EXPRESSO: País

31-01-2002
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Alentejo continua dominado pelo PCP

Évora está em risco. Mas, mesmo perdendo influência, a CDU manterá a maioria dos concelhos

Ana Baião José Ernesto de Oliveira: a grande aposta do PS no Alentejo é o derrube do «dinossauro» comunista, Abílio Fernandes, em Évora. Uma tarefa dificultada pelo mau momento do Governo

A UMA semana das eleições autárquicas, continua no reino das indefinições quem sairá, afinal, vencedor em Évora. O comunista Abílio Fernandes, há um quarto de século à frente dos destinos da autarquia, e José Ernesto de Oliveira, o candidato do PS, disputam taco-a-taco a vitória, num duelo sem tréguas. Sendo certo que as sondagens têm apontado para uma vantagem de escassos pontos percentuais da CDU, o facto é que as diferenças verificadas não permitem dissipar as dúvidas, porquanto a margem de indecisos e a abstenção poderão revelar-se decisivas para uma alteração do quadro.

Conquistar ao PCP o seu mais emblemático município é desejo assumido e reiterado pelo PS. E não foi por acaso que António Guterres começou o seu envolvimento nas autárquicas visitando Évora. Num almoço, que no passado sábado reuniu cerca de 700 militantes num restaurante da cidade, o secretário-geral dos socialistas criticou fortemente a gestão da CDU e apelou ao espírito de mudança da população do concelho. Anteontem, José Ernesto de Oliveira contou com o apoio de Elisa Ferreira e do secretário de Estado Ricardo Magalhães, numa acção de sensibilização ao seu projecto, efectuada junto dos comerciantes do Centro Histórico. E para ontem, ao final da tarde, prometia encher a Praça do Giraldo, como não acontece desde os tempos da Reforma Agrária.

Por seu turno, Abílio Fernandes tem desenvolvido a campanha privilegiando o contacto porta-a-porta com os eleitores, nomeadamente das freguesias rurais, e divulgando o apoio que recebe de intelectuais como José Saramago, Urbano Tavares Rodrigues, Galopim de Carvalho, José Barata Moura e Mário de Carvalho, entre outros, que no entanto não residem no concelho, nem sequer no Alentejo (ou até, no caso de Saramago, fora do país).

A queda do «dinossauro»

A grande aposta para a última semana de campanha faz-se no grande comício, terça-feira, em que estará presente o secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas. O ambiente de confiança na manutenção da Câmara é moderado e as declarações bastante cautelosas. Uma coisa é visível: pela primeira vez, Abílio Fernandes teve de abandonar o gabinete na Câmara e sair à rua a pedir o voto.

Fora da corrida, Óscar de Almeida, do PSD, concentra todos os esforços na tarefa de conseguir eleger um vereador. A sua tarefa principal é lutar contra a tentação de muitos militantes «laranjas» do voto útil no PS como forma de ajudar a desalojar os comunistas do poder. Para mais, sabe que as desinteligências internas que minam as estruturas regionais do seu partido não favoreceram a unanimidade quanto à sua designação como candidato. E é também com isso que os socialistas contam.

Com todas estas condicionantes, é impossível avançar com prognósticos em Évora. E até pode dizer-se que, para já, Abílio Fernandes teve um mau prenúncio. Quarta-feira, o «dinossauro» comunista caiu da cadeira que lhe estava destinada quando se preparava para intervir num debate entre todos os candidatos, promovido pela Antena 1.

O ataque do PS

No Alentejo, o ataque «rosa» aos principais municípios geridos desde sempre pelo PCP não se confina a Évora. Em circunstâncias idênticas estão as Câmaras de Sines e Santiago do Cacém.

Na primeira, o médico Manuel Coelho volta a recandidatar-se mas o socialista Idalino José, um filho da terra bem querido pela população, ameaça retirar-lhe a presidência. Nas últimas eleições, apenas 480 votos separaram as duas candidaturas. Em Santiago do Cacém, o crónico presidente comunista Ramiro Beja retirou-se, deixando a CDU em dificuldades. O PS pode chegar à vitória se conseguir impor-se em Vila Nova de Santo André, freguesia que tem mais votantes do que a própria sede do concelho.

Mértola, Grândola, Borba e Montemor-o-Novo (onde os comunistas enfrentam um movimento de independentes que agrupa socialistas, democratas-cristãos e cidadãos sem filiação partidária) são outros municípios debaixo do fogo cerrado.

Mas se, em todos estes concelhos (Évora incluído), o PCP poderá, apesar de todas as dificuldades, manter a maioria relativa, em concelhos de menor dimensão, como Alandroal, Vidigueira e Nisa, a sua perda para o PS é já admitida como muito provável. É a consequência esperada da renúncia a nova candidatura dos anteriores presidentes, com os substitutos a não darem garantias de sucesso. Os abandonos de Carlos Góis (Vidigueira) e José Manuel Basso (Nisa), ambos com dezoito anos de permanência no poder, são tidas por irreparáveis.

Mas a CDU também pretende recuperar ao PS alguns concelhos, como Portel, Cuba e Crato. E se no caso dos dois primeiros a tarefa não é fácil já no último a sua vitória é dada como certa.

É exactamente no distrito de Portalegre, onde é força dominante, que o partido da «rosa» poderá vir a conhecer alguns dissabores. Além do Crato, também Marvão e Sousel poderão cair, desta feita para o PSD. E Portalegre também não se encontra a coberto de qualquer surpresa. Outra fortíssima opção de vitória dos sociais-democratas ocorre no Baixo Alentejo, em Almodôvar, município que candidata o independente e ex-comunista António Sebastião. A terra que foi sempre domínio do socialista António Saleiro parece agora disponível para largar a sua tutela.

PP em Vila Viçosa?

Uma das grandes surpresas destas eleições autárquicas poderá vir de Vila Viçosa, onde o PP poderá ganhar a Câmara ao PCP, facto que, a acontecer, seria inédito no Alentejo.

A verdade é que o comunista Manuel Condenado não parece conseguir conquistar as boas graças da população. E Patacão Rodrigues, do PS, presidente do município entre 1980 e 1990 - afastado do poder na sequência de condenação judicial -, também não parece capaz de chegar ao triunfo. Tal como o inexperiente Inácio Esperança do PSD. Assim sendo, é Eduardo Almeida, vereador a tempo inteiro no mandato anterior, quem se perfila como possível ganhador.

Em jeito de balanço, poderá dizer-se que a supremacia do PCP no Alentejo continuará a verificar-se, ainda que de forma muito mais esbatida, como consequência do inevitável declínio da sua influência na região. Uma coisa porém se afigura como evidente: pela primeira vez, desde há 20 anos, poderão verificar-se mudanças no comando partidário em pelo menos 19 concelhos dos 47 que integram o Alentejo.

Alentejo continua dominado pelo PCP

Évora está em risco. Mas, mesmo perdendo influência, a CDU manterá a maioria dos concelhos

Ana Baião José Ernesto de Oliveira: a grande aposta do PS no Alentejo é o derrube do «dinossauro» comunista, Abílio Fernandes, em Évora. Uma tarefa dificultada pelo mau momento do Governo

A UMA semana das eleições autárquicas, continua no reino das indefinições quem sairá, afinal, vencedor em Évora. O comunista Abílio Fernandes, há um quarto de século à frente dos destinos da autarquia, e José Ernesto de Oliveira, o candidato do PS, disputam taco-a-taco a vitória, num duelo sem tréguas. Sendo certo que as sondagens têm apontado para uma vantagem de escassos pontos percentuais da CDU, o facto é que as diferenças verificadas não permitem dissipar as dúvidas, porquanto a margem de indecisos e a abstenção poderão revelar-se decisivas para uma alteração do quadro.

Conquistar ao PCP o seu mais emblemático município é desejo assumido e reiterado pelo PS. E não foi por acaso que António Guterres começou o seu envolvimento nas autárquicas visitando Évora. Num almoço, que no passado sábado reuniu cerca de 700 militantes num restaurante da cidade, o secretário-geral dos socialistas criticou fortemente a gestão da CDU e apelou ao espírito de mudança da população do concelho. Anteontem, José Ernesto de Oliveira contou com o apoio de Elisa Ferreira e do secretário de Estado Ricardo Magalhães, numa acção de sensibilização ao seu projecto, efectuada junto dos comerciantes do Centro Histórico. E para ontem, ao final da tarde, prometia encher a Praça do Giraldo, como não acontece desde os tempos da Reforma Agrária.

Por seu turno, Abílio Fernandes tem desenvolvido a campanha privilegiando o contacto porta-a-porta com os eleitores, nomeadamente das freguesias rurais, e divulgando o apoio que recebe de intelectuais como José Saramago, Urbano Tavares Rodrigues, Galopim de Carvalho, José Barata Moura e Mário de Carvalho, entre outros, que no entanto não residem no concelho, nem sequer no Alentejo (ou até, no caso de Saramago, fora do país).

A queda do «dinossauro»

A grande aposta para a última semana de campanha faz-se no grande comício, terça-feira, em que estará presente o secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas. O ambiente de confiança na manutenção da Câmara é moderado e as declarações bastante cautelosas. Uma coisa é visível: pela primeira vez, Abílio Fernandes teve de abandonar o gabinete na Câmara e sair à rua a pedir o voto.

Fora da corrida, Óscar de Almeida, do PSD, concentra todos os esforços na tarefa de conseguir eleger um vereador. A sua tarefa principal é lutar contra a tentação de muitos militantes «laranjas» do voto útil no PS como forma de ajudar a desalojar os comunistas do poder. Para mais, sabe que as desinteligências internas que minam as estruturas regionais do seu partido não favoreceram a unanimidade quanto à sua designação como candidato. E é também com isso que os socialistas contam.

Com todas estas condicionantes, é impossível avançar com prognósticos em Évora. E até pode dizer-se que, para já, Abílio Fernandes teve um mau prenúncio. Quarta-feira, o «dinossauro» comunista caiu da cadeira que lhe estava destinada quando se preparava para intervir num debate entre todos os candidatos, promovido pela Antena 1.

O ataque do PS

No Alentejo, o ataque «rosa» aos principais municípios geridos desde sempre pelo PCP não se confina a Évora. Em circunstâncias idênticas estão as Câmaras de Sines e Santiago do Cacém.

Na primeira, o médico Manuel Coelho volta a recandidatar-se mas o socialista Idalino José, um filho da terra bem querido pela população, ameaça retirar-lhe a presidência. Nas últimas eleições, apenas 480 votos separaram as duas candidaturas. Em Santiago do Cacém, o crónico presidente comunista Ramiro Beja retirou-se, deixando a CDU em dificuldades. O PS pode chegar à vitória se conseguir impor-se em Vila Nova de Santo André, freguesia que tem mais votantes do que a própria sede do concelho.

Mértola, Grândola, Borba e Montemor-o-Novo (onde os comunistas enfrentam um movimento de independentes que agrupa socialistas, democratas-cristãos e cidadãos sem filiação partidária) são outros municípios debaixo do fogo cerrado.

Mas se, em todos estes concelhos (Évora incluído), o PCP poderá, apesar de todas as dificuldades, manter a maioria relativa, em concelhos de menor dimensão, como Alandroal, Vidigueira e Nisa, a sua perda para o PS é já admitida como muito provável. É a consequência esperada da renúncia a nova candidatura dos anteriores presidentes, com os substitutos a não darem garantias de sucesso. Os abandonos de Carlos Góis (Vidigueira) e José Manuel Basso (Nisa), ambos com dezoito anos de permanência no poder, são tidas por irreparáveis.

Mas a CDU também pretende recuperar ao PS alguns concelhos, como Portel, Cuba e Crato. E se no caso dos dois primeiros a tarefa não é fácil já no último a sua vitória é dada como certa.

É exactamente no distrito de Portalegre, onde é força dominante, que o partido da «rosa» poderá vir a conhecer alguns dissabores. Além do Crato, também Marvão e Sousel poderão cair, desta feita para o PSD. E Portalegre também não se encontra a coberto de qualquer surpresa. Outra fortíssima opção de vitória dos sociais-democratas ocorre no Baixo Alentejo, em Almodôvar, município que candidata o independente e ex-comunista António Sebastião. A terra que foi sempre domínio do socialista António Saleiro parece agora disponível para largar a sua tutela.

PP em Vila Viçosa?

Uma das grandes surpresas destas eleições autárquicas poderá vir de Vila Viçosa, onde o PP poderá ganhar a Câmara ao PCP, facto que, a acontecer, seria inédito no Alentejo.

A verdade é que o comunista Manuel Condenado não parece conseguir conquistar as boas graças da população. E Patacão Rodrigues, do PS, presidente do município entre 1980 e 1990 - afastado do poder na sequência de condenação judicial -, também não parece capaz de chegar ao triunfo. Tal como o inexperiente Inácio Esperança do PSD. Assim sendo, é Eduardo Almeida, vereador a tempo inteiro no mandato anterior, quem se perfila como possível ganhador.

Em jeito de balanço, poderá dizer-se que a supremacia do PCP no Alentejo continuará a verificar-se, ainda que de forma muito mais esbatida, como consequência do inevitável declínio da sua influência na região. Uma coisa porém se afigura como evidente: pela primeira vez, desde há 20 anos, poderão verificar-se mudanças no comando partidário em pelo menos 19 concelhos dos 47 que integram o Alentejo.

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