EXPRESSO: Opinião

05-04-2001
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«ESTA SERÁ a batalha da minha vida. Aposto no tudo ou nada», enfatizou Paulo Portas, esta semana, ao reiterar que não desistirá da corrida à Câmara Municipal de Lisboa, apesar da candidatura de Santana Lopes e dos riscos que assume com tal gesto. A frase do líder do PP retrata, melhor do que qualquer análise política, o apertado dilema e o grau de desespero que envolveram esta decisão política de Portas.

Ao lançar a sua candidatura há um ano, a par da desventurada candidatura de Basílio Horta a Belém, num emotivo Congresso de um PP acossado pela estratégia do PSD, Portas agiu prematura e irreflectidamente. Meteu-se dentro de um carro sem travões, cuja trajectória deixou de controlar na totalidade. Ao longo de muitos meses, o carro manteve-se em terreno plano, sem grandes dificuldades a não ser a curva apertada em que se converteu a desistência de Basílio. Com o lançamento da candidatura de Santana Lopes pelo PSD, o carro entrou numa descida perigosa, ainda sem travões. E Paulo Portas ficou apenas com duas alternativas, qual delas a pior e mais arriscada.

Ou saltava já com o carro em andamento a uma velocidade razoável, desistindo a favor de Santana Lopes, do princípio da unidade do centro-direita e da derrota do bloco de esquerda PS/PCP na emblemática capital do país. Sabendo que esse salto podia ter como consequência uma queda fatal, ficando em parte refém do PSD, sem contrapartidas políticas, e correndo o risco de os portugueses deixarem de o levar a sério após desistir de duas candidaturas consecutivas lançadas com pompa e circunstância.

Ou, alternativa escolhida por Portas, o «tudo ou nada»: manter-se ao volante do carro até ao fim da descida, tentando controlar a direcção, o desastre e os danos políticos que se adivinham. Se a lógica do «voto útil» reduzir os 10% que agora lhe dão as sondagens para o nível dos 5%, ajudando em acumulação João Soares e o PCP a manterem-se na Câmara, será o fim da sua liderança (se não desistir mesmo à boca das urnas...). Se conseguir um resultado perto dos 10% poderá salvar-se. E mostrar ao PSD que o PP é imprescindível para regressar ao poder.

Resta lembrar que Portas poderia ter evitado este dramático dilema. Se não fosse tão voluntarista e politicamente imaturo. Se, em vez de lançar uma candidatura infantil e extemporânea, tivesse obrigado o PSD a negociar um acordo sério e vantajoso para ambas as partes nas eleições autárquicas.

J.A.L.

E-mail: jalima@mail.expresso.pt

«ESTA SERÁ a batalha da minha vida. Aposto no tudo ou nada», enfatizou Paulo Portas, esta semana, ao reiterar que não desistirá da corrida à Câmara Municipal de Lisboa, apesar da candidatura de Santana Lopes e dos riscos que assume com tal gesto. A frase do líder do PP retrata, melhor do que qualquer análise política, o apertado dilema e o grau de desespero que envolveram esta decisão política de Portas.

Ao lançar a sua candidatura há um ano, a par da desventurada candidatura de Basílio Horta a Belém, num emotivo Congresso de um PP acossado pela estratégia do PSD, Portas agiu prematura e irreflectidamente. Meteu-se dentro de um carro sem travões, cuja trajectória deixou de controlar na totalidade. Ao longo de muitos meses, o carro manteve-se em terreno plano, sem grandes dificuldades a não ser a curva apertada em que se converteu a desistência de Basílio. Com o lançamento da candidatura de Santana Lopes pelo PSD, o carro entrou numa descida perigosa, ainda sem travões. E Paulo Portas ficou apenas com duas alternativas, qual delas a pior e mais arriscada.

Ou saltava já com o carro em andamento a uma velocidade razoável, desistindo a favor de Santana Lopes, do princípio da unidade do centro-direita e da derrota do bloco de esquerda PS/PCP na emblemática capital do país. Sabendo que esse salto podia ter como consequência uma queda fatal, ficando em parte refém do PSD, sem contrapartidas políticas, e correndo o risco de os portugueses deixarem de o levar a sério após desistir de duas candidaturas consecutivas lançadas com pompa e circunstância.

Ou, alternativa escolhida por Portas, o «tudo ou nada»: manter-se ao volante do carro até ao fim da descida, tentando controlar a direcção, o desastre e os danos políticos que se adivinham. Se a lógica do «voto útil» reduzir os 10% que agora lhe dão as sondagens para o nível dos 5%, ajudando em acumulação João Soares e o PCP a manterem-se na Câmara, será o fim da sua liderança (se não desistir mesmo à boca das urnas...). Se conseguir um resultado perto dos 10% poderá salvar-se. E mostrar ao PSD que o PP é imprescindível para regressar ao poder.

Resta lembrar que Portas poderia ter evitado este dramático dilema. Se não fosse tão voluntarista e politicamente imaturo. Se, em vez de lançar uma candidatura infantil e extemporânea, tivesse obrigado o PSD a negociar um acordo sério e vantajoso para ambas as partes nas eleições autárquicas.

J.A.L.

E-mail: jalima@mail.expresso.pt

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