PS: a noite da desilusão

06-01-2002
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PS: a Noite da Desilusão

Terça-feira, 18 de Dezembro de 2001

Ninguém acreditava na derrota de Fernando Gomes, nem os próprios jornalistas. Nada o deixava adivinhar e tudo apontava para a vitória do candidato do PS. Este, no último jantar com a sua equipa, viveu antecipadamente o gosto de uma maioria absoluta, embora já estivese preparado para "encaixar" uma vitória menos estrondosa do que há quatro anos, avaliando uma menor empatia da população nas suas acções de campanha.

Gomes chegou à sede descontraído, pouco antes das 19h00, para logo se refugiar numa sala reservada, seguindo a emissão das quatro estações de televisão. A sondagem da Universidade Católica, transmitida pela RTP, foi o primeiro sobreaviso de que algo poderia contrariar todas as expectativas. Os ânimos esfriaram, mas todos se recusavam ainda a acreditar que tais resultados reflectissem a realidade.

A partir daí, os cuidados foram redobrados. E depois de Orlando Gaspar, número dois de Gomes e presidente da concelhia socialista, ter criticado as "nuances" das sondagens já visivelmente irritado e mal disposto, toda a equipa candidata (Jorge Catarino, Maria José Azevedo, Custódio Oliveira...) se agarrou aos telefones, desdobrando-se em contactos com os locais de contagem de votos para ter acesso a dados seguros. O clima foi arrefecendo, caracterizando-se por uma "progressiva tristeza e desilusão".

No exterior, uma socialista reconfortava-se: "Ao menos ganha o Soares em Lisboa". Mas nem isso foi uma realidade consoladora - verificou-se depois. Entre as 21h30 e as 22h00 foi o momento de assimilar uma possível derrota. Gomes, que permaneceu quase sempre circunspecto e calado, foi dos primeiros a admitir essa inevitabilidade, quando as margens relativamente a Rui Rio se alargavam e se verificava que as restantes contagens não iriam compensar as diferenças. O silêncio impôs-se, embaraçoso, sobretudo ao lado de Gomes, enquanto na sede de Rui Rio o ambiente ia aquecendo.

Gomes decidiu falar às 22h20. Assumiu a "derrota pessoal", respeitando a escolha democrática dos portuenses. Uma apoiante agarra Gomes: "Senhor doutor, deixe lá, a vida continua". Maria José Azevedo e Orlando Gaspar não levantavam os olhos do chão, numa tristeza absoluta. Logo de seguida, foi o debandar e a desmobilização total, deixando todo o espaço para a festa "laranja" do lado.

Hernâni Gonçalves, elemento da lista, confessava não perceber nada, mas vaticinava a "morte política de Gomes". Custódio Oliveira atribuia a culpa a Nuno Cardoso, acusando-o de ter andado a fazer campanha contra Gomes. Ontem, nos serviços camarários, corria que se Cardoso fosse o candidato teria ganho. E circulava que quem estava com Cardoso não se iria tornar "inimigo" de Rui Rio.

Cesaltina Pinto

PS: a Noite da Desilusão

Terça-feira, 18 de Dezembro de 2001

Ninguém acreditava na derrota de Fernando Gomes, nem os próprios jornalistas. Nada o deixava adivinhar e tudo apontava para a vitória do candidato do PS. Este, no último jantar com a sua equipa, viveu antecipadamente o gosto de uma maioria absoluta, embora já estivese preparado para "encaixar" uma vitória menos estrondosa do que há quatro anos, avaliando uma menor empatia da população nas suas acções de campanha.

Gomes chegou à sede descontraído, pouco antes das 19h00, para logo se refugiar numa sala reservada, seguindo a emissão das quatro estações de televisão. A sondagem da Universidade Católica, transmitida pela RTP, foi o primeiro sobreaviso de que algo poderia contrariar todas as expectativas. Os ânimos esfriaram, mas todos se recusavam ainda a acreditar que tais resultados reflectissem a realidade.

A partir daí, os cuidados foram redobrados. E depois de Orlando Gaspar, número dois de Gomes e presidente da concelhia socialista, ter criticado as "nuances" das sondagens já visivelmente irritado e mal disposto, toda a equipa candidata (Jorge Catarino, Maria José Azevedo, Custódio Oliveira...) se agarrou aos telefones, desdobrando-se em contactos com os locais de contagem de votos para ter acesso a dados seguros. O clima foi arrefecendo, caracterizando-se por uma "progressiva tristeza e desilusão".

No exterior, uma socialista reconfortava-se: "Ao menos ganha o Soares em Lisboa". Mas nem isso foi uma realidade consoladora - verificou-se depois. Entre as 21h30 e as 22h00 foi o momento de assimilar uma possível derrota. Gomes, que permaneceu quase sempre circunspecto e calado, foi dos primeiros a admitir essa inevitabilidade, quando as margens relativamente a Rui Rio se alargavam e se verificava que as restantes contagens não iriam compensar as diferenças. O silêncio impôs-se, embaraçoso, sobretudo ao lado de Gomes, enquanto na sede de Rui Rio o ambiente ia aquecendo.

Gomes decidiu falar às 22h20. Assumiu a "derrota pessoal", respeitando a escolha democrática dos portuenses. Uma apoiante agarra Gomes: "Senhor doutor, deixe lá, a vida continua". Maria José Azevedo e Orlando Gaspar não levantavam os olhos do chão, numa tristeza absoluta. Logo de seguida, foi o debandar e a desmobilização total, deixando todo o espaço para a festa "laranja" do lado.

Hernâni Gonçalves, elemento da lista, confessava não perceber nada, mas vaticinava a "morte política de Gomes". Custódio Oliveira atribuia a culpa a Nuno Cardoso, acusando-o de ter andado a fazer campanha contra Gomes. Ontem, nos serviços camarários, corria que se Cardoso fosse o candidato teria ganho. E circulava que quem estava com Cardoso não se iria tornar "inimigo" de Rui Rio.

Cesaltina Pinto

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