EXPRESSO: País

12-05-2001
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Guterres à beira da remodelação Os responsáveis das Finanças e da Saúde são figuras indispensáveis num cenário de remodelação que, nos bastidores políticos, surge como cada vez mais inevitável depois do Congresso do PS e, talvez mesmo, a única forma que Guterres terá para ganhar embalagem para eventuais eleições antecipadas. Uma situação que a larga maioria dos portugueses diz não pretender, revela o Painel EXPRESSO/Euroexpansão, apesar de Guterres sofrer uma forte queda de popularidade Fotomontagem EXPRESSO OS INTOCÁVEIS

A POSSIBILIDADE de António Guterres proceder a uma remodelação profunda do Governo logo a seguir ao congresso do próximo fim-de-semana, que interrompa de vez o ciclo de desgaste a que os socialistas têm estado sujeitos, ganha contornos cada vez mais nítidos à medida que os dias passam. A POSSIBILIDADE de António Guterres proceder a uma remodelação profunda do Governo logo a seguir ao congresso do próximo fim-de-semana, que interrompa de vez o ciclo de desgaste a que os socialistas têm estado sujeitos, ganha contornos cada vez mais nítidos à medida que os dias passam. O ambiente de fim de ciclo é já indisfarçável, com a Igreja a declarar oficialmente o estado de crise e os bispos a falarem da necessidade de «decidir com coragem»; as instituições económicas e financeiras internacionais a criticarem duramente Portugal e a lamentarem que sucessivas recomendações caiam em saco roto; a bancada parlamentar mais dividida do que nunca, com 24 deputados a rebelarem-se contra as cedências à hierarquia católica; a intocabilidade do próprio Guterres a ser posta em causa, com Carlos Candal a «empurrar» Cravinho para lhe fazer frente, Alegre a criticar tanto unanimismo, Henrique Neto a lamentar obstruções à discussão, Maria de Belém a subscrever uma moção contra Manuela Arcanjo. Nos bastidores do partido e do Governo multiplicam-se movimentações, intrigas e conspirações que permitem perceber melhor quem é quem neste jogo de glória e desgraça, que evita a todo o custo oferecer de bandeja o poder a Durão Barroso. Dois dos principais candidatos à liderança - Ferro Rodrigues e António Costa - lançam publicamente mais achas para a fogueira, fortalecendo a ideia de que o Governo está por um fio. O novo ministro do Equipamento não hesita em reconhecer que «as eleições antecipadas são o melhor dos males», deixando claro que pior seria deixar arrastar a inacção e a crise de autoridade. E o ministro da Justiça critica abertamente a «falta de dinamismo» do Executivo e o incumprimento do programa com que foi eleito, lembrando que a corrida à liderança só aguarda o sinal de resignação de Guterres. A ideia da necessidade duma mudança regeneradora está também a ser fomentada por Jorge Coelho que, beneficiando da liberdade de movimentos que conquistou ao demitir-se do Governo, incendeia agora as bases. Investido como «secretário-geral sombra», o número dois oficioso adverte repetidamente que as coisas não podem continuar como estão. E, de caminho, vai dizendo que «os socialistas não têm medo de eleições», incutindo na estruturas locais a ideia de que o Governo foi eleito para resolver os problemas e não para dialogar sobre eles. De regresso aos discursos codificados, Jorge Sampaio deixou também um aviso sério a António Guterres, no discurso comemorativo do 25 de Abril, ao advertir que é preciso combater a incompetência e aplicar «mais rigor e exigência» à governação. Indiferente à vaga e embalado pelas sondagens - que, na maioria, lhe são claramente favoráveis, o líder socialista dá sinais de pouca ou nenhuma abertura à mudança. A sua polémica declaração de que a prova de que tudo vai bem é que um milhão de pessoas passou a Páscoa no Algarve deixa entrever a vontade de que tudo fique na mesma. Mas irá ver-se forçado a mudar de atitude e a promover alterações na composição do Executivo. Uma vez remodelado, com uma composição mais política do que técnica, o Governo deverá então começar a preparar-se para eleições antecipadas, na expectativa de um «chumbo», praticamente certo, do Orçamento de Estado para 2002. Na opinião dos dirigentes socialistas mais lúcidos, essa será a única forma de o partido evitar um afastamento do poder por tempo indeterminado. O último guterrista Catapultado para o estrelato pela SIC, onde tem uma visibilidade maior do que muitas das estrelas da estação, JOSÉ SÓCRATES é o prémio revelação socialista, a maior vedeta do Governo. Embora sejam mais os casos em que promete actuar do que aqueles em que age de facto, soube compor a imagem do governante que decide. O que faz a diferença num governo que deixou criar a suspeita de que não tem uma ideia para Portugal, capacidade para se antecipar às crises ou coragem para enfrentar pressões. Catapultado para o estrelato pela SIC, onde tem uma visibilidade maior do que muitas das estrelas da estação,é o prémio revelação socialista, a maior vedeta do Governo. Embora sejam mais os casos em que promete actuar do que aqueles em que age de facto, soube compor a imagem do governante que decide. O que faz a diferença num governo que deixou criar a suspeita de que não tem uma ideia para Portugal, capacidade para se antecipar às crises ou coragem para enfrentar pressões. O processo da co-incineração é a sua imagem de marca, a grande obra, a prova insofismável de que é um homem de acção. Poucos admitem um recuo a esse nível que, a verificar-se, lhe seria seguramente fatal. É o primeiro dos «intocáveis» do Governo, a figura cuja permanência está garantida no Executivo, antes de qualquer outra. Seguidor fidelíssimo de Guterres, desde os tempos da oposição a Sampaio, é o último guterrista no Governo, o «sobrevivente» do núcleo duro que incluiu António Vitorino, António José Seguro, Maria de Belém, Armando Vara, Luís Patrão. Sem ele, Guterres fica mais só e desamparado. E Sócrates alimenta a secreta esperança (que já foi mais discreta...) de poder um dia vir a substitui-lo. O campeão da popularidade Apesar de ter feito pouco mais na pasta do Equipamento do que demitir pessoas envolvidas na tragédia de Entre-os-Rios, FERRO RODRIGUES é ainda o mais popular dos ministros de Guterres. Associado à ideia do Rendimento Mínimo Garantido - que até a oposição já subscreve -, é o mais hábil entre os socialistas a gerir a sua própria imagem. Conseguiu até aqui evitar envolver-se em questões polémicas, mesmo quando assumiu a difícil pasta do Trabalho, remetendo sistematicamente para outros o incómodo de enfrentar os conflitos. Isso garante-lhe a imagem do governante eficiente e generoso. A não ser que algum acontecimento grave o colha de surpresa, tem lugar cativo no Governo - neste ou em qualquer outro de matriz socialista. Ninguém, nem mesmo a oposição, perceberia que Guterres quisesse afastá-lo. Sampaísta puro e duro - embora tente convencer a opinião pública de que o sampaísmo nunca existiu -, já propôs por mais de uma vez a candidatura de Guterres à Presidência da República, denunciando uma estratégia que passa pela sua candidatura à liderança. O diplomata ausente JAIME GAMA, o «peixe de águas profundas», é outro dos pilares essenciais da governação socialista, que permanecerá até lhe apetecer (e enquanto o PS vencer) no lugar de ministro dos Negócios Estrangeiros, que parece talhado à medida dos seus apetites mundanos e da sua vocação natural. A circunstância de estar frequentemente longe, por força da mobilidade esforçada a que a diplomacia convida, garantiu-lhe nos últimos seis anos um distanciamento providencial das querelas internas. É como se nada do que se passa internamente lhe dissesse respeito. Apesar de ter iniciado a vida activa como jornalista, a escola das Necessidades fez dele um diplomata exímio. Tão hábil que consegue passar intocável por crises tão mediáticas como a do rapto dos operários portugueses em Cabinda, ou a dos mais de 300 emigrantes abatidos na África do Sul (oito só na última semana). Mais do que temê-lo, Guterres respeita-o. O justiceiro adiado O estado a que a Justiça chegou em Portugal não parece afectar ainda grandemente a imagem de ANTÓNIO COSTA. Mas o mistério não é de hoje: saiu igualmente incólume do escândalo que rodeou a Expo-98, apesar de ser o ministro responsável pela fase final do evento. A circunstância de ter peso político próprio, à semelhança dos outros três, faz também dele um intocável. Guterres, que se viu obrigado a demitir Sá Fernandes por sua causa, não tem condições para o dispensar. Mas a sua popularidade está a dissipar-se aceleradamente.

ORLANDO RAIMUNDO

Os neutros

METADE dos membros do Governo resiste com dificuldade à pressão que se abate sobre o Governo. Mas, apesar de tudo, resiste. A dificuldade de encontrar independentes dispostos a arriscar, a circunstância de Guterres ter de contentar as várias famílias políticas do PS e a premência de formar equipa habilitada a combater o PSD, em cenário de eleições antecipadas, faz deles peças importantes do xadrez socialista. Com níveis de gradação diferentes. METADE dos membros do Governo resiste com dificuldade à pressão que se abate sobre o Governo. Mas, apesar de tudo, resiste. A dificuldade de encontrar independentes dispostos a arriscar, a circunstância de Guterres ter de contentar as várias famílias políticas do PS e a premência de formar equipa habilitada a combater o PSD, em cenário de eleições antecipadas, faz deles peças importantes do xadrez socialista. Com níveis de gradação diferentes. GUILHERME D'OLIVEIRA MARTINS é o mais imprescindível dos «neutros». De extracção católica, como o chefe do Governo, é sobre ele que recai a difícil tarefa da coordenação política. É um social-democrata puro, leal ao chefe do Governo. Os que não gostam dele dizem que nunca se sabe bem o que está a pensar. NUNO SEVERIANO TEIXEIRA, o ministro da Administração Interna, foi indicado por António Vitorino para a espinhosa missão de substituir Fernando Gomes. Desempenhou com discrição o papel de «bombeiro voluntário», como lhe foi pedido em Entre-os-Rios, e geriu com tacto a melindrosa questão dos crimes à porta das discotecas, mostrando ao homem do Norte como deveria ter feito. Não é militante do PS. PAULO PEDROSO corresponde ao perfil dos jovens em quem Guterres pensa quando fala em substituir «marretas» por cabeças arejadas. Pôs de pé o Rendimento Mínimo e está de olho nos lares de idosos, apostado em herdar a popularidade de Ferro Rodrigues, a cuja família política pertence. Até contratou como assessor o homem que fez a imagem daquele. É o homem do aparelho sampaísta, à volta de quem gravitam as potenciais novas revelações, tão ao gosto do primeiro-ministro. Gamista por convicção e militância, e mais simpático do que Jaime Gama, JOSÉ LELLO é um daqueles políticos de quem se diz que «a sabe toda». Vai ultrapassar com facilidade os complicados problemas decorrentes da organização do Euro-2004, dando o dinheiro aos clubes, já que não terá capacidade para enfrentar «lobbies». Antigo maoísta, ex-ideólogo do CCR-ML e ex-presidente da Associação de Estudantes do Técnico, MARIANO GAGO é uma das figuras que Guterres mais admira. A começar pelo facto de ter tido melhores notas do que ele e ainda ter arranjado tempo para a conspiração política. A inteligência e os conhecimentos do titular da Ciência e da Tecnologia deixam o líder do PS embevecido. Gestor público prestigiado, MÁRIO CRISTINA DE SOUSA é um daqueles homens que, em fim de carreira, resolveu aceitar o desafio de colocar a menção de ministro no seu já vasto currículo. A situação económica não lhe corre de feição, mas pode sempre dizer que a culpa é da conjuntura internacional. ELISA FERREIRA é o rosto visível do que sobra dos Estados Gerais. Não é socialista. Figura prestigiada do Norte e muito competente tecnicamente, demonstrou falta de habilidade política ao deixar a Sócrates, em testamento forçado, a «coragem» de resolver o problema da co-incineração. Guterres compensou-a, confiando-lhe a pasta do Planeamento, onde cumpre a missão discreta. ALBERTO MARTINS é um sampaísta convicto e visita de casa do Presidente da República, a quem foi preciso arranjar um lugar ministerial. A sua «performance» não é famosa na Reforma do Estado, mas não tem ambições políticas para muito mais. Presidente da Federação socialista de Évora quando Guterres ganhou o PS, CAPOULAS SANTOS é um simpatizante do guterrismo, sem lugar à mesa da conspiração. A braços com a crise das vacas loucas, vai contentando os dirigentes da CAP, para não piorar as coisas.

Os dispensáveis

A SITUAÇÃO degradou-se a tal ponto que qualquer remodelação credível terá agora forçosamente que passar por Manuela Arcanjo, Pina Moura, Castro Caldas, José Sasportes e Augusto Santos Silva. Os resultados dos seus desempenhos nas pastas das Finanças, Saúde, Defesa, Cultura e Educação são de tal modo desastrosos que a recuperação se afigura já impossível. Não é só a oposição a pedir as suas cabeças; são os próprios socialistas a juntar a sua voz, ainda que em circuito fechado, aos protestos generalizados. A SITUAÇÃO degradou-se a tal ponto que qualquer remodelação credível terá agora forçosamente que passar por Manuela Arcanjo, Pina Moura, Castro Caldas, José Sasportes e Augusto Santos Silva. Os resultados dos seus desempenhos nas pastas das Finanças, Saúde, Defesa, Cultura e Educação são de tal modo desastrosos que a recuperação se afigura já impossível. Não é só a oposição a pedir as suas cabeças; são os próprios socialistas a juntar a sua voz, ainda que em circuito fechado, aos protestos generalizados. De «cardeal» a «coveiro» O caso mais pungente é o de PINA MOURA que, apesar de voluntarista e seguramente bem intencionado, tem visto as suas previsões serem sistematicamente desmentidas pelas mais prestigiadas instituições nacionais e internacionais, da OCDE ao Banco de Portugal e ao INE, passando pela Comissão Europeia, o Instituto Internacional para a Competitividade e Gestão e o FMI. Ainda esta semana Bruxelas reviu em baixa a taxa de inflação, fixando-a em 3,5%, ao mesmo tempo que baixava a previsão de crescimento para os 2,6%; a instituição sedeada na Suíça colocava Portugal em 34º lugar, na lista dos países competitivos, longe da Grécia e da Espanha e atrás da Polónia e da Hungria; e o FMI constata que o país está cada vez mais pobre, corrigindo para os 3,8% a previsão inflacionista. Principal obreiro dos Estados Gerais e da Nova Maioria, o ministro das Finanças, o festejado «Cardeal» que aconselhava Guterres em tempo de «estado de graça», quando ainda era só secretário de Estado, passou à triste alcunha de «coveiro», que lhe foi aposta esta semana por Manuel Carrilho, seu colega de Governo até há bem pouco tempo. A circunstância de o défice se aproximar de níveis não atingidos desde 1984, a bolsa estar no vermelho e os empresários apelarem já abertamente a um novo Governo, dá consistência à crítica. O facto de não ter currículo que o defenda dos «azares», faz dele o «número um» dos dispensáveis. Paralisia e muita arrogância A quantificação do «buraco» da Saúde em «pelo menos» 330 milhões de contos seria, já de si, argumento suficiente para dispensar os serviços da economista que fez a vida negra a Sousa Franco e que não hesita em adivinhar-se «entrevadinha», caso permanecesse oito anos no Governo. Mas MANUELA ARCANJO não deixa os créditos por mãos alheias e encarrega-se, ela própria, de facilitar a vida aos adversários políticos, compondo uma pose arrogante, associada a um discurso pouco esclarecedor. As listas de espera nos hospitais e centros de saúde - que prometeu resolver no momento em que assumiu como sua a «segunda paixão» de Guterres - foram a sua perdição. Acusada de mentir ao Parlamento, não reconhece o fracasso. A síndrome da falta de vocação O ministro da Defesa é um caso gritante de falta de vocação. A forma como CASTRO CALDAS saiu da crise do urânio, marcada pela troca de desmentidos entre o Governo e o Presidente da República, tornou a sua imagem irrecuperável. Não consegue entender-se em termos aceitáveis com a instituição militar. Acusado de ter uma «visão catastrofista» dos problemas, já por mais de uma vez exasperou o próprio Guterres em Conselho de Ministros, que só não o dispensou ainda para não melindrar Sampaio, a cuja «entourage» continua a pertencer. Aguarda-se, com expectativa, o dia em que apresenta uma solução. Herdeiro de uma paixão defunta Os indicadores terceiro-mundistas sobre a Educação em Portugal são o melhor balanço do Estado a que chegou a grande paixão de Guterres, que AUGUSTO SANTOS SILVA não consegue de todo ressuscitar. Cumprindo a regra de adiar decisões, já levou os estudantes do Porto à galhofa, com anúncios de «Primeiro-ministro: precisa-se» e a ideia de criar um Partido da Educação. O «actor» que provoca pateada JOSÉ SASPORTES é outra dor de cabeça para o primeiro-ministro, que já aconselhou dirigentes do PS a não o convidarem para debates políticos, «sob pena de os que estão a favor passarem a estar contra». A guerra em que se envolveu com actores e encenadores culminou esta semana com a apresentação pelo «Movimento dos 31» do «Livro Negro dos Subsídios ao Teatro», onde se denunciam irregularidades do ministério. E o Porto-2001, onde Cavaleiro Brandão acaba de se demitir, é o que se sabe.

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Os ministros mais mal-amados

COMENTÁRIOS AO ARTIGO

26 comentários 21 a 26

28 Abril 2001 às 23:58

M. T. C.

Mudemos mas é de Governo!!!

28 Abril 2001 às 20:42

Kunka ( abc@cddc.com )

É fácil: vão todos para casa e deixem trabalhar quem sabe !!!

28 Abril 2001 às 17:38

Zedogato ( afonsopite@hotmail.com )

Guterres está a ficar parecido com Cavaco. Quando se antecipam remodelações, Guterres trava alguma que tencionasse fazer.

28 Abril 2001 às 16:47

Guterres remodelou a vida dele. E fez bem. E deve ficar por aí! E deve ir embora da política!!!

28 Abril 2001 às 15:51

Estamos mal.

Volta Cavaco !

28 Abril 2001 às 10:40

f.macedo ( fbomacedo@worldonline.ch )

a ver vamos ....

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Guterres à beira da remodelação Os responsáveis das Finanças e da Saúde são figuras indispensáveis num cenário de remodelação que, nos bastidores políticos, surge como cada vez mais inevitável depois do Congresso do PS e, talvez mesmo, a única forma que Guterres terá para ganhar embalagem para eventuais eleições antecipadas. Uma situação que a larga maioria dos portugueses diz não pretender, revela o Painel EXPRESSO/Euroexpansão, apesar de Guterres sofrer uma forte queda de popularidade Fotomontagem EXPRESSO OS INTOCÁVEIS

A POSSIBILIDADE de António Guterres proceder a uma remodelação profunda do Governo logo a seguir ao congresso do próximo fim-de-semana, que interrompa de vez o ciclo de desgaste a que os socialistas têm estado sujeitos, ganha contornos cada vez mais nítidos à medida que os dias passam. A POSSIBILIDADE de António Guterres proceder a uma remodelação profunda do Governo logo a seguir ao congresso do próximo fim-de-semana, que interrompa de vez o ciclo de desgaste a que os socialistas têm estado sujeitos, ganha contornos cada vez mais nítidos à medida que os dias passam. O ambiente de fim de ciclo é já indisfarçável, com a Igreja a declarar oficialmente o estado de crise e os bispos a falarem da necessidade de «decidir com coragem»; as instituições económicas e financeiras internacionais a criticarem duramente Portugal e a lamentarem que sucessivas recomendações caiam em saco roto; a bancada parlamentar mais dividida do que nunca, com 24 deputados a rebelarem-se contra as cedências à hierarquia católica; a intocabilidade do próprio Guterres a ser posta em causa, com Carlos Candal a «empurrar» Cravinho para lhe fazer frente, Alegre a criticar tanto unanimismo, Henrique Neto a lamentar obstruções à discussão, Maria de Belém a subscrever uma moção contra Manuela Arcanjo. Nos bastidores do partido e do Governo multiplicam-se movimentações, intrigas e conspirações que permitem perceber melhor quem é quem neste jogo de glória e desgraça, que evita a todo o custo oferecer de bandeja o poder a Durão Barroso. Dois dos principais candidatos à liderança - Ferro Rodrigues e António Costa - lançam publicamente mais achas para a fogueira, fortalecendo a ideia de que o Governo está por um fio. O novo ministro do Equipamento não hesita em reconhecer que «as eleições antecipadas são o melhor dos males», deixando claro que pior seria deixar arrastar a inacção e a crise de autoridade. E o ministro da Justiça critica abertamente a «falta de dinamismo» do Executivo e o incumprimento do programa com que foi eleito, lembrando que a corrida à liderança só aguarda o sinal de resignação de Guterres. A ideia da necessidade duma mudança regeneradora está também a ser fomentada por Jorge Coelho que, beneficiando da liberdade de movimentos que conquistou ao demitir-se do Governo, incendeia agora as bases. Investido como «secretário-geral sombra», o número dois oficioso adverte repetidamente que as coisas não podem continuar como estão. E, de caminho, vai dizendo que «os socialistas não têm medo de eleições», incutindo na estruturas locais a ideia de que o Governo foi eleito para resolver os problemas e não para dialogar sobre eles. De regresso aos discursos codificados, Jorge Sampaio deixou também um aviso sério a António Guterres, no discurso comemorativo do 25 de Abril, ao advertir que é preciso combater a incompetência e aplicar «mais rigor e exigência» à governação. Indiferente à vaga e embalado pelas sondagens - que, na maioria, lhe são claramente favoráveis, o líder socialista dá sinais de pouca ou nenhuma abertura à mudança. A sua polémica declaração de que a prova de que tudo vai bem é que um milhão de pessoas passou a Páscoa no Algarve deixa entrever a vontade de que tudo fique na mesma. Mas irá ver-se forçado a mudar de atitude e a promover alterações na composição do Executivo. Uma vez remodelado, com uma composição mais política do que técnica, o Governo deverá então começar a preparar-se para eleições antecipadas, na expectativa de um «chumbo», praticamente certo, do Orçamento de Estado para 2002. Na opinião dos dirigentes socialistas mais lúcidos, essa será a única forma de o partido evitar um afastamento do poder por tempo indeterminado. O último guterrista Catapultado para o estrelato pela SIC, onde tem uma visibilidade maior do que muitas das estrelas da estação, JOSÉ SÓCRATES é o prémio revelação socialista, a maior vedeta do Governo. Embora sejam mais os casos em que promete actuar do que aqueles em que age de facto, soube compor a imagem do governante que decide. O que faz a diferença num governo que deixou criar a suspeita de que não tem uma ideia para Portugal, capacidade para se antecipar às crises ou coragem para enfrentar pressões. Catapultado para o estrelato pela SIC, onde tem uma visibilidade maior do que muitas das estrelas da estação,é o prémio revelação socialista, a maior vedeta do Governo. Embora sejam mais os casos em que promete actuar do que aqueles em que age de facto, soube compor a imagem do governante que decide. O que faz a diferença num governo que deixou criar a suspeita de que não tem uma ideia para Portugal, capacidade para se antecipar às crises ou coragem para enfrentar pressões. O processo da co-incineração é a sua imagem de marca, a grande obra, a prova insofismável de que é um homem de acção. Poucos admitem um recuo a esse nível que, a verificar-se, lhe seria seguramente fatal. É o primeiro dos «intocáveis» do Governo, a figura cuja permanência está garantida no Executivo, antes de qualquer outra. Seguidor fidelíssimo de Guterres, desde os tempos da oposição a Sampaio, é o último guterrista no Governo, o «sobrevivente» do núcleo duro que incluiu António Vitorino, António José Seguro, Maria de Belém, Armando Vara, Luís Patrão. Sem ele, Guterres fica mais só e desamparado. E Sócrates alimenta a secreta esperança (que já foi mais discreta...) de poder um dia vir a substitui-lo. O campeão da popularidade Apesar de ter feito pouco mais na pasta do Equipamento do que demitir pessoas envolvidas na tragédia de Entre-os-Rios, FERRO RODRIGUES é ainda o mais popular dos ministros de Guterres. Associado à ideia do Rendimento Mínimo Garantido - que até a oposição já subscreve -, é o mais hábil entre os socialistas a gerir a sua própria imagem. Conseguiu até aqui evitar envolver-se em questões polémicas, mesmo quando assumiu a difícil pasta do Trabalho, remetendo sistematicamente para outros o incómodo de enfrentar os conflitos. Isso garante-lhe a imagem do governante eficiente e generoso. A não ser que algum acontecimento grave o colha de surpresa, tem lugar cativo no Governo - neste ou em qualquer outro de matriz socialista. Ninguém, nem mesmo a oposição, perceberia que Guterres quisesse afastá-lo. Sampaísta puro e duro - embora tente convencer a opinião pública de que o sampaísmo nunca existiu -, já propôs por mais de uma vez a candidatura de Guterres à Presidência da República, denunciando uma estratégia que passa pela sua candidatura à liderança. O diplomata ausente JAIME GAMA, o «peixe de águas profundas», é outro dos pilares essenciais da governação socialista, que permanecerá até lhe apetecer (e enquanto o PS vencer) no lugar de ministro dos Negócios Estrangeiros, que parece talhado à medida dos seus apetites mundanos e da sua vocação natural. A circunstância de estar frequentemente longe, por força da mobilidade esforçada a que a diplomacia convida, garantiu-lhe nos últimos seis anos um distanciamento providencial das querelas internas. É como se nada do que se passa internamente lhe dissesse respeito. Apesar de ter iniciado a vida activa como jornalista, a escola das Necessidades fez dele um diplomata exímio. Tão hábil que consegue passar intocável por crises tão mediáticas como a do rapto dos operários portugueses em Cabinda, ou a dos mais de 300 emigrantes abatidos na África do Sul (oito só na última semana). Mais do que temê-lo, Guterres respeita-o. O justiceiro adiado O estado a que a Justiça chegou em Portugal não parece afectar ainda grandemente a imagem de ANTÓNIO COSTA. Mas o mistério não é de hoje: saiu igualmente incólume do escândalo que rodeou a Expo-98, apesar de ser o ministro responsável pela fase final do evento. A circunstância de ter peso político próprio, à semelhança dos outros três, faz também dele um intocável. Guterres, que se viu obrigado a demitir Sá Fernandes por sua causa, não tem condições para o dispensar. Mas a sua popularidade está a dissipar-se aceleradamente.

ORLANDO RAIMUNDO

Os neutros

METADE dos membros do Governo resiste com dificuldade à pressão que se abate sobre o Governo. Mas, apesar de tudo, resiste. A dificuldade de encontrar independentes dispostos a arriscar, a circunstância de Guterres ter de contentar as várias famílias políticas do PS e a premência de formar equipa habilitada a combater o PSD, em cenário de eleições antecipadas, faz deles peças importantes do xadrez socialista. Com níveis de gradação diferentes. METADE dos membros do Governo resiste com dificuldade à pressão que se abate sobre o Governo. Mas, apesar de tudo, resiste. A dificuldade de encontrar independentes dispostos a arriscar, a circunstância de Guterres ter de contentar as várias famílias políticas do PS e a premência de formar equipa habilitada a combater o PSD, em cenário de eleições antecipadas, faz deles peças importantes do xadrez socialista. Com níveis de gradação diferentes. GUILHERME D'OLIVEIRA MARTINS é o mais imprescindível dos «neutros». De extracção católica, como o chefe do Governo, é sobre ele que recai a difícil tarefa da coordenação política. É um social-democrata puro, leal ao chefe do Governo. Os que não gostam dele dizem que nunca se sabe bem o que está a pensar. NUNO SEVERIANO TEIXEIRA, o ministro da Administração Interna, foi indicado por António Vitorino para a espinhosa missão de substituir Fernando Gomes. Desempenhou com discrição o papel de «bombeiro voluntário», como lhe foi pedido em Entre-os-Rios, e geriu com tacto a melindrosa questão dos crimes à porta das discotecas, mostrando ao homem do Norte como deveria ter feito. Não é militante do PS. PAULO PEDROSO corresponde ao perfil dos jovens em quem Guterres pensa quando fala em substituir «marretas» por cabeças arejadas. Pôs de pé o Rendimento Mínimo e está de olho nos lares de idosos, apostado em herdar a popularidade de Ferro Rodrigues, a cuja família política pertence. Até contratou como assessor o homem que fez a imagem daquele. É o homem do aparelho sampaísta, à volta de quem gravitam as potenciais novas revelações, tão ao gosto do primeiro-ministro. Gamista por convicção e militância, e mais simpático do que Jaime Gama, JOSÉ LELLO é um daqueles políticos de quem se diz que «a sabe toda». Vai ultrapassar com facilidade os complicados problemas decorrentes da organização do Euro-2004, dando o dinheiro aos clubes, já que não terá capacidade para enfrentar «lobbies». Antigo maoísta, ex-ideólogo do CCR-ML e ex-presidente da Associação de Estudantes do Técnico, MARIANO GAGO é uma das figuras que Guterres mais admira. A começar pelo facto de ter tido melhores notas do que ele e ainda ter arranjado tempo para a conspiração política. A inteligência e os conhecimentos do titular da Ciência e da Tecnologia deixam o líder do PS embevecido. Gestor público prestigiado, MÁRIO CRISTINA DE SOUSA é um daqueles homens que, em fim de carreira, resolveu aceitar o desafio de colocar a menção de ministro no seu já vasto currículo. A situação económica não lhe corre de feição, mas pode sempre dizer que a culpa é da conjuntura internacional. ELISA FERREIRA é o rosto visível do que sobra dos Estados Gerais. Não é socialista. Figura prestigiada do Norte e muito competente tecnicamente, demonstrou falta de habilidade política ao deixar a Sócrates, em testamento forçado, a «coragem» de resolver o problema da co-incineração. Guterres compensou-a, confiando-lhe a pasta do Planeamento, onde cumpre a missão discreta. ALBERTO MARTINS é um sampaísta convicto e visita de casa do Presidente da República, a quem foi preciso arranjar um lugar ministerial. A sua «performance» não é famosa na Reforma do Estado, mas não tem ambições políticas para muito mais. Presidente da Federação socialista de Évora quando Guterres ganhou o PS, CAPOULAS SANTOS é um simpatizante do guterrismo, sem lugar à mesa da conspiração. A braços com a crise das vacas loucas, vai contentando os dirigentes da CAP, para não piorar as coisas.

Os dispensáveis

A SITUAÇÃO degradou-se a tal ponto que qualquer remodelação credível terá agora forçosamente que passar por Manuela Arcanjo, Pina Moura, Castro Caldas, José Sasportes e Augusto Santos Silva. Os resultados dos seus desempenhos nas pastas das Finanças, Saúde, Defesa, Cultura e Educação são de tal modo desastrosos que a recuperação se afigura já impossível. Não é só a oposição a pedir as suas cabeças; são os próprios socialistas a juntar a sua voz, ainda que em circuito fechado, aos protestos generalizados. A SITUAÇÃO degradou-se a tal ponto que qualquer remodelação credível terá agora forçosamente que passar por Manuela Arcanjo, Pina Moura, Castro Caldas, José Sasportes e Augusto Santos Silva. Os resultados dos seus desempenhos nas pastas das Finanças, Saúde, Defesa, Cultura e Educação são de tal modo desastrosos que a recuperação se afigura já impossível. Não é só a oposição a pedir as suas cabeças; são os próprios socialistas a juntar a sua voz, ainda que em circuito fechado, aos protestos generalizados. De «cardeal» a «coveiro» O caso mais pungente é o de PINA MOURA que, apesar de voluntarista e seguramente bem intencionado, tem visto as suas previsões serem sistematicamente desmentidas pelas mais prestigiadas instituições nacionais e internacionais, da OCDE ao Banco de Portugal e ao INE, passando pela Comissão Europeia, o Instituto Internacional para a Competitividade e Gestão e o FMI. Ainda esta semana Bruxelas reviu em baixa a taxa de inflação, fixando-a em 3,5%, ao mesmo tempo que baixava a previsão de crescimento para os 2,6%; a instituição sedeada na Suíça colocava Portugal em 34º lugar, na lista dos países competitivos, longe da Grécia e da Espanha e atrás da Polónia e da Hungria; e o FMI constata que o país está cada vez mais pobre, corrigindo para os 3,8% a previsão inflacionista. Principal obreiro dos Estados Gerais e da Nova Maioria, o ministro das Finanças, o festejado «Cardeal» que aconselhava Guterres em tempo de «estado de graça», quando ainda era só secretário de Estado, passou à triste alcunha de «coveiro», que lhe foi aposta esta semana por Manuel Carrilho, seu colega de Governo até há bem pouco tempo. A circunstância de o défice se aproximar de níveis não atingidos desde 1984, a bolsa estar no vermelho e os empresários apelarem já abertamente a um novo Governo, dá consistência à crítica. O facto de não ter currículo que o defenda dos «azares», faz dele o «número um» dos dispensáveis. Paralisia e muita arrogância A quantificação do «buraco» da Saúde em «pelo menos» 330 milhões de contos seria, já de si, argumento suficiente para dispensar os serviços da economista que fez a vida negra a Sousa Franco e que não hesita em adivinhar-se «entrevadinha», caso permanecesse oito anos no Governo. Mas MANUELA ARCANJO não deixa os créditos por mãos alheias e encarrega-se, ela própria, de facilitar a vida aos adversários políticos, compondo uma pose arrogante, associada a um discurso pouco esclarecedor. As listas de espera nos hospitais e centros de saúde - que prometeu resolver no momento em que assumiu como sua a «segunda paixão» de Guterres - foram a sua perdição. Acusada de mentir ao Parlamento, não reconhece o fracasso. A síndrome da falta de vocação O ministro da Defesa é um caso gritante de falta de vocação. A forma como CASTRO CALDAS saiu da crise do urânio, marcada pela troca de desmentidos entre o Governo e o Presidente da República, tornou a sua imagem irrecuperável. Não consegue entender-se em termos aceitáveis com a instituição militar. Acusado de ter uma «visão catastrofista» dos problemas, já por mais de uma vez exasperou o próprio Guterres em Conselho de Ministros, que só não o dispensou ainda para não melindrar Sampaio, a cuja «entourage» continua a pertencer. Aguarda-se, com expectativa, o dia em que apresenta uma solução. Herdeiro de uma paixão defunta Os indicadores terceiro-mundistas sobre a Educação em Portugal são o melhor balanço do Estado a que chegou a grande paixão de Guterres, que AUGUSTO SANTOS SILVA não consegue de todo ressuscitar. Cumprindo a regra de adiar decisões, já levou os estudantes do Porto à galhofa, com anúncios de «Primeiro-ministro: precisa-se» e a ideia de criar um Partido da Educação. O «actor» que provoca pateada JOSÉ SASPORTES é outra dor de cabeça para o primeiro-ministro, que já aconselhou dirigentes do PS a não o convidarem para debates políticos, «sob pena de os que estão a favor passarem a estar contra». A guerra em que se envolveu com actores e encenadores culminou esta semana com a apresentação pelo «Movimento dos 31» do «Livro Negro dos Subsídios ao Teatro», onde se denunciam irregularidades do ministério. E o Porto-2001, onde Cavaleiro Brandão acaba de se demitir, é o que se sabe.

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COMENTÁRIOS AO ARTIGO

26 comentários 21 a 26

28 Abril 2001 às 23:58

M. T. C.

Mudemos mas é de Governo!!!

28 Abril 2001 às 20:42

Kunka ( abc@cddc.com )

É fácil: vão todos para casa e deixem trabalhar quem sabe !!!

28 Abril 2001 às 17:38

Zedogato ( afonsopite@hotmail.com )

Guterres está a ficar parecido com Cavaco. Quando se antecipam remodelações, Guterres trava alguma que tencionasse fazer.

28 Abril 2001 às 16:47

Guterres remodelou a vida dele. E fez bem. E deve ficar por aí! E deve ir embora da política!!!

28 Abril 2001 às 15:51

Estamos mal.

Volta Cavaco !

28 Abril 2001 às 10:40

f.macedo ( fbomacedo@worldonline.ch )

a ver vamos ....

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