EXPRESSO: Cartaz

25-02-2002
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Brigar com a eternidade De volta a Portugal, Isabel de Sena fala sobre a sua experiência no estrangeiro e recorda o pai Entrevista de Eugénia Vasques

A primogénita de Jorge de Sena encontra-se há algum tempo em Portugal para continuar a estudar Bernardim Ribeiro e o seu tempo, integrando simultaneamente a equipa multidisciplinar coordenada pelo seu marido, o filólogo espanhol José Miguel Martínez Torrejón, que prepara a edição crítica da Miscelánea Pereira de Foyos (c. 1577). De amplexo largo e forte, como dizem ter sido o do seu pai, com o mesmo porte «de senador romano», mas o rosto igual ao de Mécia, Isabel Maria não exclui a hipótese de voltar para Portugal. Ao EXPRESSO abriu o seu gabinete da Biblioteca Nacional e fez inusitadas confidências.

A primogénita de Jorge de Sena encontra-se há algum tempo em Portugal para continuar a estudar Bernardim Ribeiro e o seu tempo, integrando simultaneamente a equipa multidisciplinar coordenada pelo seu marido, o filólogo espanhol José Miguel Martínez Torrejón, que prepara a edição crítica da(c. 1577). De amplexo largo e forte, como dizem ter sido o do seu pai, com o mesmo porte «de senador romano», mas o rosto igual ao de Mécia, Isabel Maria não exclui a hipótese de voltar para Portugal. Ao EXPRESSO abriu o seu gabinete da Biblioteca Nacional e fez inusitadas confidências. Pela estrada fora A monumental biografia de Bruce Chatwin, um dos lançamentos dos ano BRUCE CHATWIN de Nicholas Shakespeare (Quetzal, 2001, trad. de Maria Dulce Guimarães da Costa, 812 págs., 6900$00, 34,41 euros) Paulo Nogueira

O velho romance, antes do século XIX, está sempre a caminho. Dom Quixote percorre a Mancha; Robinson sulca os mares e Gulliver os países da imaginação; Tom Jones circula pela Inglaterra, o Laurence Sterne de Viagem Sentimental pela França; e o romance goethiano Wilhelm Meister intitula-se Anos de Viagem. Mas os criadores do romance moderno - Stendhal e Balzac - deram-lhe um domicílio. A partir de então, o grande romance europeu habitou a cidade e a província - e o romance de viagens degenerou num género menor, num folhetim de aventuras para a juventude... Até que chegou Bruce Chatwin.

O velho romance, antes do século XIX, está sempre a caminho. Dom Quixote percorre a Mancha; Robinson sulca os mares e Gulliver os países da imaginação; Tom Jones circula pela Inglaterra, o Laurence Sterne depela França; e o romance goethianointitula-se. Mas os criadores do romance moderno - Stendhal e Balzac - deram-lhe um domicílio. A partir de então, o grande romance europeu habitou a cidade e a província - e o romance de viagens degenerou num género menor, num folhetim de aventuras para a juventude... Até que chegou Bruce Chatwin. Um puritano estético Chatwin, escritor e fotógrafo, capta vestígios, o que sobra do mundo ameaçado PHOTOGRAPHS AND NOTEBOOKS de Bruce Chatwin (Jonathan Cape, London, 1993, 160 págs., 6300$00, 31,42 euros) Fátima Maldonado

Bruce Chatwin não é só um escritor de viagens, embora a tentação de classificá-lo assim surja com frequência. Mas as coisas não são nada simples. Em The Songlines, de 1987, narra a organização dos territórios aborígenes na Austrália, que ultrapassa qualquer tentativa de classificação racional. As suas fronteiras apenas são detectadas se cada tribo entoar um canto iniciático particular só por ela reconhecido. E, assim, as linhas da terra cruzavam-se e descruzavam-se, numa inviolada e caótica ordenação virtual, até à chegada do homem branco. Com quem surgiu de imediato o desrespeito, a voragem, a cegueira.

Bruce Chatwin não é só um escritor de viagens, embora a tentação de classificá-lo assim surja com frequência. Mas as coisas não são nada simples. Em, de 1987, narra a organização dos territórios aborígenes na Austrália, que ultrapassa qualquer tentativa de classificação racional. As suas fronteiras apenas são detectadas se cada tribo entoar um canto iniciático particular só por ela reconhecido. E, assim, as linhas da terra cruzavam-se e descruzavam-se, numa inviolada e caótica ordenação virtual, até à chegada do homem branco. Com quem surgiu de imediato o desrespeito, a voragem, a cegueira. Língua de inventar Seis novas histórias para «dançar» com a língua portuguesa SAXOFONE E METÁFORA de Manuel Rui (Cotovia, 2001, 80 págs., 1800$00, 8,98 euros) Cristina Peres

Quase se esbateram por completo as fronteiras entre o discurso directo e o discurso indirecto, e as seis estórias que constituem este último livro de Manuel Rui desafiam, definitivamente, com a propriedade característica da invenção pura, as leis da pontuação. Na verdade, dá vontade de ler o livro em voz alta, não fosse depois a dificuldade de lhe encontrar o ritmo de uma voz que o autor só empresta mas não dá. Saxofone e Metáfora é um concentrado da «melhor» língua que o angolano Manuel Rui tem vindo a explorar e a desenvolver às vezes mais calmamente que outras, estas outras vezes em completo desbragamento.

Quase se esbateram por completo as fronteiras entre o discurso directo e o discurso indirecto, e as seis estórias que constituem este último livro de Manuel Rui desafiam, definitivamente, com a propriedade característica da invenção pura, as leis da pontuação. Na verdade, dá vontade de ler o livro em voz alta, não fosse depois a dificuldade de lhe encontrar o ritmo de uma voz que o autor só empresta mas não dá.é um concentrado da «melhor» língua que o angolano Manuel Rui tem vindo a explorar e a desenvolver às vezes mais calmamente que outras, estas outras vezes em completo desbragamento. Jogos proféticos Uma curiosa incursão de Joseph Conrad e Ford Madox Ford pela ficção científica OS HERDEIROS — UMA HISTÓRIA EXTRAVAGANTE de Joseph Conrad e Ford Madox Ford (Vega, 2001, trad. de Manuela Madureira, 215 págs., 3500$00, 17,46 euros) José Gabriel Viegas

Escrito entre 1899 e 1900, publicado em 1901, Os Herdeiros é um livro quase esquecido na obra destes dois grandes autores da literatura moderna. Quando referido, é-o a título de curiosidade, salientando sobretudo o facto de se tratar da incursão de um autor (Joseph Conrad), certamente moderno, mas também realista, no domínio da ficção científica. Na realidade, o livro fora inicialmente escrito por Ford Madox Ford. Joseph Conrad terá tido uma intervenção, limitada, mas decisiva do ponto de vista narrativo, já na fase final.

Escrito entre 1899 e 1900, publicado em 1901,é um livro quase esquecido na obra destes dois grandes autores da literatura moderna. Quando referido, é-o a título de curiosidade, salientando sobretudo o facto de se tratar da incursão de um autor (Joseph Conrad), certamente moderno, mas também realista, no domínio da ficção científica. Na realidade, o livro fora inicialmente escrito por Ford Madox Ford. Joseph Conrad terá tido uma intervenção, limitada, mas decisiva do ponto de vista narrativo, já na fase final. Elogio do olvido Mais um ensaio de Marc Augé, agora sobre o esquecimento AS FORMAS DO ESQUECIMENTO de Marc Augé (Ímanedições, 2001, trad. de Ernesto Sampaio, 110 págs., 2400$00, 11,97 euros) Vítor Quelhas

Teórico do complexo universo da comunicação e da imagem e observador profundo das mitologias e rituais da vida moderna, Marc Augé tem uma obra extensa (estão publicados em português Os Não-Lugares e a A Guerra dos Sonhos) e uma presença incontornável no pensamento contemporâneo. Tem igualmente a seu favor o facto de não ser um típico intelectual de gabinete mas um pensador activo, interveniente, não se poupando ao debate e à entrevista. Desde há cerca de 15 anos que Augé é director da Escola de Altos Estudos de Paris, na área das Ciências Sociais. Se actualmente trabalha sobretudo o mundo das imagens, não é possível ignorar contudo que a sua credibilidade científica passou pelos trabalhos de etnologia da vida quotidiana e pela investigação, no terreno, das sociedades tradicionais da África Ocidental.

Teórico do complexo universo da comunicação e da imagem e observador profundo das mitologias e rituais da vida moderna, Marc Augé tem uma obra extensa (estão publicados em portuguêse a) e uma presença incontornável no pensamento contemporâneo. Tem igualmente a seu favor o facto de não ser um típico intelectual de gabinete mas um pensador activo, interveniente, não se poupando ao debate e à entrevista. Desde há cerca de 15 anos que Augé é director da Escola de Altos Estudos de Paris, na área das Ciências Sociais. Se actualmente trabalha sobretudo o mundo das imagens, não é possível ignorar contudo que a sua credibilidade científica passou pelos trabalhos de etnologia da vida quotidiana e pela investigação, no terreno, das sociedades tradicionais da África Ocidental. Diferente Um guia de ciência completo e indispensável ROTEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA de A. Vieira e C. Fiolhais (Ulmeiro, 2001, 244 págs., 1995$00, 10,47 euros) Nuno Crato

Armando Vieira, físico e professor coordenador no Instituto Superior de Engenharia do Porto, e Carlos Fiolhais, professor catedrático na Universidade de Coimbra e igualmente físico de formação e profissão, lançaram mãos à obra na elaboração de um Roteiro de Ciência e Tecnologia que pretende incluir «recursos para jovens de todas as idades». A ideia é original, pelo menos no nosso país, e os autores conseguiram colocar nas mãos do leitor um guia muito completo e informativo, que é de grande utilidade para um público variado. Os temas incluídos neste livro são múltiplos, desde bibliotecas, museus e jornais, a universidades, laboratórios de investigação e associações científicas.

Armando Vieira, físico e professor coordenador no Instituto Superior de Engenharia do Porto, e Carlos Fiolhais, professor catedrático na Universidade de Coimbra e igualmente físico de formação e profissão, lançaram mãos à obra na elaboração de umque pretende incluir «recursos para jovens de todas as idades». A ideia é original, pelo menos no nosso país, e os autores conseguiram colocar nas mãos do leitor um guia muito completo e informativo, que é de grande utilidade para um público variado. Os temas incluídos neste livro são múltiplos, desde bibliotecas, museus e jornais, a universidades, laboratórios de investigação e associações científicas. O Império em acção Um estudo original sobre o fundador da antropologia colonial portuguesa ANTROPOLOGIA E IMPÉRIO: FONSECA CARDOSO E A EXPEDIÇÃO À ÍNDIA EM 1895 de Ricardo Roque (Imprensa de Ciências Sociais, 2001, 420 págs., 4600$00, 22,94 euros) Simon Kuin

Em Março de 1896, os leitores do jornal «O Aurora do Lima» assistiam a algo de invulgar: saía o primeiro de uma série de artigos sobre a revolta dos ranes e satarienses, habitantes da região oriental da colónia portuguesa de Goa. A novidade da série de artigos não tinha a ver com o tema da própria revolta e a expedição militar para a suprimir, mas com as observações antropológicas do seu autor, o capitão de infantaria Artur da Fonseca Cardoso, que escrevia sob o pseudónimo de Ruthar. Militar de profissão e antropólogo por vocação, o oficial tinha aproveitado a missão de pacificação na Índia para pôr à prova as teorias antropométricas que estudara durante anos, com o objectivo de elaborar uma tipificação científica dos satarienses. Pela mesma altura, Fonseca Cardoso apresentou os resultados da sua investigação ao público académico num pequeno artigo intitulado «O Indígena de Satari. Estudo Antropológico», publicado na «Revista de Ciências Naturais e Sociais».

Em Março de 1896, os leitores do jornal «O Aurora do Lima» assistiam a algo de invulgar: saía o primeiro de uma série de artigos sobre a revolta dos ranes e satarienses, habitantes da região oriental da colónia portuguesa de Goa. A novidade da série de artigos não tinha a ver com o tema da própria revolta e a expedição militar para a suprimir, mas com as observações antropológicas do seu autor, o capitão de infantaria Artur da Fonseca Cardoso, que escrevia sob o pseudónimo de Ruthar. Militar de profissão e antropólogo por vocação, o oficial tinha aproveitado a missão de pacificação na Índia para pôr à prova as teorias antropométricas que estudara durante anos, com o objectivo de elaborar uma tipificação científica dos satarienses. Pela mesma altura, Fonseca Cardoso apresentou os resultados da sua investigação ao público académico num pequeno artigo intitulado «O Indígena de Satari. Estudo Antropológico», publicado na «Revista de Ciências Naturais e Sociais». PISA-PAPÉIS Conciso e verdadeiro Enquanto por cá se discutiam as alterações absurdas que o dicionário da Academia inflige a vocábulos sem culpa nenhuma, em Inglaterra saíam edições - comerciais - de dicionários que cumprem a função de acompanhar o progresso da língua em vez de a quererem mudar. O último a sair foi o Concise Oxford Dictionary (OCD) - conciso apenas em relação à versão monumental, em vinte volumes, do dicionário que desde 1928 é o maior do mundo. Mas 240 mil definições não fazem um dicionário de bolso.

RECENSÕES O Que É Ciência

João Caraça Que É a Filosofia

Manuel Maria Carrilho Colecção Olhar Um Conto

Coord. de Rosário Sousa Machado Dicionário de Tétum-Português

Luís Costa

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Brigar com a eternidade De volta a Portugal, Isabel de Sena fala sobre a sua experiência no estrangeiro e recorda o pai Entrevista de Eugénia Vasques

A primogénita de Jorge de Sena encontra-se há algum tempo em Portugal para continuar a estudar Bernardim Ribeiro e o seu tempo, integrando simultaneamente a equipa multidisciplinar coordenada pelo seu marido, o filólogo espanhol José Miguel Martínez Torrejón, que prepara a edição crítica da Miscelánea Pereira de Foyos (c. 1577). De amplexo largo e forte, como dizem ter sido o do seu pai, com o mesmo porte «de senador romano», mas o rosto igual ao de Mécia, Isabel Maria não exclui a hipótese de voltar para Portugal. Ao EXPRESSO abriu o seu gabinete da Biblioteca Nacional e fez inusitadas confidências.

A primogénita de Jorge de Sena encontra-se há algum tempo em Portugal para continuar a estudar Bernardim Ribeiro e o seu tempo, integrando simultaneamente a equipa multidisciplinar coordenada pelo seu marido, o filólogo espanhol José Miguel Martínez Torrejón, que prepara a edição crítica da(c. 1577). De amplexo largo e forte, como dizem ter sido o do seu pai, com o mesmo porte «de senador romano», mas o rosto igual ao de Mécia, Isabel Maria não exclui a hipótese de voltar para Portugal. Ao EXPRESSO abriu o seu gabinete da Biblioteca Nacional e fez inusitadas confidências. Pela estrada fora A monumental biografia de Bruce Chatwin, um dos lançamentos dos ano BRUCE CHATWIN de Nicholas Shakespeare (Quetzal, 2001, trad. de Maria Dulce Guimarães da Costa, 812 págs., 6900$00, 34,41 euros) Paulo Nogueira

O velho romance, antes do século XIX, está sempre a caminho. Dom Quixote percorre a Mancha; Robinson sulca os mares e Gulliver os países da imaginação; Tom Jones circula pela Inglaterra, o Laurence Sterne de Viagem Sentimental pela França; e o romance goethiano Wilhelm Meister intitula-se Anos de Viagem. Mas os criadores do romance moderno - Stendhal e Balzac - deram-lhe um domicílio. A partir de então, o grande romance europeu habitou a cidade e a província - e o romance de viagens degenerou num género menor, num folhetim de aventuras para a juventude... Até que chegou Bruce Chatwin.

O velho romance, antes do século XIX, está sempre a caminho. Dom Quixote percorre a Mancha; Robinson sulca os mares e Gulliver os países da imaginação; Tom Jones circula pela Inglaterra, o Laurence Sterne depela França; e o romance goethianointitula-se. Mas os criadores do romance moderno - Stendhal e Balzac - deram-lhe um domicílio. A partir de então, o grande romance europeu habitou a cidade e a província - e o romance de viagens degenerou num género menor, num folhetim de aventuras para a juventude... Até que chegou Bruce Chatwin. Um puritano estético Chatwin, escritor e fotógrafo, capta vestígios, o que sobra do mundo ameaçado PHOTOGRAPHS AND NOTEBOOKS de Bruce Chatwin (Jonathan Cape, London, 1993, 160 págs., 6300$00, 31,42 euros) Fátima Maldonado

Bruce Chatwin não é só um escritor de viagens, embora a tentação de classificá-lo assim surja com frequência. Mas as coisas não são nada simples. Em The Songlines, de 1987, narra a organização dos territórios aborígenes na Austrália, que ultrapassa qualquer tentativa de classificação racional. As suas fronteiras apenas são detectadas se cada tribo entoar um canto iniciático particular só por ela reconhecido. E, assim, as linhas da terra cruzavam-se e descruzavam-se, numa inviolada e caótica ordenação virtual, até à chegada do homem branco. Com quem surgiu de imediato o desrespeito, a voragem, a cegueira.

Bruce Chatwin não é só um escritor de viagens, embora a tentação de classificá-lo assim surja com frequência. Mas as coisas não são nada simples. Em, de 1987, narra a organização dos territórios aborígenes na Austrália, que ultrapassa qualquer tentativa de classificação racional. As suas fronteiras apenas são detectadas se cada tribo entoar um canto iniciático particular só por ela reconhecido. E, assim, as linhas da terra cruzavam-se e descruzavam-se, numa inviolada e caótica ordenação virtual, até à chegada do homem branco. Com quem surgiu de imediato o desrespeito, a voragem, a cegueira. Língua de inventar Seis novas histórias para «dançar» com a língua portuguesa SAXOFONE E METÁFORA de Manuel Rui (Cotovia, 2001, 80 págs., 1800$00, 8,98 euros) Cristina Peres

Quase se esbateram por completo as fronteiras entre o discurso directo e o discurso indirecto, e as seis estórias que constituem este último livro de Manuel Rui desafiam, definitivamente, com a propriedade característica da invenção pura, as leis da pontuação. Na verdade, dá vontade de ler o livro em voz alta, não fosse depois a dificuldade de lhe encontrar o ritmo de uma voz que o autor só empresta mas não dá. Saxofone e Metáfora é um concentrado da «melhor» língua que o angolano Manuel Rui tem vindo a explorar e a desenvolver às vezes mais calmamente que outras, estas outras vezes em completo desbragamento.

Quase se esbateram por completo as fronteiras entre o discurso directo e o discurso indirecto, e as seis estórias que constituem este último livro de Manuel Rui desafiam, definitivamente, com a propriedade característica da invenção pura, as leis da pontuação. Na verdade, dá vontade de ler o livro em voz alta, não fosse depois a dificuldade de lhe encontrar o ritmo de uma voz que o autor só empresta mas não dá.é um concentrado da «melhor» língua que o angolano Manuel Rui tem vindo a explorar e a desenvolver às vezes mais calmamente que outras, estas outras vezes em completo desbragamento. Jogos proféticos Uma curiosa incursão de Joseph Conrad e Ford Madox Ford pela ficção científica OS HERDEIROS — UMA HISTÓRIA EXTRAVAGANTE de Joseph Conrad e Ford Madox Ford (Vega, 2001, trad. de Manuela Madureira, 215 págs., 3500$00, 17,46 euros) José Gabriel Viegas

Escrito entre 1899 e 1900, publicado em 1901, Os Herdeiros é um livro quase esquecido na obra destes dois grandes autores da literatura moderna. Quando referido, é-o a título de curiosidade, salientando sobretudo o facto de se tratar da incursão de um autor (Joseph Conrad), certamente moderno, mas também realista, no domínio da ficção científica. Na realidade, o livro fora inicialmente escrito por Ford Madox Ford. Joseph Conrad terá tido uma intervenção, limitada, mas decisiva do ponto de vista narrativo, já na fase final.

Escrito entre 1899 e 1900, publicado em 1901,é um livro quase esquecido na obra destes dois grandes autores da literatura moderna. Quando referido, é-o a título de curiosidade, salientando sobretudo o facto de se tratar da incursão de um autor (Joseph Conrad), certamente moderno, mas também realista, no domínio da ficção científica. Na realidade, o livro fora inicialmente escrito por Ford Madox Ford. Joseph Conrad terá tido uma intervenção, limitada, mas decisiva do ponto de vista narrativo, já na fase final. Elogio do olvido Mais um ensaio de Marc Augé, agora sobre o esquecimento AS FORMAS DO ESQUECIMENTO de Marc Augé (Ímanedições, 2001, trad. de Ernesto Sampaio, 110 págs., 2400$00, 11,97 euros) Vítor Quelhas

Teórico do complexo universo da comunicação e da imagem e observador profundo das mitologias e rituais da vida moderna, Marc Augé tem uma obra extensa (estão publicados em português Os Não-Lugares e a A Guerra dos Sonhos) e uma presença incontornável no pensamento contemporâneo. Tem igualmente a seu favor o facto de não ser um típico intelectual de gabinete mas um pensador activo, interveniente, não se poupando ao debate e à entrevista. Desde há cerca de 15 anos que Augé é director da Escola de Altos Estudos de Paris, na área das Ciências Sociais. Se actualmente trabalha sobretudo o mundo das imagens, não é possível ignorar contudo que a sua credibilidade científica passou pelos trabalhos de etnologia da vida quotidiana e pela investigação, no terreno, das sociedades tradicionais da África Ocidental.

Teórico do complexo universo da comunicação e da imagem e observador profundo das mitologias e rituais da vida moderna, Marc Augé tem uma obra extensa (estão publicados em portuguêse a) e uma presença incontornável no pensamento contemporâneo. Tem igualmente a seu favor o facto de não ser um típico intelectual de gabinete mas um pensador activo, interveniente, não se poupando ao debate e à entrevista. Desde há cerca de 15 anos que Augé é director da Escola de Altos Estudos de Paris, na área das Ciências Sociais. Se actualmente trabalha sobretudo o mundo das imagens, não é possível ignorar contudo que a sua credibilidade científica passou pelos trabalhos de etnologia da vida quotidiana e pela investigação, no terreno, das sociedades tradicionais da África Ocidental. Diferente Um guia de ciência completo e indispensável ROTEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA de A. Vieira e C. Fiolhais (Ulmeiro, 2001, 244 págs., 1995$00, 10,47 euros) Nuno Crato

Armando Vieira, físico e professor coordenador no Instituto Superior de Engenharia do Porto, e Carlos Fiolhais, professor catedrático na Universidade de Coimbra e igualmente físico de formação e profissão, lançaram mãos à obra na elaboração de um Roteiro de Ciência e Tecnologia que pretende incluir «recursos para jovens de todas as idades». A ideia é original, pelo menos no nosso país, e os autores conseguiram colocar nas mãos do leitor um guia muito completo e informativo, que é de grande utilidade para um público variado. Os temas incluídos neste livro são múltiplos, desde bibliotecas, museus e jornais, a universidades, laboratórios de investigação e associações científicas.

Armando Vieira, físico e professor coordenador no Instituto Superior de Engenharia do Porto, e Carlos Fiolhais, professor catedrático na Universidade de Coimbra e igualmente físico de formação e profissão, lançaram mãos à obra na elaboração de umque pretende incluir «recursos para jovens de todas as idades». A ideia é original, pelo menos no nosso país, e os autores conseguiram colocar nas mãos do leitor um guia muito completo e informativo, que é de grande utilidade para um público variado. Os temas incluídos neste livro são múltiplos, desde bibliotecas, museus e jornais, a universidades, laboratórios de investigação e associações científicas. O Império em acção Um estudo original sobre o fundador da antropologia colonial portuguesa ANTROPOLOGIA E IMPÉRIO: FONSECA CARDOSO E A EXPEDIÇÃO À ÍNDIA EM 1895 de Ricardo Roque (Imprensa de Ciências Sociais, 2001, 420 págs., 4600$00, 22,94 euros) Simon Kuin

Em Março de 1896, os leitores do jornal «O Aurora do Lima» assistiam a algo de invulgar: saía o primeiro de uma série de artigos sobre a revolta dos ranes e satarienses, habitantes da região oriental da colónia portuguesa de Goa. A novidade da série de artigos não tinha a ver com o tema da própria revolta e a expedição militar para a suprimir, mas com as observações antropológicas do seu autor, o capitão de infantaria Artur da Fonseca Cardoso, que escrevia sob o pseudónimo de Ruthar. Militar de profissão e antropólogo por vocação, o oficial tinha aproveitado a missão de pacificação na Índia para pôr à prova as teorias antropométricas que estudara durante anos, com o objectivo de elaborar uma tipificação científica dos satarienses. Pela mesma altura, Fonseca Cardoso apresentou os resultados da sua investigação ao público académico num pequeno artigo intitulado «O Indígena de Satari. Estudo Antropológico», publicado na «Revista de Ciências Naturais e Sociais».

Em Março de 1896, os leitores do jornal «O Aurora do Lima» assistiam a algo de invulgar: saía o primeiro de uma série de artigos sobre a revolta dos ranes e satarienses, habitantes da região oriental da colónia portuguesa de Goa. A novidade da série de artigos não tinha a ver com o tema da própria revolta e a expedição militar para a suprimir, mas com as observações antropológicas do seu autor, o capitão de infantaria Artur da Fonseca Cardoso, que escrevia sob o pseudónimo de Ruthar. Militar de profissão e antropólogo por vocação, o oficial tinha aproveitado a missão de pacificação na Índia para pôr à prova as teorias antropométricas que estudara durante anos, com o objectivo de elaborar uma tipificação científica dos satarienses. Pela mesma altura, Fonseca Cardoso apresentou os resultados da sua investigação ao público académico num pequeno artigo intitulado «O Indígena de Satari. Estudo Antropológico», publicado na «Revista de Ciências Naturais e Sociais». PISA-PAPÉIS Conciso e verdadeiro Enquanto por cá se discutiam as alterações absurdas que o dicionário da Academia inflige a vocábulos sem culpa nenhuma, em Inglaterra saíam edições - comerciais - de dicionários que cumprem a função de acompanhar o progresso da língua em vez de a quererem mudar. O último a sair foi o Concise Oxford Dictionary (OCD) - conciso apenas em relação à versão monumental, em vinte volumes, do dicionário que desde 1928 é o maior do mundo. Mas 240 mil definições não fazem um dicionário de bolso.

RECENSÕES O Que É Ciência

João Caraça Que É a Filosofia

Manuel Maria Carrilho Colecção Olhar Um Conto

Coord. de Rosário Sousa Machado Dicionário de Tétum-Português

Luís Costa

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