Rússia e Irão aproximam-se, ignorando críticas ocidentais

01-11-2001
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Rússia e Irão Aproximam-se, Ignorando Críticas Ocidentais

Por JOSÉ MILHAZES, em Moscovo

Quarta-feira, 03 de Outubro de 2001

Moscovo assinou com Teerão um acordo de cooperação no campo militar, mas desdramatiza as suas consequências para o Ocidente

Serguei Ivanov, Ministro da Defesa da Rússia, e o seu homólogo iraniano, o almirante Ali Shakhmani, assinaram ontem um "acordo bilateral de cooperação militar e técnica" que põe fim às restrições nos fornecimentos de armamentos russos ao Irão.

Como que antecipando-se às críticas dos EUA e da NATO, Ivanov sublinhou que "este acordo não é secreto e corresponde a todas as normas e padrões do Direito Internacional, é idêntico a acordos que a Rússia concluiu com muitos países do mundo".

O general Anatoli Mazurkevitch, chefe do Departamento da Cooperação Internacional do Ministério da Defesa da Rússia, lançou ainda mais água para a fogueira das críticas: "O actual acordo não fixa propostas concretas de cooperação militar, mas, na sua base, tendo em conta os objectivos, parâmetros e condições expressas no documento, irão concluir-se outros acordos concretos entre os dois países".

Porém, segundo a imprensa de Moscovo, o novo acordo russo-iraniano não enterra apenas as "notas Gore-Tchernomirdin" (documento assinado pelo antigo-vice-presidente dos EUA e pelo ex-primeiro-ministro da Rússia que limitava os fornecimentos de armamentos russos ao Irão em troca de ajuda americana a Moscovo), como abre caminho a grandes contratos no campo militar.

Peritos citados pela agência russa Interfax afirmam que "nos próximos cinco anos, a Rússia poderá fornecer ao Irão armamentos no valor de cerca de mil milhões e quinhentos mil euros, o que fará do Irão o terceiro maior comprador de armas russas depois da China e da Índia".

Entre os equipamentos militares pretendidos pelo Irão, o diário "Kommersant" destaca armamentos modernos russos como o sistema de defesa antiaérea S-300, mísseis anti-barco "Moskit" e "Iakhont", bem como aviões de combate Su-27, Su-30 e helicópteros K-50 e K-52.

Antes dos atentados terroristas contra os EUA em 11 de Setembro, Washington e a NATO protestaram contra os fornecimentos de armas russas ao Irão, alegando tratar-se de "um estado que apoia o terrorismo".

Além disso, afirmava-se que "se as forças armadas do Irão passarem a estar equipadas com armamentos que possam atingir barcos no Estreito de Ormuz, o preço mundial do petróleo poderá subir consideravelmente, porque parte significativa do petróleo dos países árabes passa por aí".

Porém, na nova conjuntura internacional, Moscovo espera maior compreensão do Ocidente e afirma não recear que os contactos militares com Teerão enfraqueçam a aliança internacional antiterrorista.

Pelo contrário, Serguei Ivanov revela a convicção de que o Irão "irá participar de uma ou de outra forma na operação antiterrorista no Afeganistão". Por exemplo, Moscovo sublinha que russos e iranianos estão juntos, há muito tempo, no apoio à Aliança do Norte, coligação afegã que combate os taliban.

O Kremlin não vê no Irão apenas um mercado promissor para os seus armamentos. Teerão é também um forte vizinho das costas do Mar Cáspio, um aliado para controlar um "dos maiores poços de petróleo do planeta", cobiçado - na análise dos geopolíticos russos - pelos EUA e outros países ocidentais.

Além disso, nos planos russos, o Irão é um dos parceiros fundamentais no mundo muçulmano, peça importante no "mundo multipolar", esquema defendido por Vladimir Putin em contraposição à hegemonia americana no mundo.

Rússia e Irão Aproximam-se, Ignorando Críticas Ocidentais

Por JOSÉ MILHAZES, em Moscovo

Quarta-feira, 03 de Outubro de 2001

Moscovo assinou com Teerão um acordo de cooperação no campo militar, mas desdramatiza as suas consequências para o Ocidente

Serguei Ivanov, Ministro da Defesa da Rússia, e o seu homólogo iraniano, o almirante Ali Shakhmani, assinaram ontem um "acordo bilateral de cooperação militar e técnica" que põe fim às restrições nos fornecimentos de armamentos russos ao Irão.

Como que antecipando-se às críticas dos EUA e da NATO, Ivanov sublinhou que "este acordo não é secreto e corresponde a todas as normas e padrões do Direito Internacional, é idêntico a acordos que a Rússia concluiu com muitos países do mundo".

O general Anatoli Mazurkevitch, chefe do Departamento da Cooperação Internacional do Ministério da Defesa da Rússia, lançou ainda mais água para a fogueira das críticas: "O actual acordo não fixa propostas concretas de cooperação militar, mas, na sua base, tendo em conta os objectivos, parâmetros e condições expressas no documento, irão concluir-se outros acordos concretos entre os dois países".

Porém, segundo a imprensa de Moscovo, o novo acordo russo-iraniano não enterra apenas as "notas Gore-Tchernomirdin" (documento assinado pelo antigo-vice-presidente dos EUA e pelo ex-primeiro-ministro da Rússia que limitava os fornecimentos de armamentos russos ao Irão em troca de ajuda americana a Moscovo), como abre caminho a grandes contratos no campo militar.

Peritos citados pela agência russa Interfax afirmam que "nos próximos cinco anos, a Rússia poderá fornecer ao Irão armamentos no valor de cerca de mil milhões e quinhentos mil euros, o que fará do Irão o terceiro maior comprador de armas russas depois da China e da Índia".

Entre os equipamentos militares pretendidos pelo Irão, o diário "Kommersant" destaca armamentos modernos russos como o sistema de defesa antiaérea S-300, mísseis anti-barco "Moskit" e "Iakhont", bem como aviões de combate Su-27, Su-30 e helicópteros K-50 e K-52.

Antes dos atentados terroristas contra os EUA em 11 de Setembro, Washington e a NATO protestaram contra os fornecimentos de armas russas ao Irão, alegando tratar-se de "um estado que apoia o terrorismo".

Além disso, afirmava-se que "se as forças armadas do Irão passarem a estar equipadas com armamentos que possam atingir barcos no Estreito de Ormuz, o preço mundial do petróleo poderá subir consideravelmente, porque parte significativa do petróleo dos países árabes passa por aí".

Porém, na nova conjuntura internacional, Moscovo espera maior compreensão do Ocidente e afirma não recear que os contactos militares com Teerão enfraqueçam a aliança internacional antiterrorista.

Pelo contrário, Serguei Ivanov revela a convicção de que o Irão "irá participar de uma ou de outra forma na operação antiterrorista no Afeganistão". Por exemplo, Moscovo sublinha que russos e iranianos estão juntos, há muito tempo, no apoio à Aliança do Norte, coligação afegã que combate os taliban.

O Kremlin não vê no Irão apenas um mercado promissor para os seus armamentos. Teerão é também um forte vizinho das costas do Mar Cáspio, um aliado para controlar um "dos maiores poços de petróleo do planeta", cobiçado - na análise dos geopolíticos russos - pelos EUA e outros países ocidentais.

Além disso, nos planos russos, o Irão é um dos parceiros fundamentais no mundo muçulmano, peça importante no "mundo multipolar", esquema defendido por Vladimir Putin em contraposição à hegemonia americana no mundo.

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