Suplemento Mil Folhas

13-02-2002
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Sábado, 9 de Fevereiro de 2002

Fotografia: México homenageia Alvarez Bravo

"Alvarez Bravo, 100 Anos de Luz" é o nome dado pelo Governo mexicano ao programa nacional que este ano homenageia D. Manuel, um dos mais prestigiados e inovadores fotógrafos da América Latina. Exposições um pouco por todo o país, Europa e Estados Unidos assinalam o centenário do nascimento de um homem que devotou (e devota) a sua vida à imagem, quer por trás da câmara, quer como investigador. A mostra que é hoje inaugurada no Museo Nacional de la Estampa, na Cidade do México, reúne 61 trabalhos que fazem parte da sua colecção pessoal, executados por artistas plásticos europeus entre os séculos XVII e XIX.

Manuel Alvarez Bravo descende de uma família de pintores, começando a interessar-se pela fotografia em 1922. Cinco anos mais tarde a sua vida mudaria para sempre ao conhecer a fotógrafa italiana Tina Modotti. Passou a integrar as tertúlias intelectuais revolucionárias e dedicou-se ao ensino. Trabalhou como operador de câmara de Serguei Eisenstein, partilhou salas de exposição com Cartier-Bresson e recebeu o "título" de fotógrafo surrealista do próprio André Breton, fundador do movimento. Uma selecção de 100 dos seus trabalhos fotográficos será editada este ano sob o título "Cien Años, Cien Dias". Tudo para homenagear o autor de "A Boa Fama Dormindo" e o fundador do primeiro museu mexicano de fotografia.

Uma estrela da moda: Testino expõe em Londres

São mais de 120 imagens, a cores e a preto-e-branco, dominadas por centenas de estrelas. São as fotografias assinadas por outra estrela da moda, Mario Testino, que estão expostas, desde o princípio do mês, na National Portrait Gallery de Londres. Já foram vistas por muitos dos fotografados. Testino, o fotógrafo preferido da Princesa Diana que trabalhou para revistas como a "Vogue" ou "Vanity Fair", captou estrelas pop como Madonna, top models como Kate Moss, actrizes como Gwyneth Paltrow (na foto) - a quem foram dedicadas secções especiais - ou Robbie Williams, Liz Hurley, Catherine Zeta Jones, a modelo Gisele ou os designers Tom Ford, John Galliano, Stella McCartney e Alexander McQueen. É a primeira vez que Testino mostra o seu trabalho numa galeria desta dimensão.

Exposição em Granada: O Oeste americano de Avedon

O rapaz da foto chama-se Juan Patricio Lobato e foi fotografado por Richard Avedon em Rocky Ford, Colorado, em 1980. É um dos 125 retratos que integram a série "In The American West", uma das mais significativas na obra deste fotógrafo nova-iorquino. Até fim de Março pode ser vista em Granada, repartida por dois espaços, o Palacio de los Condes de Gabia e o Centro José Guerrero. São imagens de um "Oeste fictício", diz Avedon - tão fictício como outro qualquer, o de John Wayne, por exemplo -, construído através de "rostos que se convertem em paisagens".

Depois de Granada, a exposição segue para Barcelona (Caixaforum, a partir de Maio) e depois para Madrid (Fundação La Caixa, a partir de Setembro).

Programa já em curso: Os 15 anos do Carrefour des Littératures

Ao longo dos últimos 15 anos, sob a direcção entusiasmada de Sylviane Sambor, o festival Carrefour des Littératures levou à região de Bordéus, França, mais de 300 escritores, artistas ou intelectuais europeus, com uma atenção particular aos portugueses. E prepara-se para festejar este aniversário lançando um novo objectivo no seu programa de actividades para 2002: "Constituir na região da Aquitânia um pólo cultural europeu, de referência nacional e internacional."

Para já, antecipando o festival propriamente dito - em Outubro, com o tema Viagens na Europa e a Alemanha como país homenageado -, anunciam-se já duas presenças-acontecimento em Bordéus: António Lobo Antunes, de 24 a 26 de Maio, com uma série de "acções" em torno da sua obra; e Claudio Magris (o autor de "Danúbio") em Junho, para uma conferência.

Entretanto, Lobo Antunes é já uma espécie de "convidado de honra" para a iniciativa "Cartas para 15 (+1) escritores da Europa e não só (um exercício de admiração)", que arranca em Março e se estende até Julho. O Carrefour convida os leitores franceses a escreverem uma carta a um dos 15 (+1) escritores, todos eles participantes em iniciativas do festival desde 1987. O 16º é precisamente Lobo Antunes. Entre os 15 autores estão representados nomes como Gamal Ghitany (Egipto), David Grossman (Israel), Mahmoud Darwich ( Palestina) e os portugueses Agustina Bessa-Luís, Mário de Carvalho e Vasco Graça Moura.

As cartas serão apreciadas e escolhidas por um comité de críticos literários, bibliotecários, livreiros e editores. A "mais bela" carta dirigida a António Lobo Antunes merecerá um prémio à parte. As cartas seleccionadas ficarão disponíveis no site do Carrefour des Littératures a partir de Setembro e serão lidas publicamente no encontro de Outubro.

O primeiro romance de François Léotard: "La couleur des femmes"

Já se sabia que François Léotard - antigo ministro da Defesa francês e actual enviado da União Europeia na Macedónia - gostava de escrever (em 1997, publicou "Pour l'honneur" e em 2000, "Je vous hais tous avec douceur"). A novidade é que, aos 60 anos, publica um primeiro romance: "La couleur des femmes" sai este mês nas Ed. Grasset. Conta a história de David, filho de um rabino deportado em 1942 (um "eterno estudante", autor de um livro inacabado sobre as mulheres na literatura) que se apaixona por Sonia, uma jovem violinista palestiniana. Um dia ela parte (acabam-se as noites em branco e as Variações de Goldberg) e ele vai descobrir uma nova Palestina. "Por vezes, as pessoas não vêem a cor das mulheres. Eu vejo logo, nas ruas, nas escadas, no metro, é um arco-íris. Sonia, ela era morena. Tudo era castanho nela. Os olhos, as mãos, os seios. A música que ela escondia em si."

Alemanha: Novo romance de Günter Grass gera polémica

Já tinha ouvido falar da tragédia do barco "Wilhem Gustloff"? É provável que não. O escritor e Prémio Nobel Günter Grass acaba de publicar na Alemanha o romance "Im Krebsgang" (O Andar do Caranguejo) para que ninguém se esqueça do que aconteceu ao "Wilhem Gustloff" a 30 de Janeiro de 1945. Este barco partiu de um porto não muito longe de Dantzig (hoje é Gdansk, na Polónia) com 12 mil passageiros a bordo, entre os quais estavam muitos refugiados alemães que fugiam às investidas do Exército Vermelho. Foi torpedeado por um submarino russo e morreram 9 mil passageiros (mulheres, crianças e marinheiros). Uma catástrofe na história dos naufrágios: um "Titanic" alemão. Não será um pormenor o facto de Grass ter nascido na cidade de Danzig e o escritor, de 74 anos, já disse que quis debruçar-se em profundidade sobre um "tema tabu na RDA". Este assunto é evitado nas aulas de história, porque estamos habituados a ver os alemães na II Guerra Mundial como agressores e não como vítimas e a considerar a história deste navio como fazendo parte da propaganda neonazi. Mas a realidade é que muitos alemães foram expulsos da Polónia, Rússia e Checoslováquia depois da guerra, perdendo as suas casas e raízes. Eram simples cidadãos que pagaram o preço da guerra de Adolf Hitler e o seu sofrimento é raramente comemorado numa nação que ainda está à procura de se livrar da sombra dos crimes nazis. O livro de Grass é protagonizado por um personagem fictício emocionante.Trata-se de uma mulher grávida de 17 anos, originária de Dantzig, que se encontra no barco para fugir às repressálias do Exército Vermelho.

Sábado, 9 de Fevereiro de 2002

Fotografia: México homenageia Alvarez Bravo

"Alvarez Bravo, 100 Anos de Luz" é o nome dado pelo Governo mexicano ao programa nacional que este ano homenageia D. Manuel, um dos mais prestigiados e inovadores fotógrafos da América Latina. Exposições um pouco por todo o país, Europa e Estados Unidos assinalam o centenário do nascimento de um homem que devotou (e devota) a sua vida à imagem, quer por trás da câmara, quer como investigador. A mostra que é hoje inaugurada no Museo Nacional de la Estampa, na Cidade do México, reúne 61 trabalhos que fazem parte da sua colecção pessoal, executados por artistas plásticos europeus entre os séculos XVII e XIX.

Manuel Alvarez Bravo descende de uma família de pintores, começando a interessar-se pela fotografia em 1922. Cinco anos mais tarde a sua vida mudaria para sempre ao conhecer a fotógrafa italiana Tina Modotti. Passou a integrar as tertúlias intelectuais revolucionárias e dedicou-se ao ensino. Trabalhou como operador de câmara de Serguei Eisenstein, partilhou salas de exposição com Cartier-Bresson e recebeu o "título" de fotógrafo surrealista do próprio André Breton, fundador do movimento. Uma selecção de 100 dos seus trabalhos fotográficos será editada este ano sob o título "Cien Años, Cien Dias". Tudo para homenagear o autor de "A Boa Fama Dormindo" e o fundador do primeiro museu mexicano de fotografia.

Uma estrela da moda: Testino expõe em Londres

São mais de 120 imagens, a cores e a preto-e-branco, dominadas por centenas de estrelas. São as fotografias assinadas por outra estrela da moda, Mario Testino, que estão expostas, desde o princípio do mês, na National Portrait Gallery de Londres. Já foram vistas por muitos dos fotografados. Testino, o fotógrafo preferido da Princesa Diana que trabalhou para revistas como a "Vogue" ou "Vanity Fair", captou estrelas pop como Madonna, top models como Kate Moss, actrizes como Gwyneth Paltrow (na foto) - a quem foram dedicadas secções especiais - ou Robbie Williams, Liz Hurley, Catherine Zeta Jones, a modelo Gisele ou os designers Tom Ford, John Galliano, Stella McCartney e Alexander McQueen. É a primeira vez que Testino mostra o seu trabalho numa galeria desta dimensão.

Exposição em Granada: O Oeste americano de Avedon

O rapaz da foto chama-se Juan Patricio Lobato e foi fotografado por Richard Avedon em Rocky Ford, Colorado, em 1980. É um dos 125 retratos que integram a série "In The American West", uma das mais significativas na obra deste fotógrafo nova-iorquino. Até fim de Março pode ser vista em Granada, repartida por dois espaços, o Palacio de los Condes de Gabia e o Centro José Guerrero. São imagens de um "Oeste fictício", diz Avedon - tão fictício como outro qualquer, o de John Wayne, por exemplo -, construído através de "rostos que se convertem em paisagens".

Depois de Granada, a exposição segue para Barcelona (Caixaforum, a partir de Maio) e depois para Madrid (Fundação La Caixa, a partir de Setembro).

Programa já em curso: Os 15 anos do Carrefour des Littératures

Ao longo dos últimos 15 anos, sob a direcção entusiasmada de Sylviane Sambor, o festival Carrefour des Littératures levou à região de Bordéus, França, mais de 300 escritores, artistas ou intelectuais europeus, com uma atenção particular aos portugueses. E prepara-se para festejar este aniversário lançando um novo objectivo no seu programa de actividades para 2002: "Constituir na região da Aquitânia um pólo cultural europeu, de referência nacional e internacional."

Para já, antecipando o festival propriamente dito - em Outubro, com o tema Viagens na Europa e a Alemanha como país homenageado -, anunciam-se já duas presenças-acontecimento em Bordéus: António Lobo Antunes, de 24 a 26 de Maio, com uma série de "acções" em torno da sua obra; e Claudio Magris (o autor de "Danúbio") em Junho, para uma conferência.

Entretanto, Lobo Antunes é já uma espécie de "convidado de honra" para a iniciativa "Cartas para 15 (+1) escritores da Europa e não só (um exercício de admiração)", que arranca em Março e se estende até Julho. O Carrefour convida os leitores franceses a escreverem uma carta a um dos 15 (+1) escritores, todos eles participantes em iniciativas do festival desde 1987. O 16º é precisamente Lobo Antunes. Entre os 15 autores estão representados nomes como Gamal Ghitany (Egipto), David Grossman (Israel), Mahmoud Darwich ( Palestina) e os portugueses Agustina Bessa-Luís, Mário de Carvalho e Vasco Graça Moura.

As cartas serão apreciadas e escolhidas por um comité de críticos literários, bibliotecários, livreiros e editores. A "mais bela" carta dirigida a António Lobo Antunes merecerá um prémio à parte. As cartas seleccionadas ficarão disponíveis no site do Carrefour des Littératures a partir de Setembro e serão lidas publicamente no encontro de Outubro.

O primeiro romance de François Léotard: "La couleur des femmes"

Já se sabia que François Léotard - antigo ministro da Defesa francês e actual enviado da União Europeia na Macedónia - gostava de escrever (em 1997, publicou "Pour l'honneur" e em 2000, "Je vous hais tous avec douceur"). A novidade é que, aos 60 anos, publica um primeiro romance: "La couleur des femmes" sai este mês nas Ed. Grasset. Conta a história de David, filho de um rabino deportado em 1942 (um "eterno estudante", autor de um livro inacabado sobre as mulheres na literatura) que se apaixona por Sonia, uma jovem violinista palestiniana. Um dia ela parte (acabam-se as noites em branco e as Variações de Goldberg) e ele vai descobrir uma nova Palestina. "Por vezes, as pessoas não vêem a cor das mulheres. Eu vejo logo, nas ruas, nas escadas, no metro, é um arco-íris. Sonia, ela era morena. Tudo era castanho nela. Os olhos, as mãos, os seios. A música que ela escondia em si."

Alemanha: Novo romance de Günter Grass gera polémica

Já tinha ouvido falar da tragédia do barco "Wilhem Gustloff"? É provável que não. O escritor e Prémio Nobel Günter Grass acaba de publicar na Alemanha o romance "Im Krebsgang" (O Andar do Caranguejo) para que ninguém se esqueça do que aconteceu ao "Wilhem Gustloff" a 30 de Janeiro de 1945. Este barco partiu de um porto não muito longe de Dantzig (hoje é Gdansk, na Polónia) com 12 mil passageiros a bordo, entre os quais estavam muitos refugiados alemães que fugiam às investidas do Exército Vermelho. Foi torpedeado por um submarino russo e morreram 9 mil passageiros (mulheres, crianças e marinheiros). Uma catástrofe na história dos naufrágios: um "Titanic" alemão. Não será um pormenor o facto de Grass ter nascido na cidade de Danzig e o escritor, de 74 anos, já disse que quis debruçar-se em profundidade sobre um "tema tabu na RDA". Este assunto é evitado nas aulas de história, porque estamos habituados a ver os alemães na II Guerra Mundial como agressores e não como vítimas e a considerar a história deste navio como fazendo parte da propaganda neonazi. Mas a realidade é que muitos alemães foram expulsos da Polónia, Rússia e Checoslováquia depois da guerra, perdendo as suas casas e raízes. Eram simples cidadãos que pagaram o preço da guerra de Adolf Hitler e o seu sofrimento é raramente comemorado numa nação que ainda está à procura de se livrar da sombra dos crimes nazis. O livro de Grass é protagonizado por um personagem fictício emocionante.Trata-se de uma mulher grávida de 17 anos, originária de Dantzig, que se encontra no barco para fugir às repressálias do Exército Vermelho.

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