Radiografia de uma vitória impossível

06-03-2002
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Rui Rio

Radiografia de Uma Vitória Impossível

Por JOSÉ ALBERTO LEMOS

Segunda-feira, 11 de Fevereiro de 2002 Estamos entre eleições. E, nas que passaram, as autárquicas de 16 de Dezembro, nenhuma vitória foi tão inesperada quanto a de Rui Rio no Porto. Pouco conhecido da generalidade do eleitorado, sem o apoio do aparelho do próprio PSD, desafiando um peso pesado como Fernando Gomes, ostracizado pelos inúmeros interesses instalados na cidade, Rio correu contra tudo e contra todos e venceu. Contra as sondagens, contra os analistas, contra os interesses e o poder do dinheiro. A história, por dentro, de como uma candidatura que foi um modelo de amadorismo foi caminhando até uma surpreendente noite de triunfo. Adriana não conseguiu dormir nessa noite. As imagens da miséria e da degradação humana que tinha visto não lhe saíam da cabeça. Nunca imaginou que um cenário chocante como aquele pudesse existir, ainda por cima tão perto da sua casa. O caso de Matilde foi pior. Durante várias noites, revolveu-se na cama com insónias. Não conseguia esquecer aquela miúda de 10 anos que se lhe agarrou ao casaco à entrada do bairro e que a acompanhou durante toda a visita. Sem pai, com a mãe presa, a miúda morava sozinha com um irmão de três anos, num barraco sem portas nem janelas, com um colchão imundo no chão. Viviam ao deus-dará, graças à caridade de alguns vizinhos, mas a miúda não estava conformada à sua sorte. Por isso, durante toda a visita, não se cansou de pedir a Matilde: "Leva-me para a tua casa". Adriana e Matilde já tinham ouvido falar do bairro de S. João de Deus, no Porto, mas nunca lá tinham ido. Desta vez, no espaço de dois meses, foram lá duas vezes, integradas na campanha eleitoral de Rui Rio à Câmara do Porto. O que viram ultrapassou as conjecturas que tinham feito e os receios que tinham calado. O motivo da visita não foi dos mais nobres, mas o que viram deu-lhes mais força anímica para se empenharem na campanha. O candidato, enquanto tal, definiu a questão dos bairros sociais como a sua primeira preocupação e o presidente, uma vez eleito, colocou-a como a sua principal prioridade. Por isso, no primeiro dia como presidente da Câmara, Rio fez questão de visitar o bairro de S. João de Deus, hoje porventura o maior cancro social do país. No entanto, entre a condição de candidato que avalia uma realidade e a de presidente que pode intervir sobre ela, há uma longa história que envolve doses variadas de exclusão, ostracismo e marginalização. Tal como alguém que nasce num bairro social precisa de tenacidade redobrada para vencer na vida, também a candidatura de Rio precisou dessa qualidade e até de algum estoicismo para conquistar a câmara. Adriana e Matilde dormiam ainda o sono dos justos quando, no Verão de 2000, longe do bairro de S. João de Deus, na praia do Cabedelo em Viana do Castelo, dois amigos urdiam uma estratégia política. Quem fixasse o olhar naqueles dois veraneantes que pedalavam tranquilamente nas suas bicicletas não veria certamente mais do que dois homens em férias. E eram-no, de facto, mas das suas conversas nasceu o esboço de uma candidatura que, contra tudo e contra todos, os haveria de levar das profundezas infernais do bairro à glória. Rui Rio e Agostinho Branquinho têm casas contíguas naquela praia e uma amizade feita de muitos anos e cumplicidades políticas. Ex-jornalista, Branquinho, 45 anos, dois filhos, gere hoje uma empresa de comunicação e imagem e é vice-presidente da Concelhia do PSD/Porto. Empenhado em arranjar um candidato credível para disputar a presidência da Câmara do Porto, começou a pensar no problema muito cedo. Mas não foi o único. A Distrital de Viana do Castelo, sabedora da ligação de Rio à cidade, sondou-o também para desafiar o socialista Defensor Moura nas margens do Lima, ali do outro lado da sua casa do Cabedelo. Rio chegou a pôr essa hipótese, mas os amigos de peito desaconselharam-no a fazê-lo. Uma eventual derrota em Viana comprometeria por muitos anos a sua carreira política. Descartada a hipótese Viana, havia ainda que contar com um presente envenenado que poderia surgir da Distrital portuense. Liderada pelo seu arquirival Luís Filipe Menezes, a Distrital bem poderia convidá-lo para Matosinhos, onde o dinossauro Narciso Miranda se encarregaria de o esmagar nas urnas. Rio, contudo, sempre gostou de desafios difíceis e, embora a questão não se tenha posto, esclareceu desde logo que só aceitaria ser candidato "numa terra que [lhe] estivesse no coração". Restava, portanto, o Porto. Os obstáculos no próprio partido pareciam, porém, intransponíveis. Mas em Setembro de 2000, Branquinho obtém uma primeira garantia importante. Durão Barroso vai ao Porto e numa reunião com membros da Concelhia compromete-se a aceitar o candidato que aquela estrutura escolher. Era um trunfo de peso para a Concelhia esgrimir na previsível "guerra" com a Distrital de Menezes. Os três últimos meses do ano escorrem calmos no PSD. Mas no PS as coisas agitam-se e, em Dezembro, torna-se claro que Fernando Gomes será o candidato socialista. Invencível, vaticinam alguns. Não foi isso que pensaram Branquinho nem Sérgio Vieira, o presidente da Concelhia portuense e nessa qualidade principal responsável pela escolha, agora também na primeira linha do combate pela conquista da Câmara do Porto. No dealbar do novo ano, Sérgio, 31 anos, deputado, e Branquinho já têm sete ou oito nomes de personalidades possíveis para o desafio que se avizinha. Valente de Oliveira, Miguel Cadilhe, Artur Santos Silva, Ludgero Marques, Valentim Loureiro, Rui Rio, José Pedro Aguiar Branco, uns militantes, outros apenas simpatizantes, são abordados para conversar sobre a cidade. Discute-se tudo: as obras, os mandatos de Gomes, o modelo de cidade de Nuno Cardoso, as estratégias, os cenários políticos, as alternativas. No final da primeira ronda de contactos, sobram três hipóteses plausíveis. Uma mais institucional e à partida com maior peso político, Valente de Oliveira, outra jovem e de ruptura, Rui Rio, e uma terceira essencialmente populista, Valentim Loureiro. A análise da situação desaconselha esta última e no fim da linha restam Valente e Rio. Sérgio Vieira e Agostinho Branquinho aprofundam então as conversas com estes dois quadros e, em Fevereiro, um plenário concelhio aprova o perfil do candidato: militante do PSD, prestigiado, capaz de rupturas. Algo que dá para quase tudo, mas a defesa das rupturas aponta mais para Rio do que para Valente. O mais importante do plenário concelhio, porém, foi o aparecimento de Luís Filipe Menezes de surpresa. O presidente da Distrital do PSD/Porto comparece enquanto militante do partido filiado na cidade e não enquanto dirigente. E explica que tem uma estratégia para as autárquicas, mas não a revela. A Concelhia, contudo, não se comove e, aprovado o perfil, na segunda-feira seguinte Sérgio e Branquinho perguntam a Valente de Oliveira: "Se o convidássemos formalmente para candidato o que é que nos responderia?". A resposta é inequívoca: "Essa hipótese para mim não se colocou e muito menos agora. Esteve aqui ontem o dr. Luís Filipe Menezes a dizer que convidou o dr. Silva Peneda". Estava aberta a previsível "guerra" com a Distrital de Menezes, cujas consequências haveriam de fazer-se sentir até à noite das eleições. A Concelhia recorre então a um dos seus vice-presidentes, o médico Faria de Almeida, para explicar a situação a Silva Peneda. Pede-lhe contenção e adverte-o de que a escolha será da Concelhia e não da Distrital. Sérgio Vieira intensifica os contactos com Durão Barroso, que não morre de amores por Menezes e lhe reitera o compromisso de que a escolha da Concelhia será respeitada. O próprio Rio tem duas conversas com o líder do partido. Todos os interlocutores ficam convencidos da preferência de Barroso por Rio. Estimulada pelo presidente do partido, a Concelhia acelera o processo e no início de Abril aprova por unanimidade o nome de Rio. O candidato está em Cuba, numa missão da União Inter-Parlamentar, mas quando regressa a decisão é celebrada com champanhe em casa de Branquinho. A mulher de Rio, grávida de sete meses, antevê "uma carga de trabalhos". Mas, nessa altura, ninguém imaginava a dimensão do que estava para vir. Percebendo que perdeu a corrida para a escolha do candidato e que o seu arquirival portuense tem o apoio da direcção nacional do partido, Menezes muda de táctica. Em vez de chumbar a candidatura de Rio na Distrital, remetendo a questão para a arbitragem de Durão Barroso, faz com que a Comissão Política Alargada aprove a candidatura de Rio à tangente. Os votos contra e as abstenções igualam os votos a favor. Estava dado o recado do alheamento total da Distrital em relação à candidatura. Rio, Sérgio e Branquinho arregaçam as mangas e partem para a luta. A apresentação da candidatura é feita a 24 de Abril, por causa do simbolismo da data. Miguel Veiga é o mandatário e Valente de Oliveira o coordenador do programa. Três dias antes, o "Expresso" publica a primeira sondagem em que Rio é confrontado com Gomes. O social-democrata é creditado com 13 por cento dos votos. "Teve um efeito devastador no financiamento da campanha", reconhece hoje Rio. De facto, no mês seguinte, quase todos os contactos estabelecidos para angariar dinheiro para a campanha saem frustrados. Já se sabia que da Distrital não viria um tostão. O próprio tesoureiro, Abílio Costa, homem de confiança de Menezes, já tinha confidenciado: "Nós não apoiamos candidaturas perdedoras". E a chamada sociedade civil parecia ter a mesma opinião. Dois eventos sociais dão essa percepção ao candidato e aos seus homens de confiança. Numa festa da TVI, em Serralves, Rio e Branquinho sentem-se claramente ostracizados pela generalidade dos presentes. Nuno Cardoso e toda a sua "entourage" camarária estão presentes e são poucas as pessoas que se aproximam dos dois sociais-democratas. "Algumas vinham cumprimentar e fugiam logo, outras nem isso, esquivavam-se e faziam de conta que não nos viam", recorda Branquinho. A atitude foi particularmente notória entre o "establishment" cultural portuense, com grandes cumplicidades com a Câmara do Porto, que não queria ser visto em más companhias. "É o medo de ser mal julgado pelo poder", interpreta Rio. O mal-estar é de tal modo acentuado que os dois sociais-democratas permanecem pouco tempo na festa. Melhor, mas não muito, foi a recepção que têm no jantar do 25º aniversário da Associação Empresarial de Portugal (AEP), no Europarque, também em Maio. Rio é aí mais cumprimentado porque é economista e conhece bem muitos dos presentes. Mas as reservas junto dos meios empresariais também se tornam nítidas. Esquivos, muitos dos que são contactados inventam desculpas para evitar um novo encontro. Pessoas da área social-democrata, habituais contribuintes do partido, mostram-se indisponíveis para apoiar a campanha financeiramente. E não é apenas um problema de descrença na candidatura. Começam a chegar recados de vários lados a dar a entender que contribuir para a campanha de Rio significaria também ficar mal visto no aparelho distrital do PSD. Há pelo menos um empreiteiro conhecido que se queixa de que terá sido advertido de que se contribuísse para a campanha de Rio nunca mais faria qualquer contrato com a Câmara de Gaia... São, de novo, os interesses instalados a fazer sentir a sua força. O problema é posto a nível nacional, mas o partido em Lisboa também não nada em dinheiro. Barroso promete pagar 20 "outdoors" e uma sondagem. É tudo com que a São Caetano pode contribuir. No meio da penúria, surge um empresário que se propõe pagar a totalidade da campanha se lhe garantirem um lugar na lista. Está reformado e gostaria de se dedicar à política. A tentação é grande, mas Rio recusa sem hesitar. Matilde, que é nova nestas andanças, também se apercebe rapidamente das dificuldades. Professora, 47 anos, um filho, Matilde Alves é militante do PSD há muitos anos, mas nunca foi activa. Profunda conhecedora dos problemas do ensino, é convidada para colaborar na elaboração do programa sobre educação. Começa a trabalhar com Valente de Oliveira e, dos oito convites que são feitos, ninguém aceita participar. Uns dizem que não trabalham para um perdedor, outros inventam desculpas e outros ainda confessam que não se querem comprometer por receio de represálias nos empregos ou para não ficarem excluídos das benesses da câmara socialista. Matilde fica perplexa com os constrangimentos revelados e não acredita que "vivemos em democracia". Acaba por ficar a coordenadora de si própria e redige ela o programa de educação. O mesmo sucede noutras áreas de intervenção, como na cultura e na saúde. Carlos Mota Cardoso, psiquiatra, não é militante do PSD, mas define-se como um social-democrata. Velho amigo de Rio, aceita coordenar o programa na área da saúde. Experimenta as mesmas dificuldades de Matilde. "Pouca gente deu a cara", recorda, "e muitos só aceitaram colaborar sob a condição de sigilo". As listas dos colaboradores acabam por ter alguns nomes entre parênteses, justamente os que não podiam ser divulgados. Na cultura, houve quem dissesse que não podia dar o nome porque recebia frequentemente encomendas da Câmara do Porto. Houve quem dissesse que não apoiava ninguém e depois surgiu a apoiar Gomes. Houve quem colaborasse no programa, mas avisasse que ia apoiar publicamente Gomes. Os interesses acima das convicções, portanto, exactamente o contrário daquilo que a candidatura tinha erguido bandeira e orgulho. Com as sondagens a darem níveis de notoriedade a Gomes de 90 por cento e a Rio de 27 por cento, com pouca gente disponível para apoiar, boicotado pelo aparelho do partido, com a sociedade civil minada pelo poderio do PS na cidade, sem "staff" e sem dinheiro, a candidatura chega ao fim de Julho em situação desesperada. "No último dia de Julho, tínhamos 500 contos", contabiliza Branquinho. E como "em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão", estalam alguns conflitos, mesmo entre amigos. Há quem fale em desistir. O núcleo duro da candidatura ameaça desfazer-se, Branquinho ausenta-se por uns tempos, mas acaba por resistir às adversidades. Rio fala com Durão Barroso e mantém inabalável a sua determinação de ir até ao fim. Os três amigos - Rio, Branquinho e Sérgio Vieira - recolhem de novo a Viana do Castelo para reflectir. Estamos no primeiro fim-de-semana de Agosto e é preciso redefinir a estratégia. Após as férias, uma campanha de denúncia dos "erros" de Gomes com "outdoors" em 70 pontos da cidade cai por falta de dinheiro. O mesmo acontece com uma festa para a juventude planeada para a Foz. A aposta na comunicação social para ganhar notoriedade e fazer passar as mensagens também é subalternizada porque os média se vão apercebendo das fragilidades da campanha e dão-lhe cada vez menos espaço. Rio está particularmente desagradado com algum noticiário. "A cobertura do PÚBLICO mexeu comigo", diz, para ajudar a justificar a decisão mais importante que tomou: "Vamos para a rua contactar directamente com as pessoas". É pelos bairros sociais que começa a ofensiva no terreno. Regressemos a Adriana. Tal como Matilde, Adriana Aguiar Branco, 44 anos, advogada, dois filhos, é militante de longa data do PSD mas nunca se envolveu em nenhuma campanha. Com uma carreira profissional bem sucedida na banca, há muito que aprecia a acção política de Rio. Por isso, quando o seu primo, José Pedro Aguiar Branco, lhe telefona a pedir colaboração na campanha, adere sem reservas. "Não o faria quase com mais ninguém. Talvez com Valente de Oliveira, nunca com Valentim, nem com Menezes", garante. Menina bem, nunca conheceu dificuldades e, percebeu-o na campanha, também conhecia mal as dificuldades alheias. Por isso, quando entra nos bairros sociais fica profundamente chocada. Mas, a sua condição social de privilegiada não a inibe nos contactos de rua. Muito comunicativa, revela-se um trunfo importante na campanha. Mete conversa, escuta as pessoas, distribui propaganda, apresenta o candidato. "Uma máquina", surpreendem-se os veteranos de campanhas, que lhe imputam a conquista de muitos votos. O seu entusiasmo é mesmo responsável pela quebra de um tabu. Rio tinha definido que não faria quaisquer promessas. Mas no bairro do Outeiro, Adriana inquieta-se com a insistência de uma idosa sobre a falta de um ringue onde as crianças possam brincar. A exigência da mulher parece-lhe razoável e acaba por ceder. Mas chama logo o candidato e narra-lhe o episódio. O ringue ficou prometido e Adriana garante que estará atenta até que a obra se concretize. Mas a campanha teve mais espinhos do que rosas. Apesar de estreante, Adriana apercebe-se depressa das dificuldades. Começa por notar alguma timidez em Rio. "Para mim, a campanha dividiu-se em duas fases. A primeira em que ia eu à frente e ele atrás, a segunda em que já ia ele à frente e não era preciso apresentá-lo às pessoas", explica. Depois observa a penúria de meios e de gente: "Parecemos o Bloco de Esquerda no seu pior", comenta para Matilde nos tempos em que não passavam de meia dúzia de pessoas a distribuir dois folhetos pelas ruas. "Éramos uma espécie de trupe", corrobora o psiquiatra Mota Cardoso. No entanto, isso não os fez esmorecer. Melhores dias viriam. A aposta nos bairros sociais revelou-se decisiva. Agostinho Branquinho estudou a tendência dos votos nas várias eleições no Porto e verificou que os bairros eram feudos quase absolutos do PS e da CDU. Por isso, um voto conquistado aí contava a dobrar. O que explica as duas visitas ao S. João de Deus, onde o PSD nunca tinha ido em campanhas eleitorais. Apenas o candidato presidencial Ferreira do Amaral lá tinha entrado em Janeiro de 2001. Rio foi recebido com naturalidade da primeira vez e com entusiasmo da segunda. O mesmo sucedeu em Aldoar e em vários outros. O esforço rendeu votos. Para ganhar era necessário "roubar" 12 mil votos a Gomes e recuperar 10 mil abstencionistas que já tinham votado no PSD. Tudo isto analisado freguesia a freguesia dava números entre os mil e os dois mil em cada uma. Foi esse o encargo que a candidatura atribuiu aos responsáveis das freguesias. Cumprido em quase todas. As acções de rua começam a trazer algumas pessoas à campanha, e o que falta em dinheiro sobra em dedicação e improviso. Os donativos que entretanto foram chegando permitiram alugar uma sede em plena Avenida dos Aliados, quase ao lado da de Gomes, o que evidencia ainda mais o contraste entre a exuberância e a penúria. Rio vem todos os dias no seu carro, estaciona no parque da Trindade - "gastei um dinheirão só em estacionamento" - e abre ele próprio a porta da sede. Os taxistas que param em frente sorriem do amadorismo da coisa. A mulher da limpeza é paga dos bolsos de cada um e até o aspirador que limpa a sede é o que Rio traz da casa que tinha em Lisboa enquanto era deputado. Não há café, nem água, nem nada. Os que se integram na campanha pagam as despesas dos seus bolsos: refeições, gasolina, estacionamento, mas ninguém se queixa. A propaganda na cidade ficou mesmo reduzida aos 20 "outdoors" pagos pelo orçamento nacional do partido. Não é só com Gomes que se estabelece o contraste. O presidente da Junta de Freguesia da Foz, um social-democrata alinhado com Menezes, teve só ele mais "outdoors" na freguesia do que Rio em toda a cidade... Politicamente, o momento mais delicado foi o da negociação das listas com o CDS/PP. O acordo entre os dois partidos tinha sido fechado em Junho sem grandes problemas. As dificuldades vieram em Setembro quando foi necessário escolher os nomes. Ao CDS cabia o presidente da Assembleia Municipal. No PSD esperavam que os centristas escolhessem uma figura nacional do partido. O desejado era Lobo Xavier, mas o jurista auto-excluiu-se. Surgiu a hipótese Anacoreta Correia, que centristas e sociais-democratas viam com bons olhos. Mas Paulo Portas, pouco interessado na coligação do Porto, inviabilizou-a. Chega a falar-se depois em Basílio Horta, mas o CDS acaba por propor Vasco Morais Soares, um arquitecto portuense, deputado municipal há muitos anos. Rio veta de imediato - o arquitecto representa concepções antagónicas às suas sobre a cidade. Trava-se um braço-de-ferro e o PSD está prestes a romper a coligação. Rio discute o assunto com Durão Barroso, que lhe aconselha calma. Acaba por prevalecer o bom senso e o CDS propõe o seu líder distrital, Álvaro Castelo Branco, que é aceite. "O eleitorado não compreenderia que rompessemos a coligação. E, além disso, os quatro ou cinco por cento do eleitorado CDS eram importantes", avalia Branquinho. Por isso, o PSD cedeu muitos lugares na Assembleia Municipal e nas juntas de freguesia aos centristas. O seu contributo para a campanha é que foi quase nulo. Financeiramente nem um tostão, em termos de militância quase ninguém apareceu. Até à noite da vitória, claro. E nessa noite, um dos centristas eleitos teve um lapso freudiano que espelha a situação: "Parabéns, ganharam!", comentou para Adriana, no auge do entusiasmo desta. "Ganharam não, ganhámos!", respondeu a social-democrata, apesar de consciente de que o CDS pouco tinha contribuído para a vitória. A pouco mais de um mês da votação, a campanha de rua prossegue sem vacilar e a "trupe" que acompanha Rio começa a detectar sinais que contrariam as sondagens. "Notava-se um grande descontentamento em relação ao Gomes. As pessoas diziam que ele era um pavão, um vaidoso, um arrogante. A tal ponto que nós perguntávamos uns aos outros onde estavam os votantes do Gomes", surpreendeu-se Matilde. Mas em meados de Novembro, chegou a vez da sondagem da própria campanha que Durão Barroso se tinha comprometido a pagar. Branquinho e Rio analisam os resultados e, em absoluto sigilo, decidem por uma vez faltar à verdade. Para não desanimar as hostes, manipulam os resultados. Organizam uma sessão de apresentação na sede - "uma teatrice", classifica Adriana - e mostram Rio à distância de dez pontos de Gomes, com 17 por cento de indecisos. A realidade dos números era outra: vinte pontos de diferença. Afinal, o estudo próprio confirmava os resultados alheios. Mas só Rio e Branquinho o sabem. As tropas elevam o moral e começam a acreditar que tudo é possível. A verdade nua e crua só a saberão já por entre os despojos da vitória. Em todo o caso, por essa altura, já estava generalizada a convicção de que o resultado final seria satisfatório. Os indicadores apontavam para um "score" no mínimo de 35 por cento, bem superior aos das eleições anteriores para a Câmara do Porto. Ao abrir da campanha oficial, a grande aposta passam a ser os debates televisivos. Era preciso tornar o candidato mais conhecido, potenciar a simpatia das ruas e convertê-la em votos. O primeiro debate é o da SIC. Rio prepara-se, mas na véspera uma gripe forte deixa-o prostrado. No próprio dia do debate, Durão Barroso está no Porto e é preciso acompanhar o líder numa acção de rua ao fim da tarde. A decisão foi imprudente. O mal-estar agrava-se e a comparência na SIC está em risco. Para grandes males, grandes remédios. O candidato permanece uma hora no hospital a oxigénio e cortisona e sai dali directamente para o debate. Como era previsível, as coisas não correram bem. As "despesas" do ataque a Gomes ficaram por conta de Rui Sá, da CDU, e Rio esteve apagado. No final, o "staff "que o acompanhou estava deprimido. Rio mal se apercebe do mal-estar porque adormece de imediato. No dia seguinte, na RTP tudo foi diferente. Já recuperado, Rio é acutilante e agressivo q.b. Miguel Veiga, o mandatário, tinha aconselhado as hostes: "Vocês irritem-no, porque ele irritado é imprevisível". Na televisão pública os objectivos foram atingidos. Os efeitos sentem-se no dia seguinte. "A aceitação de rua explodiu após o debate na RTP", constata o próprio candidato. No mercado do Bolhão, um teste proverbial à popularidade, a recepção é apoteótica. Estamos na última semana de campanha e por esta altura já havia quem acreditasse que a vitória poderia sorrir. "Eu comecei a acreditar que poderíamos ganhar, mas inibi-me de falar nisso para não criar uma eventual desilusão depois", confessa Rio. Adriana sentiu o mesmo e reforçou essa convicção na própria véspera das eleições. No sábado, dia 15, um pequeno grupo capitaneado por ela leva o candidato a alguns lugares da noite portuense. "A recepção foi fantástica em toda a parte, senti que íamos ganhar", evoca. É com essa sensação quase secreta que a meio da tarde de domingo se começam todos a dirigir para a sede. Antes foi preciso garantir que alguns trariam de casa uns televisores que não fizessem lá falta, porque na sede quase não havia. Pouco faltava para as 18h00 quando Agostinho Branquinho, com o televisor do quarto da filha nos braços, se cruza no passeio com Orlando Gaspar, número dois de Gomes. "Então, está bom?", cumprimenta. "Eu estou bem, vocês é que não devem estar lá muito!", responde Gaspar, ainda em estado de inocência quanto à conspiração que o povo lhe preparara nas urnas. O circo mediático caucionava a fanfarronice. Os carros de exteriores e as equipas televisivas atropelavam-se à porta de Gomes. Poucos metros acima apenas uma equipa de cada para registar, em devido tempo, a declaração de derrota. Mas às 19h00, com as primeiras projecções de resultados a falar em empate técnico, tudo começa a mudar. Ambiente fúnebre e ar festivo trocam de sedes. Os jornalistas também. Dos 24 mil contos angariados para a campanha ainda tinha sobrado algum dinheiro para um "catering". E foram uns rissóis e croquetes do candidato "pobre" que acabaram por matar a fome a muita gente que tinha lá ido assistir à vitória do candidato "rico". Enquanto Matilde roía as unhas e confessava que só tinha sentido tamanha ansiedade no dia em que lhe nasceu o filho, numa sala reservada o núcleo duro da candidatura - Rio, Branquinho, Sérgio Vieira, Valente de Oliveira, Miguel Veiga, Paulo Morais, Paulo Rangel - ia recolhendo as informações possíveis. Com o anunciado empate técnico, estava garantida a chamada meia vitória: retirar a maioria a Gomes. Mas no íntimo já todos achavam que isso não bastava. As indicações que vão chegando dos delegados nas mesas confirmam as projecções televisivas. Quem conhece o terreno sabe quão importantes são algumas freguesias. Uma primeira desilusão surge com os votos da Sé, onde tinha havido uma aposta forte. Gomes venceu, mas Rio subiu 50 por cento. Em Massarelos a junta é ganha pelo PS, mas para a câmara vence Rio. São bons indícios e a vitória em Lordelo aumenta o élan. Como a logística socialista é incomparavelmente melhor, Branquinho vai falando ao telemóvel com Domingos Ferreira, o influente funcionário do PS/Porto. Paranhos, uma freguesia-tipo, parece empatada, de Campanhã não há dados ainda e de Cedofeita também não. Mas, de repente, Domingos Ferreira informa-o que o PS "levou uma banhada em Cedofeita". "Então podemos ganhar!", conclui Branquinho. Esperavam-se os resultados de Campanhã quando o "garganta funda" socialista avisa que "Gomes vai assumir a derrota". Eram 21h45. Às 22h20, Gomes despede-se do povo que o despediu. Rio fica meio atarantado. Pede conselhos para uma declaração e retira-se para a escrever. Mas não se consegue concentrar e quando aparece às massas acaba por improvisar. Fala duas vezes do "povo humilde do Porto" que o elegeu, pensando seguramente nos bairros sociais e em particular no S. João de Deus, onde Adriana e Matilde sofreram um dos maiores choques das suas vidas. Adriana está eufórica. Sempre gostou de Rui Rio porque é um político "diferente" e aceitou o desafio porque nunca gostou de coisas fáceis. "Se a vitória estivesse garantida à partida, não sei se teria aderido", confidencia. "Isto foi uma missão impossível". OUTROS TÍTULOS EM PÚBLICA

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Rui Rio

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Por JOSÉ ALBERTO LEMOS

Segunda-feira, 11 de Fevereiro de 2002 Estamos entre eleições. E, nas que passaram, as autárquicas de 16 de Dezembro, nenhuma vitória foi tão inesperada quanto a de Rui Rio no Porto. Pouco conhecido da generalidade do eleitorado, sem o apoio do aparelho do próprio PSD, desafiando um peso pesado como Fernando Gomes, ostracizado pelos inúmeros interesses instalados na cidade, Rio correu contra tudo e contra todos e venceu. Contra as sondagens, contra os analistas, contra os interesses e o poder do dinheiro. A história, por dentro, de como uma candidatura que foi um modelo de amadorismo foi caminhando até uma surpreendente noite de triunfo. Adriana não conseguiu dormir nessa noite. As imagens da miséria e da degradação humana que tinha visto não lhe saíam da cabeça. Nunca imaginou que um cenário chocante como aquele pudesse existir, ainda por cima tão perto da sua casa. O caso de Matilde foi pior. Durante várias noites, revolveu-se na cama com insónias. Não conseguia esquecer aquela miúda de 10 anos que se lhe agarrou ao casaco à entrada do bairro e que a acompanhou durante toda a visita. Sem pai, com a mãe presa, a miúda morava sozinha com um irmão de três anos, num barraco sem portas nem janelas, com um colchão imundo no chão. Viviam ao deus-dará, graças à caridade de alguns vizinhos, mas a miúda não estava conformada à sua sorte. Por isso, durante toda a visita, não se cansou de pedir a Matilde: "Leva-me para a tua casa". Adriana e Matilde já tinham ouvido falar do bairro de S. João de Deus, no Porto, mas nunca lá tinham ido. Desta vez, no espaço de dois meses, foram lá duas vezes, integradas na campanha eleitoral de Rui Rio à Câmara do Porto. O que viram ultrapassou as conjecturas que tinham feito e os receios que tinham calado. O motivo da visita não foi dos mais nobres, mas o que viram deu-lhes mais força anímica para se empenharem na campanha. O candidato, enquanto tal, definiu a questão dos bairros sociais como a sua primeira preocupação e o presidente, uma vez eleito, colocou-a como a sua principal prioridade. Por isso, no primeiro dia como presidente da Câmara, Rio fez questão de visitar o bairro de S. João de Deus, hoje porventura o maior cancro social do país. No entanto, entre a condição de candidato que avalia uma realidade e a de presidente que pode intervir sobre ela, há uma longa história que envolve doses variadas de exclusão, ostracismo e marginalização. Tal como alguém que nasce num bairro social precisa de tenacidade redobrada para vencer na vida, também a candidatura de Rio precisou dessa qualidade e até de algum estoicismo para conquistar a câmara. Adriana e Matilde dormiam ainda o sono dos justos quando, no Verão de 2000, longe do bairro de S. João de Deus, na praia do Cabedelo em Viana do Castelo, dois amigos urdiam uma estratégia política. Quem fixasse o olhar naqueles dois veraneantes que pedalavam tranquilamente nas suas bicicletas não veria certamente mais do que dois homens em férias. E eram-no, de facto, mas das suas conversas nasceu o esboço de uma candidatura que, contra tudo e contra todos, os haveria de levar das profundezas infernais do bairro à glória. Rui Rio e Agostinho Branquinho têm casas contíguas naquela praia e uma amizade feita de muitos anos e cumplicidades políticas. Ex-jornalista, Branquinho, 45 anos, dois filhos, gere hoje uma empresa de comunicação e imagem e é vice-presidente da Concelhia do PSD/Porto. Empenhado em arranjar um candidato credível para disputar a presidência da Câmara do Porto, começou a pensar no problema muito cedo. Mas não foi o único. A Distrital de Viana do Castelo, sabedora da ligação de Rio à cidade, sondou-o também para desafiar o socialista Defensor Moura nas margens do Lima, ali do outro lado da sua casa do Cabedelo. Rio chegou a pôr essa hipótese, mas os amigos de peito desaconselharam-no a fazê-lo. Uma eventual derrota em Viana comprometeria por muitos anos a sua carreira política. Descartada a hipótese Viana, havia ainda que contar com um presente envenenado que poderia surgir da Distrital portuense. Liderada pelo seu arquirival Luís Filipe Menezes, a Distrital bem poderia convidá-lo para Matosinhos, onde o dinossauro Narciso Miranda se encarregaria de o esmagar nas urnas. Rio, contudo, sempre gostou de desafios difíceis e, embora a questão não se tenha posto, esclareceu desde logo que só aceitaria ser candidato "numa terra que [lhe] estivesse no coração". Restava, portanto, o Porto. Os obstáculos no próprio partido pareciam, porém, intransponíveis. Mas em Setembro de 2000, Branquinho obtém uma primeira garantia importante. Durão Barroso vai ao Porto e numa reunião com membros da Concelhia compromete-se a aceitar o candidato que aquela estrutura escolher. Era um trunfo de peso para a Concelhia esgrimir na previsível "guerra" com a Distrital de Menezes. Os três últimos meses do ano escorrem calmos no PSD. Mas no PS as coisas agitam-se e, em Dezembro, torna-se claro que Fernando Gomes será o candidato socialista. Invencível, vaticinam alguns. Não foi isso que pensaram Branquinho nem Sérgio Vieira, o presidente da Concelhia portuense e nessa qualidade principal responsável pela escolha, agora também na primeira linha do combate pela conquista da Câmara do Porto. No dealbar do novo ano, Sérgio, 31 anos, deputado, e Branquinho já têm sete ou oito nomes de personalidades possíveis para o desafio que se avizinha. Valente de Oliveira, Miguel Cadilhe, Artur Santos Silva, Ludgero Marques, Valentim Loureiro, Rui Rio, José Pedro Aguiar Branco, uns militantes, outros apenas simpatizantes, são abordados para conversar sobre a cidade. Discute-se tudo: as obras, os mandatos de Gomes, o modelo de cidade de Nuno Cardoso, as estratégias, os cenários políticos, as alternativas. No final da primeira ronda de contactos, sobram três hipóteses plausíveis. Uma mais institucional e à partida com maior peso político, Valente de Oliveira, outra jovem e de ruptura, Rui Rio, e uma terceira essencialmente populista, Valentim Loureiro. A análise da situação desaconselha esta última e no fim da linha restam Valente e Rio. Sérgio Vieira e Agostinho Branquinho aprofundam então as conversas com estes dois quadros e, em Fevereiro, um plenário concelhio aprova o perfil do candidato: militante do PSD, prestigiado, capaz de rupturas. Algo que dá para quase tudo, mas a defesa das rupturas aponta mais para Rio do que para Valente. O mais importante do plenário concelhio, porém, foi o aparecimento de Luís Filipe Menezes de surpresa. O presidente da Distrital do PSD/Porto comparece enquanto militante do partido filiado na cidade e não enquanto dirigente. E explica que tem uma estratégia para as autárquicas, mas não a revela. A Concelhia, contudo, não se comove e, aprovado o perfil, na segunda-feira seguinte Sérgio e Branquinho perguntam a Valente de Oliveira: "Se o convidássemos formalmente para candidato o que é que nos responderia?". A resposta é inequívoca: "Essa hipótese para mim não se colocou e muito menos agora. Esteve aqui ontem o dr. Luís Filipe Menezes a dizer que convidou o dr. Silva Peneda". Estava aberta a previsível "guerra" com a Distrital de Menezes, cujas consequências haveriam de fazer-se sentir até à noite das eleições. A Concelhia recorre então a um dos seus vice-presidentes, o médico Faria de Almeida, para explicar a situação a Silva Peneda. Pede-lhe contenção e adverte-o de que a escolha será da Concelhia e não da Distrital. Sérgio Vieira intensifica os contactos com Durão Barroso, que não morre de amores por Menezes e lhe reitera o compromisso de que a escolha da Concelhia será respeitada. O próprio Rio tem duas conversas com o líder do partido. Todos os interlocutores ficam convencidos da preferência de Barroso por Rio. Estimulada pelo presidente do partido, a Concelhia acelera o processo e no início de Abril aprova por unanimidade o nome de Rio. O candidato está em Cuba, numa missão da União Inter-Parlamentar, mas quando regressa a decisão é celebrada com champanhe em casa de Branquinho. A mulher de Rio, grávida de sete meses, antevê "uma carga de trabalhos". Mas, nessa altura, ninguém imaginava a dimensão do que estava para vir. Percebendo que perdeu a corrida para a escolha do candidato e que o seu arquirival portuense tem o apoio da direcção nacional do partido, Menezes muda de táctica. Em vez de chumbar a candidatura de Rio na Distrital, remetendo a questão para a arbitragem de Durão Barroso, faz com que a Comissão Política Alargada aprove a candidatura de Rio à tangente. Os votos contra e as abstenções igualam os votos a favor. Estava dado o recado do alheamento total da Distrital em relação à candidatura. Rio, Sérgio e Branquinho arregaçam as mangas e partem para a luta. A apresentação da candidatura é feita a 24 de Abril, por causa do simbolismo da data. Miguel Veiga é o mandatário e Valente de Oliveira o coordenador do programa. Três dias antes, o "Expresso" publica a primeira sondagem em que Rio é confrontado com Gomes. O social-democrata é creditado com 13 por cento dos votos. "Teve um efeito devastador no financiamento da campanha", reconhece hoje Rio. De facto, no mês seguinte, quase todos os contactos estabelecidos para angariar dinheiro para a campanha saem frustrados. Já se sabia que da Distrital não viria um tostão. O próprio tesoureiro, Abílio Costa, homem de confiança de Menezes, já tinha confidenciado: "Nós não apoiamos candidaturas perdedoras". E a chamada sociedade civil parecia ter a mesma opinião. Dois eventos sociais dão essa percepção ao candidato e aos seus homens de confiança. Numa festa da TVI, em Serralves, Rio e Branquinho sentem-se claramente ostracizados pela generalidade dos presentes. Nuno Cardoso e toda a sua "entourage" camarária estão presentes e são poucas as pessoas que se aproximam dos dois sociais-democratas. "Algumas vinham cumprimentar e fugiam logo, outras nem isso, esquivavam-se e faziam de conta que não nos viam", recorda Branquinho. A atitude foi particularmente notória entre o "establishment" cultural portuense, com grandes cumplicidades com a Câmara do Porto, que não queria ser visto em más companhias. "É o medo de ser mal julgado pelo poder", interpreta Rio. O mal-estar é de tal modo acentuado que os dois sociais-democratas permanecem pouco tempo na festa. Melhor, mas não muito, foi a recepção que têm no jantar do 25º aniversário da Associação Empresarial de Portugal (AEP), no Europarque, também em Maio. Rio é aí mais cumprimentado porque é economista e conhece bem muitos dos presentes. Mas as reservas junto dos meios empresariais também se tornam nítidas. Esquivos, muitos dos que são contactados inventam desculpas para evitar um novo encontro. Pessoas da área social-democrata, habituais contribuintes do partido, mostram-se indisponíveis para apoiar a campanha financeiramente. E não é apenas um problema de descrença na candidatura. Começam a chegar recados de vários lados a dar a entender que contribuir para a campanha de Rio significaria também ficar mal visto no aparelho distrital do PSD. Há pelo menos um empreiteiro conhecido que se queixa de que terá sido advertido de que se contribuísse para a campanha de Rio nunca mais faria qualquer contrato com a Câmara de Gaia... São, de novo, os interesses instalados a fazer sentir a sua força. O problema é posto a nível nacional, mas o partido em Lisboa também não nada em dinheiro. Barroso promete pagar 20 "outdoors" e uma sondagem. É tudo com que a São Caetano pode contribuir. No meio da penúria, surge um empresário que se propõe pagar a totalidade da campanha se lhe garantirem um lugar na lista. Está reformado e gostaria de se dedicar à política. A tentação é grande, mas Rio recusa sem hesitar. Matilde, que é nova nestas andanças, também se apercebe rapidamente das dificuldades. Professora, 47 anos, um filho, Matilde Alves é militante do PSD há muitos anos, mas nunca foi activa. Profunda conhecedora dos problemas do ensino, é convidada para colaborar na elaboração do programa sobre educação. Começa a trabalhar com Valente de Oliveira e, dos oito convites que são feitos, ninguém aceita participar. Uns dizem que não trabalham para um perdedor, outros inventam desculpas e outros ainda confessam que não se querem comprometer por receio de represálias nos empregos ou para não ficarem excluídos das benesses da câmara socialista. Matilde fica perplexa com os constrangimentos revelados e não acredita que "vivemos em democracia". Acaba por ficar a coordenadora de si própria e redige ela o programa de educação. O mesmo sucede noutras áreas de intervenção, como na cultura e na saúde. Carlos Mota Cardoso, psiquiatra, não é militante do PSD, mas define-se como um social-democrata. Velho amigo de Rio, aceita coordenar o programa na área da saúde. Experimenta as mesmas dificuldades de Matilde. "Pouca gente deu a cara", recorda, "e muitos só aceitaram colaborar sob a condição de sigilo". As listas dos colaboradores acabam por ter alguns nomes entre parênteses, justamente os que não podiam ser divulgados. Na cultura, houve quem dissesse que não podia dar o nome porque recebia frequentemente encomendas da Câmara do Porto. Houve quem dissesse que não apoiava ninguém e depois surgiu a apoiar Gomes. Houve quem colaborasse no programa, mas avisasse que ia apoiar publicamente Gomes. Os interesses acima das convicções, portanto, exactamente o contrário daquilo que a candidatura tinha erguido bandeira e orgulho. Com as sondagens a darem níveis de notoriedade a Gomes de 90 por cento e a Rio de 27 por cento, com pouca gente disponível para apoiar, boicotado pelo aparelho do partido, com a sociedade civil minada pelo poderio do PS na cidade, sem "staff" e sem dinheiro, a candidatura chega ao fim de Julho em situação desesperada. "No último dia de Julho, tínhamos 500 contos", contabiliza Branquinho. E como "em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão", estalam alguns conflitos, mesmo entre amigos. Há quem fale em desistir. O núcleo duro da candidatura ameaça desfazer-se, Branquinho ausenta-se por uns tempos, mas acaba por resistir às adversidades. Rio fala com Durão Barroso e mantém inabalável a sua determinação de ir até ao fim. Os três amigos - Rio, Branquinho e Sérgio Vieira - recolhem de novo a Viana do Castelo para reflectir. Estamos no primeiro fim-de-semana de Agosto e é preciso redefinir a estratégia. Após as férias, uma campanha de denúncia dos "erros" de Gomes com "outdoors" em 70 pontos da cidade cai por falta de dinheiro. O mesmo acontece com uma festa para a juventude planeada para a Foz. A aposta na comunicação social para ganhar notoriedade e fazer passar as mensagens também é subalternizada porque os média se vão apercebendo das fragilidades da campanha e dão-lhe cada vez menos espaço. Rio está particularmente desagradado com algum noticiário. "A cobertura do PÚBLICO mexeu comigo", diz, para ajudar a justificar a decisão mais importante que tomou: "Vamos para a rua contactar directamente com as pessoas". É pelos bairros sociais que começa a ofensiva no terreno. Regressemos a Adriana. Tal como Matilde, Adriana Aguiar Branco, 44 anos, advogada, dois filhos, é militante de longa data do PSD mas nunca se envolveu em nenhuma campanha. Com uma carreira profissional bem sucedida na banca, há muito que aprecia a acção política de Rio. Por isso, quando o seu primo, José Pedro Aguiar Branco, lhe telefona a pedir colaboração na campanha, adere sem reservas. "Não o faria quase com mais ninguém. Talvez com Valente de Oliveira, nunca com Valentim, nem com Menezes", garante. Menina bem, nunca conheceu dificuldades e, percebeu-o na campanha, também conhecia mal as dificuldades alheias. Por isso, quando entra nos bairros sociais fica profundamente chocada. Mas, a sua condição social de privilegiada não a inibe nos contactos de rua. Muito comunicativa, revela-se um trunfo importante na campanha. Mete conversa, escuta as pessoas, distribui propaganda, apresenta o candidato. "Uma máquina", surpreendem-se os veteranos de campanhas, que lhe imputam a conquista de muitos votos. O seu entusiasmo é mesmo responsável pela quebra de um tabu. Rio tinha definido que não faria quaisquer promessas. Mas no bairro do Outeiro, Adriana inquieta-se com a insistência de uma idosa sobre a falta de um ringue onde as crianças possam brincar. A exigência da mulher parece-lhe razoável e acaba por ceder. Mas chama logo o candidato e narra-lhe o episódio. O ringue ficou prometido e Adriana garante que estará atenta até que a obra se concretize. Mas a campanha teve mais espinhos do que rosas. Apesar de estreante, Adriana apercebe-se depressa das dificuldades. Começa por notar alguma timidez em Rio. "Para mim, a campanha dividiu-se em duas fases. A primeira em que ia eu à frente e ele atrás, a segunda em que já ia ele à frente e não era preciso apresentá-lo às pessoas", explica. Depois observa a penúria de meios e de gente: "Parecemos o Bloco de Esquerda no seu pior", comenta para Matilde nos tempos em que não passavam de meia dúzia de pessoas a distribuir dois folhetos pelas ruas. "Éramos uma espécie de trupe", corrobora o psiquiatra Mota Cardoso. No entanto, isso não os fez esmorecer. Melhores dias viriam. A aposta nos bairros sociais revelou-se decisiva. Agostinho Branquinho estudou a tendência dos votos nas várias eleições no Porto e verificou que os bairros eram feudos quase absolutos do PS e da CDU. Por isso, um voto conquistado aí contava a dobrar. O que explica as duas visitas ao S. João de Deus, onde o PSD nunca tinha ido em campanhas eleitorais. Apenas o candidato presidencial Ferreira do Amaral lá tinha entrado em Janeiro de 2001. Rio foi recebido com naturalidade da primeira vez e com entusiasmo da segunda. O mesmo sucedeu em Aldoar e em vários outros. O esforço rendeu votos. Para ganhar era necessário "roubar" 12 mil votos a Gomes e recuperar 10 mil abstencionistas que já tinham votado no PSD. Tudo isto analisado freguesia a freguesia dava números entre os mil e os dois mil em cada uma. Foi esse o encargo que a candidatura atribuiu aos responsáveis das freguesias. Cumprido em quase todas. As acções de rua começam a trazer algumas pessoas à campanha, e o que falta em dinheiro sobra em dedicação e improviso. Os donativos que entretanto foram chegando permitiram alugar uma sede em plena Avenida dos Aliados, quase ao lado da de Gomes, o que evidencia ainda mais o contraste entre a exuberância e a penúria. Rio vem todos os dias no seu carro, estaciona no parque da Trindade - "gastei um dinheirão só em estacionamento" - e abre ele próprio a porta da sede. Os taxistas que param em frente sorriem do amadorismo da coisa. A mulher da limpeza é paga dos bolsos de cada um e até o aspirador que limpa a sede é o que Rio traz da casa que tinha em Lisboa enquanto era deputado. Não há café, nem água, nem nada. Os que se integram na campanha pagam as despesas dos seus bolsos: refeições, gasolina, estacionamento, mas ninguém se queixa. A propaganda na cidade ficou mesmo reduzida aos 20 "outdoors" pagos pelo orçamento nacional do partido. Não é só com Gomes que se estabelece o contraste. O presidente da Junta de Freguesia da Foz, um social-democrata alinhado com Menezes, teve só ele mais "outdoors" na freguesia do que Rio em toda a cidade... Politicamente, o momento mais delicado foi o da negociação das listas com o CDS/PP. O acordo entre os dois partidos tinha sido fechado em Junho sem grandes problemas. As dificuldades vieram em Setembro quando foi necessário escolher os nomes. Ao CDS cabia o presidente da Assembleia Municipal. No PSD esperavam que os centristas escolhessem uma figura nacional do partido. O desejado era Lobo Xavier, mas o jurista auto-excluiu-se. Surgiu a hipótese Anacoreta Correia, que centristas e sociais-democratas viam com bons olhos. Mas Paulo Portas, pouco interessado na coligação do Porto, inviabilizou-a. Chega a falar-se depois em Basílio Horta, mas o CDS acaba por propor Vasco Morais Soares, um arquitecto portuense, deputado municipal há muitos anos. Rio veta de imediato - o arquitecto representa concepções antagónicas às suas sobre a cidade. Trava-se um braço-de-ferro e o PSD está prestes a romper a coligação. Rio discute o assunto com Durão Barroso, que lhe aconselha calma. Acaba por prevalecer o bom senso e o CDS propõe o seu líder distrital, Álvaro Castelo Branco, que é aceite. "O eleitorado não compreenderia que rompessemos a coligação. E, além disso, os quatro ou cinco por cento do eleitorado CDS eram importantes", avalia Branquinho. Por isso, o PSD cedeu muitos lugares na Assembleia Municipal e nas juntas de freguesia aos centristas. O seu contributo para a campanha é que foi quase nulo. Financeiramente nem um tostão, em termos de militância quase ninguém apareceu. Até à noite da vitória, claro. E nessa noite, um dos centristas eleitos teve um lapso freudiano que espelha a situação: "Parabéns, ganharam!", comentou para Adriana, no auge do entusiasmo desta. "Ganharam não, ganhámos!", respondeu a social-democrata, apesar de consciente de que o CDS pouco tinha contribuído para a vitória. A pouco mais de um mês da votação, a campanha de rua prossegue sem vacilar e a "trupe" que acompanha Rio começa a detectar sinais que contrariam as sondagens. "Notava-se um grande descontentamento em relação ao Gomes. As pessoas diziam que ele era um pavão, um vaidoso, um arrogante. A tal ponto que nós perguntávamos uns aos outros onde estavam os votantes do Gomes", surpreendeu-se Matilde. Mas em meados de Novembro, chegou a vez da sondagem da própria campanha que Durão Barroso se tinha comprometido a pagar. Branquinho e Rio analisam os resultados e, em absoluto sigilo, decidem por uma vez faltar à verdade. Para não desanimar as hostes, manipulam os resultados. Organizam uma sessão de apresentação na sede - "uma teatrice", classifica Adriana - e mostram Rio à distância de dez pontos de Gomes, com 17 por cento de indecisos. A realidade dos números era outra: vinte pontos de diferença. Afinal, o estudo próprio confirmava os resultados alheios. Mas só Rio e Branquinho o sabem. As tropas elevam o moral e começam a acreditar que tudo é possível. A verdade nua e crua só a saberão já por entre os despojos da vitória. Em todo o caso, por essa altura, já estava generalizada a convicção de que o resultado final seria satisfatório. Os indicadores apontavam para um "score" no mínimo de 35 por cento, bem superior aos das eleições anteriores para a Câmara do Porto. Ao abrir da campanha oficial, a grande aposta passam a ser os debates televisivos. Era preciso tornar o candidato mais conhecido, potenciar a simpatia das ruas e convertê-la em votos. O primeiro debate é o da SIC. Rio prepara-se, mas na véspera uma gripe forte deixa-o prostrado. No próprio dia do debate, Durão Barroso está no Porto e é preciso acompanhar o líder numa acção de rua ao fim da tarde. A decisão foi imprudente. O mal-estar agrava-se e a comparência na SIC está em risco. Para grandes males, grandes remédios. O candidato permanece uma hora no hospital a oxigénio e cortisona e sai dali directamente para o debate. Como era previsível, as coisas não correram bem. As "despesas" do ataque a Gomes ficaram por conta de Rui Sá, da CDU, e Rio esteve apagado. No final, o "staff "que o acompanhou estava deprimido. Rio mal se apercebe do mal-estar porque adormece de imediato. No dia seguinte, na RTP tudo foi diferente. Já recuperado, Rio é acutilante e agressivo q.b. Miguel Veiga, o mandatário, tinha aconselhado as hostes: "Vocês irritem-no, porque ele irritado é imprevisível". Na televisão pública os objectivos foram atingidos. Os efeitos sentem-se no dia seguinte. "A aceitação de rua explodiu após o debate na RTP", constata o próprio candidato. No mercado do Bolhão, um teste proverbial à popularidade, a recepção é apoteótica. Estamos na última semana de campanha e por esta altura já havia quem acreditasse que a vitória poderia sorrir. "Eu comecei a acreditar que poderíamos ganhar, mas inibi-me de falar nisso para não criar uma eventual desilusão depois", confessa Rio. Adriana sentiu o mesmo e reforçou essa convicção na própria véspera das eleições. No sábado, dia 15, um pequeno grupo capitaneado por ela leva o candidato a alguns lugares da noite portuense. "A recepção foi fantástica em toda a parte, senti que íamos ganhar", evoca. É com essa sensação quase secreta que a meio da tarde de domingo se começam todos a dirigir para a sede. Antes foi preciso garantir que alguns trariam de casa uns televisores que não fizessem lá falta, porque na sede quase não havia. Pouco faltava para as 18h00 quando Agostinho Branquinho, com o televisor do quarto da filha nos braços, se cruza no passeio com Orlando Gaspar, número dois de Gomes. "Então, está bom?", cumprimenta. "Eu estou bem, vocês é que não devem estar lá muito!", responde Gaspar, ainda em estado de inocência quanto à conspiração que o povo lhe preparara nas urnas. O circo mediático caucionava a fanfarronice. Os carros de exteriores e as equipas televisivas atropelavam-se à porta de Gomes. Poucos metros acima apenas uma equipa de cada para registar, em devido tempo, a declaração de derrota. Mas às 19h00, com as primeiras projecções de resultados a falar em empate técnico, tudo começa a mudar. Ambiente fúnebre e ar festivo trocam de sedes. Os jornalistas também. Dos 24 mil contos angariados para a campanha ainda tinha sobrado algum dinheiro para um "catering". E foram uns rissóis e croquetes do candidato "pobre" que acabaram por matar a fome a muita gente que tinha lá ido assistir à vitória do candidato "rico". Enquanto Matilde roía as unhas e confessava que só tinha sentido tamanha ansiedade no dia em que lhe nasceu o filho, numa sala reservada o núcleo duro da candidatura - Rio, Branquinho, Sérgio Vieira, Valente de Oliveira, Miguel Veiga, Paulo Morais, Paulo Rangel - ia recolhendo as informações possíveis. Com o anunciado empate técnico, estava garantida a chamada meia vitória: retirar a maioria a Gomes. Mas no íntimo já todos achavam que isso não bastava. As indicações que vão chegando dos delegados nas mesas confirmam as projecções televisivas. Quem conhece o terreno sabe quão importantes são algumas freguesias. Uma primeira desilusão surge com os votos da Sé, onde tinha havido uma aposta forte. Gomes venceu, mas Rio subiu 50 por cento. Em Massarelos a junta é ganha pelo PS, mas para a câmara vence Rio. São bons indícios e a vitória em Lordelo aumenta o élan. Como a logística socialista é incomparavelmente melhor, Branquinho vai falando ao telemóvel com Domingos Ferreira, o influente funcionário do PS/Porto. Paranhos, uma freguesia-tipo, parece empatada, de Campanhã não há dados ainda e de Cedofeita também não. Mas, de repente, Domingos Ferreira informa-o que o PS "levou uma banhada em Cedofeita". "Então podemos ganhar!", conclui Branquinho. Esperavam-se os resultados de Campanhã quando o "garganta funda" socialista avisa que "Gomes vai assumir a derrota". Eram 21h45. Às 22h20, Gomes despede-se do povo que o despediu. Rio fica meio atarantado. Pede conselhos para uma declaração e retira-se para a escrever. Mas não se consegue concentrar e quando aparece às massas acaba por improvisar. Fala duas vezes do "povo humilde do Porto" que o elegeu, pensando seguramente nos bairros sociais e em particular no S. João de Deus, onde Adriana e Matilde sofreram um dos maiores choques das suas vidas. Adriana está eufórica. Sempre gostou de Rui Rio porque é um político "diferente" e aceitou o desafio porque nunca gostou de coisas fáceis. "Se a vitória estivesse garantida à partida, não sei se teria aderido", confidencia. "Isto foi uma missão impossível". OUTROS TÍTULOS EM PÚBLICA

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