EXPRESSO: País

16-06-2001
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Vara sai da política activa

O ex-ministro vai trocar a coordenação autárquica do PS pelo sector privado

Ana Baião Armando Vara, na Comissão de Inquérito à FPS: testemunhos são comprometedores

ARMANDO Vara, coordenador para as autárquicas do PS, deverá deixar a política activa ainda antes das eleições de Dezembro. Depois de ter aceite o cargo de administrador da SAD benfiquista, em que tem o pelouro das relações institucionais a nível nacional e internacional, o ex-ministro deverá aceitar funções de administração numa empresa do sector privado e de consultor numa outra dedicada ao transporte marítimo. No Benfica, a sua acção irá ser discreta e remunerada apenas por senhas de presença de montante que deverá rondar os 200 contos, a estabelecer numa próxima assembleia-geral da SAD.

Esta sua decisão acontece numa altura em que a Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a Fundação para a Prevenção e Segurança (FPS) tem revelado numerosas irregularidades e levantado suspeitas de algumas ilegalidades no funcionamento da extinta FPS (criada por Armando Vara enquanto secretário de Estado da Administração Interna). Além disso, no interior daquela Comissão, surgem informações de que aparecerão em breve novos dados sobre a FPS que comprometem ainda mais a imagem de Vara. Esses dados têm a ver com aspectos ainda não suficientemente esclarecidos pelas investigações, nomeadamente contratos com empresas de publicidade e empréstimo de património imobiliário que é propriedade do Ministério da Administração Interna.

Caído em desgraça com os episódios da FPS, Vara não tem escondido a sua desilusão por considerar que têm sido sectores socialistas, nomeadamente próximos de Fernando Gomes, que têm alimentado a polémica. «Quando se fizer a história completa deste caso, ver-se-á. É um processo kafkiano.» Embora aceite que cometeu «alguns erros processuais», contrapõe que «sempre esteve em causa a defesa do interesse público». Vara admite vir ele próprio a escrever um livro sobre todo este processo. «Tenho recolhido recortes, estou atento aos depoimentos e aos pareceres que têm sido emitidos, nomeadamente pela Procuradoria-Geral da República, e estou a pensar, um dia, contar toda esta história. Tem de se saber com clareza tudo o que se passou.»

Tendo pedido a suspensão de deputado, como coordenador autárquico Vara tem estado empenhado em diversas reuniões com as comissões concelhias e distritais para a constituição das listas de candidatos. Mas tudo indica que, mal esta questão esteja resolvida, porá a política de lado, partindo para uma travessia do deserto feita no sector privado.

Contestado no PS

O peso político de Armando Vara no PS diminuiu nas últimas semanas. Até na equipa de coordenação das eleições autárquicas, para a qual foi chamado por António Guterres, o seu papel está a ser posto em causa. Edite Estrela, em entrevista ao «Público», esta semana, deixa claro que não acha compatível aquela função com a de administrador da SAD benfiquista.

Entretanto, o seu envolvimento nos casos mais obscuros do polémico processo da FPS tem sido acentuado por todos os que têm deposto na Comissão de Inquérito. De resto, foi o próprio ex-presidente da Fundação, Tomé Falcão, quem afirmou perante os deputados que «nada tinha sido feito sem o conhecimento e autorização expressa de Armando Vara». Tomé Falcão confessou até que chegou a ter dúvidas sobre a legalidade de certos procedimentos e que colocou sempre esses receios a Armando Vara.

Mas quando, nas vésperas do desencadear da polémica, o EXPRESSO interrogou Vara sobre a FPS, o então ministro do Desporto terminou a conversa telefónica com um comentário lacónico: «Penso que o assunto não merece sequer uma pequena notícia.»

Um mês depois, Vara e Luís Patrão foram demitidos do Governo por causa desse caso e, hoje, Vara é obrigado a admitir que nem tudo terá sido feito da melhor maneira. Agora, os deputados da Oposição na Comissão de Inquérito querem uma acareação entre Vara, Gomes, Tomé Falcão e os ex-secretários de Estado Manuel Diogo e Luís Patrão, alegando que há contradições no processo, o que não foi aceite pelos socialistas, gerando uma situação de impasse.

Armando Vara admite escrever um livro com «toda a verdade» sobre o polémico processo da Fundação para a Prevenção e Segurança. Antes disso, trocará a política activa por um lugar na administração da SAD do Benfica e outros no sector privado

Vara sai da política activa

O ex-ministro vai trocar a coordenação autárquica do PS pelo sector privado

Ana Baião Armando Vara, na Comissão de Inquérito à FPS: testemunhos são comprometedores

ARMANDO Vara, coordenador para as autárquicas do PS, deverá deixar a política activa ainda antes das eleições de Dezembro. Depois de ter aceite o cargo de administrador da SAD benfiquista, em que tem o pelouro das relações institucionais a nível nacional e internacional, o ex-ministro deverá aceitar funções de administração numa empresa do sector privado e de consultor numa outra dedicada ao transporte marítimo. No Benfica, a sua acção irá ser discreta e remunerada apenas por senhas de presença de montante que deverá rondar os 200 contos, a estabelecer numa próxima assembleia-geral da SAD.

Esta sua decisão acontece numa altura em que a Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a Fundação para a Prevenção e Segurança (FPS) tem revelado numerosas irregularidades e levantado suspeitas de algumas ilegalidades no funcionamento da extinta FPS (criada por Armando Vara enquanto secretário de Estado da Administração Interna). Além disso, no interior daquela Comissão, surgem informações de que aparecerão em breve novos dados sobre a FPS que comprometem ainda mais a imagem de Vara. Esses dados têm a ver com aspectos ainda não suficientemente esclarecidos pelas investigações, nomeadamente contratos com empresas de publicidade e empréstimo de património imobiliário que é propriedade do Ministério da Administração Interna.

Caído em desgraça com os episódios da FPS, Vara não tem escondido a sua desilusão por considerar que têm sido sectores socialistas, nomeadamente próximos de Fernando Gomes, que têm alimentado a polémica. «Quando se fizer a história completa deste caso, ver-se-á. É um processo kafkiano.» Embora aceite que cometeu «alguns erros processuais», contrapõe que «sempre esteve em causa a defesa do interesse público». Vara admite vir ele próprio a escrever um livro sobre todo este processo. «Tenho recolhido recortes, estou atento aos depoimentos e aos pareceres que têm sido emitidos, nomeadamente pela Procuradoria-Geral da República, e estou a pensar, um dia, contar toda esta história. Tem de se saber com clareza tudo o que se passou.»

Tendo pedido a suspensão de deputado, como coordenador autárquico Vara tem estado empenhado em diversas reuniões com as comissões concelhias e distritais para a constituição das listas de candidatos. Mas tudo indica que, mal esta questão esteja resolvida, porá a política de lado, partindo para uma travessia do deserto feita no sector privado.

Contestado no PS

O peso político de Armando Vara no PS diminuiu nas últimas semanas. Até na equipa de coordenação das eleições autárquicas, para a qual foi chamado por António Guterres, o seu papel está a ser posto em causa. Edite Estrela, em entrevista ao «Público», esta semana, deixa claro que não acha compatível aquela função com a de administrador da SAD benfiquista.

Entretanto, o seu envolvimento nos casos mais obscuros do polémico processo da FPS tem sido acentuado por todos os que têm deposto na Comissão de Inquérito. De resto, foi o próprio ex-presidente da Fundação, Tomé Falcão, quem afirmou perante os deputados que «nada tinha sido feito sem o conhecimento e autorização expressa de Armando Vara». Tomé Falcão confessou até que chegou a ter dúvidas sobre a legalidade de certos procedimentos e que colocou sempre esses receios a Armando Vara.

Mas quando, nas vésperas do desencadear da polémica, o EXPRESSO interrogou Vara sobre a FPS, o então ministro do Desporto terminou a conversa telefónica com um comentário lacónico: «Penso que o assunto não merece sequer uma pequena notícia.»

Um mês depois, Vara e Luís Patrão foram demitidos do Governo por causa desse caso e, hoje, Vara é obrigado a admitir que nem tudo terá sido feito da melhor maneira. Agora, os deputados da Oposição na Comissão de Inquérito querem uma acareação entre Vara, Gomes, Tomé Falcão e os ex-secretários de Estado Manuel Diogo e Luís Patrão, alegando que há contradições no processo, o que não foi aceite pelos socialistas, gerando uma situação de impasse.

Armando Vara admite escrever um livro com «toda a verdade» sobre o polémico processo da Fundação para a Prevenção e Segurança. Antes disso, trocará a política activa por um lugar na administração da SAD do Benfica e outros no sector privado

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