S. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Porto 2001 chegou a meio caminho sem tropeçar nas obras

Números

Depoimentos

Vinte propostas para o Verão

O melhor

O pior

Porto 2001 - Capital da Cultura em Balanço

O Pior

Segunda, 2 de Julho de 2001 Marketing e comunicação Um balanço simplista, mas no essencial verdadeiro, desta Capital da Cultura podia resumir-se numa frase: a Porto 2001 pôs de pé um programa excelente, mas não soube promovê-lo adequadamente. Antes assim, claro, do que o contrário. Mas não teria sido impossível conciliar os dois objectivos. Faltam, pela cidade, sinais exteriores de que esta está a ser palco de uma festa da cultura. É verdade que as obras não ajudam, mas até elas poderiam ter sido rentabilizadas com alguma imaginação e humor. A promoção no estrangeiro, e designadamente na Galiza, foi incipiente, e muitos espectáculos de grande qualidade não foram atempadamente promovidos com a intensidade que seria desejável, talvez por se ter acreditado que as lotações esgotadas tornavam dispensável o esforço. O orçamento da Porto 2001 reservou uma verba manifestamente diminuta para a promoção e marketing. E se esta fraqueza poderia ter sido compensada com uma estratégia eficaz na relação com os meios de comunicação, a verdade é que também neste sector as coisas, desde o início, não correram muito bem. L.M.Q. Guerrilhas institucionais Desde que arrancou o projecto da Capital da Cultura, nunca cessaram os conflitos entre os responsáveis das instituições envolvidas. À guerra entre Artur Santos Silva e Manuel Carrilho sucederam as periódicas trocas de acusações com que Nuno Cardoso e Teresa Lago vêm entretendo os jornais. É possível que Santos Silva tivesse alguma razão em acusar Carrilho de o estar a sabotar, e que este, por sua vez, tivesse razão em achar que o banqueiro não estava a dar convenientemente conta do recado. Como é razoável que Teresa Lago não goste de ver Cardoso a suspender o arranque de obras que estão a cargo da Porto 2001, ou que o presidente da Câmara entenda que não tem de lhe dar explicações em matérias que julga serem da sua competência. Mas o modo como geriram publicamente os seus diferendos torna inevitável que todos estes pretextos se esbatam para deixar ver, apenas, comezinhas disputas de protagonismo, que seguramente não beneficiam o evento. L.M.Q. Obras , obras, obras... As obras!... É o lamento mais vezes ouvido e repetido, tendo-se transformado mesmo no "facto social" do Porto 2001. Mas o pior efeito das obras, para além dos evidentes transtornos que causam ao quotidiano dos portuenses e aos negócios dos comerciantes - e nunca ninguém explicou cabalmente se os seus "timings" tinham mesmo de ser colados ao ano da Capital da Cultura -, foi também o de em muitas circunstâncias estarem a sobrepor-se mediaticamente à própria programação. No que diz respeito aos equipamentos culturais, os atrasos na recuperação do Museu Soares dos reis, na adaptação da Cadeia da Relação para Centro Português da Fotografia, no arranjo da Casa das Artes, e o folhetim sobre o que vai ser feito no Auditório Nacional Carlos Alberto também não ajudaram. S.C.A. A "bilhética" Mais, talvez, do que os inconvenientes das obras ou as querelas entre Lago e Cardoso, o que realmente está a minar a imagem pública da Capital da Cultura é um arrevesado neologismo: a "bilhética". Enquanto doutrina, a bilhética, tal como a entende a Porto 2001, defende que o mais importante é assegurar que uma legião de gente com dinheiro para pagar bilhete receba entradas à borla, tenha ou não interesse em ver os espectáculos. A maioria, ao que que parece, não tem. Enquanto prática de venda de bilhetes, a bilhética da Porto 2001, com um sofisticado sistema em rede que deixa de fora as salas onde decorrem os espectáculos, tem promovido algumas confusões. Veja-se o exemplo da ópera "Inês de Castro", que muitos julgavam esgotada, quando, afinal, havia centenas de bilhetes no Coliseu. L.M.Q. Pop-rock ausente Se há um parente pobre na programação da Porto 2001, ele é, sem dúvida, o sector da música pop-rock. Com excepção da vinda de Brian Eno e dos vários festivais sazonais da cidade, pouco resta na Capital da Cultura capaz de mobilizar uma multidão de jovens sedentos por esses géneros musicais. Se uma Capital Europeia não consegue trazer estrelas internacionais, quem conseguirá? Manuela Melo, responsável pela equipa da programação, argumentou que "não havia dinheiro para isso" e que "trazer um grupo significativo envolve verbas que praticamente absorveriam metade do orçamento para a música". Pode ser legítimo. Mas parece também que os responsáveis do Porto 2001 não exploraram convenientemente todas as possibilidades de negociação com as empresas portuguesas que normalmente se ocupam dos grandes concertos pop-rock. Não foi assim que se fez, por exemplo, no Super Bock-Super Rock? A.A.S. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Porto 2001 chegou a meio caminho sem tropeçar nas obras

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