Reserva Federal norte americana baixa juros em 0,5 por cento

31-10-2001
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Reserva Federal Norte Americana Baixa Juros em 0,5 por Cento

Por ARTUR NEVES

Quarta-feira, 03 de Outubro de 2001

A nona redução do ano, colocou a principal taxa directora do banco central norte-americano abaixo da inflação. Apesar disso, Greenspan mostrou-se disponível para novos cortes.

O banco central norte-americano prosseguiu ontem a sua cruzada no sentido de evitar uma implosão dos mercados bolsistas, ameaça que pairava já antes de 11 de Setembro mas que se intensificou desde então. Pela nona vez em 2001, a máxima autoridade dos EUA cortou as suas taxas de juro. Pela segunda vez desde os ataques terroristas do mês passado, embarateceu o preço do dinheiro em novo meio ponto percentual, colocando-o ao nível mais baixo desde Maio de 1962. Wall Street, agradeceu, com os seus dois principais índices bolsistas a fecharem em alta.

A Reserva Federal norte-americana (popularmente conhecida por "Fed") já não deverá acreditar que a economia dos EUA escape a contracções em cada um dos últimos dois semestres deste ano. A recessão norte-americana é cada vez mais uma certeza. O seu objectivo parece ser o de a atenuar o mais possível, sabendo que metade dos agregados familiares do país dispõem de investimentos accionistas, sendo as suas despesas de consumo influenciadas pelo valor das suas carteiras. As taxas de crescimento do consumo privado, agregado macroeconómico que representa dois terços do PIB dos EUA, embora em franca desaceleração desde o ano passado, encontravam-se em Agosto ainda em território positivo. A "Fed" está agarrada ao seu comportamento como um náufrago a uma bóia.

Ao baixar as taxas de juro da economia, a "Fed" torna relativamente menos atractivos os activos financeiros de menor risco (como os depósitos à ordem), incentivando a sua troca por activos envolvendo maior risco (como as acções). Ao favorecer a compra de títulos na bolsa, a máxima autoridade monetária impede que as cotações se despenhem. O que introduz nesta conjuntura fortes distorções no mercado bolsista. Empresas directa ou indirectamente envolvidas em sectores que atravessam sérios problemas na sequência dos atentados de 11 de Setembro, como a indústria aeronáutica, os seguros e o turismo (para já não falar nos sectores que já se encontravam anémicos antes dessa data) vêem os seus títulos transaccionados a preços que não reflectem a sua situação económica e financeira, impedindo uma correcta reafectação de recursos na economia capaz de a lançar num novo ciclo de expansão.

(Ao colocar as taxas de juro directoras da economia abaixo da taxa de inflação, a "Fed" também torna o recurso ao crédito tendencialmente gratuito, o que também estimula o consumo)

Alan Greenspan, o venerado presidente da "Fed", para além de parecer encontrar-se neste momento refém do lobby bolsista, poderá ter que enfrentar a curto prazo um outro problema. Se o envolvimento militar dos EUA no combate às redes de terrorismo internacional se revelar maciço e duradouro, então a economia precisará indubitavelmente de choques de política monetária. Ora as munições vão-se esgotando... Ou será que a "velha raposa" está a contar que os investimentos no complexo militar-industrial, único sector que saiu claramente a ganhar com os atentados de Setembro, compensem o actual desinvestimento (por eliminação de excesso de capacidade produtiva) em curso e permitam uma inflexão do cenário económico já no início de 2002?

Reserva Federal Norte Americana Baixa Juros em 0,5 por Cento

Por ARTUR NEVES

Quarta-feira, 03 de Outubro de 2001

A nona redução do ano, colocou a principal taxa directora do banco central norte-americano abaixo da inflação. Apesar disso, Greenspan mostrou-se disponível para novos cortes.

O banco central norte-americano prosseguiu ontem a sua cruzada no sentido de evitar uma implosão dos mercados bolsistas, ameaça que pairava já antes de 11 de Setembro mas que se intensificou desde então. Pela nona vez em 2001, a máxima autoridade dos EUA cortou as suas taxas de juro. Pela segunda vez desde os ataques terroristas do mês passado, embarateceu o preço do dinheiro em novo meio ponto percentual, colocando-o ao nível mais baixo desde Maio de 1962. Wall Street, agradeceu, com os seus dois principais índices bolsistas a fecharem em alta.

A Reserva Federal norte-americana (popularmente conhecida por "Fed") já não deverá acreditar que a economia dos EUA escape a contracções em cada um dos últimos dois semestres deste ano. A recessão norte-americana é cada vez mais uma certeza. O seu objectivo parece ser o de a atenuar o mais possível, sabendo que metade dos agregados familiares do país dispõem de investimentos accionistas, sendo as suas despesas de consumo influenciadas pelo valor das suas carteiras. As taxas de crescimento do consumo privado, agregado macroeconómico que representa dois terços do PIB dos EUA, embora em franca desaceleração desde o ano passado, encontravam-se em Agosto ainda em território positivo. A "Fed" está agarrada ao seu comportamento como um náufrago a uma bóia.

Ao baixar as taxas de juro da economia, a "Fed" torna relativamente menos atractivos os activos financeiros de menor risco (como os depósitos à ordem), incentivando a sua troca por activos envolvendo maior risco (como as acções). Ao favorecer a compra de títulos na bolsa, a máxima autoridade monetária impede que as cotações se despenhem. O que introduz nesta conjuntura fortes distorções no mercado bolsista. Empresas directa ou indirectamente envolvidas em sectores que atravessam sérios problemas na sequência dos atentados de 11 de Setembro, como a indústria aeronáutica, os seguros e o turismo (para já não falar nos sectores que já se encontravam anémicos antes dessa data) vêem os seus títulos transaccionados a preços que não reflectem a sua situação económica e financeira, impedindo uma correcta reafectação de recursos na economia capaz de a lançar num novo ciclo de expansão.

(Ao colocar as taxas de juro directoras da economia abaixo da taxa de inflação, a "Fed" também torna o recurso ao crédito tendencialmente gratuito, o que também estimula o consumo)

Alan Greenspan, o venerado presidente da "Fed", para além de parecer encontrar-se neste momento refém do lobby bolsista, poderá ter que enfrentar a curto prazo um outro problema. Se o envolvimento militar dos EUA no combate às redes de terrorismo internacional se revelar maciço e duradouro, então a economia precisará indubitavelmente de choques de política monetária. Ora as munições vão-se esgotando... Ou será que a "velha raposa" está a contar que os investimentos no complexo militar-industrial, único sector que saiu claramente a ganhar com os atentados de Setembro, compensem o actual desinvestimento (por eliminação de excesso de capacidade produtiva) em curso e permitam uma inflexão do cenário económico já no início de 2002?

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