Hotel Aristides Sousa Mendes

17-10-2000
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A casa onde Aristides Sousa Mendes nasceu e viveu os seus últimos dias, actualmente em ruínas. A Fundação com o nome do cônsul quer transformá-la num museu de Direitos Humanos, mas não consegue chegar a acordo com os proprietários

A Fundação Sousa Mendes, criada no início do ano, deseja restaurar e transformar a casa num museu dos direitos humanos, que evoque o cônsul português em Bordéus que, contrariando ordens de Salazar, passou vistos e salvou cerca de 30 mil judeus durante a II Guerra Mundial.

Maria Barroso, presidente da Fundação, está «incomodada» com a situação e do lado da comunidade judaica em Portugal há mesmo quem apele ao Estado para proceder à expropriação do imóvel.

Especulação imobiliária

Perspectiva da fachada do hotel, com projecto já aprovado

António Moncada Sousa Mendes, neto de Aristides, assumiu os contactos com a sociedade possuidora do imóvel, juntamente com outro administrador, José Miguel Duarte. O neto do ex-cônsul acusa os proprietários de estarem a fazer «especulação imobiliária» e não aceita o preço de 135 mil contos por eles reivindicado.

Paralelamente, estes dois administradores são contestados em Carregal do Sal, por membros de uma comissão local de homenagem a Sousa Mendes, liderada pelo presidente da autarquia. A referida comissão responsabiliza-os pela «má condução das negociações» e quer que sejam «afastados» do processo.

O edil diz que, antes da criação da Fundação, a autarquia tinha negociado a compra da casa por 115 mil contos. Atílio Nunes entende que «pode aproveitar-se para o museu o mesmo projecto do hotel aprovado pela Câmara».

O mesmo não pensa Óscar Santos, arquitecto que elaborou o projecto hoteleiro e, simultaneamente, membro do conselho de administração da sociedade proprietária. «São estruturas completamente diferentes», afirma. Santos refuta as acusações que lhe são lançadas pela Fundação, embora reconheça que, quando comprou a casa, foi «com fins comerciais e não com o intuito de homenagear ninguém».

«Justiças» diversas

Este responsável da sociedade de empreendimentos considera que os 135 mil contos são um valor «justo» para o imóvel. «Justo porque, apesar de ser muito abaixo do real preço de mercado - trata-se de uma casa com três pisos, vinte quartos, cinco salões, garagens e uma capela -, compensa-nos os investimentos que fizemos, nomeadamente com o projecto do hotel e o subsídio, que assim ficaria cancelado», justifica Óscar Santos.

Maria Barroso classifica como «questiúnculas» todos estes desentendimentos. Não entende «porque é que o presidente da Câmara quer ver o neto de Sousa Mendes afastado» deste processo. «É natural que a família esteja envolvida», assevera a ex-primeira-dama. Maria Barroso acredita que «haverá muitos empresários interessados» em patrocinar a aquisição da moradia e a sua transformação num museu. «Seria com certeza um local de peregrinação e acolhimento de gente de todo o mundo, entre os quais os familiares dos judeus salvos, que já ali se deslocam regularmente», acrescenta ainda.

Para Joshua Ruah, destacado membro da comunidade judaica, havia uma solução: «O Estado expropriava a casa, declarando-a património nacional e acabava com a 'negociata'».

A Fundação, contudo, não quer que se chegue a esse ponto: «Seria uma contradição muito grande iniciar uma obra destas de forma litigiosa quando se pretende homenagear uma figura pacífica como a que foi o meu avô», afirma António Moncada Sousa Mendes.

VALENTINA MARCELINO

A casa onde Aristides Sousa Mendes nasceu e viveu os seus últimos dias, actualmente em ruínas. A Fundação com o nome do cônsul quer transformá-la num museu de Direitos Humanos, mas não consegue chegar a acordo com os proprietários

A Fundação Sousa Mendes, criada no início do ano, deseja restaurar e transformar a casa num museu dos direitos humanos, que evoque o cônsul português em Bordéus que, contrariando ordens de Salazar, passou vistos e salvou cerca de 30 mil judeus durante a II Guerra Mundial.

Maria Barroso, presidente da Fundação, está «incomodada» com a situação e do lado da comunidade judaica em Portugal há mesmo quem apele ao Estado para proceder à expropriação do imóvel.

Especulação imobiliária

Perspectiva da fachada do hotel, com projecto já aprovado

António Moncada Sousa Mendes, neto de Aristides, assumiu os contactos com a sociedade possuidora do imóvel, juntamente com outro administrador, José Miguel Duarte. O neto do ex-cônsul acusa os proprietários de estarem a fazer «especulação imobiliária» e não aceita o preço de 135 mil contos por eles reivindicado.

Paralelamente, estes dois administradores são contestados em Carregal do Sal, por membros de uma comissão local de homenagem a Sousa Mendes, liderada pelo presidente da autarquia. A referida comissão responsabiliza-os pela «má condução das negociações» e quer que sejam «afastados» do processo.

O edil diz que, antes da criação da Fundação, a autarquia tinha negociado a compra da casa por 115 mil contos. Atílio Nunes entende que «pode aproveitar-se para o museu o mesmo projecto do hotel aprovado pela Câmara».

O mesmo não pensa Óscar Santos, arquitecto que elaborou o projecto hoteleiro e, simultaneamente, membro do conselho de administração da sociedade proprietária. «São estruturas completamente diferentes», afirma. Santos refuta as acusações que lhe são lançadas pela Fundação, embora reconheça que, quando comprou a casa, foi «com fins comerciais e não com o intuito de homenagear ninguém».

«Justiças» diversas

Este responsável da sociedade de empreendimentos considera que os 135 mil contos são um valor «justo» para o imóvel. «Justo porque, apesar de ser muito abaixo do real preço de mercado - trata-se de uma casa com três pisos, vinte quartos, cinco salões, garagens e uma capela -, compensa-nos os investimentos que fizemos, nomeadamente com o projecto do hotel e o subsídio, que assim ficaria cancelado», justifica Óscar Santos.

Maria Barroso classifica como «questiúnculas» todos estes desentendimentos. Não entende «porque é que o presidente da Câmara quer ver o neto de Sousa Mendes afastado» deste processo. «É natural que a família esteja envolvida», assevera a ex-primeira-dama. Maria Barroso acredita que «haverá muitos empresários interessados» em patrocinar a aquisição da moradia e a sua transformação num museu. «Seria com certeza um local de peregrinação e acolhimento de gente de todo o mundo, entre os quais os familiares dos judeus salvos, que já ali se deslocam regularmente», acrescenta ainda.

Para Joshua Ruah, destacado membro da comunidade judaica, havia uma solução: «O Estado expropriava a casa, declarando-a património nacional e acabava com a 'negociata'».

A Fundação, contudo, não quer que se chegue a esse ponto: «Seria uma contradição muito grande iniciar uma obra destas de forma litigiosa quando se pretende homenagear uma figura pacífica como a que foi o meu avô», afirma António Moncada Sousa Mendes.

VALENTINA MARCELINO

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