Guerra aberta entre Durão e Menezes

02-05-2001
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Guerra Aberta Entre Durão e Menezes

Por HELENA PEREIRA

Sábado, 21 de Abril de 2001

Conselho nacional polémico

Líder regional chamou "frouxo" ao presidente do PSD. Na volta, foi desafiado a candidatar-se à liderança do partido

A reunião do conselho nacional do PSD incendiou-se anteontem à noite. O presidente do partido e o líder distrital do Porto fizeram as suas declarações de guerra. A ruptura entre os dois, que já era conhecida há algum tempo, consumou-se na reunião com ataques pessoais. O pretexto foi o processo autárquico no Porto.

Durão Barroso abriu as hostilidades. Luís Filipe Menezes, que é também presidente da Câmara de Gaia, não gostou e acusou-o de ser um líder "frouxo" e sem carisma, acabando isolado nas críticas.

A história da noite começa com a intervenção inicial do presidente do partido, que não gostou de ter visto a candidatura de Rui Rio passar à tangente na distrital do Porto (13 a favor, quatro contra, oito abstenções, um voto branco). Durão afirmou que não podia aceitar o que se tinha passado e acusou Menezes de divulgar a votação secreta "propositadamente" para "fragilizar" o candidato escolhido pela concelhia. "Os nossos candidatos são as nossas bandeiras. Têm o direito de esperar de nós a solidariedade total", afirmou Durão. A propósito da escolha do candidato na Trofa, que também opõe os dois dirigentes, Durão avisou que o nome de João Sá já está indicado e não há mais volta a dar.

Luís Filipe Menezes pediu então a palavra para dizer que apoiava a candidatura de Rui Rio, apesar de não a ter escolhido, e que não via nenhum drama na votação da distrital. Do processo autárquico para a estratégia geral do PSD foi um passo. "Senhor presidente do partido, o PSD está a subir nas sondagens, mas é pela desgraça do PS e não pelas maravilhas do PSD", afirmou. E acrescentou que o que "está a dar alma ao partido" é a candidatura de Pedro Santana Lopes em Lisboa.

Durão Barroso contra-atacou, puxando dos seus galões de líder. Desafiou então Menezes a candidatar-se contra ele em congresso, se é que queria falar de igual para igual. É nessa altura que Menezes, acompanhado pelo "mendista oficial do Norte", Pedro Vinha da Costa, resolve abandonar a sala. Eram 23h. Ainda o conselho nacional ia no início. Cá fora aos jornalistas afirmou ter dito a Durão "na cara aquilo que nunca ninguém teve a coragem de lhe dizer" e que muitos pensavam. Quanto ao desafio, garantiu que "não tinha medo", mas que preferia apoiar candidatos com a qualidade de Santana Lopes, Marcelo Rebelo de Sousa e Marques Mendes.

Violento nas críticas, considerou que Durão tem sido um líder "frouxo" e sem carisma e que não entusiasma ninguém. Santana, disse, é que é "o balão de oxigénio que está a dar esperança neste momento ao partido".

Menezes não quer que ninguém do PSD ganhe o Porto

Dentro da sala, Valentim Loureiro, ex-líder da distrital do Porto e presidente da Câmara de Gondomar, ameaçava não ser candidato, se tivesse que ir a votos na distrital de uma forma que não fosse séria. "Comigo não brincam", afirmou aos conselheiros, acusando Menezes de "fazer política rasteira" e "minar" o campo a quem não é seu seguidor.

O autarca acrescentou que Menezes "tem um projecto pessoal de chegar a líder do partido" e que queria ser candidato ao Porto, mas que, como não teve coragem política para isso, "não quer que mais ninguém do PSD ganhe" a câmara. O major estava indignado e garantiu que o presidente da distrital jamais terá o seu apoio para o que quer que seja.

Os ataques a Menezes sucediam-se. Pedro Santana Lopes criticou o líder distrital por mudar constantemente de opinião e por andar em jantares com o socialista Fernando Gomes, em vez de lhe fazer oposição. No final da reunião, contudo, emendou o discurso. Aos jornalistas lamentou a oportunidade das críticas do líder distrital, apesar de as considerar legítimas. "Agora, não vou fazer como me fizeram a mim algumas vezes no passado, que é pendurar o dr. Luís Filipe Meneses numa cruz e crucificá-lo", disse, no átrio da sede nacional, depois de ter tido uma breve reunião com o presidente do partido, ao mesmo tempo que elogiou "as enormes qualidades" e "excelente" trabalho de Menezes na autarquia de Gaia.

Durão Barroso, que ontem recebeu o apoio do líder regional da Madeira, recusou comentar os acontecimentos da noite. Foi o secretário-geral do PSD que apareceu na conferência de imprensa às duas da manhã. Às declarações de guerra preferiu chamar "clarificação" de posições.

De um lado e do outro deste embate, contudo, o sentimento dominante é o mesmo - o de dever cumprido. No entanto, o facto de ter sido Durão a protagonizar o conflito suscita algumas interrogações. Artur Torres Pereira, ex-secretário-geral e apoiante de Marques Mendes no último congresso, afirmou ao PÚBLICO que "a principal responsabilidade da direcção nacional de um partido político não é criar mais problemas do que aqueles que existem, mas contribuir para a sua solução": "Em vez de pôr água na fervura, pôs gasolina na fogueira."

Guerra Aberta Entre Durão e Menezes

Por HELENA PEREIRA

Sábado, 21 de Abril de 2001

Conselho nacional polémico

Líder regional chamou "frouxo" ao presidente do PSD. Na volta, foi desafiado a candidatar-se à liderança do partido

A reunião do conselho nacional do PSD incendiou-se anteontem à noite. O presidente do partido e o líder distrital do Porto fizeram as suas declarações de guerra. A ruptura entre os dois, que já era conhecida há algum tempo, consumou-se na reunião com ataques pessoais. O pretexto foi o processo autárquico no Porto.

Durão Barroso abriu as hostilidades. Luís Filipe Menezes, que é também presidente da Câmara de Gaia, não gostou e acusou-o de ser um líder "frouxo" e sem carisma, acabando isolado nas críticas.

A história da noite começa com a intervenção inicial do presidente do partido, que não gostou de ter visto a candidatura de Rui Rio passar à tangente na distrital do Porto (13 a favor, quatro contra, oito abstenções, um voto branco). Durão afirmou que não podia aceitar o que se tinha passado e acusou Menezes de divulgar a votação secreta "propositadamente" para "fragilizar" o candidato escolhido pela concelhia. "Os nossos candidatos são as nossas bandeiras. Têm o direito de esperar de nós a solidariedade total", afirmou Durão. A propósito da escolha do candidato na Trofa, que também opõe os dois dirigentes, Durão avisou que o nome de João Sá já está indicado e não há mais volta a dar.

Luís Filipe Menezes pediu então a palavra para dizer que apoiava a candidatura de Rui Rio, apesar de não a ter escolhido, e que não via nenhum drama na votação da distrital. Do processo autárquico para a estratégia geral do PSD foi um passo. "Senhor presidente do partido, o PSD está a subir nas sondagens, mas é pela desgraça do PS e não pelas maravilhas do PSD", afirmou. E acrescentou que o que "está a dar alma ao partido" é a candidatura de Pedro Santana Lopes em Lisboa.

Durão Barroso contra-atacou, puxando dos seus galões de líder. Desafiou então Menezes a candidatar-se contra ele em congresso, se é que queria falar de igual para igual. É nessa altura que Menezes, acompanhado pelo "mendista oficial do Norte", Pedro Vinha da Costa, resolve abandonar a sala. Eram 23h. Ainda o conselho nacional ia no início. Cá fora aos jornalistas afirmou ter dito a Durão "na cara aquilo que nunca ninguém teve a coragem de lhe dizer" e que muitos pensavam. Quanto ao desafio, garantiu que "não tinha medo", mas que preferia apoiar candidatos com a qualidade de Santana Lopes, Marcelo Rebelo de Sousa e Marques Mendes.

Violento nas críticas, considerou que Durão tem sido um líder "frouxo" e sem carisma e que não entusiasma ninguém. Santana, disse, é que é "o balão de oxigénio que está a dar esperança neste momento ao partido".

Menezes não quer que ninguém do PSD ganhe o Porto

Dentro da sala, Valentim Loureiro, ex-líder da distrital do Porto e presidente da Câmara de Gondomar, ameaçava não ser candidato, se tivesse que ir a votos na distrital de uma forma que não fosse séria. "Comigo não brincam", afirmou aos conselheiros, acusando Menezes de "fazer política rasteira" e "minar" o campo a quem não é seu seguidor.

O autarca acrescentou que Menezes "tem um projecto pessoal de chegar a líder do partido" e que queria ser candidato ao Porto, mas que, como não teve coragem política para isso, "não quer que mais ninguém do PSD ganhe" a câmara. O major estava indignado e garantiu que o presidente da distrital jamais terá o seu apoio para o que quer que seja.

Os ataques a Menezes sucediam-se. Pedro Santana Lopes criticou o líder distrital por mudar constantemente de opinião e por andar em jantares com o socialista Fernando Gomes, em vez de lhe fazer oposição. No final da reunião, contudo, emendou o discurso. Aos jornalistas lamentou a oportunidade das críticas do líder distrital, apesar de as considerar legítimas. "Agora, não vou fazer como me fizeram a mim algumas vezes no passado, que é pendurar o dr. Luís Filipe Meneses numa cruz e crucificá-lo", disse, no átrio da sede nacional, depois de ter tido uma breve reunião com o presidente do partido, ao mesmo tempo que elogiou "as enormes qualidades" e "excelente" trabalho de Menezes na autarquia de Gaia.

Durão Barroso, que ontem recebeu o apoio do líder regional da Madeira, recusou comentar os acontecimentos da noite. Foi o secretário-geral do PSD que apareceu na conferência de imprensa às duas da manhã. Às declarações de guerra preferiu chamar "clarificação" de posições.

De um lado e do outro deste embate, contudo, o sentimento dominante é o mesmo - o de dever cumprido. No entanto, o facto de ter sido Durão a protagonizar o conflito suscita algumas interrogações. Artur Torres Pereira, ex-secretário-geral e apoiante de Marques Mendes no último congresso, afirmou ao PÚBLICO que "a principal responsabilidade da direcção nacional de um partido político não é criar mais problemas do que aqueles que existem, mas contribuir para a sua solução": "Em vez de pôr água na fervura, pôs gasolina na fogueira."

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