Saleiro. De PS

01-06-2001
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O "Saleirismo" no PS

A ntónio Saleiro é, mesmo neste PS a que o poder e as suas prebendas adesivaram muitos espécimes esquisitos, um paradigma de caciquismo, politiqueirice e etc, mas o "saleirismo", em versão "soft" ou nem por isso, é hoje em dia um instrumento e um "acquis" relevante das políticas e estilo do "estado maior" de Guterres.

O PS tem sido sempre uma federação de orientações, personalidades, sociedades secretas, interesses e grupos contraditórios, conjunturalmente conluiados num projecto específico, ou formalmente unidos em torno de um qualquer poder.

Com a actual direcção, os conflitos internos do PS têm-se agravado à medida que as suas políticas neo-liberais confrontam aspirações populares e faltam às promessas, mas, por outro lado, as "reuniôes de comando" do "guterrismo" passaram a gerir política e mediaticamente uma conflitualidade encenada.

Os teóricos do marketing político do "novo socialismo" - também de Blair e Clinton(!), que reivindicam para Guterres a invenção da mediatização do conflito interno para salvaguardar a imagem de partido democrático do PS e impedir o alargamento do espaço e força de atracção do PCP, deviam recordar que já Cavaco punha o PSD a fazer oposição a si mesmo e que nem isso o salvou duma enorme derrota.

Mas vem isto a propósito de António Saleiro, Governador Civil de Beja e membro da Comissão Política Nacional do PS, com quem, no mês de Julho e por Agosto a dentro, se assistiu a um "gravíssimo conflito interno" do PS em torno da definição da região Alentejo na elaboração do esboço de mapa da regionalização.

Foi um "conflito" que serviu às mil maravilhas os intentos da direcção do PS: retardar e preterir a regionalização e juntar pseudo argumentos em favor do imbróglio jurídico e referendário com que o PS a colocou na mâo dos seus (dela) inimigos, capitalizar alguns descontentamentos e fazer constar uma "vontade regionalizadora" que não existe de facto, desvalorizar os conflitos reais entre a direcção "guterrista" e tantos socialistas.

Não abundando as coincidências em política e sendo certo que, quase sempre, "o criminoso é alguém a quem aproveita o crime", temos um evidente "conflito" de encomenda, com encenação do "núcleo duro" do "guterrismo".

E não falta sequer a anunciada recompensa. Ou não veio já Saleiro fazer de conta que punha o lugar à disposição do Governo para este, ignorando a generalizada exigfência da sua demissão, sussurrada entre dentes no próprio PS, lhe renovar apressadamente a confiança? Não veio já anunciar a desistência da sua "candidatura à liderança do Baixo Alentejo" em troca duma sinecura como eurodeputado?

E será que a recente promessa de Saleiro de, numa anunciada reprise do folhetim, vir a fazer campanha contra a implementação em concreto da região Alentejo, que, se restasse seriedade à direcção do PS deveria conflituar com a respectiva orientação, não corresponde exactamente aos seus intentos ocultos?

Saleiro, como ele próprio torna claro no "Semanàrio" de 08.08, embora acautelando velhas fidelidades "soaristas", mais não é que um instrumento da direcção de Guterres, contra os compromissos regionalizadores do PS, tanto como Assis e Carrilho foram instrumentos para combater os sentimentos democráticos de Alegre e outros, ou como, nesse caso, Jorge Coelho foi instrumento da contemporização indispensável.

Ainda por cima, neste PS de Guterres, o "saleirismo" tem feito escola, sendo que as políticas e o estilo do homem se tornaram vulgares no respectivo partido.

Ou não são do mesmo nível de caciquismo e inaceitável arbitrariedade: a retaliação persecutória do Ministro das Finanças no caso da Câmara da Amadora, a recusa promovida por Saleiro de divulgar sequer à vereação um inquérito da IGAT á edilidade da Almodôvar, que abrange um período da sua presidência, e a promoção e mediatização de antigos e novos inquéritos, usados como arma de arremesso contra Beja ou Odemira?

Não é do mesmo quadro de politiqueirice: a generalizada intervenção de membros do Governo na (pré) campanha eleitoral, as inaugurações em barda que se preparam para Setembro e Outubro, a utilização de uma iniciativa da Direcção da Educação de Beja para promover o candidato do PS à Câmara ou a anunciada presença "excepcional" de Guterres e não sei quantos Ministros no apoio à candidatura PS em Mértola, uma das 5 autarquias, nem mais nem menos, que Saleiro se propôs ganhar à CDU?

Não são da mesma família autoritária: a vergonhosa revisão constitucional com que o PS aliado ao PSD prepara a engenharia eleitoral que, em registo "soft", visa reduzir na secretaria o peso político do PCP, e o apelo trauliteiro do Governador Saleiro a uma frente anti-comunista, para impedir a tradução democrática dos votos dos cidadãos portugueses do Alentejo num mandato regional?

De facto, a direcção "guterrista", de tão politiqueira e modernaça no estilo e orientações de direita prosseguidas, se não se pôem a pau os socialistas, ainda dá com o PS em "Partido Saleirista".

Carlos Gonçalves

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O "Saleirismo" no PS

A ntónio Saleiro é, mesmo neste PS a que o poder e as suas prebendas adesivaram muitos espécimes esquisitos, um paradigma de caciquismo, politiqueirice e etc, mas o "saleirismo", em versão "soft" ou nem por isso, é hoje em dia um instrumento e um "acquis" relevante das políticas e estilo do "estado maior" de Guterres.

O PS tem sido sempre uma federação de orientações, personalidades, sociedades secretas, interesses e grupos contraditórios, conjunturalmente conluiados num projecto específico, ou formalmente unidos em torno de um qualquer poder.

Com a actual direcção, os conflitos internos do PS têm-se agravado à medida que as suas políticas neo-liberais confrontam aspirações populares e faltam às promessas, mas, por outro lado, as "reuniôes de comando" do "guterrismo" passaram a gerir política e mediaticamente uma conflitualidade encenada.

Os teóricos do marketing político do "novo socialismo" - também de Blair e Clinton(!), que reivindicam para Guterres a invenção da mediatização do conflito interno para salvaguardar a imagem de partido democrático do PS e impedir o alargamento do espaço e força de atracção do PCP, deviam recordar que já Cavaco punha o PSD a fazer oposição a si mesmo e que nem isso o salvou duma enorme derrota.

Mas vem isto a propósito de António Saleiro, Governador Civil de Beja e membro da Comissão Política Nacional do PS, com quem, no mês de Julho e por Agosto a dentro, se assistiu a um "gravíssimo conflito interno" do PS em torno da definição da região Alentejo na elaboração do esboço de mapa da regionalização.

Foi um "conflito" que serviu às mil maravilhas os intentos da direcção do PS: retardar e preterir a regionalização e juntar pseudo argumentos em favor do imbróglio jurídico e referendário com que o PS a colocou na mâo dos seus (dela) inimigos, capitalizar alguns descontentamentos e fazer constar uma "vontade regionalizadora" que não existe de facto, desvalorizar os conflitos reais entre a direcção "guterrista" e tantos socialistas.

Não abundando as coincidências em política e sendo certo que, quase sempre, "o criminoso é alguém a quem aproveita o crime", temos um evidente "conflito" de encomenda, com encenação do "núcleo duro" do "guterrismo".

E não falta sequer a anunciada recompensa. Ou não veio já Saleiro fazer de conta que punha o lugar à disposição do Governo para este, ignorando a generalizada exigfência da sua demissão, sussurrada entre dentes no próprio PS, lhe renovar apressadamente a confiança? Não veio já anunciar a desistência da sua "candidatura à liderança do Baixo Alentejo" em troca duma sinecura como eurodeputado?

E será que a recente promessa de Saleiro de, numa anunciada reprise do folhetim, vir a fazer campanha contra a implementação em concreto da região Alentejo, que, se restasse seriedade à direcção do PS deveria conflituar com a respectiva orientação, não corresponde exactamente aos seus intentos ocultos?

Saleiro, como ele próprio torna claro no "Semanàrio" de 08.08, embora acautelando velhas fidelidades "soaristas", mais não é que um instrumento da direcção de Guterres, contra os compromissos regionalizadores do PS, tanto como Assis e Carrilho foram instrumentos para combater os sentimentos democráticos de Alegre e outros, ou como, nesse caso, Jorge Coelho foi instrumento da contemporização indispensável.

Ainda por cima, neste PS de Guterres, o "saleirismo" tem feito escola, sendo que as políticas e o estilo do homem se tornaram vulgares no respectivo partido.

Ou não são do mesmo nível de caciquismo e inaceitável arbitrariedade: a retaliação persecutória do Ministro das Finanças no caso da Câmara da Amadora, a recusa promovida por Saleiro de divulgar sequer à vereação um inquérito da IGAT á edilidade da Almodôvar, que abrange um período da sua presidência, e a promoção e mediatização de antigos e novos inquéritos, usados como arma de arremesso contra Beja ou Odemira?

Não é do mesmo quadro de politiqueirice: a generalizada intervenção de membros do Governo na (pré) campanha eleitoral, as inaugurações em barda que se preparam para Setembro e Outubro, a utilização de uma iniciativa da Direcção da Educação de Beja para promover o candidato do PS à Câmara ou a anunciada presença "excepcional" de Guterres e não sei quantos Ministros no apoio à candidatura PS em Mértola, uma das 5 autarquias, nem mais nem menos, que Saleiro se propôs ganhar à CDU?

Não são da mesma família autoritária: a vergonhosa revisão constitucional com que o PS aliado ao PSD prepara a engenharia eleitoral que, em registo "soft", visa reduzir na secretaria o peso político do PCP, e o apelo trauliteiro do Governador Saleiro a uma frente anti-comunista, para impedir a tradução democrática dos votos dos cidadãos portugueses do Alentejo num mandato regional?

De facto, a direcção "guterrista", de tão politiqueira e modernaça no estilo e orientações de direita prosseguidas, se não se pôem a pau os socialistas, ainda dá com o PS em "Partido Saleirista".

Carlos Gonçalves

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