EXPRESSO: Artigo

09-05-2001
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ENTREVISTA Jorge Coelho

Aos 46 anos é, claramente, o número dois do PS, o braço-direito de Guterres para as questões partidárias e o principal animador das estruturas socialistas. Dele se conhecem inúmeras opiniões, mas escassos aspectos do seu percurso de vida. Mais do que discutir política, tentou-se, nesta entrevista, fazer o retrato possível do ex-ministro de Estado e do Equipamento Social

Entrevista de Henrique Monteiro

Fotografias de Rui Ochôa Recebeu-nos em sua casa, em Oeiras, na mesma sala onde, depois de uma volta pela praia, decidiu demitir-se do Governo. Afável e bem-disposto, não foge às questões, embora não seja extenso nas respostas. Em privado, é como em público: alguém que gosta de ir directamente ao essencial. E, no que toca ao PS e ao Governo, fica-se com a sensação de que acha que há algo de essencial que não vai bem. Eis o apanhado de uma conversa de mais de duas horas: O senhor tornou-se uma espécie de alma do PS. Desde quando é socialista? Há 18 anos. Filiei-me quando o PS estava no Bloco Central. Era então chefe de gabinete do secretário de Estado dos Transportes, hoje presidente da PT, dr. Murteira Nabo. Há 18 anos. Filiei-me quando o PS estava no Bloco Central. Era então chefe de gabinete do secretário de Estado dos Transportes, hoje presidente da PT, dr. Murteira Nabo. De quem é familiar. Sou primo direito da mulher do dr. Murteira Nabo. Conheço-o há muitos anos e foi uma pessoa muito importante na minha aprendizagem política. Antes do 25 de Abril, ele estava ligado ao movimento académico, foi um dos expulsos da Faculdade de Economia. Mas nessa altura o senhor era esquerdista. Também lhe falo desse período. Sou de uma pequena aldeia perto de Mangualde e em 1969, com 15 anos, andava no Colégio de São José em Mangualde (onde também andou o meu amigo Dias Loureiro), entrei nestas lides de actividade política através da CED (como se chamavam as listas de oposição no distrito de Viseu). Tive aí o primeiro conflito com o meu avô, que era da União Nacional. Eu colei cartazes da CED na minha aldeia e em Mangualde e arranjei esse conflito familiar... É curioso que o seu conterrâneo Manuel Maria Carrilho também era filho de uma figura da União Nacional... Mas o pai dele era mais importante, era governador civil de Viseu. Eu lembro-me bem do Manuel Carrilho, com uma boina à «Che» Guevara, a ser um destacado activista antifascista. Foi assim que entrou na política. E foi a primeira vez que fui detido pela polícia, por andar a colar cartazes em sítios onde não era permitido. Depois fui estudar Engenharia para Coimbra e andei lá metido em várias coisas. Sempre fui do contra... Salvo agora... É verdade! Bem, depois vim para Lisboa, para o ISEL. Pertenci à direcção do Orfeão Académico de Lisboa, que era um organismo muito activo e que se dedicava a muitas coisas, mas pouco a cantar... Por isso não se saiu muito bem quando cantou o «Only You» na televisão... Há quem diga o contrário, mas adiante. Bem, com a ascensão do Zé Cabra, qualquer um pode fazer sucesso. Exactamente! Mas no orfeão andei a fazer teatro por associações e colectividades, no Barreiro, em Almada, Odivelas, etc. E foi então que me integrei num movimento clandestino, os Comités Clandestinos Revolucionários... Conhecidos na altura por CCRML. Certo. Veio o 25 de Abril e fui fundador da UDP. Vivi com grande intensidade esses tempos. Foi quando conheceu a sua mulher? Não, já a conhecia antes do 25 de Abril, em Mangualde. Mas ela acompanhou o seu trajecto político. Sempre. Diz-se que ela é mais à esquerda do que o senhor. É capaz disso. Só lhe fica bem. A sua entrada para a política deve-se a algum facto concreto? Teve a ver com a minha irmã. Ela foi para Coimbra estudar Matemáticas e apanhou a crise de 1969. Este acontecimento teve repercussões no país todo e na minha casa também. Discutia-se! E eu, que já era irreverente, passei-me para o campo que me pareceu correcto. Voltando às suas origens. O senhor não é oriundo de uma família pobre. O meu pai morreu quando eu tinha seis anos e isso deixou-me uma marca profunda. Vi-o morrer, à minha frente, de ataque cardíaco. Para uma criança isso é... complicado... Tenho uma irmã cinco anos mais velha, com quem fui sempre muito solidário. E, sobretudo, tenho a minha mãe, uma lutadora de grandes qualidades, que fez com que tivéssemos uma vida normal, embora com alguns problemas. A minha infância foi igual à de muitos outros rapazes. Além disso, a minha mãe conseguia esconder-nos as dificuldades com uma enorme habilidade. Eu praticamente não dei por elas. Outra pessoa importante foi o meu avô, com quem tinha uma relação muito boa. E depois, há uma coisa de que me orgulho. Desde que comecei a fazer política mais a sério, fi-lo sempre à minha custa. Comecei a trabalhar quando vim para Lisboa, com 18 anos, num gabinete de projectos de engenharia. Era desenhador. A partir daí, estudava e trabalhava e vivia à minha custa. Casei-me com 21 anos. E depois ainda mudou de curso. Sim, para Económicas, no Quelhas, mas na área de gestão de empresas. Fiz o curso à noite, sempre a trabalhar. Entrei para o Ministério da Administração Interna em 1974 (e a pessoa que fez o favor de me admitir, na altura, foi depois ministro da Administração Interna e dirigente do PSD, o falecido dr. Manuel Pereira), onde fui funcionário do STAPE, o organismo responsável pelas eleições. Trabalhei no Estado durante oito anos. E quando acabou o curso de Gestão? Em 1982. Em 1982. E em 1983 aderiu ao PS. Quando se deu o desencanto com a extrema-esquerda? Por volta do 25 de Novembro de 1975. E depois foi para Macau. Antes ainda estive como chefe de gabinete do dr. Murteira Nabo no Governo do Bloco Central. Era ministro o arquitecto Rosado Correia. Eram secretários de Estado o Fernando Gomes, na Habitação, o engº Eugénio Nobre, do PSD, e o Raul Junqueiro. Depois fui para a Carris, onde fui secretário-geral, e só depois é que fui para Macau, em 1988. Também com Murteira Nabo. Sim, primeiro como chefe de gabinete e depois como secretário para os Assuntos Políticos, com as relações com a Assembleia Legislativa, mas também com a Educação, Desporto, Juventude. Era governador o engº Carlos Melancia. É nessa altura que se torna conhecido no PS. Não sei se me torno conhecido. Eu já tinha tido uma participação muito activa na primeira eleição do dr. Soares, no MASP. Quando entrei para o PS já estava um pouco ligado ao eng.º Guterres. Foi o primeiro dirigente destacado com quem tive contactos próximos. Já o dr. Murteira Nabo era ligado a Guterres. Exactamente... Como muitos outros gestores: Santos Ferreira... Foi em casa do dr. Santos Ferreira, grande amigo de sempre, que conheci o eng.º Guterres. E já entrei para o PS no âmbito desse grupo, com quem sempre me identifiquei.Já entrou um pouco para o sótão...É verdade! Mas foi a partir do meu empenhamento na campanha do dr. Soares que, no congresso seguinte, fui eleito para a Comissão Política do PS, em 1986. E fui eleito deputado em 1987. Gostou de Macau? Gostei. Não é um sítio de grandes intrigas, pior do que o Partido Socialista? É pior do que o PS, na verdade. Mas foi importante no que toca à experiência de governo. E, acima de tudo, a cultura chinesa tem sido importante para mim. A relatividade do tempo e, sobretudo, o ensinamento de que nunca podemos fazer perder a face a ninguém e respeitar sempre os outros, independentemente de quem ganhe. Quem não sabe ganhar e perder em política não tem grande futuro. Tem amigos fora do PS? A maioria dos meus amigos nada tem a ver com o PS. Tem amigos no PSD, além do já citado Dias Loureiro? Claro, bastantes. E na minha saída do Governo tive mensagens de solidariedade de pessoas que me tocaram fundo. Não vou dizer quem... mas é verdade. O melhor ministro é o que acaba de se demitir, como sabe. Não, não era isso. Eu sei distinguir bem essas coisas. Eu sei bem o que é estar no poder e deixá-lo. Há gente que muda o relacionamento consigo consoante está ou não no poder? É gente pouco inteligente. E desta vez ainda não senti isso. Mas ainda está no poder, de certa forma... É verdade. Mas essa gente não percebe que há alternância, que o poder é efémero.... enfim. É tão optimista como parece, ou de vez em quando tem quebras? Na noite em que se demitiu não se sentiu abatido? Nessa noite tive uma sensação contraditória. Por um lado, ao assumir as minhas responsabilidades, senti-me bem comigo. Por outro lado, sentia a dor das pessoas, essencialmente dos familiares das vítimas. Mais, não lhe nego que, quem como eu, nos últimos 10 anos, dedicou a vida a este projecto, sente algum vazio. Agora, não sou homem para estar em baixo. Eu sou um combatente, desde que acredite numa causa e nos meus companheiros, sigo em frente. Acredita nos seus companheiros de combate? Este não é um projecto individual. Se não acreditasse não estava neste projecto. No fundamental acredito, embora possa achar que há deficiências e que podia haver mais acutilância neste ou naquele ponto. Este não é um projecto individual. Se não acreditasse não estava neste projecto. No fundamental acredito, embora possa achar que há deficiências e que podia haver mais acutilância neste ou naquele ponto. Já disse que o poder é efémero... E é. Aquele que se esquecer disso terá, esse sim, grandes depressões. Ao fim de oito anos de governo PS, será positivo ser o PSD a assumir o poder? Eu sou um defensor acérrimo da alternância. Nem teria sentido defender outra coisa. Mas deve exercer-se a alternância quando se provar que a alternativa ao PS é melhor. Acha que sim? Não está de acordo em que são os governos a perder as eleições e não as oposições a ganhá-las, como afirmava Churchill? Também é verdade. Mas a vida política hoje está muito sintonizada com a questão das lideranças. As ideias e projectos são importantes, mas as lideranças são determinantes. Enquanto houver confiança num líder, ele continua. Claro que há sentimentos de mudança numa sociedade e, de um momento para o outro, isto pode deixar de ser assim... ... e o dr. Durão Barroso ser olhado como real alternativa ao eng.º Guterres. Sobretudo se, como é normal, o eng.º Guterres continuar a desgastar-se. O dr. Durão Barroso é um homem persistente. Já percebi que, com tudo o que lhe tem acontecido no PSD, com tudo o que lhe têm feito, o facto de ele se aguentar prova que ele é um combatente. Embora as suas características — e não estou a dizer se são boas ou más — não tenham muito a ver com aquilo que o eleitorado do PSD quer de um líder do PSD. Mas pode acontecer.... pode acontecer. Não vai negar que o PS está desgastado. Ao fim de seis anos, é normal... É normal que se desgaste ainda mais. Ou não.... Ainda acredita que é possível um novo ciclo? Pode haver condições para que as coisas fiquem melhor. Há tanto tempo que é afirmado que o ciclo acabou, que a crise é iminente, e não vejo nada disso reflectir-se nas sondagens nem nas urnas, quando há eleições. Mesmo agora, as sondagens dão-nos 40%, que é um dos melhores resultados do PS. Por isso mesmo, é possível alterar, fazer coisas novas, ganhar nova confiança... Os senhores falam de coisas novas, mas não dizem quais. Vou dar um exemplo: o combate à sinistralidade, que parece uma coisa menor mas não é. O Governo tem que encontrar este tipo de questões para motivar a sociedade portuguesa. Outro exemplo: o problema estrutural da nossa economia tem a ver com a nossa balança comercial. O nosso défice cria uma distorção brutal. Inverter este estado de coisas é fundamental. Identificar o mercado espanhol como prioritário, como disse o eng.º Guterres, pode ser de extraordinária importância; envolvendo os empresários, os diplomatas, o ICEP, etc. É um novo desígnio nacional, como lhe chamou o primeiro-ministro António Guterres. O PS não encheu a administração de amigos, os famosos «boys»? O senhor é acusado de, salvo seja, ser o pai dos «boys»... Eu tenho as costas largas e sou acusado de muitas coisas. Mas veja as estatísticas e as pessoas que nomeei e verificará que se calhar fui dos que nomearam menos, sobretudo gente do PS. No entanto, saliento o seguinte: quando tenho que nomear pessoas, não olho a partidos, mas também não prejudico ninguém por ser do PS. O que vou dizer não é politicamente correcto, mas penso que não é possível concretizar um projecto sem protagonistas que estejam de acordo com ele. Não é possível! É preciso reorganizar o Estado, para o dotar das melhores pessoas, mais bem pagas, com melhor formação, de modo a que essa administração seja estável e de qualidade. O que vemos é que na administração pública, pelo facto de este ou aquele ser de determinado partido, há quem apoie ou boicote. O que é inadmissível. A administração deve ser isenta. E, já agora, há uma coisa objectiva que o PSD, por mais que proteste, não esconde: é que no tempo do PSD não havia concursos e agora há. Mas toda a gente sabe antecipadamente quem vai ganhar o concurso... Isso não sei! Eu não sei! Isso põe em causa tudo. Diga-me então qual é o modelo! Nunca ouviu falar disto, de que os concursos são feitos à medida de determinadas pessoas? O que é que não se ouve dizer em Portugal! Nem tudo o que se diz corresponde à realidade. O Partido Socialista vai mesmo ter uma liderança com duas cabeças, a sua e a de António Guterres? O PS tem uma liderança. O eng.º Guterres foi eleito líder e voltará a sê-lo no próximo congresso. Mas o PS não é um partido de uma só pessoa, tem muitas pessoas que procuram ajudar ao êxito da política por nós determinada e desempenhada pelo Governo e pelo primeiro-ministro, que é também o secretário-geral. Tendo eu cargos importantes, cumpre-me também ajudar. Mas a liderança é do eng.º Guterres. Mas é o coordenador-geral do que diz respeito ao PS. Até ao congresso pretendo exercer essas funções da melhor forma possível. Tenho mais tempo livre, pretendo dotar o PS de maior capacidade de resposta política, maior combatividade, mais imaginação na solução dos problemas para o país. É isso que eu, e muitas outras pessoas que estão a colaborar, pretendemos fazer. Depois do congresso, vamos ver. O PS está desmoralizado, desmobilizado? Está farto do poder? Só tem cultura crítica? O PS é um partido com cultura crítica, e isso é uma vantagem. Desde que essa cultura seja construtiva. Não me referia à cultura crítica como um elogio. Mas no sentido em que o PS é especialista em apresentar problemas, mas não soluções. Não! O PS tem cultura de apresentar soluções. É o que estamos a procurar fazer. No entanto, o PS, o Governo e o grupo parlamentar têm de ter uma maior capacidade de coordenação e de inter-relacionamento. O que é fundamental é que as questões colocadas na agenda política sejam as que dizem respeito ao país. Não! O PS tem cultura de apresentar soluções. É o que estamos a procurar fazer. No entanto, o PS, o Governo e o grupo parlamentar têm de ter uma maior capacidade de coordenação e de inter-relacionamento. O que é fundamental é que as questões colocadas na agenda política sejam as que dizem respeito ao país. Que não sejam propriamente as quotas, os casamentos de homossexuais... Ou seja, ideias que nada têm a ver com os reais problemas do país no curto prazo. Esse tipo de questões, viradas para segmentos concretos da sociedade, são interessantes e importantes. Algumas são questões de modernidade. O que o PS não pode é fazer delas os seus combates centrais. Mas está a fazer desses combates os combates centrais. Concordo com isso, é o que estamos a alterar. Mas essas questões que referiu devem também ser discutidas. Eu votei conscientemente a favor desses diplomas. Mas não podem ser essas as questões centrais de um partido que está há seis anos no poder. O problemas centrais são os de sempre: solidariedade, saúde, educação, a sinistralidade rodoviária, sobre que tomámos medidas importantíssimas. Este é o caminho. Quer deixar de andar a reboque da agenda do Bloco de Esquerda. Temos cometido erros nessa matéria. Acima de tudo, não temos é uma agenda própria, o que leva muita gente a dizer que andamos atrás do Bloco... ... E vai dizer o contrário? Não, não vou dizer o contrário. Mas dizer isso não é difícil. O que é importante é criar condições para que se mude essa situação e se passe a ter uma agenda. Vou dar-lhe um exemplo que nem tem a ver com o Bloco de Esquerda. Tem a ver com a viabilização da Lei de Bases da Família apresentada pelo PP. Penso que o PS tem de ter uma política para a família. O erro é passar a vida a ter de viabilizar as leis dos outros. O PS deve ter é propostas próprias e serem os outros a discutir as nossas propostas. Mas o PS, tão grande, tão interclassista, com gente com percursos tão diferentes, não tem uma certa incapacidade de definir, por exemplo, uma linha concreta sobre a importância da família? Sobre isto devem existir 300 opiniões: desde os que são contra a família até aos católicos. Um partido é uma organização com capacidade para discutir e acolher várias opiniões, mas com órgãos próprios que tomam decisões. Nesta matéria há inúmeras coisas a fazer (por exemplo, os jovens casais devem ter mais apoio). Não há razão para que o PS não elabore estas políticas. Mas uma das características do PS não é a falta de autoridade? Para os órgãos directivos tomarem decisões necessitam de ter autoridade para as impor. Eu sou um defensor da autoridade, mas sou um lutador contra o autoritarismo. Ou seja, tem de haver um tempo para discutir e reflectir e um tempo para concretizar. Nesta matéria tenho uma opinião muito firme: é muito mau, quando se tomam decisões, esperar que ninguém esteja contra. É natural que haja oposição, caso contrário temos uma opinião tão consensual que não chega a ser opinião nenhuma. Se necessário, temos de ir por um caminho de rupturas. Mas não devemos cair no exagero. Uma das razões por que o Governo do prof. Cavaco Silva acabou daquela forma foi o excesso de autoritarismo. Por isso, tivemos necessidade de distender. Agora estamos na fase do exercício activo da autoridade do Estado. E não temos sido perfeitos nessa matéria. A autoridade tem que ser credibilizada em Portugal. A Comunicação Social também não ajuda muito, não é? Eu sei que o que vou dizer não é politicamente correcto, mas, em particular as televisões, têm tido nessa matéria uma política editorial que vai ao encontro do pior — o populismo —, que também ajuda a que a autoridade do Estado seja permanentemente posta em causa. Mudando de assunto. O modelo de desenvolvimento seguido pelo PS não é igual ao que foi posto em prática pelo PSD e Cavaco Silva? Ou seja, obras públicas, cimento, etc., contrariando aquele «slogan» de «primeiro as pessoas»? Há uma mudança enorme. Se perguntar às pessoas qual a característica fundamental do Governo do PS, dir-lhe-ão que é a política social. Não tenho qualquer dúvida. A questão do rendimento mínimo garantido é uma ruptura com o passado, o PSD disse sempre que era contra. Mas vou mais longe: há uma nova política para os reformados, para os jovens que necessitam de ser integrados na vida activa. O mesmo se passa na Educação. Quando chegámos ao governo, a Educação tinha um orçamento de 600 milhões de contos e neste momento tem mais de mil milhões. Houve uma aposta muito maior. Até nas Obras Públicas. Ao contrário da política anterior, que só dizia respeito a grandes centros urbanos e ao litoral, nós alargarmos essa política ao interior. Curiosamente, o senhor demitiu-se por causa do interior... Sim. É preciso ter consciência de que este país é a várias velocidades, tem grandes assimetrias. Entre-os-Rios, que nem fica assim tão longe do litoral, foi a prova disso. Também é verdade que os governos apostam mais nos sítios onde pensam ir buscar mais votos. Na generalidade dos casos, isso é verdade. Mas é algo que tem de se combater. O facto de a regionalização ter sido chumbada — os portugueses chumbaram-na, e é assunto arrumado — também não veio ajudar. Há agora um grande desafio que é a questão da descentralização e desconcentração. Não podemos continuar como até aqui. Não é possível governar Portugal com o actual modelo de organização do Estado. É preciso apostar forte e sem medo — porque vai haver gente contra e a protestar — na descentralização e na desconcentração. Demitiu-se, e agora que saiu o relatório sobre a queda da ponte de Castelo de Paiva, ficou claro que a responsabilidade não era sua. Se fosse hoje voltava a demitir-se? Voltava. E apelo a que toda a gente, e os jornalistas em especial, leia bem o relatório. É um libelo acusatório do funcionamento da administração pública em Portugal. Não de agora, mas das últimas décadas. O caso do pilar da ponte foi detectado em 1986 e nada foi feito para resolver o problema. Este funcionamento da administração não faz sentido para quem quer um Estado moderno. Há também quem diga que com este relatório a culpa pode morrer solteira. A minha opinião é contrária. Há matéria para se investigar. Espero que a Procuradoria e o Parlamento vão até ao fim. Aquela tragédia, o número de mortos que provocou, exigem que se leve o caso até ao fim. Acha que fez muito bem em demitir-se? Acho. Mais que não seja, pelo respeito que me merecem os que ali morreram e os que continuam a sofrer. Permita-me uma pergunta inconveniente: o senhor não estava farto do Governo? Não! A decisão foi tomada nesta sala onde nos encontramos. Sozinho com a minha mulher, e não tem nada a ver com isso. Nestas situações reflectimos sobre muitas coisas que passámos na vida, e só lhe posso dizer que foi uma decisão dolorosa. Sobretudo para uma pessoa que nos últimos 10 anos dedicou todo o tempo à actividade política e a este projecto em que acredito, em cumplicidade e solidariedade total com o eng.º António Guterres. Foi dos actos mais difíceis da minha vida. Está disposto a voltar ao Governo? Neste momento não teria qualquer sentido. Ficará de fora até ao fim da legislatura? Não sei até quando. Mas não encaro a possibilidade voltar ao Governo. Não sei até quando. Mas não encaro a possibilidade voltar ao Governo. Aceita a ideia de que é uma espécie de «bulldozer» do PS e de António Guterres? Não... Não gosta de «bulldozers»? Gosto, gosto. No entanto, desempenho apenas um papel importante neste projecto, com a total disponibilidade. Mas quando está nesta sala não pensa: «Ando eu aqui a falar e os outros calam-se, não dizem nada...» Reconheço que, por vezes, gostava que mais amigos meus fossem à luta. Tenho andado pelo país. e a generalidade das pessoas do PS querem e exigem que o PS tenha mais iniciativa. Algumas estão um pouco tristes, porque acham que devíamos ir mais longe, mas todas estão dispostas a combater. Não querem perder. Todos nós temos de estar à altura, mas há alguns que se distraem. O senhor chega a uma tribuna e diz: «Quem se mete com o PS leva!» E leva o quê? Os jornalistas que estavam a assistir a essa intervenção não fizeram disso notícia. Porque a ouviram toda. Foi um órgão de comunicação social que nem estava lá que tirou a frase do meio do discurso, depois de a ouvir na rádio. O que eu lá disse e repito é que o PS é atacado e nem sempre responde com a acutilância devida — e nem sequer estava a falar do bastonário da Ordem dos Advogados —, e que, a partir de agora, quem nos atacar deve ter sempre uma resposta política adequada. Como diz o povo, quem não se sente não é filho de boa gente. Só pensa em política? Ou tem disponibilidade para outros assuntos nos tempos livres? Passo os tempos livres como qualquer outra pessoa. Vou ao cinema, ao teatro. Sabe que fui actor... Ainda é, de certa forma... .... e gosto muito de teatro. A última peça que vi foi «O Último a Rir», com o José Pedro Gomes, uma peça excelente, no Villaret. Música? Vi o Compay Segundo, fabuloso, adoro música cubana. E clássica também. No meu gabinete, quando estou a trabalhar sozinho tenho sempre música clássica. E de ópera, gosto muito... Tem ar de ter voz para ópera... Voz não tenho, mas gosto muito de ouvir. E leio muito. Ainda há pouco tempo li o livro de João de Deus Pinheiro, que achei giríssimo. Mas o que leio mais são biografias e ensaio político, embora costume ler também romances. Até li o da Margarida Rebelo Pinto, o «Não Há Coincidências». De televisão também gosta, mas sabe-se que não gosta da RTP-1. Não é verdade. Já gostei mais de televisão, acho que as estações televisivas estão a passar por uma fase complicada. Mas a existência de canais privados em Portugal foi vital. O país sem TV privadas não era o mesmo... O PS era contra. Não sei... Não sabe!! Se era contra, estava errado. Isso foi há muitos anos... A RTP-1 cumpre o serviço público? Tem tido grandes dificuldades. Não cumpre devidamente, é uma realidade. Acho que a RTP, com os meios que tem — delegações em todo o país com meios próprios de emissão, RTP África, RTP Internacional, canais regionais... com estes meios era possível uma televisão com mais conteúdo. E com o momento que vivemos na televisão, é cada vez mais importante que o serviço público crie equilíbrios. Também gosta de futebol. Sou do Sporting! É fanático do Sporting? Fanático já não sou de nada, já me passou essa fase. Foi fanático do marxismo-leninismo. Jorge Coelho, durante a entrevista ao EXPRESSO, na sua casa, em Oeiras Talvez um pouco Talvez um pouco Só se pode ser marxista-leninista sendo fanático... Isso é verdade. Fui-o na juventude, em defesa de valores em que acreditei. E há uma coisa de que gosto. Viver as coisas em que me meto com grande intensidade. O facto de ser do Sporting coloca-o em divergência com o seu amigo Guterres, que é do Benfica. Ele é menos do Benfica do que eu do Sporting... acho eu. Aliás, há outra divergência: ele é católico e o senhor não é. Sim, embora seja baptizado, não sou católico. Diria, como João Soares, que é ateu? Sou agnóstico. O meu conceito de vida não passa pela existência de Deus. No entanto, nada disto retira o grande respeito que tenho pelos crentes e pelas igrejas. Esta ofensiva do PS no que toca à Universidade Católica e à Lei da Liberdade Religiosa... Aí está! O PS tem uma política correcta sobre a Lei da Liberdade Religiosa. Existem algumas pessoas no grupo parlamentar que não estão de acordo com essa orientação. É legítimo e têm todo o direito de ter essa oposição. O PS tem um diploma que é apoiado pela maioria e por mim pessoalmente. A Igreja tem um acordo, que é a Concordata, que só deve ser alterado por uma revisão feita pelas mesmas entidades que o acordaram, ou seja, o Estado português e a Santa Sé. O Ministério dos Negócios Estrangeiros iniciou agora os contactos para a sua revisão. Quando se baralha isto, baralha-se tudo. António Reis e Jorge Lacão não pensam assim. Estão no seu direito. E eu tenho o direito de não pensar como eles. É preciso ter em conta a forma inaceitável como a direita e sectores mais conservadores da Igreja têm tentado aproveitar este tema para fazerem de conta que existe uma guerra entre o PS e a Igreja. Ninguém no PS, nem António Reis e Jorge Lacão, teve algum dia essa intenção. Defendemos um Estado laico. Temos, como é óbvio, um grande respeito pelo papel da Igreja e por aquilo que faz pelo país. Claro que a Igreja Católica tem um passado que nem sempre esteve à altura dos seus grandes desafios. Recorde-se o exílio do bispo do Porto, que teve tão pouca solidariedade por parte de alguns responsáveis da hierarquia. Mas a Igreja mudou muito, e para melhor. Temos hoje um cardeal que é uma pessoa por quem tenho um enorme e profundo respeito. Refere-se a D. José Policarpo. Sim, respeito-o muito. Tem uma enorme cultura e uma tolerância extraordinária. O senhor pensa na morte? Teme-a? Quem disser que não tem medo da morte está a enganar-se a si próprio Eu gosto muito da vida. Gosto e procuro vivê-la da forma mais intensa. Quem gosta da vida não deve gostar da morte. Tenho, nestes últimos tempos, perdido amigos muito próximos e tem sido muito doloroso vê-los partir. É muito complicado, são momentos muito difíceis Falando de coisas menos tristes. Acha que daria um bom líder do PS numa fase de pós-guterrismo, uma vez que não coloca em causa a sua liderança? Essa matéria não tem sentido. O eng.º Guterres tem 51 anos. Já declarou que será candidato neste congresso, e tudo indica que se candidatará a primeiro-ministro nas próximas eleições. Não o apoiaria para Presidente da República em 2006? Não está em causa. Ele nunca me disse se gostaria de ser ou não. Mas, independentemente disso, acha que daria um bom líder? Não falo de traições nem de conspirações, apenas lhe pergunto isto. Para se ser líder deste partido é preciso querer. E com grande força. Eu neste momento não a tenho. Só lhe falta a força, portanto. Não. Não penso nisso. Não perco o meu tempo a especular. Nem um segundo. E até dou um conselho: se eventualmente alguns camaradas meus andam nervosos com essa questão, era melhor que se dedicassem a fazer vingar o projecto em que estamos inseridos, sob a liderança do eng.º Guterres. Tem medo de ser líder? Não. Claro que não Não tem medo de nada? Claro que tenho. Procuro é racionalizar os meus medos. Já estive em frente a uma manifestação de 2000 polícias em Macau, devido a questões reivindicativas, e eu estava sozinho, com um tradutor chinês, sob chuva copiosa, a fazer uma intervenção tentando convencê-los. 2000 homens armados... é uma situação difícil. Foi preciso saber vencer o medo. Tem tempo para a família? Tenho. Ultimamente, tenho reservado uma noite por semana para sair. Além do fim-de-semana. Tenho uma casa aqui perto, na Praia Grande... Ao pé da casa do dr. Murteira Nabo... É o meu maior amigo, há vários anos. Não teme este império da PT? Portugal tem de ter empresas de dimensão internacional. E a PT tem sido um grande êxito, do ponto de vista internacional também. Se não tiver dimensão é absorvida. Se não vivesse da política, o senhor vivia de quê? Eu sou director de uma empresa de onde estou requisitado, da Carris. Portanto, posso regressar à minha vida profissional. Tenho um curso, sou licenciado em Gestão de Empresas, e tenho bastante experiência profissional. Logo, posso a todo o momento retomar a minha vida profissional, mas não é esse o meu objectivo imediato. Vai, portanto, continuar na política em exclusivo? Para mim, estar ou não no governo é exactamente a mesma coisa. Tenho esta cultura de considerar o poder efémero. Mais ou menos mordomias não me afectam nem me interessam rigorosamente nada — nesse aspecto, até tenho hoje uma vida mais agradável de que quando era ministro, sobretudo quando era ministro da Administração Interna, o que me obrigava a ter segurança permanente. Tenho disponibilidade inteira para a política, até porque tenho compromissos com muitíssimas pessoas de todos os pontos do país que confiam em mim. Mas não penso dedicar-me em exclusivo à política. Estou a dar aulas, escrevo crónicas para jornais, faço intervenção política numa televisão e estou a pensar ter alguma actividade ligada à minha profissão. É que também penso outra coisa. Sou adepto fervoroso da limitação de mandatos executivos. Ora, quem defende este princípio tem de preparar-se para outro tipo de vida que não a política. A actividade política está muito mal vista. Está, está! Mas é possível estar na política, mesmo com sacrifícios pessoais, e gostar disto. Na política só deve andar quem gosta. Não é possível de outra maneira. Não há espaço para depressões ou tristezas. Uma das grandes satisfações que um político pode ter é contribuir para resolver os problemas das pessoas. Nos cargos que exerci, quando consegui resolver esses problemas senti-me reconfortado. E acha que alguém lhe agradece? Também não ando cá para me agradecerem. Mas repare: desde o 25 de Abril até hoje, o país desenvolveu-se de um modo notável — se calhar, não tanto como poderia, mas desenvolveu-se muito. As pessoas têm outra qualidade de vida, outra esperança, outra formação e outra perspectiva para os filhos. Isto é algo que esta geração a que pertenço — e que teve o privilégio de ser uma geração vencedora, algo que é raro — se pode orgulhar. Esta geração lutou pela liberdade e pela democracia e conquistou-as. Lutou pelo desenvolvimento do país e pela sua modernidade e deu passos decisivos nesse sentido. Quem seguir estes objectivos já tem condições diferentes, mais propícias, para resolver os problemas que subsistem. Portugal é um país tolerante e eu acredito neste país. 195

COMENTÁRIOS AO ARTIGO

46 comentários 11 a 20

30 Abril 2001 às 12:09

João Martins - com licenciatura tirada antes do 25 de Abril e primária das antigas, com todas as regras

Ao senhor José Mauricio (pinguco@clix.pt)

Não admira que o Coelho seja dos seus! Ele é exímio em gralhas ortográficas!

"cace" não tem cedilha - regra ortográfica que se DEVIA aprender na primária!

-Antes de "e" ou "i" o "c" não precisa da cedilha para se ler "sê"; só antes de "a", "o", "u".

Já que se esqueceu também que o seu nome é uma palavra esdrúxula e, por isso, tem acento no primeiro "i" - Maurício - experimente escrevê-lo assim: Mauriçio!

30 Abril 2001 às 11:46

Luís Carmo - Coimbra

Será que o auto-intitulado estudante de jornalismo é o próprio Coelho?

Pela maneira de escrever...

30 Abril 2001 às 2:45

Estudante de jornalismo? Ai Jesus... ( joao.tilly@netvisao.pt )

Então você escreve:

"No entanto, há uma coisa que não podemos criticar na sua atitude. Frontalidade, coerência e presença. "

.

Isso não é uma coisa: São 3 coisas, percebe?

.

E para além disso, se vai enumerar as coisas, não devia usar ponto final, mas 2 pontos, percebe?

.

E mais adiante: " os meus parabéns pela maneira brilhante, do ponto de vista jornalístico, que conduziu e editou esta entrevista."

.

Ó estudante de jornalismo: não é

"pela maneira...QUE conduziu", que se escreve em português; é:

"pela maneira...COMO conduziu", percebe?

.

Então?...

29 Abril 2001 às 19:11

Coelhone, sempre na mó de cima ( USA )

O Coelhone casou bem e o resultado foi ter trepado na vida.

O ar de porco e badalhoco, esse também tem ajudado para chafurdar na politica.

29 Abril 2001 às 18:18

Kritiko

Ó sr. Daniel Valente (cidadão atento), não é "verdadeira ascenção da palavra"!

É "acepção da palavra" que queria dizer, com certeza. "Ascenção" fizeram os irmãos Montgolfier e a Nossa Senhora.

Lá nesse curso de jornalismo não lhe ensinam a escrever português???

E já agora, "frontalidade, coerência e presença" qualquer capo familia também tem...

29 Abril 2001 às 18:11

O Estado não é mais que uma associação de malfeitores que espolia a sociedade para proveito dos seus burocratas e apadrinhados, defendendo os seus privilégios com unhas e dentes.

Este Coelhone prepara-se para ser o novo Corleone.

29 Abril 2001 às 16:49

Daniel Valente ( dmvalente@portugalmail.pt )

Gostei! É aquilo que posso dizer como leitor, como estudante de jornalismo e como cidadão atento. Que o Dr. Jorge Coelho é um político na verdadeira ascenção da palavra todos sabemos. Logo, não me espantam os seus bons relacionamentos, o seu jogo de cintura e o seu discuros. No entanto, há uma coisa que não podemos criticar na sua atitude. Frontalidade, coerência e presença.

Ao Henrique Monteiro, os meus parabéns pela maneira brilhante, do ponto de vista jornalístico, que conduziu e editou esta entrevista.

29 Abril 2001 às 16:27

Jose Herreras ( joseherreras@yahoo.com.au )

Esta entrevista dá pano para mangas sinceramente gostei.. especialmente aquela parte em que Rabbit diz que mudou de curso deixou as matemáticas que de certeza perderam um mau matemático e ganhou-se assim um mau gestor que por alma e graça do Nabo --- Ou do 25 de Novembro--- se viria assim tornar ainda num membro influente do pink power, homem certo, no lugar certo....

Só foi pena que o entrevistador não avançasse nas questões técnicas e nas leis Rabbit da economia ... Ele tavez tivesse desenvolvido a sua lei económica que superficialmente apresentou no Programa Grande Reportagem da RTP. A uma pergunta da entrevistadora que lhe perguntou porque motivo a Irlanda tinha um crescimento económico de 7% o nosso ilustre ex ministro, ex esquerdista, ex membro da UDP, ex matemático, ex economista, ex ministro disse então que tal acontecia, crescimento elevado de 7% porque os Irlandeses desenvolviam a educação, o que está certo, e não desenvolviam a infraestructura, o que está muito errado.... Dizia ele, veja os Irlandeses não construiram uma única auto estrada.... Para um gestor deve saber que quando a economia está em queda uma das medidas que normalmente os governantes tomam é implementar novas obras públicas.... Enfim mais uma descoberta do rapaz.... Agora lhe digo se não melhorar nas contas muito dificilmente voltará a ser ministro quanto mais presidente do bando do pink power que tem afundado a quinta. Voltarei a esta questão.......

29 Abril 2001 às 14:19

MIGUEL LUÍS DA FONSECA ( miguel.luis.fonseca@clix.pt )

Um Ministro que dá a cara por um projecto. E os deputados do PS, que é deles? E a JS, onde anda? E o Manuel Maria Carrilho, além de esnobar, que ideias tem?

29 Abril 2001 às 14:17

ALMEIDA GARRET

Ó Lusitanix, tu a falares de intelectualidade se até CU escreves com acento - deve ser para te sentares em ti - o Cu não tem acento - talvez assento...

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ENTREVISTA Jorge Coelho

Aos 46 anos é, claramente, o número dois do PS, o braço-direito de Guterres para as questões partidárias e o principal animador das estruturas socialistas. Dele se conhecem inúmeras opiniões, mas escassos aspectos do seu percurso de vida. Mais do que discutir política, tentou-se, nesta entrevista, fazer o retrato possível do ex-ministro de Estado e do Equipamento Social

Entrevista de Henrique Monteiro

Fotografias de Rui Ochôa Recebeu-nos em sua casa, em Oeiras, na mesma sala onde, depois de uma volta pela praia, decidiu demitir-se do Governo. Afável e bem-disposto, não foge às questões, embora não seja extenso nas respostas. Em privado, é como em público: alguém que gosta de ir directamente ao essencial. E, no que toca ao PS e ao Governo, fica-se com a sensação de que acha que há algo de essencial que não vai bem. Eis o apanhado de uma conversa de mais de duas horas: O senhor tornou-se uma espécie de alma do PS. Desde quando é socialista? Há 18 anos. Filiei-me quando o PS estava no Bloco Central. Era então chefe de gabinete do secretário de Estado dos Transportes, hoje presidente da PT, dr. Murteira Nabo. Há 18 anos. Filiei-me quando o PS estava no Bloco Central. Era então chefe de gabinete do secretário de Estado dos Transportes, hoje presidente da PT, dr. Murteira Nabo. De quem é familiar. Sou primo direito da mulher do dr. Murteira Nabo. Conheço-o há muitos anos e foi uma pessoa muito importante na minha aprendizagem política. Antes do 25 de Abril, ele estava ligado ao movimento académico, foi um dos expulsos da Faculdade de Economia. Mas nessa altura o senhor era esquerdista. Também lhe falo desse período. Sou de uma pequena aldeia perto de Mangualde e em 1969, com 15 anos, andava no Colégio de São José em Mangualde (onde também andou o meu amigo Dias Loureiro), entrei nestas lides de actividade política através da CED (como se chamavam as listas de oposição no distrito de Viseu). Tive aí o primeiro conflito com o meu avô, que era da União Nacional. Eu colei cartazes da CED na minha aldeia e em Mangualde e arranjei esse conflito familiar... É curioso que o seu conterrâneo Manuel Maria Carrilho também era filho de uma figura da União Nacional... Mas o pai dele era mais importante, era governador civil de Viseu. Eu lembro-me bem do Manuel Carrilho, com uma boina à «Che» Guevara, a ser um destacado activista antifascista. Foi assim que entrou na política. E foi a primeira vez que fui detido pela polícia, por andar a colar cartazes em sítios onde não era permitido. Depois fui estudar Engenharia para Coimbra e andei lá metido em várias coisas. Sempre fui do contra... Salvo agora... É verdade! Bem, depois vim para Lisboa, para o ISEL. Pertenci à direcção do Orfeão Académico de Lisboa, que era um organismo muito activo e que se dedicava a muitas coisas, mas pouco a cantar... Por isso não se saiu muito bem quando cantou o «Only You» na televisão... Há quem diga o contrário, mas adiante. Bem, com a ascensão do Zé Cabra, qualquer um pode fazer sucesso. Exactamente! Mas no orfeão andei a fazer teatro por associações e colectividades, no Barreiro, em Almada, Odivelas, etc. E foi então que me integrei num movimento clandestino, os Comités Clandestinos Revolucionários... Conhecidos na altura por CCRML. Certo. Veio o 25 de Abril e fui fundador da UDP. Vivi com grande intensidade esses tempos. Foi quando conheceu a sua mulher? Não, já a conhecia antes do 25 de Abril, em Mangualde. Mas ela acompanhou o seu trajecto político. Sempre. Diz-se que ela é mais à esquerda do que o senhor. É capaz disso. Só lhe fica bem. A sua entrada para a política deve-se a algum facto concreto? Teve a ver com a minha irmã. Ela foi para Coimbra estudar Matemáticas e apanhou a crise de 1969. Este acontecimento teve repercussões no país todo e na minha casa também. Discutia-se! E eu, que já era irreverente, passei-me para o campo que me pareceu correcto. Voltando às suas origens. O senhor não é oriundo de uma família pobre. O meu pai morreu quando eu tinha seis anos e isso deixou-me uma marca profunda. Vi-o morrer, à minha frente, de ataque cardíaco. Para uma criança isso é... complicado... Tenho uma irmã cinco anos mais velha, com quem fui sempre muito solidário. E, sobretudo, tenho a minha mãe, uma lutadora de grandes qualidades, que fez com que tivéssemos uma vida normal, embora com alguns problemas. A minha infância foi igual à de muitos outros rapazes. Além disso, a minha mãe conseguia esconder-nos as dificuldades com uma enorme habilidade. Eu praticamente não dei por elas. Outra pessoa importante foi o meu avô, com quem tinha uma relação muito boa. E depois, há uma coisa de que me orgulho. Desde que comecei a fazer política mais a sério, fi-lo sempre à minha custa. Comecei a trabalhar quando vim para Lisboa, com 18 anos, num gabinete de projectos de engenharia. Era desenhador. A partir daí, estudava e trabalhava e vivia à minha custa. Casei-me com 21 anos. E depois ainda mudou de curso. Sim, para Económicas, no Quelhas, mas na área de gestão de empresas. Fiz o curso à noite, sempre a trabalhar. Entrei para o Ministério da Administração Interna em 1974 (e a pessoa que fez o favor de me admitir, na altura, foi depois ministro da Administração Interna e dirigente do PSD, o falecido dr. Manuel Pereira), onde fui funcionário do STAPE, o organismo responsável pelas eleições. Trabalhei no Estado durante oito anos. E quando acabou o curso de Gestão? Em 1982. Em 1982. E em 1983 aderiu ao PS. Quando se deu o desencanto com a extrema-esquerda? Por volta do 25 de Novembro de 1975. E depois foi para Macau. Antes ainda estive como chefe de gabinete do dr. Murteira Nabo no Governo do Bloco Central. Era ministro o arquitecto Rosado Correia. Eram secretários de Estado o Fernando Gomes, na Habitação, o engº Eugénio Nobre, do PSD, e o Raul Junqueiro. Depois fui para a Carris, onde fui secretário-geral, e só depois é que fui para Macau, em 1988. Também com Murteira Nabo. Sim, primeiro como chefe de gabinete e depois como secretário para os Assuntos Políticos, com as relações com a Assembleia Legislativa, mas também com a Educação, Desporto, Juventude. Era governador o engº Carlos Melancia. É nessa altura que se torna conhecido no PS. Não sei se me torno conhecido. Eu já tinha tido uma participação muito activa na primeira eleição do dr. Soares, no MASP. Quando entrei para o PS já estava um pouco ligado ao eng.º Guterres. Foi o primeiro dirigente destacado com quem tive contactos próximos. Já o dr. Murteira Nabo era ligado a Guterres. Exactamente... Como muitos outros gestores: Santos Ferreira... Foi em casa do dr. Santos Ferreira, grande amigo de sempre, que conheci o eng.º Guterres. E já entrei para o PS no âmbito desse grupo, com quem sempre me identifiquei.Já entrou um pouco para o sótão...É verdade! Mas foi a partir do meu empenhamento na campanha do dr. Soares que, no congresso seguinte, fui eleito para a Comissão Política do PS, em 1986. E fui eleito deputado em 1987. Gostou de Macau? Gostei. Não é um sítio de grandes intrigas, pior do que o Partido Socialista? É pior do que o PS, na verdade. Mas foi importante no que toca à experiência de governo. E, acima de tudo, a cultura chinesa tem sido importante para mim. A relatividade do tempo e, sobretudo, o ensinamento de que nunca podemos fazer perder a face a ninguém e respeitar sempre os outros, independentemente de quem ganhe. Quem não sabe ganhar e perder em política não tem grande futuro. Tem amigos fora do PS? A maioria dos meus amigos nada tem a ver com o PS. Tem amigos no PSD, além do já citado Dias Loureiro? Claro, bastantes. E na minha saída do Governo tive mensagens de solidariedade de pessoas que me tocaram fundo. Não vou dizer quem... mas é verdade. O melhor ministro é o que acaba de se demitir, como sabe. Não, não era isso. Eu sei distinguir bem essas coisas. Eu sei bem o que é estar no poder e deixá-lo. Há gente que muda o relacionamento consigo consoante está ou não no poder? É gente pouco inteligente. E desta vez ainda não senti isso. Mas ainda está no poder, de certa forma... É verdade. Mas essa gente não percebe que há alternância, que o poder é efémero.... enfim. É tão optimista como parece, ou de vez em quando tem quebras? Na noite em que se demitiu não se sentiu abatido? Nessa noite tive uma sensação contraditória. Por um lado, ao assumir as minhas responsabilidades, senti-me bem comigo. Por outro lado, sentia a dor das pessoas, essencialmente dos familiares das vítimas. Mais, não lhe nego que, quem como eu, nos últimos 10 anos, dedicou a vida a este projecto, sente algum vazio. Agora, não sou homem para estar em baixo. Eu sou um combatente, desde que acredite numa causa e nos meus companheiros, sigo em frente. Acredita nos seus companheiros de combate? Este não é um projecto individual. Se não acreditasse não estava neste projecto. No fundamental acredito, embora possa achar que há deficiências e que podia haver mais acutilância neste ou naquele ponto. Este não é um projecto individual. Se não acreditasse não estava neste projecto. No fundamental acredito, embora possa achar que há deficiências e que podia haver mais acutilância neste ou naquele ponto. Já disse que o poder é efémero... E é. Aquele que se esquecer disso terá, esse sim, grandes depressões. Ao fim de oito anos de governo PS, será positivo ser o PSD a assumir o poder? Eu sou um defensor acérrimo da alternância. Nem teria sentido defender outra coisa. Mas deve exercer-se a alternância quando se provar que a alternativa ao PS é melhor. Acha que sim? Não está de acordo em que são os governos a perder as eleições e não as oposições a ganhá-las, como afirmava Churchill? Também é verdade. Mas a vida política hoje está muito sintonizada com a questão das lideranças. As ideias e projectos são importantes, mas as lideranças são determinantes. Enquanto houver confiança num líder, ele continua. Claro que há sentimentos de mudança numa sociedade e, de um momento para o outro, isto pode deixar de ser assim... ... e o dr. Durão Barroso ser olhado como real alternativa ao eng.º Guterres. Sobretudo se, como é normal, o eng.º Guterres continuar a desgastar-se. O dr. Durão Barroso é um homem persistente. Já percebi que, com tudo o que lhe tem acontecido no PSD, com tudo o que lhe têm feito, o facto de ele se aguentar prova que ele é um combatente. Embora as suas características — e não estou a dizer se são boas ou más — não tenham muito a ver com aquilo que o eleitorado do PSD quer de um líder do PSD. Mas pode acontecer.... pode acontecer. Não vai negar que o PS está desgastado. Ao fim de seis anos, é normal... É normal que se desgaste ainda mais. Ou não.... Ainda acredita que é possível um novo ciclo? Pode haver condições para que as coisas fiquem melhor. Há tanto tempo que é afirmado que o ciclo acabou, que a crise é iminente, e não vejo nada disso reflectir-se nas sondagens nem nas urnas, quando há eleições. Mesmo agora, as sondagens dão-nos 40%, que é um dos melhores resultados do PS. Por isso mesmo, é possível alterar, fazer coisas novas, ganhar nova confiança... Os senhores falam de coisas novas, mas não dizem quais. Vou dar um exemplo: o combate à sinistralidade, que parece uma coisa menor mas não é. O Governo tem que encontrar este tipo de questões para motivar a sociedade portuguesa. Outro exemplo: o problema estrutural da nossa economia tem a ver com a nossa balança comercial. O nosso défice cria uma distorção brutal. Inverter este estado de coisas é fundamental. Identificar o mercado espanhol como prioritário, como disse o eng.º Guterres, pode ser de extraordinária importância; envolvendo os empresários, os diplomatas, o ICEP, etc. É um novo desígnio nacional, como lhe chamou o primeiro-ministro António Guterres. O PS não encheu a administração de amigos, os famosos «boys»? O senhor é acusado de, salvo seja, ser o pai dos «boys»... Eu tenho as costas largas e sou acusado de muitas coisas. Mas veja as estatísticas e as pessoas que nomeei e verificará que se calhar fui dos que nomearam menos, sobretudo gente do PS. No entanto, saliento o seguinte: quando tenho que nomear pessoas, não olho a partidos, mas também não prejudico ninguém por ser do PS. O que vou dizer não é politicamente correcto, mas penso que não é possível concretizar um projecto sem protagonistas que estejam de acordo com ele. Não é possível! É preciso reorganizar o Estado, para o dotar das melhores pessoas, mais bem pagas, com melhor formação, de modo a que essa administração seja estável e de qualidade. O que vemos é que na administração pública, pelo facto de este ou aquele ser de determinado partido, há quem apoie ou boicote. O que é inadmissível. A administração deve ser isenta. E, já agora, há uma coisa objectiva que o PSD, por mais que proteste, não esconde: é que no tempo do PSD não havia concursos e agora há. Mas toda a gente sabe antecipadamente quem vai ganhar o concurso... Isso não sei! Eu não sei! Isso põe em causa tudo. Diga-me então qual é o modelo! Nunca ouviu falar disto, de que os concursos são feitos à medida de determinadas pessoas? O que é que não se ouve dizer em Portugal! Nem tudo o que se diz corresponde à realidade. O Partido Socialista vai mesmo ter uma liderança com duas cabeças, a sua e a de António Guterres? O PS tem uma liderança. O eng.º Guterres foi eleito líder e voltará a sê-lo no próximo congresso. Mas o PS não é um partido de uma só pessoa, tem muitas pessoas que procuram ajudar ao êxito da política por nós determinada e desempenhada pelo Governo e pelo primeiro-ministro, que é também o secretário-geral. Tendo eu cargos importantes, cumpre-me também ajudar. Mas a liderança é do eng.º Guterres. Mas é o coordenador-geral do que diz respeito ao PS. Até ao congresso pretendo exercer essas funções da melhor forma possível. Tenho mais tempo livre, pretendo dotar o PS de maior capacidade de resposta política, maior combatividade, mais imaginação na solução dos problemas para o país. É isso que eu, e muitas outras pessoas que estão a colaborar, pretendemos fazer. Depois do congresso, vamos ver. O PS está desmoralizado, desmobilizado? Está farto do poder? Só tem cultura crítica? O PS é um partido com cultura crítica, e isso é uma vantagem. Desde que essa cultura seja construtiva. Não me referia à cultura crítica como um elogio. Mas no sentido em que o PS é especialista em apresentar problemas, mas não soluções. Não! O PS tem cultura de apresentar soluções. É o que estamos a procurar fazer. No entanto, o PS, o Governo e o grupo parlamentar têm de ter uma maior capacidade de coordenação e de inter-relacionamento. O que é fundamental é que as questões colocadas na agenda política sejam as que dizem respeito ao país. Não! O PS tem cultura de apresentar soluções. É o que estamos a procurar fazer. No entanto, o PS, o Governo e o grupo parlamentar têm de ter uma maior capacidade de coordenação e de inter-relacionamento. O que é fundamental é que as questões colocadas na agenda política sejam as que dizem respeito ao país. Que não sejam propriamente as quotas, os casamentos de homossexuais... Ou seja, ideias que nada têm a ver com os reais problemas do país no curto prazo. Esse tipo de questões, viradas para segmentos concretos da sociedade, são interessantes e importantes. Algumas são questões de modernidade. O que o PS não pode é fazer delas os seus combates centrais. Mas está a fazer desses combates os combates centrais. Concordo com isso, é o que estamos a alterar. Mas essas questões que referiu devem também ser discutidas. Eu votei conscientemente a favor desses diplomas. Mas não podem ser essas as questões centrais de um partido que está há seis anos no poder. O problemas centrais são os de sempre: solidariedade, saúde, educação, a sinistralidade rodoviária, sobre que tomámos medidas importantíssimas. Este é o caminho. Quer deixar de andar a reboque da agenda do Bloco de Esquerda. Temos cometido erros nessa matéria. Acima de tudo, não temos é uma agenda própria, o que leva muita gente a dizer que andamos atrás do Bloco... ... E vai dizer o contrário? Não, não vou dizer o contrário. Mas dizer isso não é difícil. O que é importante é criar condições para que se mude essa situação e se passe a ter uma agenda. Vou dar-lhe um exemplo que nem tem a ver com o Bloco de Esquerda. Tem a ver com a viabilização da Lei de Bases da Família apresentada pelo PP. Penso que o PS tem de ter uma política para a família. O erro é passar a vida a ter de viabilizar as leis dos outros. O PS deve ter é propostas próprias e serem os outros a discutir as nossas propostas. Mas o PS, tão grande, tão interclassista, com gente com percursos tão diferentes, não tem uma certa incapacidade de definir, por exemplo, uma linha concreta sobre a importância da família? Sobre isto devem existir 300 opiniões: desde os que são contra a família até aos católicos. Um partido é uma organização com capacidade para discutir e acolher várias opiniões, mas com órgãos próprios que tomam decisões. Nesta matéria há inúmeras coisas a fazer (por exemplo, os jovens casais devem ter mais apoio). Não há razão para que o PS não elabore estas políticas. Mas uma das características do PS não é a falta de autoridade? Para os órgãos directivos tomarem decisões necessitam de ter autoridade para as impor. Eu sou um defensor da autoridade, mas sou um lutador contra o autoritarismo. Ou seja, tem de haver um tempo para discutir e reflectir e um tempo para concretizar. Nesta matéria tenho uma opinião muito firme: é muito mau, quando se tomam decisões, esperar que ninguém esteja contra. É natural que haja oposição, caso contrário temos uma opinião tão consensual que não chega a ser opinião nenhuma. Se necessário, temos de ir por um caminho de rupturas. Mas não devemos cair no exagero. Uma das razões por que o Governo do prof. Cavaco Silva acabou daquela forma foi o excesso de autoritarismo. Por isso, tivemos necessidade de distender. Agora estamos na fase do exercício activo da autoridade do Estado. E não temos sido perfeitos nessa matéria. A autoridade tem que ser credibilizada em Portugal. A Comunicação Social também não ajuda muito, não é? Eu sei que o que vou dizer não é politicamente correcto, mas, em particular as televisões, têm tido nessa matéria uma política editorial que vai ao encontro do pior — o populismo —, que também ajuda a que a autoridade do Estado seja permanentemente posta em causa. Mudando de assunto. O modelo de desenvolvimento seguido pelo PS não é igual ao que foi posto em prática pelo PSD e Cavaco Silva? Ou seja, obras públicas, cimento, etc., contrariando aquele «slogan» de «primeiro as pessoas»? Há uma mudança enorme. Se perguntar às pessoas qual a característica fundamental do Governo do PS, dir-lhe-ão que é a política social. Não tenho qualquer dúvida. A questão do rendimento mínimo garantido é uma ruptura com o passado, o PSD disse sempre que era contra. Mas vou mais longe: há uma nova política para os reformados, para os jovens que necessitam de ser integrados na vida activa. O mesmo se passa na Educação. Quando chegámos ao governo, a Educação tinha um orçamento de 600 milhões de contos e neste momento tem mais de mil milhões. Houve uma aposta muito maior. Até nas Obras Públicas. Ao contrário da política anterior, que só dizia respeito a grandes centros urbanos e ao litoral, nós alargarmos essa política ao interior. Curiosamente, o senhor demitiu-se por causa do interior... Sim. É preciso ter consciência de que este país é a várias velocidades, tem grandes assimetrias. Entre-os-Rios, que nem fica assim tão longe do litoral, foi a prova disso. Também é verdade que os governos apostam mais nos sítios onde pensam ir buscar mais votos. Na generalidade dos casos, isso é verdade. Mas é algo que tem de se combater. O facto de a regionalização ter sido chumbada — os portugueses chumbaram-na, e é assunto arrumado — também não veio ajudar. Há agora um grande desafio que é a questão da descentralização e desconcentração. Não podemos continuar como até aqui. Não é possível governar Portugal com o actual modelo de organização do Estado. É preciso apostar forte e sem medo — porque vai haver gente contra e a protestar — na descentralização e na desconcentração. Demitiu-se, e agora que saiu o relatório sobre a queda da ponte de Castelo de Paiva, ficou claro que a responsabilidade não era sua. Se fosse hoje voltava a demitir-se? Voltava. E apelo a que toda a gente, e os jornalistas em especial, leia bem o relatório. É um libelo acusatório do funcionamento da administração pública em Portugal. Não de agora, mas das últimas décadas. O caso do pilar da ponte foi detectado em 1986 e nada foi feito para resolver o problema. Este funcionamento da administração não faz sentido para quem quer um Estado moderno. Há também quem diga que com este relatório a culpa pode morrer solteira. A minha opinião é contrária. Há matéria para se investigar. Espero que a Procuradoria e o Parlamento vão até ao fim. Aquela tragédia, o número de mortos que provocou, exigem que se leve o caso até ao fim. Acha que fez muito bem em demitir-se? Acho. Mais que não seja, pelo respeito que me merecem os que ali morreram e os que continuam a sofrer. Permita-me uma pergunta inconveniente: o senhor não estava farto do Governo? Não! A decisão foi tomada nesta sala onde nos encontramos. Sozinho com a minha mulher, e não tem nada a ver com isso. Nestas situações reflectimos sobre muitas coisas que passámos na vida, e só lhe posso dizer que foi uma decisão dolorosa. Sobretudo para uma pessoa que nos últimos 10 anos dedicou todo o tempo à actividade política e a este projecto em que acredito, em cumplicidade e solidariedade total com o eng.º António Guterres. Foi dos actos mais difíceis da minha vida. Está disposto a voltar ao Governo? Neste momento não teria qualquer sentido. Ficará de fora até ao fim da legislatura? Não sei até quando. Mas não encaro a possibilidade voltar ao Governo. Não sei até quando. Mas não encaro a possibilidade voltar ao Governo. Aceita a ideia de que é uma espécie de «bulldozer» do PS e de António Guterres? Não... Não gosta de «bulldozers»? Gosto, gosto. No entanto, desempenho apenas um papel importante neste projecto, com a total disponibilidade. Mas quando está nesta sala não pensa: «Ando eu aqui a falar e os outros calam-se, não dizem nada...» Reconheço que, por vezes, gostava que mais amigos meus fossem à luta. Tenho andado pelo país. e a generalidade das pessoas do PS querem e exigem que o PS tenha mais iniciativa. Algumas estão um pouco tristes, porque acham que devíamos ir mais longe, mas todas estão dispostas a combater. Não querem perder. Todos nós temos de estar à altura, mas há alguns que se distraem. O senhor chega a uma tribuna e diz: «Quem se mete com o PS leva!» E leva o quê? Os jornalistas que estavam a assistir a essa intervenção não fizeram disso notícia. Porque a ouviram toda. Foi um órgão de comunicação social que nem estava lá que tirou a frase do meio do discurso, depois de a ouvir na rádio. O que eu lá disse e repito é que o PS é atacado e nem sempre responde com a acutilância devida — e nem sequer estava a falar do bastonário da Ordem dos Advogados —, e que, a partir de agora, quem nos atacar deve ter sempre uma resposta política adequada. Como diz o povo, quem não se sente não é filho de boa gente. Só pensa em política? Ou tem disponibilidade para outros assuntos nos tempos livres? Passo os tempos livres como qualquer outra pessoa. Vou ao cinema, ao teatro. Sabe que fui actor... Ainda é, de certa forma... .... e gosto muito de teatro. A última peça que vi foi «O Último a Rir», com o José Pedro Gomes, uma peça excelente, no Villaret. Música? Vi o Compay Segundo, fabuloso, adoro música cubana. E clássica também. No meu gabinete, quando estou a trabalhar sozinho tenho sempre música clássica. E de ópera, gosto muito... Tem ar de ter voz para ópera... Voz não tenho, mas gosto muito de ouvir. E leio muito. Ainda há pouco tempo li o livro de João de Deus Pinheiro, que achei giríssimo. Mas o que leio mais são biografias e ensaio político, embora costume ler também romances. Até li o da Margarida Rebelo Pinto, o «Não Há Coincidências». De televisão também gosta, mas sabe-se que não gosta da RTP-1. Não é verdade. Já gostei mais de televisão, acho que as estações televisivas estão a passar por uma fase complicada. Mas a existência de canais privados em Portugal foi vital. O país sem TV privadas não era o mesmo... O PS era contra. Não sei... Não sabe!! Se era contra, estava errado. Isso foi há muitos anos... A RTP-1 cumpre o serviço público? Tem tido grandes dificuldades. Não cumpre devidamente, é uma realidade. Acho que a RTP, com os meios que tem — delegações em todo o país com meios próprios de emissão, RTP África, RTP Internacional, canais regionais... com estes meios era possível uma televisão com mais conteúdo. E com o momento que vivemos na televisão, é cada vez mais importante que o serviço público crie equilíbrios. Também gosta de futebol. Sou do Sporting! É fanático do Sporting? Fanático já não sou de nada, já me passou essa fase. Foi fanático do marxismo-leninismo. Jorge Coelho, durante a entrevista ao EXPRESSO, na sua casa, em Oeiras Talvez um pouco Talvez um pouco Só se pode ser marxista-leninista sendo fanático... Isso é verdade. Fui-o na juventude, em defesa de valores em que acreditei. E há uma coisa de que gosto. Viver as coisas em que me meto com grande intensidade. O facto de ser do Sporting coloca-o em divergência com o seu amigo Guterres, que é do Benfica. Ele é menos do Benfica do que eu do Sporting... acho eu. Aliás, há outra divergência: ele é católico e o senhor não é. Sim, embora seja baptizado, não sou católico. Diria, como João Soares, que é ateu? Sou agnóstico. O meu conceito de vida não passa pela existência de Deus. No entanto, nada disto retira o grande respeito que tenho pelos crentes e pelas igrejas. Esta ofensiva do PS no que toca à Universidade Católica e à Lei da Liberdade Religiosa... Aí está! O PS tem uma política correcta sobre a Lei da Liberdade Religiosa. Existem algumas pessoas no grupo parlamentar que não estão de acordo com essa orientação. É legítimo e têm todo o direito de ter essa oposição. O PS tem um diploma que é apoiado pela maioria e por mim pessoalmente. A Igreja tem um acordo, que é a Concordata, que só deve ser alterado por uma revisão feita pelas mesmas entidades que o acordaram, ou seja, o Estado português e a Santa Sé. O Ministério dos Negócios Estrangeiros iniciou agora os contactos para a sua revisão. Quando se baralha isto, baralha-se tudo. António Reis e Jorge Lacão não pensam assim. Estão no seu direito. E eu tenho o direito de não pensar como eles. É preciso ter em conta a forma inaceitável como a direita e sectores mais conservadores da Igreja têm tentado aproveitar este tema para fazerem de conta que existe uma guerra entre o PS e a Igreja. Ninguém no PS, nem António Reis e Jorge Lacão, teve algum dia essa intenção. Defendemos um Estado laico. Temos, como é óbvio, um grande respeito pelo papel da Igreja e por aquilo que faz pelo país. Claro que a Igreja Católica tem um passado que nem sempre esteve à altura dos seus grandes desafios. Recorde-se o exílio do bispo do Porto, que teve tão pouca solidariedade por parte de alguns responsáveis da hierarquia. Mas a Igreja mudou muito, e para melhor. Temos hoje um cardeal que é uma pessoa por quem tenho um enorme e profundo respeito. Refere-se a D. José Policarpo. Sim, respeito-o muito. Tem uma enorme cultura e uma tolerância extraordinária. O senhor pensa na morte? Teme-a? Quem disser que não tem medo da morte está a enganar-se a si próprio Eu gosto muito da vida. Gosto e procuro vivê-la da forma mais intensa. Quem gosta da vida não deve gostar da morte. Tenho, nestes últimos tempos, perdido amigos muito próximos e tem sido muito doloroso vê-los partir. É muito complicado, são momentos muito difíceis Falando de coisas menos tristes. Acha que daria um bom líder do PS numa fase de pós-guterrismo, uma vez que não coloca em causa a sua liderança? Essa matéria não tem sentido. O eng.º Guterres tem 51 anos. Já declarou que será candidato neste congresso, e tudo indica que se candidatará a primeiro-ministro nas próximas eleições. Não o apoiaria para Presidente da República em 2006? Não está em causa. Ele nunca me disse se gostaria de ser ou não. Mas, independentemente disso, acha que daria um bom líder? Não falo de traições nem de conspirações, apenas lhe pergunto isto. Para se ser líder deste partido é preciso querer. E com grande força. Eu neste momento não a tenho. Só lhe falta a força, portanto. Não. Não penso nisso. Não perco o meu tempo a especular. Nem um segundo. E até dou um conselho: se eventualmente alguns camaradas meus andam nervosos com essa questão, era melhor que se dedicassem a fazer vingar o projecto em que estamos inseridos, sob a liderança do eng.º Guterres. Tem medo de ser líder? Não. Claro que não Não tem medo de nada? Claro que tenho. Procuro é racionalizar os meus medos. Já estive em frente a uma manifestação de 2000 polícias em Macau, devido a questões reivindicativas, e eu estava sozinho, com um tradutor chinês, sob chuva copiosa, a fazer uma intervenção tentando convencê-los. 2000 homens armados... é uma situação difícil. Foi preciso saber vencer o medo. Tem tempo para a família? Tenho. Ultimamente, tenho reservado uma noite por semana para sair. Além do fim-de-semana. Tenho uma casa aqui perto, na Praia Grande... Ao pé da casa do dr. Murteira Nabo... É o meu maior amigo, há vários anos. Não teme este império da PT? Portugal tem de ter empresas de dimensão internacional. E a PT tem sido um grande êxito, do ponto de vista internacional também. Se não tiver dimensão é absorvida. Se não vivesse da política, o senhor vivia de quê? Eu sou director de uma empresa de onde estou requisitado, da Carris. Portanto, posso regressar à minha vida profissional. Tenho um curso, sou licenciado em Gestão de Empresas, e tenho bastante experiência profissional. Logo, posso a todo o momento retomar a minha vida profissional, mas não é esse o meu objectivo imediato. Vai, portanto, continuar na política em exclusivo? Para mim, estar ou não no governo é exactamente a mesma coisa. Tenho esta cultura de considerar o poder efémero. Mais ou menos mordomias não me afectam nem me interessam rigorosamente nada — nesse aspecto, até tenho hoje uma vida mais agradável de que quando era ministro, sobretudo quando era ministro da Administração Interna, o que me obrigava a ter segurança permanente. Tenho disponibilidade inteira para a política, até porque tenho compromissos com muitíssimas pessoas de todos os pontos do país que confiam em mim. Mas não penso dedicar-me em exclusivo à política. Estou a dar aulas, escrevo crónicas para jornais, faço intervenção política numa televisão e estou a pensar ter alguma actividade ligada à minha profissão. É que também penso outra coisa. Sou adepto fervoroso da limitação de mandatos executivos. Ora, quem defende este princípio tem de preparar-se para outro tipo de vida que não a política. A actividade política está muito mal vista. Está, está! Mas é possível estar na política, mesmo com sacrifícios pessoais, e gostar disto. Na política só deve andar quem gosta. Não é possível de outra maneira. Não há espaço para depressões ou tristezas. Uma das grandes satisfações que um político pode ter é contribuir para resolver os problemas das pessoas. Nos cargos que exerci, quando consegui resolver esses problemas senti-me reconfortado. E acha que alguém lhe agradece? Também não ando cá para me agradecerem. Mas repare: desde o 25 de Abril até hoje, o país desenvolveu-se de um modo notável — se calhar, não tanto como poderia, mas desenvolveu-se muito. As pessoas têm outra qualidade de vida, outra esperança, outra formação e outra perspectiva para os filhos. Isto é algo que esta geração a que pertenço — e que teve o privilégio de ser uma geração vencedora, algo que é raro — se pode orgulhar. Esta geração lutou pela liberdade e pela democracia e conquistou-as. Lutou pelo desenvolvimento do país e pela sua modernidade e deu passos decisivos nesse sentido. Quem seguir estes objectivos já tem condições diferentes, mais propícias, para resolver os problemas que subsistem. Portugal é um país tolerante e eu acredito neste país. 195

COMENTÁRIOS AO ARTIGO

46 comentários 11 a 20

30 Abril 2001 às 12:09

João Martins - com licenciatura tirada antes do 25 de Abril e primária das antigas, com todas as regras

Ao senhor José Mauricio (pinguco@clix.pt)

Não admira que o Coelho seja dos seus! Ele é exímio em gralhas ortográficas!

"cace" não tem cedilha - regra ortográfica que se DEVIA aprender na primária!

-Antes de "e" ou "i" o "c" não precisa da cedilha para se ler "sê"; só antes de "a", "o", "u".

Já que se esqueceu também que o seu nome é uma palavra esdrúxula e, por isso, tem acento no primeiro "i" - Maurício - experimente escrevê-lo assim: Mauriçio!

30 Abril 2001 às 11:46

Luís Carmo - Coimbra

Será que o auto-intitulado estudante de jornalismo é o próprio Coelho?

Pela maneira de escrever...

30 Abril 2001 às 2:45

Estudante de jornalismo? Ai Jesus... ( joao.tilly@netvisao.pt )

Então você escreve:

"No entanto, há uma coisa que não podemos criticar na sua atitude. Frontalidade, coerência e presença. "

.

Isso não é uma coisa: São 3 coisas, percebe?

.

E para além disso, se vai enumerar as coisas, não devia usar ponto final, mas 2 pontos, percebe?

.

E mais adiante: " os meus parabéns pela maneira brilhante, do ponto de vista jornalístico, que conduziu e editou esta entrevista."

.

Ó estudante de jornalismo: não é

"pela maneira...QUE conduziu", que se escreve em português; é:

"pela maneira...COMO conduziu", percebe?

.

Então?...

29 Abril 2001 às 19:11

Coelhone, sempre na mó de cima ( USA )

O Coelhone casou bem e o resultado foi ter trepado na vida.

O ar de porco e badalhoco, esse também tem ajudado para chafurdar na politica.

29 Abril 2001 às 18:18

Kritiko

Ó sr. Daniel Valente (cidadão atento), não é "verdadeira ascenção da palavra"!

É "acepção da palavra" que queria dizer, com certeza. "Ascenção" fizeram os irmãos Montgolfier e a Nossa Senhora.

Lá nesse curso de jornalismo não lhe ensinam a escrever português???

E já agora, "frontalidade, coerência e presença" qualquer capo familia também tem...

29 Abril 2001 às 18:11

O Estado não é mais que uma associação de malfeitores que espolia a sociedade para proveito dos seus burocratas e apadrinhados, defendendo os seus privilégios com unhas e dentes.

Este Coelhone prepara-se para ser o novo Corleone.

29 Abril 2001 às 16:49

Daniel Valente ( dmvalente@portugalmail.pt )

Gostei! É aquilo que posso dizer como leitor, como estudante de jornalismo e como cidadão atento. Que o Dr. Jorge Coelho é um político na verdadeira ascenção da palavra todos sabemos. Logo, não me espantam os seus bons relacionamentos, o seu jogo de cintura e o seu discuros. No entanto, há uma coisa que não podemos criticar na sua atitude. Frontalidade, coerência e presença.

Ao Henrique Monteiro, os meus parabéns pela maneira brilhante, do ponto de vista jornalístico, que conduziu e editou esta entrevista.

29 Abril 2001 às 16:27

Jose Herreras ( joseherreras@yahoo.com.au )

Esta entrevista dá pano para mangas sinceramente gostei.. especialmente aquela parte em que Rabbit diz que mudou de curso deixou as matemáticas que de certeza perderam um mau matemático e ganhou-se assim um mau gestor que por alma e graça do Nabo --- Ou do 25 de Novembro--- se viria assim tornar ainda num membro influente do pink power, homem certo, no lugar certo....

Só foi pena que o entrevistador não avançasse nas questões técnicas e nas leis Rabbit da economia ... Ele tavez tivesse desenvolvido a sua lei económica que superficialmente apresentou no Programa Grande Reportagem da RTP. A uma pergunta da entrevistadora que lhe perguntou porque motivo a Irlanda tinha um crescimento económico de 7% o nosso ilustre ex ministro, ex esquerdista, ex membro da UDP, ex matemático, ex economista, ex ministro disse então que tal acontecia, crescimento elevado de 7% porque os Irlandeses desenvolviam a educação, o que está certo, e não desenvolviam a infraestructura, o que está muito errado.... Dizia ele, veja os Irlandeses não construiram uma única auto estrada.... Para um gestor deve saber que quando a economia está em queda uma das medidas que normalmente os governantes tomam é implementar novas obras públicas.... Enfim mais uma descoberta do rapaz.... Agora lhe digo se não melhorar nas contas muito dificilmente voltará a ser ministro quanto mais presidente do bando do pink power que tem afundado a quinta. Voltarei a esta questão.......

29 Abril 2001 às 14:19

MIGUEL LUÍS DA FONSECA ( miguel.luis.fonseca@clix.pt )

Um Ministro que dá a cara por um projecto. E os deputados do PS, que é deles? E a JS, onde anda? E o Manuel Maria Carrilho, além de esnobar, que ideias tem?

29 Abril 2001 às 14:17

ALMEIDA GARRET

Ó Lusitanix, tu a falares de intelectualidade se até CU escreves com acento - deve ser para te sentares em ti - o Cu não tem acento - talvez assento...

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