"Nada de especial"

20-03-2002
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A campanha vista pelos Grácios

"Nada de Especial"

Por GRAÇA BARBOSA RIBEIRO

Quarta-feira, 6 de Março de 2002

Em Coimbra, a família Grácio segue a campanha sem entusiasmo. Mas, embora os seus elementos distribuam críticas pelos políticos, pelos partidos, pela comunicação social e até pelos eleitores, há quem se deixe sensiblizar pelos argumentos do PS

Frederico, de 13 anos, descobriu ontem que, apesar de desde há semanas não ver outra coisa senão políticos na televisão e cartazes na rua, só agora é que está a começar a campanha eleitoral. E esta é apresentada como a grande novidade, em termos de legislativas, pela família Grácio, de Coimbra. De resto, "nada de especial", diz Rui.

Rui Grácio, empresário, de 41 anos, ligou o rádio várias vezes, mas desligou-o sempre irritado. "Estádios e futebol, futebol e estádios...", resume. O assunto interessa-lhe, mas desilude-o a "instrumentalização" que os políticos fazem dele, transformando as questões do Euro 2004 em "armas de arremesso", quando "o que fazia sentido era que estivessem a falar dos projectos que têm para o país". Ainda espreitou os tempos de antena, mas não foi daí que lhe veio o consolo. "Falam de IVA e de IRC e dizem que os vão aumentar ou baixar, mas esquecem-se de explicar qual o fundamento e as consequências destas medidas", protesta.

Ainda indeciso sobre se vota PS ("para impedir a vitória do PSD") ou Bloco de Esquerda, Rui diz que "é lamentável e sintoma da nossa pequenez a quase exclusão [pela comunicação social] dos pequenos partidos". E as consequências disso estão à vista, porque ele próprio admite que, ontem, foi sensível aos argumentos de Elisa Ferreira num debate radiofónico. "De facto, com a tendência que há para reduzir a zero a governação socialista, às vezes esquecemo-nos de que também foram feitas coisas positivas, é bom que as lembrem", explica.

A SIC Notícias deu uma ajuda nesse sentido, com um programa sobre a tragédia de Entre-os-Rios. Rui gostou de saber que, "apesar do motivo ser mau, pelo menos a população beneficiou do grande investimento que ali foi feito por este Governo". Mas a mulher, Paula, não leu o programa da mesma maneira. Refere-se a ele como se fosse uma iniciativa de campanha, porque achou "estranho" que a TV tenha "valorizado tanto o investimento feito e tão pouco a dor daquela gente". "Não, não foi inocente, foi propaganda à obra do PS", diz, para explicar que "o aproveitamento" a impediu de ficar sensibilizada com a lista da obra feita. Mais não viu e explica porquê: "Tenho tido os dias muito ocupados e não me apercebi de que houvesse alguma coisa que merecesse que eu arranjasse tempo para lhe dar atenção".

Quem marcou pontos junto de Ricardo, de 16 anos, foram "os pequenos partidos". Não os suficientes, porque Ricardo não tem a certeza de qual deles o impressionou, através de um "tempo de antena" na TV. Sabe que era "pequeno" e que explorou a questão da preservação do património natural. "É estranho que os partidos que apresentam propostas mais coerentes sejam os que têm menos adesão", diz.

Com uma péssima imagem dos políticos, não despreza a política nem afasta a hipótese de um dia vir a entrar nesse mundo. Garante, contudo, que, se um dia estiver no lugar dos actuais líderes partidários "será honesto" - "Porque é que nunca os ouvimos dizer: 'Errei, assumo que errei'?".

A campanha vista pelos Grácios

"Nada de Especial"

Por GRAÇA BARBOSA RIBEIRO

Quarta-feira, 6 de Março de 2002

Em Coimbra, a família Grácio segue a campanha sem entusiasmo. Mas, embora os seus elementos distribuam críticas pelos políticos, pelos partidos, pela comunicação social e até pelos eleitores, há quem se deixe sensiblizar pelos argumentos do PS

Frederico, de 13 anos, descobriu ontem que, apesar de desde há semanas não ver outra coisa senão políticos na televisão e cartazes na rua, só agora é que está a começar a campanha eleitoral. E esta é apresentada como a grande novidade, em termos de legislativas, pela família Grácio, de Coimbra. De resto, "nada de especial", diz Rui.

Rui Grácio, empresário, de 41 anos, ligou o rádio várias vezes, mas desligou-o sempre irritado. "Estádios e futebol, futebol e estádios...", resume. O assunto interessa-lhe, mas desilude-o a "instrumentalização" que os políticos fazem dele, transformando as questões do Euro 2004 em "armas de arremesso", quando "o que fazia sentido era que estivessem a falar dos projectos que têm para o país". Ainda espreitou os tempos de antena, mas não foi daí que lhe veio o consolo. "Falam de IVA e de IRC e dizem que os vão aumentar ou baixar, mas esquecem-se de explicar qual o fundamento e as consequências destas medidas", protesta.

Ainda indeciso sobre se vota PS ("para impedir a vitória do PSD") ou Bloco de Esquerda, Rui diz que "é lamentável e sintoma da nossa pequenez a quase exclusão [pela comunicação social] dos pequenos partidos". E as consequências disso estão à vista, porque ele próprio admite que, ontem, foi sensível aos argumentos de Elisa Ferreira num debate radiofónico. "De facto, com a tendência que há para reduzir a zero a governação socialista, às vezes esquecemo-nos de que também foram feitas coisas positivas, é bom que as lembrem", explica.

A SIC Notícias deu uma ajuda nesse sentido, com um programa sobre a tragédia de Entre-os-Rios. Rui gostou de saber que, "apesar do motivo ser mau, pelo menos a população beneficiou do grande investimento que ali foi feito por este Governo". Mas a mulher, Paula, não leu o programa da mesma maneira. Refere-se a ele como se fosse uma iniciativa de campanha, porque achou "estranho" que a TV tenha "valorizado tanto o investimento feito e tão pouco a dor daquela gente". "Não, não foi inocente, foi propaganda à obra do PS", diz, para explicar que "o aproveitamento" a impediu de ficar sensibilizada com a lista da obra feita. Mais não viu e explica porquê: "Tenho tido os dias muito ocupados e não me apercebi de que houvesse alguma coisa que merecesse que eu arranjasse tempo para lhe dar atenção".

Quem marcou pontos junto de Ricardo, de 16 anos, foram "os pequenos partidos". Não os suficientes, porque Ricardo não tem a certeza de qual deles o impressionou, através de um "tempo de antena" na TV. Sabe que era "pequeno" e que explorou a questão da preservação do património natural. "É estranho que os partidos que apresentam propostas mais coerentes sejam os que têm menos adesão", diz.

Com uma péssima imagem dos políticos, não despreza a política nem afasta a hipótese de um dia vir a entrar nesse mundo. Garante, contudo, que, se um dia estiver no lugar dos actuais líderes partidários "será honesto" - "Porque é que nunca os ouvimos dizer: 'Errei, assumo que errei'?".

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