Regresso ao Altis

13-02-2002
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Regresso ao Altis

Por EUNICE LOURENÇO

Sexta-feira, 11 de Janeiro de 2002 Em 1992, o "grupo do Altis", que teria em Paulo Portas o cérebro e em Manuel Monteiro o rosto, mudou o CDS. Passados dez anos, o grupo está dividido entre os dois. Há dez anos um grupo de "jovens turcos" tomou conta do CDS e refundou-o como PP, um partido popular, populista e neo-liberal. A cara desse grupo era Manuel Monteiro, que, em Março de 1992, foi o rosto da renovação que ganhou o congresso a Basílio Horta, o qual, então, representava a continuidade de um partido que estava em vias de extinção, com apenas quatro deputados e quatro por cento dos votos. Com Monteiro estavam vários elementos que tinham feito com ele um caminho comum na Juventude Centrista. Mas estava também, ou sobretudo, Paulo Portas, que ainda não era sequer militante do CDS, mas que ficou para esta história como o cérebro, o criador, o ideólogo, o estratega do novo partido que era o PP. Passados dez anos, a cara e o cérebro, o criador e a criatura vão defrontar-se em congresso. E o que ficou conhecido como o "grupo do Altis", nome do hotel de Lisboa onde se realizou o congresso de 1992, está dividido. A maioria permanece do lado de Monteiro e os dois que estão ao lado de Portas - Luís Queiró e Luís Nobre Guedes - não queriam que este congresso se realizasse. Quanto às explicações para a divisão, não se encontram duas iguais, mas por todas perpassa a dimensão pessoal da relação entre Monteiro e Portas que já está a marcar este congresso. POR MONTEIRO Gonçalo Ribeiro da Costa Ex-secretário-geral do PP, ex-deputado, Gonçalo Ribeiro da Costa faz, como Jorge Ferreira, parte do grupo que acompanha Monteiro desde a JC. "O grupo do dr. Manuel Monteiro é anterior a 1992, mantém-se na íntegra e acrescentado de muitas pessoas", afirma Ribeiro da Costa, esclarecendo que pessoas como Luís Queiró ou Celeste Cardona "não eram do grupo original" e "toda a gente percebeu que não tinham um projecto comum - isso, depois, viu-se". Este ex-deputado, que desde que deixou a política regressou a tempo inteiro à sua actividade de advogado, diz que permanece com Monteiro porque têm uma perspectiva comum da forma de estar na política e do que deve ser feito no país. Jorge Ferreira "Há o grupo da JC e o grupo do Altis, que inclui pessoas que nunca foram militantes da JC", começa por explicar Jorge Ferreira, que foi líder parlamentar de Monteiro e é, desde sempre, o seu mais fiel escudeiro. Ao contrário de Ribeiro da Costa, Jorge Ferreira situa Luís Queiró nesses dois grupos, ou seja, como alguém que vem da JC e que está desde o início no grupo do Altis. Para este ex-deputado, "o grupo está dividido por razões que, em política, são um bocado naturais" e porque "as ambições políticas pessoais muitas vezes também se sobrepõem aos projectos políticos geracionais". E se alguém tem dúvidas sobre a dimensão pessoal deste embate, Ferreira esclarece: "Monteiro é uma pessoa consistente e credível, coisa que o actual líder do partido não é." E ainda: "O dr. Manuel Monteiro tem um projecto político para o país e os projectos para o país são mais importantes que as vaidades pessoais." Ricardo Vieira Se para Jorge Ferreira, a divisão do grupo do Altis se deve à sobreposição de vaidades pessoais a projectos políticos, já Ricardo Vieira situa essa divisão num tema político que a certa altura foi central para o PP: a questão europeia. "O que fez dividir o grupo provavelmente foi a questão europeia ou uma certa atracção que alguns dirigentes do CDS sempre tiveram pelo politicamente correcto, por uma certa consensualidade", explica este ex-líder do PP na Madeira, que está na origem do grupo do Altis. O grupo começou, aliás, a formar-se no congresso da Póvoa de Varzim, no qual Freitas do Amaral regressou à liderança do partido e um grupo de militantes patrocinou uma lista de candidatos ao conselho nacional que era encabeçada por Ricardo Vieira. Quanto às razões que o levam a permanecer do lado de Monteiro, defende que ele é "mais seguro nos princípios e nas ideias que tem para o país". E acrescenta: "O dr. Paulo Portas teve a ambição. O dr. Manuel Monteiro era o líder natural." Hoje, Ricardo Vieira é o único a manifestar alguma nostalgia pelo grupo que se desfez. "Passámos momentos agradáveis. Tenho alguma pena porque acho que era engraçado manter aquele espírito. Mas é a vida", disse ao PÚBLICO. Fernando Pais Afonso "O grupo do Altis é um conceito que não conheço", começa por dizer Pais Afonso, que esteve nas direcções de Adriano Moreira e Manuel Monteiro. Em 1994 saiu porque entende que a política implica "uma opção de vida" e ele fê-la escolhendo a vida profissional, sendo hoje secretário-geral do Instituto Técnico para a Indústria da Construção. Mas como "militante cumpridor e institucionalista" que se diz ser apresentou a candidatura a delegado ao congresso. Se for eleito, vai apoiar Manuel Monteiro, porque na política "uma grande amizade também pesa" e eles são amigos há muitos anos. Além disso, acrescenta: "Estou convencido de que é a pessoa capaz de conduzir o CDS-PP a uma reorganização que o torne mais próximo dos militantes e está em condições de apresentar um projecto mobilizador para o país." POR PORTAS Luís Queiró "Eu estou no mesmo sítio em termos de ideias e de valores", garante Luís Queiró, um dos poucos membros do "grupo do Altis" que agora não está com Monteiro. Hoje eurodeputado, Queiró passou para o lado de Paulo Portas no congresso de Braga, em 1998, e assumiu a seguir o cargo de líder parlamentar. Aí teve de lidar diariamente com uma bancada pejada de monteiristas, como Jorge Ferreira ou Nuno Correia da Silva, e onde ainda brilhava Maria José Nogueira Pinto. Hoje está com Portas porque entende que "o partido, com a actual direcção, garante que continua a ser um partido com autonomia estratégica". Ou seja, Luís Queiró entende que Portugal deve ter um "governo de mudança" que resulte de uma aliança entre o PSD e o CDS-PP, mas essa aliança deve ser feita num quadro de colaboração e "não porque outros acham que deve ser este ou aquele a liderar o CDS". Garantindo que não tem "nostalgia em especial" pelos tempos em que integrou o "grupo do Altis", Luís Queiró conclui que o CDS-PP continua a fazer a afirmação dos valores em que se revê desde 1976: "As razões que me levaram a entrar no partido são as mesmas que me fazem permanecer." Luís Nobre Guedes É o único que não quer falar. Luís Nobre Guedes, o homem que indicou a porta de saída a Monteiro e abriu o partido a Paulo Portas, remete para o congresso tudo o que tiver a dizer sobre o partido e cada um dos candidatos. Esteve no grupo do Altis, mas há quem o acuse de lá ter estado com "reserva mental" e de já então estar a preparar o partido para Paulo Portas. Será, porventura, o mais liberal em termos económicos dos que permanecem na direcção. OS OUTROS Nuno Abecasis Conta Jorge Ferreira, que, antes do congresso de 1992, Manuel Monteiro ainda foi ter com Nuno Krus Abecasis para que fosse ele o candidato do que viria a ser o "grupo do Altis" e disputasse o partido a Basílio Horta. "Não sou eu. És tu!", terá respondido Abecasis. "Depois esteve sempre connosco e nunca quis nada", lembra Ferreira. Krus Abecasis, sem fazer parte do grupo do Altis, foi, assim, o único rosto do antigo CDS a integrar a direcção de Monteiro. Adriano Moreira - que decidiu o congresso do Altis ao anunciar, na noite que antecedeu as votações, o seu apoio a Monteiro - acabou depois por distanciar-se. Lobo Xavier Era o terceiro candidato no congresso do Altis e conseguiu apenas cinco por cento dos votos. Passado um mês já estava a colaborar com Monteiro em matérias da área fiscal e económica, que são a sua especialidade. Integrou as listas em 1995, fazendo parte do mesmo grupo parlamentar que Paulo Portas, Manuela Moura Guedes e Manuel da Silva Carvalho. Todos saíram em 1997 depois do "golpe da caneta". Hoje está com Portas, mas continua pouco disponível para a política. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Acerto de contas no CDS-PP

Um partido a votos

CDS-PP "esquece" questão europeia

Portas insiste na AD

As moções

Regresso ao Altis

Um partido em angústia permanente

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Sexta-feira, 11 de Janeiro de 2002 Em 1992, o "grupo do Altis", que teria em Paulo Portas o cérebro e em Manuel Monteiro o rosto, mudou o CDS. Passados dez anos, o grupo está dividido entre os dois. Há dez anos um grupo de "jovens turcos" tomou conta do CDS e refundou-o como PP, um partido popular, populista e neo-liberal. A cara desse grupo era Manuel Monteiro, que, em Março de 1992, foi o rosto da renovação que ganhou o congresso a Basílio Horta, o qual, então, representava a continuidade de um partido que estava em vias de extinção, com apenas quatro deputados e quatro por cento dos votos. Com Monteiro estavam vários elementos que tinham feito com ele um caminho comum na Juventude Centrista. Mas estava também, ou sobretudo, Paulo Portas, que ainda não era sequer militante do CDS, mas que ficou para esta história como o cérebro, o criador, o ideólogo, o estratega do novo partido que era o PP. Passados dez anos, a cara e o cérebro, o criador e a criatura vão defrontar-se em congresso. E o que ficou conhecido como o "grupo do Altis", nome do hotel de Lisboa onde se realizou o congresso de 1992, está dividido. A maioria permanece do lado de Monteiro e os dois que estão ao lado de Portas - Luís Queiró e Luís Nobre Guedes - não queriam que este congresso se realizasse. Quanto às explicações para a divisão, não se encontram duas iguais, mas por todas perpassa a dimensão pessoal da relação entre Monteiro e Portas que já está a marcar este congresso. POR MONTEIRO Gonçalo Ribeiro da Costa Ex-secretário-geral do PP, ex-deputado, Gonçalo Ribeiro da Costa faz, como Jorge Ferreira, parte do grupo que acompanha Monteiro desde a JC. "O grupo do dr. Manuel Monteiro é anterior a 1992, mantém-se na íntegra e acrescentado de muitas pessoas", afirma Ribeiro da Costa, esclarecendo que pessoas como Luís Queiró ou Celeste Cardona "não eram do grupo original" e "toda a gente percebeu que não tinham um projecto comum - isso, depois, viu-se". Este ex-deputado, que desde que deixou a política regressou a tempo inteiro à sua actividade de advogado, diz que permanece com Monteiro porque têm uma perspectiva comum da forma de estar na política e do que deve ser feito no país. Jorge Ferreira "Há o grupo da JC e o grupo do Altis, que inclui pessoas que nunca foram militantes da JC", começa por explicar Jorge Ferreira, que foi líder parlamentar de Monteiro e é, desde sempre, o seu mais fiel escudeiro. Ao contrário de Ribeiro da Costa, Jorge Ferreira situa Luís Queiró nesses dois grupos, ou seja, como alguém que vem da JC e que está desde o início no grupo do Altis. Para este ex-deputado, "o grupo está dividido por razões que, em política, são um bocado naturais" e porque "as ambições políticas pessoais muitas vezes também se sobrepõem aos projectos políticos geracionais". E se alguém tem dúvidas sobre a dimensão pessoal deste embate, Ferreira esclarece: "Monteiro é uma pessoa consistente e credível, coisa que o actual líder do partido não é." E ainda: "O dr. Manuel Monteiro tem um projecto político para o país e os projectos para o país são mais importantes que as vaidades pessoais." Ricardo Vieira Se para Jorge Ferreira, a divisão do grupo do Altis se deve à sobreposição de vaidades pessoais a projectos políticos, já Ricardo Vieira situa essa divisão num tema político que a certa altura foi central para o PP: a questão europeia. "O que fez dividir o grupo provavelmente foi a questão europeia ou uma certa atracção que alguns dirigentes do CDS sempre tiveram pelo politicamente correcto, por uma certa consensualidade", explica este ex-líder do PP na Madeira, que está na origem do grupo do Altis. O grupo começou, aliás, a formar-se no congresso da Póvoa de Varzim, no qual Freitas do Amaral regressou à liderança do partido e um grupo de militantes patrocinou uma lista de candidatos ao conselho nacional que era encabeçada por Ricardo Vieira. Quanto às razões que o levam a permanecer do lado de Monteiro, defende que ele é "mais seguro nos princípios e nas ideias que tem para o país". E acrescenta: "O dr. Paulo Portas teve a ambição. O dr. Manuel Monteiro era o líder natural." Hoje, Ricardo Vieira é o único a manifestar alguma nostalgia pelo grupo que se desfez. "Passámos momentos agradáveis. Tenho alguma pena porque acho que era engraçado manter aquele espírito. Mas é a vida", disse ao PÚBLICO. Fernando Pais Afonso "O grupo do Altis é um conceito que não conheço", começa por dizer Pais Afonso, que esteve nas direcções de Adriano Moreira e Manuel Monteiro. Em 1994 saiu porque entende que a política implica "uma opção de vida" e ele fê-la escolhendo a vida profissional, sendo hoje secretário-geral do Instituto Técnico para a Indústria da Construção. Mas como "militante cumpridor e institucionalista" que se diz ser apresentou a candidatura a delegado ao congresso. Se for eleito, vai apoiar Manuel Monteiro, porque na política "uma grande amizade também pesa" e eles são amigos há muitos anos. Além disso, acrescenta: "Estou convencido de que é a pessoa capaz de conduzir o CDS-PP a uma reorganização que o torne mais próximo dos militantes e está em condições de apresentar um projecto mobilizador para o país." POR PORTAS Luís Queiró "Eu estou no mesmo sítio em termos de ideias e de valores", garante Luís Queiró, um dos poucos membros do "grupo do Altis" que agora não está com Monteiro. Hoje eurodeputado, Queiró passou para o lado de Paulo Portas no congresso de Braga, em 1998, e assumiu a seguir o cargo de líder parlamentar. Aí teve de lidar diariamente com uma bancada pejada de monteiristas, como Jorge Ferreira ou Nuno Correia da Silva, e onde ainda brilhava Maria José Nogueira Pinto. Hoje está com Portas porque entende que "o partido, com a actual direcção, garante que continua a ser um partido com autonomia estratégica". Ou seja, Luís Queiró entende que Portugal deve ter um "governo de mudança" que resulte de uma aliança entre o PSD e o CDS-PP, mas essa aliança deve ser feita num quadro de colaboração e "não porque outros acham que deve ser este ou aquele a liderar o CDS". Garantindo que não tem "nostalgia em especial" pelos tempos em que integrou o "grupo do Altis", Luís Queiró conclui que o CDS-PP continua a fazer a afirmação dos valores em que se revê desde 1976: "As razões que me levaram a entrar no partido são as mesmas que me fazem permanecer." Luís Nobre Guedes É o único que não quer falar. Luís Nobre Guedes, o homem que indicou a porta de saída a Monteiro e abriu o partido a Paulo Portas, remete para o congresso tudo o que tiver a dizer sobre o partido e cada um dos candidatos. Esteve no grupo do Altis, mas há quem o acuse de lá ter estado com "reserva mental" e de já então estar a preparar o partido para Paulo Portas. Será, porventura, o mais liberal em termos económicos dos que permanecem na direcção. OS OUTROS Nuno Abecasis Conta Jorge Ferreira, que, antes do congresso de 1992, Manuel Monteiro ainda foi ter com Nuno Krus Abecasis para que fosse ele o candidato do que viria a ser o "grupo do Altis" e disputasse o partido a Basílio Horta. "Não sou eu. És tu!", terá respondido Abecasis. "Depois esteve sempre connosco e nunca quis nada", lembra Ferreira. Krus Abecasis, sem fazer parte do grupo do Altis, foi, assim, o único rosto do antigo CDS a integrar a direcção de Monteiro. Adriano Moreira - que decidiu o congresso do Altis ao anunciar, na noite que antecedeu as votações, o seu apoio a Monteiro - acabou depois por distanciar-se. Lobo Xavier Era o terceiro candidato no congresso do Altis e conseguiu apenas cinco por cento dos votos. Passado um mês já estava a colaborar com Monteiro em matérias da área fiscal e económica, que são a sua especialidade. Integrou as listas em 1995, fazendo parte do mesmo grupo parlamentar que Paulo Portas, Manuela Moura Guedes e Manuel da Silva Carvalho. Todos saíram em 1997 depois do "golpe da caneta". Hoje está com Portas, mas continua pouco disponível para a política. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Acerto de contas no CDS-PP

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