PS-Porto em estado de choque com resultados

06-01-2002
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PS-Porto em Estado de Choque com Resultados

Por RAPOSO ANTUNES

Terça-feira, 18 de Dezembro de 2001

Dirigentes socialistas de facas afiadas para Nuno Cardoso, Narciso Miranda e Orlando Gaspar

Os dirigentes do PS portuense viviam ontem num estado de choque generalizado com os resultados obtidos nas eleições autárquicas de domingo, designadamente com a surpreendente derrota na cidade do Porto. Ninguém conseguia prever aquilo que se iria passar na reunião da Comissão Política Distrital que estava marcada para a hora do fecho desta edição. Percebia-se que muitos dirigentes estão de facas afiadas. Uns para Narciso Miranda, líder distrital do partido; outros para Orlando Gaspar, presidente da concelhia do Porto e principal responsável pela escolha de Fernando Gomes como candidato à segunda cidade do país; mas também Nuno Cardoso não era poupado. Aqueles com que o PÚBLICO contactou admitiam, no entanto, que tudo estava demasiado confuso para transformar a reunião de ontem numa espécie de "noite das facas longas". Mas todos reconheciam também a necessidade de a curto prazo haver uma clarificação no PS-Porto.

"Temos todos que reflectir. Está tudo em aberto e estamos também acorrentados àquilo que se possa vir a passar em Lisboa [na direcção nacional do PS]", diz José Saraiva. Este deputado assegura que Narciso Miranda está disponível para encarar todas as soluções. Mas quando é confrontado com a possibilidade de o líder distrital se demitir, Saraiva contrapõe: "Não podemos reproduzir no Porto e noutras federações aquilo que se passou em Lisboa [demissão de Guterres]". E deixa mesmo um enigmático aviso a Orlando Gaspar e a Fernando Gomes - "Não pode haver um acusador e uma só vítima" - numa aparente alusão às guerras em que se envolveram Gaspar e Narciso por causa da escolha de Gomes, dando assim a entender que não acredita na possibilidade de a concelhia do Porto vir a pedir a cabeça de Narciso.

De resto, este deputado entende que o actual presidente da Câmara do Porto, Nuno Cardoso, foi um dos principais responsáveis pela derrota do partido no município portuense. Mas reconhece ainda que as "performances" do PS nas restantes câmaras do distrito também não foram as melhores. Além da perda da Câmara de Penafiel, os socialistas perderam dois vereadores em Matosinhos, autarquia liderada pelo próprio Narciso, Mário de Almeida perdeu um vereador em Vila do Conde, o PS perdeu cerca de 20 mil votos em Gaia e, desde 1989 (eleições em que o PS passou a dominar a maioria das câmaras no distrito) até ao sufrágio de ontem, os socialistas viram fugir no distrito mais de 100 mil votos. "Nós perdemos, batemos mesmo no fundo, não podemos iludir estes resultados, mas não podemos também entrar numa onda de demissões", reafirma.

Entre os apoiantes de Francisco Assis, a figura que disputou as últimas eleições internas do PS com Narciso Miranda, a palavra de ordem é serenidade. Embora alguns entendam que o líder parlamentar devia avançar já, a tese dominante vai no sentido de esperar. "Ainda é cedo. Tudo depende da forma como Narciso se comporte. Mas, acima de tudo, estamos presos à situação do partido a nível nacional, tanto mais que ainda não é nada claro o calendário político que vamos ter pela frente [se Guterres avança ou não de novo, num eventual cenário de eleições antecipadas]", afirma outro deputado e apoiante do líder parlamentar na distrital do Porto.

Gomes no Parlamento

Uma nebulosa abateu-se sobre o futuro político imediato de Fernando Gomes. Ninguém consegue prever aquilo que o ex-ministro da Administração Interna poderá vir a fazer. Para já, diz um seu assessor, "assume o lugar na Assembleia da República". E depois? "Assume o lugar no Parlamento, ponto final", enfatiza. Há quem diga, no entanto, que o economista Fernando Gomes poderá estar tentado a uma experiência "na iniciativa privada". Outros prevêem uma travessia no deserto para "aguardar por melhores dias". Mas há também quem não acredite que Gomes se possa afastar assim da política activa. "Ele vai ver como correm as modas [eventual sucessão de Guterres] em Lisboa. E o seu alinhamento será sempre pelos soaristas", referem. Certo é apenas que o mais surpreendente derrotado da noite de domingo tem já umas férias marcadas para arejar.

PS-Porto em Estado de Choque com Resultados

Por RAPOSO ANTUNES

Terça-feira, 18 de Dezembro de 2001

Dirigentes socialistas de facas afiadas para Nuno Cardoso, Narciso Miranda e Orlando Gaspar

Os dirigentes do PS portuense viviam ontem num estado de choque generalizado com os resultados obtidos nas eleições autárquicas de domingo, designadamente com a surpreendente derrota na cidade do Porto. Ninguém conseguia prever aquilo que se iria passar na reunião da Comissão Política Distrital que estava marcada para a hora do fecho desta edição. Percebia-se que muitos dirigentes estão de facas afiadas. Uns para Narciso Miranda, líder distrital do partido; outros para Orlando Gaspar, presidente da concelhia do Porto e principal responsável pela escolha de Fernando Gomes como candidato à segunda cidade do país; mas também Nuno Cardoso não era poupado. Aqueles com que o PÚBLICO contactou admitiam, no entanto, que tudo estava demasiado confuso para transformar a reunião de ontem numa espécie de "noite das facas longas". Mas todos reconheciam também a necessidade de a curto prazo haver uma clarificação no PS-Porto.

"Temos todos que reflectir. Está tudo em aberto e estamos também acorrentados àquilo que se possa vir a passar em Lisboa [na direcção nacional do PS]", diz José Saraiva. Este deputado assegura que Narciso Miranda está disponível para encarar todas as soluções. Mas quando é confrontado com a possibilidade de o líder distrital se demitir, Saraiva contrapõe: "Não podemos reproduzir no Porto e noutras federações aquilo que se passou em Lisboa [demissão de Guterres]". E deixa mesmo um enigmático aviso a Orlando Gaspar e a Fernando Gomes - "Não pode haver um acusador e uma só vítima" - numa aparente alusão às guerras em que se envolveram Gaspar e Narciso por causa da escolha de Gomes, dando assim a entender que não acredita na possibilidade de a concelhia do Porto vir a pedir a cabeça de Narciso.

De resto, este deputado entende que o actual presidente da Câmara do Porto, Nuno Cardoso, foi um dos principais responsáveis pela derrota do partido no município portuense. Mas reconhece ainda que as "performances" do PS nas restantes câmaras do distrito também não foram as melhores. Além da perda da Câmara de Penafiel, os socialistas perderam dois vereadores em Matosinhos, autarquia liderada pelo próprio Narciso, Mário de Almeida perdeu um vereador em Vila do Conde, o PS perdeu cerca de 20 mil votos em Gaia e, desde 1989 (eleições em que o PS passou a dominar a maioria das câmaras no distrito) até ao sufrágio de ontem, os socialistas viram fugir no distrito mais de 100 mil votos. "Nós perdemos, batemos mesmo no fundo, não podemos iludir estes resultados, mas não podemos também entrar numa onda de demissões", reafirma.

Entre os apoiantes de Francisco Assis, a figura que disputou as últimas eleições internas do PS com Narciso Miranda, a palavra de ordem é serenidade. Embora alguns entendam que o líder parlamentar devia avançar já, a tese dominante vai no sentido de esperar. "Ainda é cedo. Tudo depende da forma como Narciso se comporte. Mas, acima de tudo, estamos presos à situação do partido a nível nacional, tanto mais que ainda não é nada claro o calendário político que vamos ter pela frente [se Guterres avança ou não de novo, num eventual cenário de eleições antecipadas]", afirma outro deputado e apoiante do líder parlamentar na distrital do Porto.

Gomes no Parlamento

Uma nebulosa abateu-se sobre o futuro político imediato de Fernando Gomes. Ninguém consegue prever aquilo que o ex-ministro da Administração Interna poderá vir a fazer. Para já, diz um seu assessor, "assume o lugar na Assembleia da República". E depois? "Assume o lugar no Parlamento, ponto final", enfatiza. Há quem diga, no entanto, que o economista Fernando Gomes poderá estar tentado a uma experiência "na iniciativa privada". Outros prevêem uma travessia no deserto para "aguardar por melhores dias". Mas há também quem não acredite que Gomes se possa afastar assim da política activa. "Ele vai ver como correm as modas [eventual sucessão de Guterres] em Lisboa. E o seu alinhamento será sempre pelos soaristas", referem. Certo é apenas que o mais surpreendente derrotado da noite de domingo tem já umas férias marcadas para arejar.

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