Um homem de humores

19-02-2001
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PERFIL

Um Homem de Humores

Por GRAÇA BARBOSA RIBEIRO

Sexta-feira, 5 de Janeiro de 2001 "Já o estou a ver a entrar aqui e a dizer: 'Viram?! Viram os portugueses todos a aplaudir-me? Isto tem de ser mesmo assim, que este país é uma república das bananas!". É assim que algumas pessoas de Cernache imaginam o regresso de Manuel Subtil àquela terra dos arredores de Coimbra, onde o ex-emigrante vive há cerca de oito anos. "Há-de entrar bem disposto, de abrir os braços a dizer 'Viram?!'", insiste uma amiga da família. Em Cernache, não é à primeira que se encontra quem diga mal de Manuel Subtil, de 47 anos. Ou apenas o conhecem de vista, que ele "pouco pára no mesmo sítio", "sempre envolvido nos seus negócios", ou se renderam aos seus encantos. "Um homem trabalhador, combativo, generoso, bem-disposto, de palavra fácil, enérgico, cativante" - assim o definem algumas pessoas que com ele convivem de perto. Não escondem, porém, que ele "gosta de dinheiro" e é um homem "de humores". "É nervoso, fuma cigarro atrás de cigarro" e, fala-se - e as pessoas sublinham isso: "fala-se, porque nunca vimos" - , que não é meigo com os empregados, que não ficam muito tempo ao seu serviço. Mas até esse facto é atribuído ao seu dinamismo: "Não é homem para meias tintas, é muito exigente...", explicam. Aquilo a que chamam dinamismo, porém, poderia ser traduzido por instabilidade: em cerca de de oito anos, já em Cernache, fundou um jornal do qual sairam dois ou três números, vendeu frango assado ao domicílio, abriu uma peixaria, criou uma empresa de reparações, uma exportadora de produtos alimentares para França e uma leiloeira. Assim como abriam, as empresas foram fechando, e lá não se sabe porquê. A mulher é o seu braço direito, dizem. Tanto nos negócios como no apoio e na resistência a uma vida familiar conturbada. Odete recebe de quinze em quinze dias o neto de Manuel Subtil, filho de uma jovem da qual ele foi pai em solteiro; e criou a menina de seis anos, filha dele e de uma sócia da leiloeira. Dizem algumas pessoas, em Cernache, que ele luta por refazer a vida - e a imagem? - depois do regresso de França. Mas pouco sabem do passado deste homem (que nasceu no concelho de Pombal) para além do que um familiar terá confidenciado: que Subtil não só vivia bem como era respeitado, em França, e que, "depois da reportagem da RTP", lhe ficou "a amargura de ter visto muitos amigos voltarem-lhe as costas". "Mas não é homem para se queixar... Pelo contrário: gosta de mostrar que está sempre por cima", descreve-o um amigo. Mesmo os mais próximos, frequentadores da sua casa, em Cernache, só ontem ficaram conhecer o lado oculto da vida de Subtil, um homem que já em 1984 ameaçou suicidar-se numa casa de banho da Casa da Alfândega, em Lisboa. Acham, agora, disso e das outras manifestações - vigílias e uma greve de fome, já por causa do caso com a RTP - que "tudo não passa de encenação". Já em França, Subtil não é, aparentemente, estimado, apesar de em Cernache algumas pessoas garantirem, fazendo fé nos seus relatos, que nos aeroportos o tratam "como um rei" e que em Paris "toda a gente o conhece". Segundo a agência Lusa, entre a comunidade portuguesa em França, Subtil é conhecido por "levar somas exorbitantes aos emigrantes, para lhes garantir a legalização". Descrevem-no ainda, ali, como "uma pessoa muito inteligente", mas "instável e com reacções muito agressivas". Graça Barbosa Ribeiro OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Barricado na RTP aclamado por populares

Cronologia

As contas com a justiça

PERFIL Um homem de humores

A reportagem que motivou o caso

Diligências em França atrasaram processo

Zangado com a justiça, como tantos outros

PERFIL

Um Homem de Humores

Por GRAÇA BARBOSA RIBEIRO

Sexta-feira, 5 de Janeiro de 2001 "Já o estou a ver a entrar aqui e a dizer: 'Viram?! Viram os portugueses todos a aplaudir-me? Isto tem de ser mesmo assim, que este país é uma república das bananas!". É assim que algumas pessoas de Cernache imaginam o regresso de Manuel Subtil àquela terra dos arredores de Coimbra, onde o ex-emigrante vive há cerca de oito anos. "Há-de entrar bem disposto, de abrir os braços a dizer 'Viram?!'", insiste uma amiga da família. Em Cernache, não é à primeira que se encontra quem diga mal de Manuel Subtil, de 47 anos. Ou apenas o conhecem de vista, que ele "pouco pára no mesmo sítio", "sempre envolvido nos seus negócios", ou se renderam aos seus encantos. "Um homem trabalhador, combativo, generoso, bem-disposto, de palavra fácil, enérgico, cativante" - assim o definem algumas pessoas que com ele convivem de perto. Não escondem, porém, que ele "gosta de dinheiro" e é um homem "de humores". "É nervoso, fuma cigarro atrás de cigarro" e, fala-se - e as pessoas sublinham isso: "fala-se, porque nunca vimos" - , que não é meigo com os empregados, que não ficam muito tempo ao seu serviço. Mas até esse facto é atribuído ao seu dinamismo: "Não é homem para meias tintas, é muito exigente...", explicam. Aquilo a que chamam dinamismo, porém, poderia ser traduzido por instabilidade: em cerca de de oito anos, já em Cernache, fundou um jornal do qual sairam dois ou três números, vendeu frango assado ao domicílio, abriu uma peixaria, criou uma empresa de reparações, uma exportadora de produtos alimentares para França e uma leiloeira. Assim como abriam, as empresas foram fechando, e lá não se sabe porquê. A mulher é o seu braço direito, dizem. Tanto nos negócios como no apoio e na resistência a uma vida familiar conturbada. Odete recebe de quinze em quinze dias o neto de Manuel Subtil, filho de uma jovem da qual ele foi pai em solteiro; e criou a menina de seis anos, filha dele e de uma sócia da leiloeira. Dizem algumas pessoas, em Cernache, que ele luta por refazer a vida - e a imagem? - depois do regresso de França. Mas pouco sabem do passado deste homem (que nasceu no concelho de Pombal) para além do que um familiar terá confidenciado: que Subtil não só vivia bem como era respeitado, em França, e que, "depois da reportagem da RTP", lhe ficou "a amargura de ter visto muitos amigos voltarem-lhe as costas". "Mas não é homem para se queixar... Pelo contrário: gosta de mostrar que está sempre por cima", descreve-o um amigo. Mesmo os mais próximos, frequentadores da sua casa, em Cernache, só ontem ficaram conhecer o lado oculto da vida de Subtil, um homem que já em 1984 ameaçou suicidar-se numa casa de banho da Casa da Alfândega, em Lisboa. Acham, agora, disso e das outras manifestações - vigílias e uma greve de fome, já por causa do caso com a RTP - que "tudo não passa de encenação". Já em França, Subtil não é, aparentemente, estimado, apesar de em Cernache algumas pessoas garantirem, fazendo fé nos seus relatos, que nos aeroportos o tratam "como um rei" e que em Paris "toda a gente o conhece". Segundo a agência Lusa, entre a comunidade portuguesa em França, Subtil é conhecido por "levar somas exorbitantes aos emigrantes, para lhes garantir a legalização". Descrevem-no ainda, ali, como "uma pessoa muito inteligente", mas "instável e com reacções muito agressivas". Graça Barbosa Ribeiro OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Barricado na RTP aclamado por populares

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