Dar muito para receber imenso

09-05-2001
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Dar Muito para Receber Imenso

Por TERESA CASCUDO

Sábado, 28 de Abril de 2001

Depois do sucesso de "Brundibar", o maestro Cesário Costa apresenta-se, em Lisboa, à frente da Orquestra Sinfónica Portuguesa. Aqui, traça um retrato apaixonado do seu trabalho.

Com apenas 30 anos, o maestro Cesário Costa tem uma promissora carreira pela frente, como se poderá confirmar na próxima terça-feira, dia 1, no Teatro Camões, em Lisboa. Então, dirigirá a Orquestra Sinfónica Portuguesa num programa francófono do qual se destaca a "Segunda Sinfonia" de Saint Saëns, "com o seu contraste entre o segundo andamento, muito etéreo e de uma leveza surpreendente, e a pujança dos outros andamentos, muito vigorosos e de carácter apaixonado". Cesário Costa deixou-se "fascinar" pela figura do maestro de orquestra quando era ainda estudante no Conservatório do Porto. Na altura, a sua carreira parecia mais dirigida para o piano, e foi para aprofundar a sua formação neste instrumento que permaneceu em Paris entre 1987 e 1989. Após alguns anos de trabalho como pianista, decidiu mudar a sua orientação profissional e, em 1994, instalou-se em Würzburg (Alemanha), onde concluiu, em 2000, um mestrado em direcção de orquestra. Desde 1997, contando então 27 anos de idade, o seu talento começou a ser notado em vários festivais e concursos, tendo dirigido, desde então, quase todas as principais orquestras portuguesas.

Hoje, diz: "Em comparação com outros países, as possibilidades profissionais para um maestro em Portugal são diminutas. Na Alemanha, qualquer cidade de média dimensão tem um teatro de ópera que fornece trabalho a pessoas que estudaram direcção de orquestra." Quando interrogado a propósito do papel que as orquestras portuguesas deveriam ter na vida cultural do país, assinala: "[É urgente que se criem] condições para que se possa desenvolver um trabalho a longo prazo. Não é em dois meses que se consegue criar o som de uma orquestra, nem uma boa dinâmica de trabalho. O mesmo se pode dizer do público: é preciso facilitar a evolução da audição criando hábitos onde, às vezes, eles nem sequer existem."

Cesário Costa não parece, contudo, preocupado com a possível afirmação de que "Portugal não é terra de maestros", apesar de assinalar a dificuldade que existe em "aceder ao passado, de maneira a tentar perceber melhor a importância que tiveram os maestros portugueses, sobretudo Pedro de Freitas Branco, uma personalidade que [o] fascina, até ao ponto de acariciar a ideia de lhe dedicar uma tese de doutoramento". É sobretudo importante pensar em estratégias para criar um circuito estável de orquestras, que passam por "estabelecer uma ponte muito clara entre o curso superior e a entrada na vida profissional, de maneira a que se possa completar a formação adquirida nas escolas ao lado de músicos de orquestra, e, sobretudo, dar tempo para que essa integração possa acontecer". Foi justamente este um dos objectivos que o levaram, em 1996, a fundar a orquestra de câmara Musicare, formada por finalistas e professores de música e constituída como uma empresa. "Os nossos projectos são muito realistas e com uma linha simples: propomos programas com um determinado custo. Trata-se simplesmente de um trabalho que deve ser pago: nunca fui muito a favor da dependência de subsídios."

Com a Orquestra Musicare, Cesário Costa dirigiu, este ano, a ópera "Brundibar", de Hans Krasa, e vai participar neste Verão, no Festival de Guitarra da Trofa, num concerto de homenagem ao compositor, guitarrista e maestro cubano Leo Brouwer. No âmbito do programa Porto 2001, dirigirá, em Julho, a Orquestra Nacional do Porto, em obras de António Pinho Vargas, Carlos Azevedo, Fernando Lapa e Cláudio Carneyro. Explica: "Tenho uma preocupação muito grande e um interesse pessoal em trabalhar com compositores contemporâneos. Quando se trabalham obras do passado, uma boa parte do esforço vai no sentido de perceber a intenção do compositor em determinados momentos. O contacto com os compositores ajuda a ter uma perspectiva diferente das peças: é sempre possível colocar questões e dúvidas, de forma a perceber qual é a emoção e a ideia que tentam transmitir."

Tal afirmação não surpreende vinda de alguém que diz que "a imagem que gostava de dar é a de um rigor muito grande em relação àquilo que está escrito na partitura". Para Cesário Costa, a profissão de maestro é cada dia mais apaixonante: "Há um trabalho de construção com os músicos da orquestra, um tipo de relacionamento humano que, para mim, é muito importante: permite dar e, ao mesmo tempo, receber imenso."

Dar Muito para Receber Imenso

Por TERESA CASCUDO

Sábado, 28 de Abril de 2001

Depois do sucesso de "Brundibar", o maestro Cesário Costa apresenta-se, em Lisboa, à frente da Orquestra Sinfónica Portuguesa. Aqui, traça um retrato apaixonado do seu trabalho.

Com apenas 30 anos, o maestro Cesário Costa tem uma promissora carreira pela frente, como se poderá confirmar na próxima terça-feira, dia 1, no Teatro Camões, em Lisboa. Então, dirigirá a Orquestra Sinfónica Portuguesa num programa francófono do qual se destaca a "Segunda Sinfonia" de Saint Saëns, "com o seu contraste entre o segundo andamento, muito etéreo e de uma leveza surpreendente, e a pujança dos outros andamentos, muito vigorosos e de carácter apaixonado". Cesário Costa deixou-se "fascinar" pela figura do maestro de orquestra quando era ainda estudante no Conservatório do Porto. Na altura, a sua carreira parecia mais dirigida para o piano, e foi para aprofundar a sua formação neste instrumento que permaneceu em Paris entre 1987 e 1989. Após alguns anos de trabalho como pianista, decidiu mudar a sua orientação profissional e, em 1994, instalou-se em Würzburg (Alemanha), onde concluiu, em 2000, um mestrado em direcção de orquestra. Desde 1997, contando então 27 anos de idade, o seu talento começou a ser notado em vários festivais e concursos, tendo dirigido, desde então, quase todas as principais orquestras portuguesas.

Hoje, diz: "Em comparação com outros países, as possibilidades profissionais para um maestro em Portugal são diminutas. Na Alemanha, qualquer cidade de média dimensão tem um teatro de ópera que fornece trabalho a pessoas que estudaram direcção de orquestra." Quando interrogado a propósito do papel que as orquestras portuguesas deveriam ter na vida cultural do país, assinala: "[É urgente que se criem] condições para que se possa desenvolver um trabalho a longo prazo. Não é em dois meses que se consegue criar o som de uma orquestra, nem uma boa dinâmica de trabalho. O mesmo se pode dizer do público: é preciso facilitar a evolução da audição criando hábitos onde, às vezes, eles nem sequer existem."

Cesário Costa não parece, contudo, preocupado com a possível afirmação de que "Portugal não é terra de maestros", apesar de assinalar a dificuldade que existe em "aceder ao passado, de maneira a tentar perceber melhor a importância que tiveram os maestros portugueses, sobretudo Pedro de Freitas Branco, uma personalidade que [o] fascina, até ao ponto de acariciar a ideia de lhe dedicar uma tese de doutoramento". É sobretudo importante pensar em estratégias para criar um circuito estável de orquestras, que passam por "estabelecer uma ponte muito clara entre o curso superior e a entrada na vida profissional, de maneira a que se possa completar a formação adquirida nas escolas ao lado de músicos de orquestra, e, sobretudo, dar tempo para que essa integração possa acontecer". Foi justamente este um dos objectivos que o levaram, em 1996, a fundar a orquestra de câmara Musicare, formada por finalistas e professores de música e constituída como uma empresa. "Os nossos projectos são muito realistas e com uma linha simples: propomos programas com um determinado custo. Trata-se simplesmente de um trabalho que deve ser pago: nunca fui muito a favor da dependência de subsídios."

Com a Orquestra Musicare, Cesário Costa dirigiu, este ano, a ópera "Brundibar", de Hans Krasa, e vai participar neste Verão, no Festival de Guitarra da Trofa, num concerto de homenagem ao compositor, guitarrista e maestro cubano Leo Brouwer. No âmbito do programa Porto 2001, dirigirá, em Julho, a Orquestra Nacional do Porto, em obras de António Pinho Vargas, Carlos Azevedo, Fernando Lapa e Cláudio Carneyro. Explica: "Tenho uma preocupação muito grande e um interesse pessoal em trabalhar com compositores contemporâneos. Quando se trabalham obras do passado, uma boa parte do esforço vai no sentido de perceber a intenção do compositor em determinados momentos. O contacto com os compositores ajuda a ter uma perspectiva diferente das peças: é sempre possível colocar questões e dúvidas, de forma a perceber qual é a emoção e a ideia que tentam transmitir."

Tal afirmação não surpreende vinda de alguém que diz que "a imagem que gostava de dar é a de um rigor muito grande em relação àquilo que está escrito na partitura". Para Cesário Costa, a profissão de maestro é cada dia mais apaixonante: "Há um trabalho de construção com os músicos da orquestra, um tipo de relacionamento humano que, para mim, é muito importante: permite dar e, ao mesmo tempo, receber imenso."

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