AR dividida sobre como responder ao terrorismo

20-09-2001
marcar artigo

AR Dividida Sobre como Responder ao Terrorismo

Por SÃO JOSÉ ALMEIDA

Quinta-feira, 20 de Setembro de 2001

BE apela ao pacifismo, Paulo Portas ao securitarismo. PS e PSD unem-se num combate ao terrorismo que não questione as liberdades democráticas

Na sequência da mensagem do PR, a Assembleia da República dividiu-se ontem na sua primeira abordagem da nova situação internacional nascida com os atentados terroristas nos EUA - o assunto será debatido na terça-feira com a presença do primeiro-ministro. No final, já depois da votação dos votos de pesar - só o conjunto do PS, PSD e PP foi aprovado, com as abstenções das socialistas Isabel Pires de Lima e Eduarda Ferronho, os votos individuais do PCP, de "Os Verdes" e do BE chumbaram -, todos os deputados se uniram num minuto de silêncio em memória das vítimas.

E foram de dois tipos as clivagens que se manifestaram no hemiciclo. A primeira, entre a posição pacifista e com contornos anti-sistema do BE e a posição assumida pelo PS, PSD e PP em defesa dos compromissos portugueses para com os seus aliados e da necessidade de ser dada uma resposta aos atentados. A segunda, isolou Paulo Portas - até Basílio Horta seria mais moderado na discussão dos votos -, que fez uma vincada defesa da segurança em demérito das liberdades individuais, chegando mesmo a falar de "mundo livre" e acusando as democracias ocidentais de terem uma "desregulamentação excessiva" do espaço aéreo e das fronteiras. Rematando que o Ocidente está "em crise de valores", pelo que tem de "tomar cuidado com o seu rearmamento".

Uma posição que não ficou sem resposta. De imediato Manuel Alegre atirou: "No dia em que os valores de segurança se sobrepuserem aos valores da democracia e a intolerância aos valores da tolerância, teremos dado ao terrorismo internacional a vitória que ele nunca teve."

Na defesa do combate activo e integrado nas alianças estratégicas do Ocidente falaram pelo PS José Lamego e depois Francisco Assis, e pelo PSD Durão Barroso. Mas aqui já contra a posição do BE, expressa por Francisco Louçã logo na primeira declaração política. Afirmando que o terrorismo que actuou nos EUA "não representa os oprimidos", Louçã defendeu que a uma resposta belicista os Estados aliados optem na resposta por outras soluções, sugerindo o corte financeiro. Mas sustentou: "Não devemos aceitar a guerra global prolongada." E criticou o "mundo livre" pela actuação do Ocidente, sem nomear especificamente os EUA, noutras crises internacionais e em conflitos regionais ou nacionais ao longo dos anos. Já o PCP, pela voz de Bernardino Soares, assumiu uma posição não belicista mas mais moderada.

Lamego assumiu que "não foi uma nação que foi atingida, foram as bases civilizacionais de vida em comum de povos e nações", advertindo mesmo que "não foi por acaso que um dos alvos foi Nova Iorque", paradigma do "cosmopolitismo e da convivência pacífica entre os povos". E afirmou a necessidade de Portugal dar "assistência a uma acção retaliatória". Também Assis rejeitou o que classificou de "retórica pacifista" do BE que mais não é, na opinião deste deputado, do que uma atitude de demissionismo face ao um totalitarismo do tipo do "patriotismo cínico" de Salazar.

Esta posição fora antes assumida pelo presidente do PSD, que garantira: "Não podemos voltar ao período cínico da nossa história." E, assumindo a defesa das posições estratégicas das democracias ocidentais, afirmou: "Em circunstância alguma devemos ceder à chantagem." Defendeu que também não se deve agir com base no medo e recusou o "pacifismo falso". E perguntou, quase que antevendo a cimeira extraordinária dos líderes europeus de amanhã: "Até onde estamos dispostos a ir para defender a nossa liberdade, a nossa civilização, as nossos valores?"

AR Dividida Sobre como Responder ao Terrorismo

Por SÃO JOSÉ ALMEIDA

Quinta-feira, 20 de Setembro de 2001

BE apela ao pacifismo, Paulo Portas ao securitarismo. PS e PSD unem-se num combate ao terrorismo que não questione as liberdades democráticas

Na sequência da mensagem do PR, a Assembleia da República dividiu-se ontem na sua primeira abordagem da nova situação internacional nascida com os atentados terroristas nos EUA - o assunto será debatido na terça-feira com a presença do primeiro-ministro. No final, já depois da votação dos votos de pesar - só o conjunto do PS, PSD e PP foi aprovado, com as abstenções das socialistas Isabel Pires de Lima e Eduarda Ferronho, os votos individuais do PCP, de "Os Verdes" e do BE chumbaram -, todos os deputados se uniram num minuto de silêncio em memória das vítimas.

E foram de dois tipos as clivagens que se manifestaram no hemiciclo. A primeira, entre a posição pacifista e com contornos anti-sistema do BE e a posição assumida pelo PS, PSD e PP em defesa dos compromissos portugueses para com os seus aliados e da necessidade de ser dada uma resposta aos atentados. A segunda, isolou Paulo Portas - até Basílio Horta seria mais moderado na discussão dos votos -, que fez uma vincada defesa da segurança em demérito das liberdades individuais, chegando mesmo a falar de "mundo livre" e acusando as democracias ocidentais de terem uma "desregulamentação excessiva" do espaço aéreo e das fronteiras. Rematando que o Ocidente está "em crise de valores", pelo que tem de "tomar cuidado com o seu rearmamento".

Uma posição que não ficou sem resposta. De imediato Manuel Alegre atirou: "No dia em que os valores de segurança se sobrepuserem aos valores da democracia e a intolerância aos valores da tolerância, teremos dado ao terrorismo internacional a vitória que ele nunca teve."

Na defesa do combate activo e integrado nas alianças estratégicas do Ocidente falaram pelo PS José Lamego e depois Francisco Assis, e pelo PSD Durão Barroso. Mas aqui já contra a posição do BE, expressa por Francisco Louçã logo na primeira declaração política. Afirmando que o terrorismo que actuou nos EUA "não representa os oprimidos", Louçã defendeu que a uma resposta belicista os Estados aliados optem na resposta por outras soluções, sugerindo o corte financeiro. Mas sustentou: "Não devemos aceitar a guerra global prolongada." E criticou o "mundo livre" pela actuação do Ocidente, sem nomear especificamente os EUA, noutras crises internacionais e em conflitos regionais ou nacionais ao longo dos anos. Já o PCP, pela voz de Bernardino Soares, assumiu uma posição não belicista mas mais moderada.

Lamego assumiu que "não foi uma nação que foi atingida, foram as bases civilizacionais de vida em comum de povos e nações", advertindo mesmo que "não foi por acaso que um dos alvos foi Nova Iorque", paradigma do "cosmopolitismo e da convivência pacífica entre os povos". E afirmou a necessidade de Portugal dar "assistência a uma acção retaliatória". Também Assis rejeitou o que classificou de "retórica pacifista" do BE que mais não é, na opinião deste deputado, do que uma atitude de demissionismo face ao um totalitarismo do tipo do "patriotismo cínico" de Salazar.

Esta posição fora antes assumida pelo presidente do PSD, que garantira: "Não podemos voltar ao período cínico da nossa história." E, assumindo a defesa das posições estratégicas das democracias ocidentais, afirmou: "Em circunstância alguma devemos ceder à chantagem." Defendeu que também não se deve agir com base no medo e recusou o "pacifismo falso". E perguntou, quase que antevendo a cimeira extraordinária dos líderes europeus de amanhã: "Até onde estamos dispostos a ir para defender a nossa liberdade, a nossa civilização, as nossos valores?"

marcar artigo