Emanuel Frazão, compositor a descobrir

06-07-2001
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ENCONTROS GULBENKIAN

Emanuel Frazão, Compositor a Descobrir

Por TERESA CASCUDO

Sábado, 26 de Maio de 2001

A estreia, nos Encontros Gulbenkian de 2000, de "Insulares II" foi, para muitos, a descoberta do seu autor, Emanuel Frazão, cuja actividade pública é sobretudo identificada com o seu notável trabalho como presidente da Juventude Musical Portuguesa.

No ano passado, a cuidada estrutura de "Insulares II" e o seu sedutor resultado sonoro foi uma surpresa, revelando um compositor, Emanuel Frazão (n. 1961), que, até há poucos anos, e nas suas palavras, "tinha escrito essencialmente música para a gaveta." Na sequência dessa primeira audição, o Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian encomendou-lhe uma segunda obra, que se concretizou no "Divertimento para orquestra", a estrear no sábado, dia 26. As encomendas a compositores portugueses são aliás habituais nos Encontros de Música Contemporânea da Gulbenkian. Este ano, a escolha recaiu em João Pedro Oliveira e em António Pinho Vargas, que apresentam, respectivamente, as obras "Labirinto" e "A Impaciência de Mahler".

Em conversa com o Mil Folhas, Emanuel Frazão confessou não se lembrar de quando começou a escrever música, confundindo-se na sua memória a necessidade de criar e a sua formação musical, iniciada quando contava apenas cinco anos de idade. Contudo, a sua produção não tem tido demasiada exposição: "A minha carreira não é conhecida em Portugal, mas também não é conhecida em parte alguma. Pura e simplesmente não me preocupo com isso. Escrevo música quando posso e quando tenho motivação, tenha a projecção que tiver." Mais ainda, não acha que esta última questão lhe diga respeito: "O meu trabalho acaba quando entrego a obra. Não tenho rigorosamente nada a ver com a difusão das minhas peças. Essa é uma questão que me ultrapassa. Como escapa por completo ao meu controlo, prefiro ocupar o meu tempo e o meu esforço com outras coisas."

Não se filia, nem segue algumas tendências generalizadas da música pós-moderna, caracterizadas por "conciliar uma herança passada, nomeadamente a da música tonal, com as técnicas contemporâneas" e não acha, aliás, "que devesse ter essa necessidade." Fiel à ideia de que a própria obra é a única resposta possível a toda a tentativa de explicação da mesma, mostra um grande pudor em falar sobre a sua música. Refere apenas que, "como compositor, não [tem] qualquer preocupação técnica, [utiliza] aquela que julgo mais adequada para o resultado que [pretende]: é como um marceneiro, que escolhe os vernizes consoante o aspecto que o móvel deve ter ou a madeira que está a tratar."

Adianta, no entanto, que o "Divertimento" está baseado em processos de especulação intervalar, que consistem, basicamente, em "pensar sobre os intervalos da mesma maneira que sobre outros parâmetros", aplicando no seu desenvolvimento ("proliferação", nas suas palavras) princípios sistemáticos próximos do serialismo. Porém, é com alguma reserva que se serve dos esquemas pré-composicionais, tão característicos desta corrente: "A condição é que sejam o suficientemente abertos, para poderem ser flexíveis ou sensíveis à realização da música no momento." Na sua opinião, a essência da música permanece para além das escolas e das diversas estéticas: "O que muda é a linguagem. O gesto musical é muito semelhante ao longo da história." Daí, conclui que a música "tem, sobretudo, de respirar, já que vive essencialmente do gesto do músico."

ENCONTROS GULBENKIAN

Emanuel Frazão, Compositor a Descobrir

Por TERESA CASCUDO

Sábado, 26 de Maio de 2001

A estreia, nos Encontros Gulbenkian de 2000, de "Insulares II" foi, para muitos, a descoberta do seu autor, Emanuel Frazão, cuja actividade pública é sobretudo identificada com o seu notável trabalho como presidente da Juventude Musical Portuguesa.

No ano passado, a cuidada estrutura de "Insulares II" e o seu sedutor resultado sonoro foi uma surpresa, revelando um compositor, Emanuel Frazão (n. 1961), que, até há poucos anos, e nas suas palavras, "tinha escrito essencialmente música para a gaveta." Na sequência dessa primeira audição, o Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian encomendou-lhe uma segunda obra, que se concretizou no "Divertimento para orquestra", a estrear no sábado, dia 26. As encomendas a compositores portugueses são aliás habituais nos Encontros de Música Contemporânea da Gulbenkian. Este ano, a escolha recaiu em João Pedro Oliveira e em António Pinho Vargas, que apresentam, respectivamente, as obras "Labirinto" e "A Impaciência de Mahler".

Em conversa com o Mil Folhas, Emanuel Frazão confessou não se lembrar de quando começou a escrever música, confundindo-se na sua memória a necessidade de criar e a sua formação musical, iniciada quando contava apenas cinco anos de idade. Contudo, a sua produção não tem tido demasiada exposição: "A minha carreira não é conhecida em Portugal, mas também não é conhecida em parte alguma. Pura e simplesmente não me preocupo com isso. Escrevo música quando posso e quando tenho motivação, tenha a projecção que tiver." Mais ainda, não acha que esta última questão lhe diga respeito: "O meu trabalho acaba quando entrego a obra. Não tenho rigorosamente nada a ver com a difusão das minhas peças. Essa é uma questão que me ultrapassa. Como escapa por completo ao meu controlo, prefiro ocupar o meu tempo e o meu esforço com outras coisas."

Não se filia, nem segue algumas tendências generalizadas da música pós-moderna, caracterizadas por "conciliar uma herança passada, nomeadamente a da música tonal, com as técnicas contemporâneas" e não acha, aliás, "que devesse ter essa necessidade." Fiel à ideia de que a própria obra é a única resposta possível a toda a tentativa de explicação da mesma, mostra um grande pudor em falar sobre a sua música. Refere apenas que, "como compositor, não [tem] qualquer preocupação técnica, [utiliza] aquela que julgo mais adequada para o resultado que [pretende]: é como um marceneiro, que escolhe os vernizes consoante o aspecto que o móvel deve ter ou a madeira que está a tratar."

Adianta, no entanto, que o "Divertimento" está baseado em processos de especulação intervalar, que consistem, basicamente, em "pensar sobre os intervalos da mesma maneira que sobre outros parâmetros", aplicando no seu desenvolvimento ("proliferação", nas suas palavras) princípios sistemáticos próximos do serialismo. Porém, é com alguma reserva que se serve dos esquemas pré-composicionais, tão característicos desta corrente: "A condição é que sejam o suficientemente abertos, para poderem ser flexíveis ou sensíveis à realização da música no momento." Na sua opinião, a essência da música permanece para além das escolas e das diversas estéticas: "O que muda é a linguagem. O gesto musical é muito semelhante ao longo da história." Daí, conclui que a música "tem, sobretudo, de respirar, já que vive essencialmente do gesto do músico."

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