Cem pedidos por dia em Coimbra

08-08-2001
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Cem Pedidos por Dia em Coimbra

Domingo, 5 de Agosto de 2001 Os funcionários despacham um pedido em cada três minutos Ainda mal acabara de entrar, esbaforida, na sala do Governo Civil de Coimbra, já Maria do Carmo Martins era interpelada: "Passaporte? Era só até às quatro...". Às 16h01, a funcionária suspira, aliviada, provavelmente por serem 16h01. Se a média diária dos últimos dois meses tiver sido cumprida, ela e uma colega receberam, desde as 9h00, cerca de cem pedidos de passaporte. O que, deitando as contas ao período em que o serviço está aberto, significa que despacharam um pedido a cada três minutos, mais coisa, menos coisa. É aquele ritmo de trabalho que faz com que Madalena Martinho, a técnica de informática à qual cabe fazer todos - todos - os passaportes, abra os braços em sinal de impotência, quando alguém reclama por o prazo de entrega "normal" ter passado de dez para 15 dias úteis (por 6.850$00) e o "urgente" de três para cinco (por 8.850$00). "Somos três pessoas - duas de nós no atendimento - não podemos fazer mais", lamenta, lembrando que chegam a deslocar-se a Coimbra pessoas cuja pressa é incompatível com a "urgência" que se pratica em Lisboa. Na presença do adjunto do governador civil, Madalena diz que não serviria de nada ter mais funcionários, mas não explica porquê. Sabe, sim, que cada vez há mais pedidos, embora acrescente que não sabe avaliar até que ponto isso não terá a ver com as regras impostas pelos novos padrões de segurança, que acabaram com os passaportes familiares, multiplicando o número de gestos que, ainda por cima, se complicaram com digitalização da foto e da assinatura. Certo, diz Madalena Martinho, é que "os portugueses deixam tudo para a última hora", entupindo os serviços nas épocas altas e agravando problemas pontuais, como o da avaria de uma máquina que recentemente paralisou os trabalhos durante três dias. Por terem consciência disso, Luís Almeida e Luís Breda, um de cada vez, pagam sem protestar o preço da "urgência" ou, no caso, o preço do "deixa andar". Já Maria do Carmo Martins, que chegou com um minuto de atraso, preferiu adiar as férias quando, uns dias antes, descobriu o tempo que demorava a obter o passaporte. "Prefiro jogar pelo seguro a ficar em terra e recuso-me a pagar mais [dois contos] do que aquilo a que tenho obrigação!", protestou, antes de adiar a burocracia para o dia seguinte. Graça Barbosa Ribeiro OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE O calvário dos passaportes

As alterações

Até os políticos vão a Beja tirar passaporte

Passaportes no Porto com mais de uma semana de atraso

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E no resto do país

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