Sampaio tinha aceite nomear Basílio Horta

31-10-2000
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Basílio aproveitou o almoço em S. Bento para confirmar junto de Sampaio se este não se opunha ao seu nome, já que, nesse dia, «O Independente» afirmava que Basílio Horta suscitava reservas, nomeadamente pelo seu perfil contundente, de que a campanha que fez em 91 contra Mário Soares (outro membro do Conselho) fora um excelente exemplo.

Jorge Sampaio foi muito claro: não só não tinha reservas como teria «muita honra» em ver Basílio entre os conselheiros. Basílio ainda lhe perguntou se deveriam pedir-lhe uma audiência, ao que o PR respondeu não ser necessário. O convite seguiria a seu tempo.

Dias depois, Jorge Sampaio telefona a Paulo Portas e para o escritório de Basílio Horta. Estava «muito incomodado» porque, ao rever processos antigos, verificou que as vagas que antes cedera aos partidos que não ascendem ao Conselho por direito próprio foram sempre para os respectivos líderes. Ou seja, o lugar só poderia ser para Paulo Portas. Basílio disse-lhe que ficasse à vontade.

«Deus escreve direito por linhas tortas»

Em Dezembro, correm rumores de que João Cravinho sobe ao Conselho de Estado, mas Belém não confirma. E, na segunda-feira, Sampaio convida Portas. Este recusa e explica que o PR «conhecia os factos» e que, ao convidá-lo, sabia da sua «indisponibilidade para aceitar o convite». O seu compromisso com o fundador do partido era parte sabida da história e impedia-o de recuar.

Mal Portas recusa, Sampaio convida Cravinho. Que aceita. Os socialistas vislumbram uma «bofetada de luva branca» de Sampaio nos que afastaram Cravinho do Governo. Mas na quinta-feira, na cerimónia de posse, Guterres parecia aliviado: «Deus escreve direito por linhas tortas», comentou o primeiro-ministro em Belém.

A título justificativo da escolha de João Cravinho, um assessor do chefe de Estado destaca «o grande currículo e a grande experiência política» daquele socialista. Acrescentando que o Presidente «não quis ficar limitado por qualquer polémica recente».

A polémica, recorde-se, passa pelas insinuações tornadas públicas pelo ex-ministro sobre as razões que terão contribuído para o seu afastamento do Governo. Cravinho enfureceu Guterres e sobretudo Jorge Coelho ao dizer que o anterior Governo, e ele próprio, tinham sido derrotados por «'lobbies' poderosíssimos». O que torna a escolha de Sampaio, neste momento, um gesto de reparação a Cravinho com um enorme significado político.

Além de Cravinho, ascenderam, pela primeira vez, ao Conselho de Estado Marcelo Rebelo de Sousa e João Soares. Este último fará, com Cravinho, uma curiosa dupla à mesa de Jorge Sampaio, já que são conhecidas as difíceis relações entre ambos e, tanto um como o outro, simbolizam duas potenciais tendências na cada vez mais próxima batalha pela sucessão dentro do Partido Socialista.

ÂNGELA SILVA

Basílio aproveitou o almoço em S. Bento para confirmar junto de Sampaio se este não se opunha ao seu nome, já que, nesse dia, «O Independente» afirmava que Basílio Horta suscitava reservas, nomeadamente pelo seu perfil contundente, de que a campanha que fez em 91 contra Mário Soares (outro membro do Conselho) fora um excelente exemplo.

Jorge Sampaio foi muito claro: não só não tinha reservas como teria «muita honra» em ver Basílio entre os conselheiros. Basílio ainda lhe perguntou se deveriam pedir-lhe uma audiência, ao que o PR respondeu não ser necessário. O convite seguiria a seu tempo.

Dias depois, Jorge Sampaio telefona a Paulo Portas e para o escritório de Basílio Horta. Estava «muito incomodado» porque, ao rever processos antigos, verificou que as vagas que antes cedera aos partidos que não ascendem ao Conselho por direito próprio foram sempre para os respectivos líderes. Ou seja, o lugar só poderia ser para Paulo Portas. Basílio disse-lhe que ficasse à vontade.

«Deus escreve direito por linhas tortas»

Em Dezembro, correm rumores de que João Cravinho sobe ao Conselho de Estado, mas Belém não confirma. E, na segunda-feira, Sampaio convida Portas. Este recusa e explica que o PR «conhecia os factos» e que, ao convidá-lo, sabia da sua «indisponibilidade para aceitar o convite». O seu compromisso com o fundador do partido era parte sabida da história e impedia-o de recuar.

Mal Portas recusa, Sampaio convida Cravinho. Que aceita. Os socialistas vislumbram uma «bofetada de luva branca» de Sampaio nos que afastaram Cravinho do Governo. Mas na quinta-feira, na cerimónia de posse, Guterres parecia aliviado: «Deus escreve direito por linhas tortas», comentou o primeiro-ministro em Belém.

A título justificativo da escolha de João Cravinho, um assessor do chefe de Estado destaca «o grande currículo e a grande experiência política» daquele socialista. Acrescentando que o Presidente «não quis ficar limitado por qualquer polémica recente».

A polémica, recorde-se, passa pelas insinuações tornadas públicas pelo ex-ministro sobre as razões que terão contribuído para o seu afastamento do Governo. Cravinho enfureceu Guterres e sobretudo Jorge Coelho ao dizer que o anterior Governo, e ele próprio, tinham sido derrotados por «'lobbies' poderosíssimos». O que torna a escolha de Sampaio, neste momento, um gesto de reparação a Cravinho com um enorme significado político.

Além de Cravinho, ascenderam, pela primeira vez, ao Conselho de Estado Marcelo Rebelo de Sousa e João Soares. Este último fará, com Cravinho, uma curiosa dupla à mesa de Jorge Sampaio, já que são conhecidas as difíceis relações entre ambos e, tanto um como o outro, simbolizam duas potenciais tendências na cada vez mais próxima batalha pela sucessão dentro do Partido Socialista.

ÂNGELA SILVA

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